sexta-feira, 31 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 10

Alison não sabia o que era mais rápido: as batidas de seu coração em pânico, ou os passos velozes pelos corredores do palácio. Já podia-se ouvir a música do saral. Quando deu por si, estava no meio salão, arrastada por Harrison, enquanto todos em choque fitavam os monstros que invadiam a festa.

Os Ladrões de vidas, Madison, Meloddy, Alicia, Marrie e Trevor, guardavam todas as saídas possíveis daquele salão. Apesar do terror que arrepiava os convidados, ninguém gritava. Todos paralisados fitando o centro do salão. E a música parou:

-Quem são vocês? - disse Rodney, o rei, um pouco trêmulo, do seu trono.
-Eu sou o verdadeiro rei, e o pior pesadêlo de todos os presentes. SOMOS OS LADRÕES DE VIDAS!!! -respondeu Harrison, do meio do saguão.
-Oh Deus! A lenda, é real... eles vão nos matar... -disse Izabell, se levantando do trono.

Nesse momento, a multidão entrou em pânico. Saíram do choque, e começaram a correr de um lado para o outro. Não importava pra onde corressem, cada saída estava guardada por um dos monstros. Harrison largou o braço de Alison, e começou a andar em direção ao trono. Então os ladrões de vidas começaram a atacar. Era horripilante como agiam no meio daquelas pessoas desesperadas. Não escolhiam; pegavam quem estava à sua frente, a pessoa estribuchava, e caía morta ao chão. Cinco, seis, sete... quinze... Alison perdia a conta de quantas pessoas caíam ao chão. Mas agora ela fitava Antonny, no ponto mais alto do saguão.

Harrison ainda não havia matado ninguém naquela festa. Ele queria matar ao rei Rodney e sentar-se em seu trono. Agora o monstro estava diante do rei. Rodney puxou a espada e atingiu Harrison no peito. Mas o monstro arrancou de si a espada, e o ferimento se fechou em instantes. O ladrão de vidas pegou Rodney pelo pescoço, enquanto Izabell gritava pelos guardas. Mas os guardas não podiam ajudar o rei, pois tentavam salvar suas próprias vidas. Antonny pegou sua espada, e tentou ferir Harrison, mas Alicia interviu, e o segurava ajoelhado para ver o pai morrer.

Alison viu tudo de onde estava. Correu em direção a Meloddy e disse:
-Meloddy... por favor Meloddy, não mate essas pessoas...
-Alison, se eu não o fizer, Harrison me mata!
-Meloddy... você é imortal... como Harrison poderia te matar?
-Nós podemos roubar os fôlegos de vidas um do outro também. Mas para isso o ladrão precisa estar muito fraco. Talvez com vários ferimentos para se fechar ao mesmo tempo. Enquanto a força do ladrão está focada em regenerar os machucados, ele não pode se defender do ataque de outro ladrão. Sem os fôlegos, ele morre. E também há como expelir o próprio fôlego. Um suicídio. Harrison não te contou porque certamente temia que você se matasse.
-Meloddy... eu vou matar Harrison!
-HAAHAHAHAHAHAHA!!! Enlouqueceu??? Ele é mais forte que você! Vai te matar antes.
-Não posso deixar que ele tome o reino. Primeiro temos que acabar com os outros ladrões pra que não ajudem Harrison quando eu for...
-Espera... temos? Quem disse que eu vou te ajudar?
-Meloddy... uma vez você me disse que não era uma carrasca. Você não quer ser um monstro...
-Eu não tenho escolha Alison!
-Eu estou te dando uma escolha. Me ajude a acabar com isso.

Meloddy olhou para Alison profundamente. Sabia que se ficasse contra Harrison, estaria assinando sua sentença de morte. Mas por outro lado, essa vida de assassina não era o que sonhava pra si. Quando a transformou, Harrison matou o marido de Meloddy. Ficaria ela agora ao lado desse monstro se tinha o apoio e a força de Alison para se vingar? As chances das duas eram remotas, mas esse esforço seria o seu perdão por todos os assassinatos que já cometera. Estava na hora de deixar o medo de Harrison de lado. Meloddy respirou fundo e disse:

-Ok baixinha... estou com você. Alí está Trevor completamente em êxtase se deliciando no fôlego daquelas pessoas. Eu acabo com ele. Madison está no outro canto aterrorizando aquela multidão, não vai nos ver. Então você mata Marrie, que está distraída também. -Meloddy pegou Alison pelo braço- Preste atenção. Nem pense em pedir que eles fiquem do nosso lado. Trevor ama a vida de ladrão, e Marrie também é apaixonada por Harrison. Eles jamais o trairiam. E Madison, você já sabe, é um cachorrinho. Pegue a lança pendurada na parede. Não pense duas vezes. É ferir, e sugar o fôlego. Não se preocupe, seu instinto agirá por você. VAI!

Alison correu em direção à lança. Segurou firmemente e deu passos em direção a Marrie. Muitas coisas poderiam acontecer agora. Alison não tinha experiência, e não era uma assassina. Marrie podia se virar e matá-la assim que percebesse sua inteção. Tudo era tão arriscado. Alison se virou e viu Harrison segurando Rodney pelo pescoço. Estava dizendo algo, talvez discursando, humilhando Rodney antes de matá-lo. E Antonny gritava, segurado por Alicia, tentando se soltar desesperadamente para salvar o pai. Mas Alison não podia salvar Rodney antes de matar os outros ladrões. Seria uma tentativa idiota de alcançar o vento. Então olhou para Meloddy, e ela ia com um machado medieval em direção à Trevor.
Sim. Meloddy estava com Alison nessa loucura até o fim. Alison retomou seu objetivo e fitou Marrie. Era hora de agir.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 9

A música era orquestral. Pessoas finas, elegantes, dançavam como cisneis no meio do salão. As damas com seus vestidos longos, alguns cor de anil como o céu no verão, outros dourados como o sol. Os cavalheiros em seus trajes principescos não deixavam a desejar. Duques, condes, chefes de exército, todos da classe alta, dançando inocentemente sem imaginar o que ocorreria naquela noite.

No ponto mais alto, estava o trono de Rodney, juntamente com sua esposa Izabell, e na cadeira mais baixa, estava o príncipe, filho único, Antonny, admirando o baile. Dentre todos os que curtiam a festa, havia um com os olhos perdidos e o pensamento bem longe. Antonny não estava contente. Queria que Alison estivesse com ele.


