domingo, 31 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 46

- Oi crianças, esqueci meus óculos. - disse minha mãe, entrando apressada em casa.
- Oi mãe. - gaguejei, com a respiração meia cortada.
- Está tudo bem, querido? E o corte na cabeça? - perguntou minha mãe, percebendo meu jeito.
- Estou ótimo! - respondi, agudo demais, e ela franziu o cenho pra mim.

Os olhos de Janet dispararam para Andrew, e eu olhei preocupado na mesma direção. Andrew estava sentada no sofá de três lugares de novo, com aquela porcaria de livro nas mãos, concentrada numa leitura falsa. Franzi o cenho também. Andrew sabia disfarçar uma situação comprometedora mil vezes melhor do que eu - parecia que ela tinha feito isso milhares de vezes. Não gostei nada de pensar nessa possibilidade.
- Andrew? - chamou Janet.
- Ah, oi Janet. Desculpe, esse livro absorve a gente. Acredita que o Edward pediu pro Jacob ir pra cama com a Bella pra que ela tivesse um filho normal ao invés do híbrido que ela estava esperando? E o Jacob ficou muito tentado, viu. - tagarelou Andrew. Edward? Jacob? Bella? Cama? Pelo amor de Deus, ela lembrou até mesmo que parte do livro que estava lendo. Como disse Matt, Andrew era mesmo ninja.
- Ah, é aquele livro da série Crepúsculo que você estava lendo? - perguntou minha mãe, sem interesse real.
- Sim, você assistiu o filme comigo... muito bom. - Andrew parecia realmente absorvida pela história fictícia em suas mãos, como se nada tivesse acontecido entre nós.
- Querida, você viu meus óculos? Não consigo ler nada no trabalho sem eles. - pediu minha mãe.
- Não está no seu quarto? - sugeriu Andrew.
- Opa! Será que deixei lá em cima? Vou pegar. - disse minha mãe, se virando para as escadas.

Fitei Andrew, com os braços cruzados, balançando a cabeça negativamente.
- Que é? - se incomodou ela.
- Você é um ser maligno. - acusei.
- Hahahahaha! Claro! Não deixar que minhas emoções me afetem na presença de outros não é ser alguém maligno. É ser alguém equilibrado. - respondeu Andrew, boa nas respostas outra vez. - Eu hein Brad, tão bom na pegada, e tão criancinha assustada se é pêgo. Assim você desanima! - zombou ela.

Minha boca escancarou e meus braços caíram. Bom na pegada? Uma frase dessa nunca sairia da boca de Andrew Marew. Não a Andrew que eu conhecia. Não me surpreendia que eu sempre vi Andrew como um ser sombrio - eu não conhecia a alma dela.
- Eu sou um ser transparente e sincero, diferente de você, senhorita "eu não te amo, Brad". -provoquei.
- Você pode ser sincero, mas não precisa dar mole, medroso. - riu Andrew, posicionando o livro para ler.
- Espera minha mãe sair, e você vai ver só! - ameacei.
- Rá! Agora você virou homem! - ironizou ela. - Então vou me trancar no meu quarto, porque senão o Hulk moreno vai me pegar! - disse Andrew, rindo, levantando do sofá e indo para as escadas.
- Se fugir para o seu quarto, não pense que vou bater na porta. - avisei.
- Não estou contando com isso. - retrucou ela.
- Sei! Depois de tudo o que você me confessou hoje, não duvido mais dos seus desejos. Devem ser todos sórdidos. - eu disse, me sentando na poltrona.
- Eu já disse que o que aconteceu hoje não muda nada. Ainda te acho um babaca e não quero nada com você. Se o meu coração fez uma má escolha, o problema é dele. Sei bem controlar minhas emoções. - ela foi cruel.
- Quer saber? Não vou mais correr atrás de você. - decidi.
- Que bom, aceitou a realidade. - disse Andrew, sorrindo, mas eu podia ver a frustração em seus olhos.
- Não é bem isso. Só vou esperar. Você ainda vai implorar por um beijo meu.

Andrew caiu na gargalhada, mas eu não perdi a pose. Ela suspirou, ainda rindo:
- Vai sonhando, Bradley Tommas! - concluiu ela, subindo as escadas.
- São os sonhos que nos mantém vivos! - sussurrei para mim mesmo.

Liguei a TV, sentindo um turbilhão de emoções. Andrew sentia por mim o mesmo que eu sentia por ela. Ela era durona e orgulhosa, mas perdia todo o destemido auto controle em meus braços. Essa era a minha única arma contra ela: A atração que ela sentia por mim. Quando pensei nisso, ri da expressão de física "os opostos se atraem". Caramba, não é que era verdade mesmo! Não existia nada mais oposto do que eu e Andrew. Minha decisão de não me rastejar aos pés dela não era infundada. Sempre que eu ignorava Andrew, ela dava um jeito de se meter na minha vida. Ela não resistia ficar longe de mim, ela não conseguia viver se eu não estivesse envolvido no cotidiano dela. Cedo ou tarde ela cederia e eu não desconfiava nada que ela se jogasse em cima de mim, não depois do que ela disse sobre "bom na pegada". Sempre achei que as meninas na escola corriam atrás de mim por eu ser capitão do time de basquete. Mas agora eu tinha certeza de que era porque eu tinha pegada. E era bom nisso. Nem Andrew ficou imune aos meus encantos. Ri sozinho de satisfação. Nesse momento, minha mãe desceu a escada:

- Encontrei meus óculos! Tenho que correr, estou atrasada! - avisou ela, correndo para a porta da sala.

Assim que ela abriu a porta, eu vi a figura alta com a mão levantada e o punho fechado pronto para bater, mas interrompido pela minha mãe. Era Stuart Kennesty. Gelei no instante em que o vi, alí, na porta da minha casa.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 45

- Você está bem? - perguntou Andrew, aflita.
- Não, acho que estou morrendo. Deve ser hemorragia interna, como minha mãe disse. - dramatizei.
- O que você está sentindo? Tá doendo a cabeça? - Andrew se aproximou de mim, preocupada.
- Na verdade, não tá doendo nada. Mas estou ouvindo coisas. - confessei.
- Hã? - se confundiu Andrew.
- Achei ter ouvido você dizer que queria que eu te beijasse. Nossa! Devo estar mal mesmo. - lamuriei.

Andrew me deu um soco forte no braço.
- Ai! - exclamei.
- Seu idiota! Achei que estivesse passando mal! Que susto! - rugiu ela.
- Espera... você realmente disse isso? - perguntei, pasmo.
- Disse! Argh!
- Ah, então quem está passando mal é você.
- Brad! Pare de gracinhas!!! - reclamou Andrew. - Não dá mesmo pra ter uma conversa séria com você! Vai ficar fazendo piadinhas agora...
- Não, não! Desculpa. - intervi, rápido. - É que isso, pra mim, era quase impossível.
- Que eu também goste de você? - perguntou ela.
- E você gosta?
- Se eu quis que você me beijasse é porque gosto de você, não é? - raciocinou ela.

Olhei para Andrew por um instante, confuso.
- Ah, desculpe... esqueci que no seu mundinho você beija pessoas só por beijar! - disse Andrew, amarga.
- Não, não, não, não! - me toquei logo. - Desculpe Andrew, eu... é que eu quis tanto ouvir isso de você que, agora que eu finalmente consegui, estou completamente perdido.
- Eu quis arrancar meu coração e dar para os cães de rua comerem quando pensei na possibilidade de estar gostando de você, então, acredite, você não é o único perdido aqui. - reclamou Andrew.
- E por que negou esse tempo todo? Você me fez sofrer, sabia? - confessei, magoado.
- Argh, Brad! Você sempre foi um canalha. Podia muito bem estar me sacaneando.
- Mas não estou.
- Agora eu sei... eu soube quando você perdeu a posição de capitão do time de basquete. Você parecia mudado. Não ligava mais praquelas líderes de torcidas sem cérebro, nem pra sua reputação e nem pra nada. E estava tão triste. E meu coração doeu de ver você daquele jeito. Mas mesmo arrasado, você veio e me beijou. Eu queria matar você, porque o seu beijo dissipou todas as dúvidas que eu tinha em relação a mim mesma no que dizia a respeito de você. E eu queria morrer por ter gostado muito mais de beijar você do que qualquer outro garoto. - suspirou Andrew.
- Qualquer outro? Espera, quantos garotos você já beijou?
- Vai pro inferno, Brad! - ela não estava de muito bom humor.
- Pelo jeito, eu já estou nele. - eu disse, passando de leve a mão no rosto dela.
- Enfim, isso não muda nada! - concluiu Andrew, tirando a minha mão bruscamente da maçã de seu rosto de boneca de porcelana.
- Como não muda nada? - disse, agora tenso.
- Brad, nós somos dois idiotas. Não podemos gostar um do outro. Somos muito diferentes, e nossos pais iam pirar com isso. - refletiu Andrew.
- Mas...
- Não tem essa de "mas"... tudo isso é precipitação nossa. - disse Andrew, conformada, passando a mão no cabelo. - Vai passar. É por isso que eu não queria admitir nada. Porque você nunca esteve e nunca estará nos meus planos.
- Mas você terminou com Stuart por minha causa.
- Terminei com ele porque sou uma pessoa ética. - respondeu Andrew.
- Tente ser ética em relação a isso então! - eu disse, puxando ela para mim pelo braço.