À alguns quilômetros, no centro da floresta da Maldição, um vulto com a capa negra estava parado, esperando o momento certo para ir adiante.
O vulto, que era Madison, deu o sinal. A lua já havia atingido o ponto mais alto no céu. Era hora de agir. Nesse momento, os guardas do palácio já estavam entediados de esperar algo acontecer. Alguns talvez até estivessem dormindo. Das sombras das àrvores, Harrison caminhava majestoso, em sua roupa negra, a mesma que usava no dia em que foi traído quando ainda era o rei. Atrás dele, seus fiéis súditos, e segurada pelas mãos de ferro de Harrison, Alison ia arrastada por todo caminho. Na verdade, sua intenção não era fugir. Estava perdida em seus pensamentos, tentando encontrar uma forma de impedir Harrison, por mais inútil que fosse.

O palácio estava cercado. De cima das àrvores mais próximas, Harrison olhou para Alicia. Ela desceu como se escorregasse por entre as folhagens. Andou como uma rato até chegar perto de um dos guardas. Quebrou-lhe o pescoço, mas não roubou seu fôlego. Logicamente, o objetivo dos Ladrões de Vidas não era o fôlego desses meros subordinados. Eles queriam os senhores da alta classe.

Alicia olhou para Harrison da parte baixa da onde estava, quando algo lhe traspassou o abdômen. Olhou para trás, e um dos guardas, assustado, gritou:

-INVASOOOOOOORES!!!

Alicia arrancou de si o arpão que a havia ferido, e o enfiou sem dó no crânio do guarda. Foi quando uma tropa acudiu ao grito do pobre soldado, e vinha em direção a Alicia. Madison sussurrou:
-Devemos descer para ajudá-la!
-Shiiiiu! Alicia sabe o que faz... observe...

Alicia abriu os braços e levitou do chão à um metro. Olhou hipnoticamente para o chefe da tropa, e ele ajoelhou completamente em órbita. Todos os outros guardas estavam em pânico com aquela criatura assustadora dos olhos vermelhos, que mal podiam se mexer. Alicia pousou no chão novamente, ainda fitando os olhos hipnotizados do chefe. Foi quando tomou o arpão e atingiu com o mesmo 5 dos homens da tropa, enquanto os outros 7 continuavam em choque. Com a espada do chefe, Alicia feriu os outros 7 soldados, e virando-se para o hipnotizado, cortou-lhe a cabeça. Sozinha, Alicia matou 14 homens. Alison não conseguia respirar devida a cena que havia acabado de presenciar. Se Alicia sozinha podia fazer aquele estrago, quanto mais todos os outros 8 juntos?

A passagem estava aberta. Daquele ponto do palácio, todos os guardas estavam mortos. Era uma parte onde havia uma janela de vidro grosso, mas que poderia ser quebrada. Agora estavam dentro do quarto de Antonny. O caminho para o salão principal deveria ser em silêncio. Em poucos instantes estariam no meio daquelas pessoas que nem faziam idéia do perigo. Logo estariam todos mortos. E a cada passo que Harrison dava em direção ao saguão pelo corredor, Alison, arrastada, ficava mais desesperada e sem esperança de que um milagre impedisse o plano maligno desses seres sombrios. A sua única esperança era que Meloddy, a mais maleável entre eles, ficasse do seu lado quando tentasse impedir Harrison. Muitos morreriam naquela noite. Alison não tinha certeza, mas podia sentir em suas palpitações que estava entre os que morreriam.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 8

A conversa na sala estava tão alta que se podia ouvir à plena distância. Eles pareciam ansiosos e exaltados como se estivessem prestes a enfrentar uma grande batalha. A conversa acalorada perturbou o sono de Alison, que acordou preocupada para saber o que tramavam no saguão.

Desceu então as escadas em passos leves, e encostou-se ao madeiro da parede da grande entrada para a sala principal. Olhou atentamente e percebeu que os ladrões de vidas conversavam em cima de um mapa. Ou não seria aquilo um mapa? Parecia mais a planta de uma casa. Uma grande casa. Talvez um palácio. Foi então que a pequena perdeu a paciência e questionou:

-Mas o que é que está acontecendo aqui?
-Alison - disse ironicamente Harrison - decidiu juntar-se à nós?
-Vocês estão falando tão alto... posso ouvir seus risos lá de cima. Que mapa é esse? -Alison aproximou-se para pegar o mapa.
-Epa, epa, epa - exclamou Harrison segurando as mãos de Alison - você vai saber o que é, calma minha linda. Madison!

Madison pegou Alison pelo braço e a recostou na poltrona antiga. Harrison puxou a mesinha do centro para a frente da poltrona e virou o mapa para que Alison o pudesse observar. Sentou-se no canto da mesinha, e com as mãos em cima do mapa, pôs-se a explicar:

-Vê este casarão? É o palácio real do Rei Rodney.
-O que pretende fazer no palácio?
-O palácio é meu de direito. Afinal de contas, eu não morri ainda e pelas leis, eu ainda sou o rei.
-Pretende tomar o reino?
-Não exatamente. Alison, minha pequena. Estou seriamente cansado desses anos e anos de isolamento, exilado nessa floresta maldita, sendo apenas uma lenda. - Harrison levantou-se e começou a andar em circulos pela sala - Vai haver um grande baile no palácio amanhã à noite. Todas as pessoas importantes, barões, condes e duques estarão nesse baile. E o principal, o REI! Nós iremos invadir o palácio, e tomar o fôlego de todas as pessoas naquele maldito baile. Mas quanto ao rei, o fôlego dele e daquele filhinho magrelo dele é meu! Tomarei o trono, e ninguém vai me questionar. E começará uma era de um governo sombrio onde meu triunfo será a eternidade.

Alison não tinha reação. Com os olhos arregalados, estava congelada. O próprio Harrison, que fugia da realidade, que tinha medo que descobrissem o que realmente aconteceu à ele, que amava a idéia de ser uma lenda, agora queria se mostrar a todos. Pior... queria ser rei outra vez. E ainda pior... queria matar Antonny, o príncipe.

Alison voltou a si e começou a dizer:
-Você não pode fazer isso, vocês são muito poucos... o rei... o rei tem um exército e vai .... vai impedir vocês!
-Impedir-nos? Não creio... somos muito poderosos. Estamos planejando bem. Temos força pra roubar o fôlego de muita gente. E quanto mais roubarmos, mais fortes ficamos. E você, Alison, vai junto conosco. E seu instinto finalmente dominará você. Quando eu tomar o reino, você será minha rainha.

Alicia se levantou do sofá furiosa e começou a gritar:
-Ela? EEEELA? Ela será sua rainha? Desde que me transformou, você me prometeu que EU seria sua eterna companheira. E agora coloca essa rebelde acima de mim, acima de mim que sempre fui fiel a você?
-Chega Alicia! Já te disse que não discutiria mais isso com você!
-Mas Harris...
-Cale a boca Alicia! Se não aceitar, vai-te embora. Não fará falta nenhuma. Agora, se quiser ter parte nos privilégios que os outros ladrões de vidas ganharem quando me tornar rei, é melhor não me desafiar mais!