Queria uma vez na vida que ela me agarrasse. Afinal, era a vez dela de se libertar dos receios. Mas Andrew sempre falou demais! Então, mesmo quando era ela quem estava confessando que me amava, eu é que tinha que tomar a iniciativa e partir para a melhor parte de tudo isso. Beijei Andrew e dessa vez ela não me empurrou, nem hesitou. Não tinha porque negar, se agora ela havia admitido para si mesma o que eu estava tentando provar esse tempo todo. Ela me beijou de volta com a mesma intensidade, e eu nunca havia me sentido mais vivo. Como eu não poderia estar nos planos dela, se ela me beijava daquele jeito? De repente, um som, mesmo baixo, a fez me empurrar. A porta estava sendo destrancada e aberta por alguém. Ofeguei quando Andrew se afastou de mim, mas me recompus assim que vi minha mãe entrando na sala.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 44

Estacionei o carro na garagem e entrei em casa estressado por Matt ter descoberto tudo. Na sala, Andrew estava deitada de bruço no sofá de três lugares lendo algum livro idiota. Reconheci a capa negra com uma peça de xadrez e escrito em prateado "Amanhecer". Era um dos livros daquela série maldita do Crepúsculo.
- Minha mãe já foi para o trabalho? - perguntei, àspero.
- Virei garota de recados agora? - respondeu ela, azeda, sem tirar os olhos do livro.

Bufei e espiei pela janela. Não havia sinal dos carros nem de Jonathan e nem da minha mãe no jardim. Olhei maquiavélico para Andrew. Era hora de me vingar por ter me dedado no almoço.
- Por que você faz isso? - comecei.

Dessa vez ela olhou para mim.
- Isso o que?
- Diz que me odeia, que não quer nada comigo, que preferia que eu não existisse... mas fica se intrometendo na minha vida! - acusei.
- Janet perguntou por que Matt estava aqui em casa hoje, e eu apenas respondi. - argumentou ela, sentando direito no sofá.
- Não poderia ter dito que ele só estava de visita?
- Mentir? Não Brad, não tenho essa sua habilidade.
- Você acha que é muito espertinha, não é?
- Brad, por favor. Me deixe em paz. Estou no capítulo em que o Edward pede pro Jacob tirar a idéia de ter o bebê da cabeça da Bella. Está atrapalhando a minha leitura. Xô, xô! - gesticulou ela.

Fiquei irritado com o desprezo de Andrew. Avancei e peguei o livro da mão dela.
- Ei, Brad! Me devolve isso agora! - gritou ela.
- Você acha que eu gosto de como as coisas são? Você acha que eu ainda não queria ser o mesmo Brad de antes? Acha que não adoraria ainda ser o capitão do time de basquete e o cara mais cobiçado da escola como antes? - as palavras começaram a pular da minha boca, e eu não tinha controle sobre elas quando estava nervoso. - Acha que eu escolhi estar gostando de você? Acha que eu queria morar na mesma casa que você e ter que ver a sua cara de zombaria pra cima de mim todo santo dia? Acha que eu realmente queria ter te beijado e estar morrendo de vontade de te beijar de novo? Eu não escolhi nada disso, Andrew! E eu me odeio por cada coisa que está acontecendo, por cada atitude idiota que eu tomo e principalmente por cada pensamento que aparece na minha cabeça relacionado a você!!! - gritei, ofegando.

Andrew estava de pé, parada diante de mim, complemente muda me olhando assustada. Mordi o lábio esperando que a raiva passasse, e joguei o livro no sofá. Suspirei.
- Eu sei que eu era um idiota antes, e talvez ainda seja um idiota agora, mas de forma diferente. Pelo menos antes eu era feliz! Agora eu vivo cheio de problemas e isso tudo é culpa sua! - acusei, por fim.

Dessa vez, Andrew respondeu.
- Eu não sou a culpada. Nunca quis que você se apaixonasse por mim. - disse ela, baixinho.
- Eu só quero te pedir uma coisa. Se você não me quer na sua vida, então por favor, pare de cruzar meu caminho!

Me virei para subir a escada, desolado.
- Brad! - chamou Andrew, a voz mais sentimental.

Parei alí, de costas para ela.
- Brad, eu... eu sinto muito... por tudo. - ela disse, enquanto eu me virava.
- Você não sente porcaria nenhuma. Só se preocupa com seu mundinho sombrio de Stuart, metal, alienígenas e Crepúsculo. O que não abrange essas coisas não significa nada pra você! - disse, cruelmente, e ela pareceu sentir minhas palavras se encolhendo com elas.
- Pode tirar o Stuart dessa lista. - riu Andrew, melancolicamente - Não estou mais com ele.
- O que? - fiquei confuso.
- Não podia continuar com ele desse jeito. Traí ele... com você.
- Eu que te beijei. Você não fez nada premeditado. Não era uma traição.
- Foi sim... - hesitou ela - foi porque eu quis que você me beijasse...

Ah tá! Agora sim as coisas saíram do controle e perderam completamente o sentido para mim. O que estava acontecendo alí? Andrew estava finalmente reconhecendo que também gostava de mim? Não podia ser verdade. Eu tinha mesmo batido forte com a cabeça. Eu estava tendo ilusões! Bem que a minha mãe disse pra eu ficar deitado. Por que eu não ouvi ela? Ainda bem que deu tempo de levar Matt para buscar o carro, antes de que esse espasmo começasse. Me sentei na poltrona com a mão apoiando a cabeça. Se eu estava passando mal, precisava me sentar, não é? Fitei Andrew novamente, e ela me olhava com uma expressão frustrada.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 43

Matt ofegou e vacilou por um instante, me olhando confuso, balançando a cabeça, negando a si mesmo a nova descoberta:

- Ah, não! Ce tá me sacaneando! - disse Matt, sem rir dessa vez.
- Acha que eu escolhi isso? - me justifiquei.
- Cara! De tanta garota linda que você já pegou... justo... justo a Mortícia? - Matt continuava a se lamentar, desacreditado.
- O coração não obedece a gente. - reclamei.
- Mas ela namora o irmão do Freud.
- Eu sei disso, melhor do que todo mundo! - grunhi.
- Ela te odeia.
- Isso eu também sei.
- E ela sabe disso?
- Sabe... você sabe como sou impulsivo. Acabei beijando ela. - confessei.
- Irgh! - exclamou ele.
- Vou te jogar pra fora do carro! - ameacei, irritado demais para ser compreensivo com a reação dele.
- To brincando, ela até que é lindinha. Mas ela é estranha. Tipo, é uma chata e uma maluca. De chata por chata, maluca por maluca, por que não fica com a Ashley mesmo? - sugeriu Matt.
- Já chega! - eu disse, me esticando para abrir a porta do lado dele e empurrá-lo, ainda com o carro em movimento.
- Tudo bem, tudo bem. Entendi! Nada de falar mal da brux... Andrew. - compreendeu Matt.
- É! Última chance! - ameacei, me endireitando no banco do motorista.
- Não posso chamá-la de Feiticeira do Mal? - pediu Matt.
- Não!
- Nem de rascunho da Trinity do Matrix?
- Também não!
- Nem de bruxa de blair?
- Não!
- Nem de Mortícia?
- Não!
- Nem de...
- Matt!!! - gritei, sem paciência dessa vez.
- Ta! - gritou ele, de volta.

Revirei os olhos. Aquela conversa era constrangedora. Eu, defendendo Andrew Marew? Matt devia estar confuso mesmo.
- E o que pretende fazer? - perguntou ele.
- Eu não faço idéia. - me lamentei.
- Quer um conselho de amigo?
- Não!
- Brad, é sério. Não vou zuar dessa vez. - ele pareceu sincero.
- Fala, Matt! Você vai acabar falando de qualquer jeito mesmo.
- Sai fora dessa! Vocês não foram feitos um para o outro. Ela nunca vai querer nada com você, assim como você também não deveria querer nada com ela. Além disso, tem sua mãe e o senhor Marew. Acha que eles vão concordar com um romance louco desses? Vocês moram na mesma casa, o senhor Marew vai pirar se souber que andaram se pegando. - refletiu Matt.
- Matt! A gente não andou se "pegando". Foram só alguns beijos... - me justifiquei.
- Alguns? - ele disse isso agudo demais. - Eu achei que tinha sido um só. Ce vai pro inferno mesmo. Tem um lugar lá pertinho do capeta com uma plaquinha escrito "Reservado para Bradley Tommas". - zombou Matt.

Bufei. A zombaria de Matt estava voltando. Ele parecia estar aceitando a realidade. Mas o que ele disse sobre minha mãe e o Jonathan era algo para se considerar. Minha mãe ia me castrar se soubesse que eu andei agarrando a enteada dela.
- Por que não me contou isso? - perguntou Matt, sério de novo.
- Não é óbvio? Eu não sabia o que fazer. Não sabia se ia acordar na manhã seguinte e descobrir que isso tudo era maluquice minha, que não amava Andrew porcaria nenhuma. - eu disse.
- E você tem certeza do que sente?
- A cada dia mais. - lamuriei.
- Wow! Que merda! - lamentou Matt, junto comigo.
- Nisso a gente concorda.

Enquanto Matt pensava, com o olhar meio perdido, virei a esquina e alí estava a escola. Parei o carro em frente ao portão do estacionamento. Matt colocou a mão direita no trinco da porta do carona, mas antes de sair, colocou a mão esquerda no meu ombro.
- Cara, você sabe que eu vou te apoiar seja lá qual for a babaquice que você pretender fazer. Se quiser virar serial killer e matar o tal do Stuart, vou até mesmo ser seu cúmplice nessa. - quando ele disse isso, revirei os olhos. - Mas, irmão... relaxa. Assim como a vida complica as coisas pra gente, ela mesmo desata os nós. Só acredite que tô do seu lado. - me encorajou Matt.
- Eu sei, brother. - hesitei, enquanto ele saía do meu maverick. - Ah, Matt!
- Que? - esperou ele.
- Nada de contar isso ao Freud. E por favor, por favor, por favor, não fique fazendo piadinhas disso. Todo mundo vai sacar. - implorei.
- Até parece que você não me conhece. Sou um cara muito sério. Tchau, Brad! - disse ele, indo para dentro do estacionamento, buscar o carro dele.