Os olhos de Alicia eram duas fogueiras ardentes. Suas sombrancelhas quase se uniram de tanto ódio. Mas ela não odiava Harrison. Ela culpava Alison, e se pudesse encostar um só dedo na pequena, lhe arrancaria os cabelos efusivamente. Mas com Harrison por perto, não poderia nem ao menos olhar pra ela com o ódio que sentia. Então abaixou a cabeça, e uma lágrima de sangue correu desde seus olhos vermelhos até a mandíbula. Entre dentes, sussurrou humilhada:

-Me perdoe...

O clima na sala não era nada bom. Alison não gostava de ser a prefirida de Harrison, e muito menos de ganhar o ódio de Alicia sem intenção. Ela empurrou Harrison e correu até seu quarto. Da sala, Harrison rugia:

-Não adianta a rebeldia Alison! Amanhã a noite você irá conosco para o palácio. E vai ver a derrota do rei Rodney. E quando eu colocar a coroa, você será minha rainha, querendo ou não!

No quarto, Alison podia ouvir que o planejamento continuava. O palácio era bem guardado, então eles tinham que arranjar uma forma de entrar sem serem vistos. Mas na mente de Alison, só uma coisa a atormentava naquele momento. Antonny estava em perigo. Como ela poderia salvá-lo?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 7

A febre não cedia. Seu corpo estava em chamas, e nada podia fazer. Ela gemia, e agarrava com força os lençóis. Afastava de si as roupas, mas o calor era tão intenso que nada o abrandava. Queria correr, sair daquela cama. Podia ouvir, apesar das vertigens, a chuva lá fora, fria e úmida. Se ela conseguisse se arrastar até a porta, se conseguisse ao menos ir até a janela pra sentir um pouco da brisa daquela tarde de inverno. Mas seu corpo estava fritando e as vertigens não a deixavam nem ao menos pensar. De repente, um estalo na porta ao ranger da maçaneta...

-Bom dia Alison! - disse Madison ao abrir a porta.
Num susto, Alison levantou o corpo da cama. Seus olhos vermelhos aguçados, e sua pele acizentada ainda mais pálida do que o normal. Madison percebeu os pequenos rasgos nos lençóis, que traziam claramente a alusão de terem sido arranhados por mãos humanas.

-Então a fome já a está dominando não é?
-Do que está falando? - retrucou Alison, ofegante.
-Já começou a ter pesadelos sentindo seu corpo queimar, uma fome incompreensível e uma vontade de correr pra fora, não é?
-O que isso quer dizer?
-Não é simples minha cara... seus instintos estão dominando você. Se eu fosse um apetitoso humano, você teria me atacado nesse momento sem ao menos pensar. Tome, beba isto... não é o que seu corpo quer, mas vai ajudá-la a se acalmar.

Madison entregou a Alison um frasco com lítio, e num intenso impulso, Alison o bebeu com sede acreditando que aquele gole a aliviaria daquele necessidade de roubar a vida de alguém. Mas o máximo que o pequeno frasco fez foi deixa-la mais avidamente forte e com os sentidos mais aguçados, com mais tato pra caçar. Jogou o frasco no chão e se jogou contra a parede:

-Não... isso não é possível... é um inferno!!! - exclamou chorosamente desesperada com o rosto contra a parece.
-Alison, sinto muito. Juro que por mim, Harrison nunca a teria transformado nisso. Mas agora você é o que é, e é doloroso demais conseguir morrer. Essa sua vontade de caçar vai aumentar cada vez mais, a cada dia. Você não vai suportar... vai enlouquecer...
-Madison... saia daqui... me deixe...

Contristado, Madison se dirigiu a porta, mas antes de sair disse:
-Estamos indo ao campo procurar mais lítio para fazer o nosso precioso líquido. Não saia, fique no quarto. Feche os olhos e descanse, essa vontade não vai passar, mas vai acalmar um pouco.

Alison postou-se na cama e fechou os olhos. Mas sua alma ainda estava atormenta pelo desejo maligno. Seus sentidos estavam tão aguçados, que ela pode ouvir os passos no velho casarão saindo pela porta do saguão. Sim, todos os seres haviam saído da casa. E pela primeira vez desde que havia se tornado esse monstro, Alison sentiu paz por estar só. E a fome intensa cedia espaço para o sono.

Foi então que sentiu uma mão quente descendo pelo seu rosto cinza. Abriu os olhos num pulo, e quando deu por si, estava em posição de ataque segurando com força o punho de alguém. Antonny olhava com sarcasmo para a perigosa garota dos olhos vermelhos:

-O que está fazendo aqui seu maluco?
-Vim ver-te mau agradecida... pode soltar minha mão?
-Desculpe, mas esse é meu instinto agindo. Se não fosse tão equilibrada, você podia estar morto agora. - Resmungou Alison, soltando o pulso de Antonny, e se sentando à sua frente.
-Não me mataria pequena Alison... eu sei...

Entre olhares facilmente decifráveis, Alison e Antonny ficaram desconcertados com a situação. Era incrível como o coração de Alison batia inocentemente forte quando Antonny estava presente, e o mesmo se dava com o coração do rapaz que fazia o sangue arder na pele ao correr pelas veias. O estranho era imaginar se podiam ambos chamar isso de amor. Afinal, Alison era uma predadora perigosa, e Antonny um humano, embora alvo, jovem e forte, se tornava frágil e mortal perto da sobrenaturalidade da mutante à sua frente. Mas para Antonny, Alison não era um ser abominante. Era uma moça com sérios problemas, e que pela sua estatura mediana aparentava ser um ser frágil, e atá mesmo sua pela acizentada lhe dava o aspecto de delicadeza. Alison era um demônio com traços de anjo. Como podia ele se sentir em perigo perto de um ser que lhe despertava ternura? Talvez pela unicidade de Alison, Antonny tivesse realmente caído de amores pela perigosa menina.

-Alison - disse enfim o rapaz- falei com seu pai. Ele já deu por tua falta, e clama de tristeza pela lenda dos ladrões de vidas. Diz que tem a vida amaldiçoada, porque perdeu a filha e a esposa da mesma forma. O rei... meu pai... tirou o seu pai do cargo e lhe mandou ficar em casa. Ele não tinha mais condições de guiar o exército real deprimido como estava. Ontem à tarde foi encontrado morto. Tomou um frasco de veneno e dormiu para sempre.

Alison derramou-se em lágrimas ajoelhando-se no chão. Pobre de seu pai.
-Tenho que ver meu pai...
-Já foi enterrado - cortou Antonny, ajoelhando-se ao lado de Alison abraçando-a com ternura
-O enterraram sem mim?
-Você está desaparecida e dada como morta já.
-Não há salvação para mim.
-Estive esse tempo todo com meus sábios, magos e cientistas. Estamos estudando essa mutação em segredo. Acharemos uma cura para você Alison...
-Não sonhe Antonny... não há salvação para mim...
-Mesmo que não haja, não vou abandonar você aqui. Vamos tirar você daqui e te levar pro meu reino. Vai ficar comigo lá, vou te protejer de tudo e todos...

Nesse instante, a porta do saguão rangeu. Os Ladrões de Vidas haviam voltado. Antonny correu para janela, enquanto Alison o encorajava a ir embora apressadamente. Mas antes de descer pela sacada, ele a puxou ternamente e beijou seus lábios:
-Amo você... sua baixinha esquista... - e as últimas palavras cortaram o clima e o choque de Alison, e ela o empurrou e fechou a janela na sua frente.

Antonny riu e foi embora. Os ladrões de vidas estava lá embaixo, conversando sem ao menos se importar em ver se Alison ainda permanecia no quarto. Ela voltou a se deitar e percebeu que a fome que a queimava por dentro havia abrandado quase por completo. Talvez Antonny fosse a sua cura.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 6

Os passos pela floresta quase não tinham som. Eles eram tão rápidos, que mal chegavam a tocar o chão. Quem os visse ao longe, avistava apenas um vulto ligeiro e impressiso entre as folhagens. Sendo uma noite escura e fria, eles eram imperceptíveis.

-Chegamos! - a voz inebriantemente grossa de Harrison estalou e fez com que todos parassem

Em cima da montanha, o vilarejo era apenas um formigueiro. Alison olhou preocupada, e sabia que muita gente morreria naquela noite. Mas uma certeza ela tinha: ninguém morreria na suas mãos. Por um instante, ela até pensou em impedi-los, mas sabia que não podia contra eles. Então deixou-se estar quieta todo o tempo.

Desceram pelas pedras lisas, como se estivessem em parte plana. A facilidade como se locomoviam era impressionante. As ruas no vilarejo estavam vazias, e o silencio chegava a ser irritante.

Foi então que Harrison olhou para Melloddy e Madison, e ambos viraram a ruela na esquina. Um pouco mais a frente, Harrison pousou seus olhos em Alicia e Trevor. Alicia rangeu os dentes e disse:
-Em todas as caçadas sempre estive ao teu lado!
-Vai-te Alicia, não me perturbe...

Os olhos de Alicia pareciam pegar fogo, mas ela obedeceu, e subiu em um telhado junto com Trevor. Ficaram no beco escuro apenas Harrison, Alison e Marrie.

Enquanto chegavam perto de um casarão com um jardim enorme, ouviu-se um grito dolorido. Sim, os outros ladrões de vida já estavam agindo. Alison sentiu um medo intenso, mas foi puxada por Harrison a entrar pela janela da casa. Seguiram pelo corredor, e os três entraram em um quarto escuro. Lá, dormiam um casal. Um senhor de idade, e uma senhorinha de cabelos de algodão:
-Droga, odeio velhos. A vida deles nunca saceia totalmente - murmurou Marrie
-Já estamos aqui. E os idosos são mais fáceis de matar. Alison, bom apetite! - disse Harrison
-Não, não vou matar esses velhinhos. Nem ninguém! - sussurou Alison
-Certo, certo... sabia que essa noite você ia se recusar. Mas em breve sua vontade e seu instinto vão dominar você, e serás a mais àgil caçadora. Observe como nos saciamos meu bem... vamos Marrie!

Harrison pegou o senhor pelo pescoço. O velho acordou assustado, mas não podia gritar porque a mão de Harrison sufocava seu pescoço. Marrie segurou a senhora com força e olhou dentro dos olhos dela. Em instantes, o que parecia ser uma nevoa branca saiu da boca dos idosos e entrou em Harrison e Marrie. Eles largaram os corpos ao chão, e seus olhos estalavam de prazer. A pele deles ficava mais avidamente sedosa, e seu corpo ficava aparentemente mais forte:
-Ninguém dará por falta desses dois, já estavam no fim da vida. Na certa vão julgar morte natural. - riu-se Marrie
-Mas darão por falta dos outros que com certeza nossos companheiros estão matando. E como sempre não acharão causa válida para morte deles, e ditarão novamente "A Lenda dos Ladrões de Vida". - zombou Harrison
-Vamos dar o fora daqui... já deu por essa noite!- adiantou-se Marrie

Sairam como vultos pela soleira. Entraram em um beco e lá estavam o restante do bando:
-Boa noite chefinho. E a novata alimentou-se bem?
-Cala-te Alicia! Atacamos dois velhos, mas Alison não agiu. Só que percebi o instinto brilhar em seus olhos enquanto roubávamos a vida daquelas pessoas.
-Eu ataquei de primeira. Meu instinto é mais àvido.
-Fique quieta, mas que coisa! Vamos para casa, todos satisfeitos. Daqui uns tempos retornaremos e creio fielmente que a pequena agirá.

Subiram a montanha e desapareceram entre as àrvores. Alison sentia algo queimar dentro de si. A vontade louca de voltar e se saciar no fôlego de alguém era atormentante. Mas sua razão ainda lutava para mantê-la humana.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 5

O sol caia suavemente no horizonte. O frio seco não deixava que o calor do sol aquecesse a terra. Alison observava pela janela como a noite engolia o dia com a maior facilidade.

-A escuridão vence... - suspirou a jovem
-Mas toda manhã o sol consome a escuridão, e isso se torna um ciclo vicioso onde todos os dias o sol e a lua se combatem tentando dominar o céu - acudiu Mellody ao suspiro de Alison, que observava a jovem da porta do quarto.
-O que quer aqui?
-Caaaaalma Alison, você ainda não percebeu que eu sou legal! Vim avisar você que essa noite sairemos à caça.
-Essa não... não irei com vocês!
-Acho melhor ir, você deixou o chefão irado com a sua rebeldia. Escuta pequena, não precisa matar ninguém... só nos acompanhe, pra não despertar a ira de Harrison outra vez.
-Como se eu tivesse medo desse Harrison...
-Vai aprender a ter! ... enfim, toma, aqui está, vista isso... sairemos depois da meia noite.

Mellody deu a Alison uma capa negra com um capuz. Alison olhou para a capa. Foi até a frente do espelho e vestiu. Deixou-se observar por um momento:
-Eu sou um monstro...