Revirei os olhos. Matt era meu amigo, mas não perdia a piada. Era mais do que certeza que ele ia me zuar até eu "pedir pinico". Agora sim eu tava ferrado. Esse era um dos motivos pelos quais eu não havia contado nada a Matt. Acelerei o carro e parti para casa, suspirando. Tinha um assunto pendente ainda para resolver com Andrew Marew.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 42

Liguei o motor do Maverick e tirei ele da garagem, para levar Matt até a escola para buscar aquela porcaria que ele chamava de carro. Minha mãe não gostou da idéia, e disse que eu deveria ficar deitado por causa do ferimento na cabeça, mas Matt tranquilizou ela, com aquele jeito metido à médico, dizendo que se fosse pra mim desmaiar, eu já teria desmaiado.

- Sua casa é muito legal! - suspirou Matt, no carro, satisfeito, enquanto a janela aberta lançava vento no topete de seu cabelo louro claro curto.
- Você já foi lá, não lembra? - perguntei.
- Claro, claro. Mas era meio tenso naquela época. Era o início do casamento da sua mãe com o senhor Marew, e você vivia de cara fechada. Nós dois não ficávamos nem um pouco a vontade lá. - relembrou Matt.
- Bom, isso é verdade. - concordei, dirigindo pela rua calma.
- Sem contar aquela chata da Andrew. Ela era uma excelente anfitriã quando eu ia na sua casa. - disse Matt, ironicamente, gesticulando aspas quando disse "anfitriã". - Quase nunca aparecia, e quando aparecia ficava olhando feio pra gente.

Eu ri da forma infantilmente magoada de como Matt falou aquilo.
- Bom, mas se hoje você tirou a má impressão lá de casa, vai aparecer mais vezes? - vasculhei.
- Talvez, se a dona Janet voltar a cozinhar. Comida de restaurante não chega aos pés da comida da sua mãe. - riu Matt.
- Não mesmo. Mas esse emprego tá tomando muito o tempo dela. Na maior parte das vezes tá só eu e a Andrew em casa. - disse, sem querer.
- Você fica sozinho com a psicopata? - se assustou Matt.
- Ela não é psicopata. E já estou acostumado com a presença sombria dela. - dei de ombros.
- Sei... - disse Matt, desconfiado. - depois que ela disse o tipo de cueca que você usa, não desconfio de mais nada.
- Qual é Matt, não é isso que você tá pensando não. - me justifiquei, para não dar má impressão.
- Ah, não! Eu sei. O dia que você tiver alguma coisa com a Feiticeira do Mal, eu mando internar você. - brincou Matt.

Eu ri tenso dessa piada. Na verdade, ela não tinha graça.
- E então, parece que a Liz tá mesmo do nosso lado. - comentou Matt, de repente.
- Ah não! Não, não, não! Achei que você tinha parado com isso! - já desconfiei logo do jeito de Matt.
- Que é? - se incomodou ele.
- Liz tentou ficar com o Freud pra me perturbar. Se você ficar com ela, vai estar pegando uma ex do Freud, não uma ex minha. Isso é que eu chamo de decadência! - apelei.
- Liz não ficou com o Freud! Ela só fez uma ceninha pra você, depois nem deu chance pra ele. - defendeu Matt.
- Ah, então é isso mesmo! Seu safado! - eu ri.
- Para com isso, Brad! Saco! - se irritou ele. Matt irritado? Tinha caroço nesse angú.
- Por que não volta com a Selena? Ela curtiu pegar você, e seria mais uma líder de torcida do nosso lado. - sugeri.
- Aff... - disse Matt, olhando pela janela do carona.
- Ah, Matt! Liz ainda gosta de mim. Se você der em cima dela, ela vai se ofender, e vamos perder uma aliada. - expliquei.
- Como você sabe se ela gosta de você ainda? - disse Matt.
- Tá na cara!
- Tá na sua mente, isso sim. Ela não é uma doente viciada que nem a Ashley.
- Ashley tá com o Jonny, alooow!
- Ela só tá com o Jonny porque você mandou ela pastar.
- Tem tanta gata naquela escola, Matt. Tenta as que eu não peguei ainda. A Nicole, a Monique, a Jolie... todas líderes de torcida lindas cheias de amor pra dar. - propus.
- Todas elas estão babando que nem cachorrinho atrás do Jonny. - resmungou Matt. Nunca vi ele emburrado daquele jeito.
- Matt, Liz não, cara. Você vai magoar ela. - implorei.
- Qual é a sua, Brad? Tá pensando em voltar com ela? - perguntou Matt, àspero.

Pensei em um segundo no que Matt disse. Liz tinha provado ser diferente. E ela era tão linda. Eu estava perdido nessa paixão absurda pela Andrew, uma paixão que eu nunca havia planejado para mim. Liz sempre pareceu ser o meu tipo certo de garota. Será que eu conseguiria esquecer Andrew se voltasse com ela?

Expulsei logo esse pensamento egoísta da minha mente. Matt estava alí, bravo como nunca eu tinha visto antes na minha vida. Era óbvio que ele estava gostando de Liz. O mais engraçado era que ele nunca havia se comportado assim em relação a ninguém. Todas as garotas, para Matt, eram fonte de piada. Ele pegava minhas ex por graça mesmo, só para poder zombar depois. Nunca tinha visto ele querer uma garota por gostar de verdade dela. Se eu estava apaixonado que nem um bocó, por que o mesmo não poderia ter acontecido com o meu melhor amigo?