Nesse momento escutou algo bater na vidraça da janela do quarto. Era uma pedra que havia sido jogada. Alison estranhou e foi até a janela ver quem havia feito isso. Pelas sombras viu Antonny com um sorriso bobo no rosto, meio nervoso, abanando a mão. Alison ficou em choque. O que aquele maluco estava fazendo alí de noite? E como ele sabia que aquele era o quarto de Alison? E se fosse o quarto de Harrison? E se os outros ladrões de vidas tivessem visto Antonny? Pegariam ele e o matariam... sentiriam seu cheiro de humano vivo e fresquinho...
Alison tinha certeza de uma coia ->ANTONNY ERA LOUCO!
Estava se arriscando. Quando viu Antonny chegando perto da parede para escalar até a janela, o coração de Alison se apertou em um desespero indescritível.
Alison falava desesperada da janela bem baixinho:
-Não, não... saia daqui... vai embora seu maluco!!!

E Antonny chegou até a janela de Alison. Ficou olhando pra ela apoiado na sacada do lado de fora, face a face, com um ar de vitória no olhar:
-O que está fazendo aqui Antonny? Vão pegar você... você tem...
-Ei Alison... para... eu sei dos perigos que eu corro, e não me importo. Precisava ver você!
-Antonny, não seja idiota. Eu sou um monstro. E se eu te atacar?
-Não vai me atacar. Acho que você nem sabe ainda como é roubar o fôlego de vida de alguém.
-Tenho instintos animalescos agora seu palhaço!
-Uuuuuh, ela tem garras
-Cala a boca! Como sabia que este era meu quarto? E se desse de cara com o Harrison?
-Eu segui vocês aquele dia que você estava tentando fugir. E hoje fiquei a tarde toda te vendo na janela alí de trás das pedras com um olhar triste olhando pro horizonte.
-Que história é essa de que "precisava me ver"?
-Alison... você é tão diferente de todas as mulheres que já conheci...
-Claro que sou diferente, tenho olhos vermelhos!
-Não é isso... eu não sei explicar... só sei que precisava ver você.
-Ótim0! Já viu né? Agora vai embora antes...

E ouvía-se passos no corredor. Alguém estava vindo ao quarto de Alison. A jovem olhou desesperada para Antonny, e com uma tentativa inútil empurrava o corpo dele para que saísse de lá o mais rápido possível. No entanto, Antonny olhou fixamente para os olhos de Alison, e antes de deixar que a força dela impulsionasse seu corpo para que descesse da sacada, beijou-a num ato tão terno que Alison ficou sem ação.


Então Antonny desceu e sumiu entre as sombras da floresta. Harrison entrou no quarto e viu Alison parada diante da janela paralisada:
-Estás com algum problema?
Alison despertou do choque, e disse:
-É... bem... na verdade estou preocupada.
-Com o que pequena?
-Com a noite da caça. O que eu vou fazer?
-Vai conosco observar como agimos. Seu instinto agirá por você. Quando tiver um humano em suas mãos, saberá o que é ter o poder de arrancar a vida de alguém e absorvê-la.

Alison olhava para o chão. Harrison pegou a capa e deu a volta por trás, e colocou o capuz em Alison.

-Perfeita. És a mais bela entre as mulheres a quem dei a eternidade...
-E o que aconteceu com elas?
-Não se adaptaram à nova vida, e eu tive que lhes matar.
-Como as matou?
-Tirei-lhes o fôlego de vida, como se faz com um humano...
-Nós podemos fazer isso com monstros como nós?
-Não! Só eu posso fazer isso... e o Madison, meu súdito. O líquido que dei aos outros subordinados é diferente do que eu e Madison tomamos. O deles não lhes dá poder um sobre o outro.
-Também não vou me adaptar a essa vida de assassina. Vai acabar me matando também, cedo ou tarde.
-Você é especial Alison. O líquido que dei a você também era especial.
-O que quer dizer com isso?
-Com o tempo descobrirá.

Então Harrison fez um gesto, se aproximando segurando o rosto de Alison, como se fosse beijá-la.

Mas Alicia apareceu na porta. Olhava para Alison como se quisesse arrancar-lhe a cabeça.


Harrison olhou repreensivamente para Alicia e andou em direção a ela. Da porta, voltou-se para trás e disse:
-Esteja na sala à meia noite em ponto. Assim, poderemos partir para o vilarejo. É noite de inverno. A névoa será nossa amiga.
E passou por Alicia olhando-a com desprezo. Alicia olhou novamente para Alison e saiu pelo corredor, com passos fortes no chão.

Alison sabia que teria sérios problemas com Alicia. Acabava de ganhar uma inimiga... uma mulher apaixonada, desprezada e ferida... uma inimiga realmente poderosa e com motivos para odiá-la...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 4

Era uma manhã cinza na Floresta da Maldição onde ficava a mansão abandonada dos Ladrões de Vidas. Madison veio correndo do quarto de Alison:

-A NOVATA FUGIU!

Todos se levantaram, afortunados. Alicia se prontificou:
-Vamos atrás dessa idiota antes que ela faça alguma coisa! Vamos pegá-la e acabar com ela, como tem que ser... ela já deu provas o suficiente que não serve pra ser um de nós.
-Calma Alicia, num é assim. Vamos capturá-la primeiro, e depois vemos o que podemos fazer -retrucou Meloddy
-Não... Alicia está certa, essa garota vai ser o nosso fim. Se ela for pra cidade, vão pegá-la e ela vai falar da gente. Eles virão pra cá e vão queimar nossa mansão! - disse Farrew
-Mas que diabos... fogo não vai nos matar... somos mais fortes que os human...
-CALADOS! - gritou Harrison.
Todos na sala se calaram. Calmamente, Harrison se aproximou da janela. Então olhou de volta para seus subordinados e disse:
-Eu irei atrás dela... SOZINHO!
-Mas Harrison, você n...
-S-O-Z-I-N-H-O! Já disse... voltarei com ela, e ninguém aqui vai matá-la, ouviram bem?

Há certa distância da casa, Alison corria por entre as àrvores. Foi quando parou ofegante. Alison sentia uma fraqueza indescritível, o que parecia ser uma fome insaciàvel. Deitou-se em um tronco velho e deixou-se observar a mansão por uns instantes, ao longe.

- Acho que ainda não sentiram minha falta. Talvez nem tenham acordado. Não vejo nenhuma agitação na casa. Com essa fraqueza horrível, vou demorar muito pra chegar até o vilarejo. Espero que eles demorem pra me procurar -disse Alison, cansada e preocupada.
Foi então que a jovem ouviu um ruído por entre as àrvores. Quem estaria na floresta? Já estariam os Ladrões de Vidas no encalço de Alison? Assustada, ela se escondeu atrás de uma àrvore grande e antiga, quase seca.

Em passos suaves, um rapaz alto de cabelos castanhos e um belo par de olhos verdes andava com seu arco e flexa em mãos à procura de alguma caça. Alison deu um passo para trás e pisou em um galho seco. O rapaz virou-se, e viu uma criatura de olhos vermelhos e cabelos negros, com um vestido de luto e a pela branca acizentada. Sem exitar, por reflexo, atirou a flecha e acertou em cheio o peito de Alison. A flecha varou e transpassou seu corpo magro. A pupila de Alison se contraiu, mas a pequena não gritou.

O rapaz ficou parado olhando para ela, esperando que caísse ao chão. Mas para sua surpresa, a criatura arrancou a flecha de si, e a quebrou em dois. E o ferimento se fechou diante dos seus olhos:
-Para longe de mim, criatura do demônio, ou atiro outra vez!
-Atirar? Já não viu que não pode me ferir? Seu estúpido, não sou uma criatura do demônio. Sou apenas uma vítima tentando sair dessa floresta maldita!
-Tens os olhos vermelhos e estás na floresta amaldiçoada. És uma das criaturas abominantes da lenda. Quando vim até aqui caçar, sabia que iria encontrar coisas como você, e estou disposto a capturá-la e provar a todos que a lenda é real!
-Aaaaaaaaaaahhhh! Era só o que me faltava. Um garoto idiota querendo bancar o valentão. Nessa floresta não há seres malditos como dizem. É só uma história pra afastar curiosos daqui. O que há nessa floresta é a mansão dos Ladrões de Vidas. A lenda deles sim é real. E eu me tornei uma deles, mas vou até o vilarejo, vou encontrar um mago, um curandeiro, qualquer um que me salve dessa maldição. E você, fique longe de mim! Se me atirares uma flecha novamente, faço-te engolir ela e teu arco junto!

Alison se distanciou do rapaz, mas a fraqueza fez com que ela parasse. Encostou-se numa àrvore. Foi então que o rapaz pôde observa-la atenciosamente. Tirando os assustadores olhos vermelhos, e a coloração da pele, a criatura à sua frente era apenas uma mocinha fraca tentando achar uma saída. Então o rapaz foi em direção a Alison, e a segurou antes que seu corpo frágil aos olhos alcançasse o chão:
-Me chamo Antonny... desculpe ter lhe ferido, mas assustei-me ao ver-te.
-Ora! Largue-me, não preciso de sua ajuda... espera, és Antonny, o príncipe, filho do rei Rodney?
-Sim... sou eu.
-Meu pai é oficial do exército do seu pai. Homem de confiança.
-Eu vou te ajudar a se levantar... como se chama?
-Meu nome é Alison, acredite ou não, até anteontem eu era um ser humano...
-Nossa... a lenda dos ladrões de vidas é real. Preciso informar meu pai sobre isso. Temos que acabar com essas feras. Há anos que eles assombram e matam pessoas...

De repente, Alison ouviu por entre as arvores o som suave do vento frio que vinha em sua direção. Era Harrison que vinha buscá-la. Alison apertou as mãos de Antonny e disse:
-Vai-te... corre... Harrison está vindo! Ele é muito perigoso. Foi o maldito que me transformou nisso. Tem que ir embora. Eu distraio ele!
-Não! Fico aqui e defendo a ti!
-Não seja besta, nem a mim que não conheço do que sou capaz você conseguiu matar, muito menos a esse ser maligno que tem anos e anos de vida sombria. Escutei seus companheiros lhe chamando de Harrison. Creio eu que seja o rei Harrison desaparecido anos atrás. Por favor, vai embora... é a mim que ele procura, não precisa se machucar... VAI!
-Certo, mas eu volto... pra te salvar
-Você é metido a herói mesmo... vai logo...

E Antonny sumiu pelas folhagens. E com um sopro gelado, Harrison apareceu das sombras e ficou diante de Alison:
-Ja deste teu passeio matinal pequena?
-Meu nome é Alison, e não estava passeando. Estava indo pra cidade, contar sobre vocês, procurar uma cura pra mim!
-HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!! Cura??? CURA??? Não há cura pequena... isso não é uma doença, é uma mutação. E quanto ir à cidade... ingênua. Ao te verem com este belo par de olhos vermelhos e tua coloração de pele incomum, jamais te ouvirão. Te entregarão a morte, sem ao menos discernir que há um ser pensante dentro desta carcassa de monstro.
-Não podem me matar!
-Como sabes que não morrerás?
-Eu apenas sei...
-Claro... não importa... te banirão... e você vai voltar pro único lugar onde tem semelhantes... ao meu lado!

Harrison pegou Alison pelo braço, e a levou consigo de volta para a mansão. Subiu as escadas, abriu a porta do quarto e jogou Alison ao chão:
-Se fugires de novo, não vou te buscar. Deixarei ir ter com os moradores do vilarejo mais próximo pra que vejas que para eles agora és apenas um bicho. E quando ferirem você e voltares correndo pra cá, não abrirei a porta e terás uma vida eterna de tristeza banida da existência de outros seres vivos.

Essas palavras assustaram Alison. Ela se levantou, mas sentiu-se zonza e quase caiu. Harrison a segurou e disse:
-Mandei-te tomar o lítio. É nossa única refeição. Se sentirá fraca assim se não tomares.
-Se eu não tomar, morro de fraqueza como um ser humano morre de fome?

Harrison deixou Alison cair ao chão e olhou com raiva para ela:

-Nem pense em tentar-te a morte por não tomares o lítio. Se você ficar muito tempo sem tomá-lo, se sentirá cada vez mais fraca, e as veias no seu corpo implorarão pelo líquido que lhe dá vida. Elas sugarão de ti toda a energia vital, e sofrerás meses como um cão antes de chegares a morte. Quando olhar no espelho e ver o seu organismo consumindo toda a carne do seu rosto, vai se arrepender por ter tentado se matar dessa forma.

Harrison virou-se e saiu do quarto, batendo fortemente a porta. Alison olhou para o lítio no criado mudo perto da cama. Pensou um instante no que dissera Harrison. Ficou horrorizada com a idéia de ver seu corpo desfazer-se aos poucos. Não estava acostumada a tanto sofrimento. Não conseguiria chegar até o fim, e acabaria tomando o lítio cedo ou tarde. Correu em direção ao criado mudo, pegou o frasco e bebeu todo o líquido efusivamente. Sentiu-se tão bem naquele instante, como se tivesse acabado de comer um prato bem feito de comida na hora do almoço com muita fome. Alison queria viver, mas não daquela forma. Já não sabia mais o que fazer. Afinal, pra que viver para sempre, se ela não tinha pelo que viver?

terça-feira, 21 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 3

A chuva fina batia suavemente na janela. No relógio empuerado no criado mudo ao lado da cama, batiam 6 horas da manhã, mas por causa do tempo frio, ainda estava escuro.