- Tudo bem, Matt. - suspirei. - Você tem razão. Eu não sou ninguém para falar em não magoar Liz. Fui a pessoa que mais magoou ela nesse mundo. Vai fundo, cara! Sempre te apoiei, e sempre vou apoiar. - eu sorri para ele.

Nesse momento, o Matt que eu conhecia voltou, risonho e brincalhão.
- Rá! Não vai ficar falando que eu sou estepe seu depois!
- Não, eu nunca disse isso. Quem diz é a Andrew. - eu ri.
- A senhorita pé no saco! Ela deve ser amargurada assim porque o Stuart não dá no coro! - zombou Matt.
- Matt! - ralhei com ele.
- Que é? Ele é irmão do Freud. Deve ser molenga que nem ele. - continuou Matt.
- Não precisamos falar do relacionamento de Andrew e Stuart, por favor. - cortei logo.
- Ce anda estranho, cara. Nunca mais vi você reclamar da sua irmã, como fazia antes.
- Ela não é minha irmã.
- Eu sei. O jeito que ela falou das tuas cuecas não é coisa de irmã mesmo. - falou Matt, rindo de novo.
- Impressão minha, ou essa escola tá longe pra caramba hoje? - falei, àspero.
- Ah, fica nervosinho se falo da Andrew, é? - riu Matt, mais ainda.
- Assim como você ficou nervosinho quando falei da Liz! - respondi, na lata.

Aí sim eu quis arrancar a minha língua! Matt parou de rir, olhando para mim tenso, parecendo finalmente encaixar as peças que faltavam. Parecíamos estar em um daqueles momentos bombásticos de revelações. Eu descobri que ele estava apaixonado por Liz, e pelo jeito, agora ele sabia da minha paixão idiota por Andrew. Essa era a parte ruim e ao mesmo tempo boa entre mim e Matt. A gente decifrava o que passava na mente um do outro sem expor tudo em palavras. Compreendíamos as entrelinhas. Assim como eu, ele sacou na hora o que tava pegando alí.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 41

- Pode me passar o sal? - perguntou Matt a Andrew na mesa da cozinha.
- De novo? Você colocou sal umas cinco vezes nesse seu prato gigantesco! - respondeu Andrew, de olhos arregalados.
- Andrew! Que grosseria, filha. Ele é nosso... convidado. - interviu Jonathan, amistoso como sempre.
- Convidado? Os amigos do Brad são estorvo, não convidados. E ele que se auto-convidou para almoçar! - falou Andrew, com aspereza.
- Andrew, Matt ajudou Brad. Seja legal com ele. - pediu Janet, minha mãe.
- Tudo bem mãe, em parte, tirando a grosseria, Andrew tem razão. Matt! Quer morrer de pressão alta, irmão? Achei que sua vontade de fazer medicina influenciaria no modo como leva sua vida. - falei, tentando acabar com a discussão.
- Uma vez na vida não vai me matar. - disse Matt, levantando, esticando o braço e pegando o sal do lado do prato de Andrew.
- Tomara que seu sangue empedre, estepe! - disse Andrew.
- Igualmente, rascunho da Trinity do Matrix. - respondeu Matt, sorrindo, colocando sal na comida... de novo.
- Mancadão idiota! - criticou Andrew.
- Opa! Minha querida amiga. Quer dizer então que você namora o irmão do Freud? Isso é o que eu chamo de mancada. - cortou Matt, de repente.

Eu arregalei os olhos quando ele disse aquilo.
- O irmão... do Freud? Freud não é aquele seu amigo cabeludo, Brad? - se lembrou minha mãe.
- É sim, mãe. E ele era apaixonado pela Andrew. Mas parece que o Stuart quebrou as pernas do irmão. - acusei, apoiando o Matt.

Era a minha chance de minar o terreno do meu rival nessa jogada. Afinal, se ele era fura-olho do próprio irmão, eu poderia ser fura-olho também.
- Freud sempre soube que não tinha a mínima chance comigo! - se justificou Andrew.
- Mas pegar o irmão dele? Nossa! O coitado vive em depressão agora. - disse Matt. Essa parte era exagero, mas eu ri mesmo assim.
- Acho que nem vocês dois e nem Freud tem nada a ver com a minha vida pessoal. Se eu quisesse namorar o pai dele, isso era problema meu! - gritou Andrew.
- Aí eu acho que ia ser problema seu e da mãe do Freud. - disse Matt, ficando vermelho de tanto rir.

Eu ria mais que ele, e Andrew viu a besteira que falou. Ela era muito boa em dar respostas, mas não podia contra mim e Matt juntos.
- Isso, dá bastante risada mesmo, senhor QI negativo! Eu não vou me estressar com essas suas piadinhas sem fundamento. - criticou Andrew, vendo que tinha perdido a batalha.
- Nah! Disfarça não, você disse que ia pegar o pai do Freud! Eu ouvi! - eu falei, já chorando de rir.