Alison abriu os olhos, um pouco atordoada. Estava zonza, e sua cabeça estava pesada. Olhou em volta de si. No escuro, podia ver um quarto antigo, empuerado e um certo tanto assustador. A jovem avistou então um espelho. Levantou-se e foi até ele.

Quando ergueu os olhos, não acreditava no que estava vendo. Seus cabelos, que eram claros como um raio de sol, agora estavam negros como a rajada da noite. Seus olhos azuis como o céu, eram vermelhos agora. Sua pele estava pálida como porcelana fria. Ela havia se transformado numa criatura monstruosa como o assassino de sua mãe.
Mas o que mais atormentava sua mente era não saber onde estava. Perguntas, idéias confusas. Onde estaria o ser que a trouxe a tal lugar? O que queria ele com ela? Todas as pessoas que eles capturam se tornam ladrões de vidas como eles? Estaria sua mãe viva? Seria ela também um monstro?

A porta de madeira se abriu, rasgando as teias de aranha que a celavam. Entrou no quarto o rei Harrison, desaparecido há 50 anos atrás. Em seu rosto havia duas rajadas negras que iam desde o cílio até a extremidade inferior da face, e seus olhos eram vermelhos como sangue.

Alison disse:
-Então é real?
-Sim pequena... somos reais.
-O que fez comigo?
-Não deveria me olhar com tanto ódio e medo assim. Agora você é igual a mim!
-Faz isso com todas as pessoas que ataca?

Harrison se aproximou de Alison. Ela deu um passo para trás. Ele olhou atentamente para ela, e sorriu sarcasticamente.
-Não... só com pessoas especiais...
-Minha mãe... foi você que eu vi anos atrás em minha casa... onde ela está? Está aqui?
-Eu tenho observado você todos esses anos... ficou bela como sua mãe. A diferença entre vocês é que você tem uma coisa que me fascina. Não pequena, sua mãe não está viva. Não dei a ela essa chance. O fôlego de vida dela me deu mais uns 5 anos de juventude...

Alison sentou-se na cama, com os olhos cheios de àgua.

-Eu não posso matar você. Eu a quero comigo. Você agora também pode roubar vidas. Será bela e jovem para sempre, ao meu lado- disse Harrison
-NÃO! Nunca! Eu não sou um monstro... não quero ser isso que você me transformou!
-É sempre assim no começo, "não sou um monstro", "não quero ser assim", "isso não tem volta", "prefiro morrer"... ATÉ VOCÊ PROVAR A PRIMEIRA VEZ O QUE É POSSUIR A VIDA DE ALGUÉM EM SEU CORPO... o doce sabor de se sentir mais forte... se sentir poderoso... mais jovem... acredite pequena, você vai se acostumar, e vai até gostar!
-Espere... há... há outros como você? Aqui?
-Sim. Há outros como NÓS! Como eu disse, pessoas especiais.

Harrison se dirigiu à porta e saiu. Com passos suaves, Alison foi atrás dele.
Deu-se então em um saguão, uma sala escura. Nela, havia seres muito estranhos.

-Ooooolha a bela adormecida acordou é? - disse Madison, um dos seres que parecia ter uma espécie de coleira. Ele era o súdito de Harrison.
-Seja bem vinda aos ladrões de vidas. Meu nome é Meloddy. Tome um gole! -disse uma das moças, dando a Alison um cálice com um líquido negro.
-O que é isso? - retrucou Alison

Harrison foi até diante de Alison. Aproximando-se, disse:
-É lítio! Nossa única refeição, além das vidas, é claro!
-Por que bebem isso?
-O lítio é o que corre em nossas veias pequena. Não precisamos de mais nada. É o licor dos deuses. Beba! Vai se sentir melhor.
-Eu não quero isso. Eu quero ir embora! - disse Alison, jogando o cálice no chão.

Alison correu para o quarto. Madison olhou para Harrison ironicamente e disse:
-Essa vai ser mais difícil de aceitar...
-Ela vai se acostumar Madison. Sabemos que vai.

Alicia, o ser mais sedutor da sala se aproximou de Harrison. Com seus negros cabelos curto, e sua marca que parecia um raio e envolvia o olho esquerdo, encostou-se no rei e disse:
-E então queridinho, quando vamos levá-la à caça?
-Daqui uns dias... quero que ela se acostume a sua nova forma primeiro. Não quero perdê-la...
-Disse que só a transformou porque precisáva-mos de mais gente conosco. Mas me parece que tem outros interesses sobre ela!
-Não tenhas ciumes Alicia. Sou seu líder, não seu marido. E não me encha de perguntas, não te dei esse direito. Cala-te e deixe-me.

Alicia saiu do saguão com raios saindo dos olhos. Madison se sentou ao lado de Harrison:
-Não te apegues a novata. Ela se demonstrou mais dura que os outros. Pode ser a nossa derrocada. Se ela oferecer perigo, já sabe o que fazer...
-Não te preocupes meu súdito. Se ela se rebelar, tirarei dela todo o fôlego, como fiz com a anterior!
-Ótimo. Quanto a Alicia, também é perigosa. É praticamente o senhor no sexo feminino. Não a provoques tanto, mulher ferida é pior que uma serpente enrolada ao pescoço. O senhor a tratava como rainha. Não a desprezes por causa da pequena.
-Quando foi que te nomeei conselheiro seu imprestável? Faço o que bem entender quanto a Alicia e a novata. Se Alicia me amofinar, mato-a também. E se não te calares, vai-te junto com ela!

Madison se retirou do saguão, preocupado...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 2

Alison era uma jovem de 20 anos, cabelos claros, loiros como um raio de sol. Seus grandes olhos zuis como o céu chamavam a atenção. Seu corpo magro por natureza dava a Alison um aspecto delicado, e seu rosto, talhado perfeitamente, era admirável como a de uma boneca de porcelana.

Apesar da delicadeza, Alison era uma moça de personalidade forte. Vivia apenas com seu pai, pois sua mãe havia desaparecido misteriosamente quando era pequena. Seu pai, Tom Madley, era oficial do exército do rei Rodney. Era um homem forte e destemido, e amendrontava a todos com sua armadura negra. Diziam que ele vivia em sombras depois do desaparecimento de sua esposa, e que a única luz em sua vida era sua filha.

Era uma noite gelada de julho. Alison estava sozinha em casa, visto que nessa noite seu pai estava a serviço do rei. Geralmente, a vizinha de Alison, que praticamente a criou depois do desaparecimento de sua mãe, ficava com ela quando seu pai não estava em casa. Mas naquela noite, seu filho mais novo havia adoecido, e ela não pode ficar com Alison. Afinal, a moça já estava bem grandinha pra não poder ficar sozinha.

Batiam meia noite e meia no grande relógio de madeira da sala. Alison bordava um lençol branco. Suas mãos estavam frias, devido ao frio da noite. Alison parou de bordar e começou a andar pela sala. Parou em frente à estante na parede, e viu o retrato de sua mãe. Foi então que lembrou que estava exatamente fazendo 15 anos que sua mãe, e mais 17 pessoas, haviam desaparecido naquele dia. A moça se distanciou do retrato e ficou imóvel. Iriam os ladrões de vida aparecer naquela noite para roubar mais alguma alma inocente? Então, a jovem correu para o quarto e trancou a porta. No mesmo instante, ouviu a janela da sala quebrar!

Alison suava frio. Ouviu-se então passos estraçalhando os cacos no chão da sala. Alguém havia entrado na casa. Alguém que estava procurando por ela. Alguém que queria sua alma.

Pelo corredor, passos leves se aproximavam. Alison se viu num beco sem saída. Decidiu se esconder dentro do guarda-roupas. Com um chute, a pessoa que havia entrado na casa quebrou a porta do quarto de Alison, e entrou calmamente procurando algo.

Pela fresta da porta do guarda-roupas, Alison viu o que parecia ser um homem com uma grande capa negra e com olhos vermelhos arrepiantes. O homem se dirigiu à vela que iluminava o quarto, e a apagou. No meio da escuridão, somente os olhos vermelhos brilhavam.


O coração de Alison batia tão forte e tão rápido, que ela mesma podia ouvir. E ela sabia que ele também ouviria. Foi quando, de repente, a porta do guarda-roupas abriu-se. Num grito, Alison se deparou frente a frente com o amendrontante ser que assombrava sua vida por tanto tempo. Sim, ele era o vulto que ela viu passar pelo corredor quando tinha 5 anos. O vulto que foi até o quarto de sua mãe e a levou para todo sempre, sem nem ao menos deixar um corpo para enterrar. Agora ele voltara, anos mais tarde, para matar também a ela.

O ser das trevas olhou diretamente nos olhos de Alison. Em poucos intantes Alison caiu em um sono profundo. O ser tirou de sua roupa das sombras um frasco com um líquido negro. Derramou o líquido nos lábios vermelhos de Alison, e a levou consigo pela noite fria entre a névoa.




CONTINUA

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 1

Era uma tarde fria de novembro. O rei Harrison já não demonstrava ter um pingo de humanidade em seu coração. Era frio, e comandava seu exército por toda terra sem piedade, dominando povos e assassinando seus líderes de forma cruel e desenfreada. Seus súditos mais próximos sabiam que tinham que fazer algo para detê-lo.
Um dos sátrapas mais sábio chegou junto com o mago mais conceituado do palácio. Ele dizia ter consigo uma poção mágica, que poderia deter o rei para todo sempre. Mas aquele líquido escuro não passava de uma mistura de lítio com outros igredientes, um veneno mortal e rápido. Aí criou-se uma conspiração! Eles matariam o rei e livrariam a terra do mal.
À noitinha, o rei se sentara para o jantar no horário de costume. Seu súdito então trouxe um cálice com um líquido negro. Ele disse:
-Das mais alvas montanhas do norte, o mais nobre licor para vossa majestade!
-Não parece ser tão bom assim. O que me faz crer que seja algo nobre?
-Esse licor foi saqueado quando atacamos o vilarejo de Monteville, diretamente da mesa dos nobres de lá.
-Hum! Creio que gostaria de tomar um gole...
Nesse instante, o súdito ficou branco como a neve. Vía-se em seus olhos a traição iminente. Olhou então para a porta onde estavam os sátrapas observando. Um deles olhou bem no fundo dos olhos de Madison, o súdito, como se dissesse que ele bebesse o veneno, pelo bem da humanidade. Nesse momento Madison fechou os olhos como se aceitasse seu terrível destino. Olhou com um sorriso para o rei e disse:
-Sim majestade, adoraria beber contigo este licor dos deuses.
Madison pegou dois cálices, derramou o líquido negro e deu um copo ao rei. Brindou e disse:
-Vida longa ao rei!
No mesmo instante, os dois viraram o cálice. Engolido o líquido, Madison, com os olhos vermelhos exclamou:
-Que a tua maldade seja eternamente extinta, junto com a minha vida sacrificada para um bem maior!
Então, o rei começou a se contorcer, caiu ao chão e teve uma convulsão. No mesmo momento, Madison gritou doloridamente como se estivesse se rasgando por dentro. Caiu ao chão e expirou. O rei e seu súdito de maior confiança estavam mortos.
Os sátrapas junto com os sábios e o mago entraram na sala de jantar. Ajoelharam-se diante dos corpos e riam de alegriam, achando que toda maldade havia acabado. De repente o corpo de Madison deu um estalo. Abriu os olhos, vermelhos e brilhantes. Duas rajadas negras vinham desde seus cílios, e caiam sobre a face pálida e mórbida. Levantou-se lentamente. Olhou para os presentes na sala e exclamou com uma voz vibrantemente grossa e amendrontante:
-Vida longa ao REI!
Então quando olharam atrás de si, eis que o rei estava em pé atrás dele, com os mesmos olhos vermelhos de Madison. Pegou um dos satrapas pelo pescoço, levantou até a altura dos seus olhos, e olhou furtivamente para o rosto de seu servo. Abriu a boca, e o sátrapa passou a estribuxar. Então de sua boca saiu um ar branco, que entrou pela boca do rei. Jogou-o então do lado. O satrapa estava morto. O rosto do rei havia ficado mais alvo, como se a vida do sátrapa tivesse sido sugada e o tornado mais jovem e forte. E o rei disse:
-Juraram dar a sua vida pelo seu rei. Pois agora darão sua vida ao rei!

Essa era a lenda que diziam ter sido criada por forasteiros no vilarejo de Torrywather para explicar o desaparecimento repentino de pessoas as quais ninguém conseguia achar uma causa. Alison acreditava nessa lenda. Quando tinha 5 anos, estava sozinha em casa com sua mãe. Seu pai era cavalheiro do exército do rei Rodney, e estava a serviço dele naquela noite. De repente, enquanto brincava na sala, viu um vulto passar pelo corredor, indo em direção ao quarto de sua mãe. Assustada, se escondeu atrás do sofá. Alguns instantes depois, ouviu um grito e um suspiro de morte. Nunca mais viu sua mãe outra vez...






CONTINUA