Minha mãe me jogou aquele olhar feio.
- Meu Deus! Andrew é ninja! Vai passar o rodo na família Kennesty inteira! - zombou Matt, e eu não aguentei. As piadas dele eram muito boas. Caí na risada de novo.
- Pai! - apelou Andrew.
- Já chega meninos! Ou vou pegar o chinelo pros dois! Ouviu bem! - ralhou minha mãe, passando a frente de Jonathan.
- Vai bater em mim, dona Janet? - brincou Matt. Ele nunca perdia aquela cara de zombador.
- Vou, porque te conheço a bastante tempo para ter autoridade de fazer isso. Te carreguei no colo, mocinho. E vocês dois estão exagerando na brincadeira. Será que não podemos almoçar em paz? - disse minha mãe, mais calma.

As piadas de Matt tinham nela o mesmo efeito que tinham em mim.
- Tá, parei! - disse Matt, baixando a cabeça de um jeito tão cômico que até Jonathan deu risada.

Tomei um gole do refrigerante para passar a crise de riso. Andrew e Matt nunca se bicaram, mas também nunca se confrontaram assim, diretamente. Não imaginei que Andrew soubesse tanto sobre Matt a ponto de chamá-lo de estepe meu, visto que ele ficava com as minhas ex-não-namoradas. Mas também não imaginei que os dois se odiassem tanto. Parecia que estava havendo um colapso de personalidades naquela mesa. Andrew, com seu jeito sombrio e suas ironias, e Matt, com seu sorriso caloroso e piadinhas que irritavam minha não-irmã.

Minha mãe, Janet, sempre amou o Matt. Ele é meu amigo desde a infância. Já fui muitas vezes brincar de carrinho na casa dele, e ele na minha. A diferença era que agora essa não era mais "minha" casa, e sim a casa do marido da minha mãe. Com o passar do tempo, Matt deixou de nos visitar, mas hoje parecia ser um rombo nesse muro imaginário que havia se formado sozinho entre nós. Matt estava muito a vontade sentado alí, do meu lado, enquanto minha mãe insistia em colocar mais espaguetti para ele e Andrew revirava os olhos, possessa. Jonathan parecia ter se identificado com Matt, afinal, os dois eram risonhos, amistosos e muito calmos. Ele não parava de rir das piadinhas que Matt fazia com as ironias maldosas de Andrew. Emburrada, ela saiu da mesa antes de todo mundo. Suspirei. Parecia que Matt viria muito em casa agora, e que Andrew iria me odiar muito mais do que já odiava.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 40

Liguei o chuveiro pensando no que Matt havia dito. A àgua quente delizou pelos meus músculos rígidos relaxando completamente minha tensão física, mas o mesmo efeito não ocorreu com minha tensão mental e emocional. Quando a àgua atingiu o ferimento na cabeça, ardeu um pouco, mas ardeu muito mais quando eu decidi ensaboar. Acidente idiota! Eu podia ter batido em um Barracuda velho na ala dos nerds, ou até mesmo espatifado o Ford antigo do Matt. Eu ia me ferrar para pagar, claro, mas não ia ter que vender até as cuecas como no caso do Porsche de Adam.

Cuecas... esse pensamento repentino já me levou para a dimensão dentro de mim que eu mais odiava. A dimensão "Andrew". Nela não havia mais Maverick, nem acidente, nem Porsche, nem Adam, nem ferimento, nem nada. Só havia ela e o fato dela saber que eu uso cuecas da Red Nose. Engraçado! Não me lembrava em nenhum momento de ter aparecido só de cueca na frente dela. Logicamente, essa seria uma idéia muito estimulante, mas se ela ainda se recusava a admitir até mesmo a atração que sentia por mim, não ia ter a mínima graça se até nos meus pensamentos ela atirava o coturno em mim e saía correndo.

Saí do chuveiro meio tenso, lembrando do que Matt havia falado sobre trancar a porta do banheiro. Matt era um zombador. Lógico, ele era meu melhor amigo, um cara pacífico, risonho e muito paciente. Mas no quesito "zuação", ele não deixava barato. Aqueles olhos azuis peraltas não me enganavam. Não duvidava nada de que ele ia zuar Andrew pro resto da vida por causa dessa história das cuecas.

Desci as escadas desanimado, pois ouvi a voz da minha mãe lá embaixo. Quando cheguei na sala, ela olhou para mim como se já me esperasse, com as mãos na cintura e o pé batendo no assoalho.
- Ah, droga! Matt! Eu falei que eu ia contar do meu jeito! - arfei, olhando para Matt, ainda assistindo TV.
- Epa! Eu não abri minha boca. Quem te dedurou foi a Mortícia. - respondeu Matt, sem tirar os olhos da TV.

Revirei os olhos. Andrew estava alí, sentada no sofá também. Claro que ela ia abrir aquela boca grande e perfeitamente desenhada com gostinho de hortelã... argh! Afastei esse pensamento idiota, me focalizei em ter raiva dela por me dedurar mais uma vez. Ela olhou para mim com aquele jeito maquiavélico de antigamente. Tudo bem, Andrew Marew, vamos nos entender mais tarde, pensei comigo mesmo.
- Bradley Tommas Stanley! - rugiu minha mãe.
- Mãe, eu vou pagar! - já me justifiquei.
- Pagar? Filho, é um Porsche! Você teria que vender até suas cuecas para pagar! - ralhou Janet.

De rabo de olho, vi Matt se tremer todo no sofá de tanto rir. Até minha mãe falando das cuecas. Legal, agora eu iria ter até pesadelos com isso.
- Foi um acidente, mãe. Eu sou cuidadoso dirigindo. Você sabe o quanto amo meu Maverick. Não sei como fui bater no Porsche. - me lamentei.
- Eu sei, Brad... ei, o que é esse talho na sua cabeça? - se assustou minha mãe, olhando meu ferimento. Talho? Aquilo era apenas um corte superficial.
- Não é nada mãe. Bati a cabeça no volante. Só isso. - tranquilizei ela.
- Nada? Brad, você foi no hospital? - insistiu Janet.
- Não é nada, olha! Nem tá mais sangrando! - insisti também.
- Brad, você pode ter uma hemorragia interna! Vamos pro hospital agora! - disse minha mãe, preocupada, pegando a bolsa na mesinha.
- Argh! Mãe, faz mais de meia hora que eu bati a cabeça. E se quer saber, seria melhor se eu morresse mesmo, aí Adam ficaria com remorso e não cobraria o conserto do carro! - dramatizei.
- Tudo bem, tudo bem. Acho que Brad está bem sim, querida. - disse Jonathan, vindo da cozinha. - Por que não conversamos com o dono do Porsche? Talvez cheguemos a um acordo. - propôs ele.
- É o que eu pretendia fazer. - respondi.

TRIM!!! O telefone tocou, fazendo Andrew e Matt pular do sofá. Andrew correu atender.
- Alô? Oi, Adam. É, eu fiquei sabendo. Brad é um babaca. Está bem sim, infelizmente o ferimento na cabeça não foi nada. Ah, claro. Só um instante. - Andrew tirou o telefone da orelha. - Pai, Adam Turnwell, o dono do Porsche, quer falar com você.

Eu gemi. Aquele idiota do Adam não sabia que eu não tinha pai? Jonathan era meu padrasto, mas eu julgava que ele não tinha nada a ver com meus problemas. Mesmo assim, Jonathan se dirigiu calmo ao telefone.
- Alô? Sou Jonathan Marew, pai de Andrew. Não, não sou pai do Brad, mas pode falar. Sim, eu sei do acidente. Estragou muito? Bom, acho que seria melhor se você pudesse vir aqui em casa para conversarmos pessoalmente sobre o pagamento dos estragos. Claro, anote o endereço.

Eu queria me enforcar. Olhei para minha mãe, Janet, e ela parecia ter a mesma expressão. Se Jonathan se propusesse a pagar pelo estrago do meu erro, eu ia brigar feio com ele. Achei que tínhamos um trato: ele era meu amigo, marido da minha mãe, mas nunca tentaria ser um pai.

Jonathan desligou o telefone e suspirou.
- Esse Adam é britânico? O sotaque dele é bem forte. - disse Jonathan.
- É sim, e muito rico. - respondeu Andrew.
- Percebi pela arrogância dele. Pela minha experiência, acho que Adam não está ligando para dinheiro. Ao que me pareceu, o orgulho dele está ferido pelo carro novo e já batido. Mas acho que ele só quer assustar Brad. Vai acabar não cobrando a dívida. - refletiu Jonathan.
- Não quero caridade desse riquinho! - fiquei emburrado.
- É um pouco cedo para suposições. Vamos conversar com esse Adam e ver se entramos num acordo. Relaxe Brad. - aconselhou Jonathan.
- Isso, querido. Vamos relaxar. O almoço deve estar esfriando. Vamos comer. - propôs minha mãe, Janet.
- Eba! Essa era a parte que eu tava esperando! - se animou Matt, levantando da poltrona.
- Ih! Nem se anime tanto, Matt. Pelo cheiro, é comida do restaurante da esquina de novo. Bela dona de casa a senhora é, hein dona Janet. - eu disse, reconhecendo o aroma de comida italiana embrulhada no alumínio.
- Tenho que trabalhar para pagar as contas do meu filho desastrado! - respondeu minha mãe, ríspida.

Baixei a cabeça e perdi a piada. Escutei Andrew zombando de mim com um "RÁ!". Suspirei e fui para a cozinha.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 39

Milagrosamente a moto de Andrew não estava na frente do portão, então Matt pôde guardar meu Maverick na garagem. Descemos do carro, e minha testa ainda sangrava. Eu tinha colocado um pano velho que estava no banco de trás do carro para segurar o sangramento, mas Matt, com aquela mania de médico, quase me estrangulou, dizendo que eu estava infectando a ferida.

Abri a porta da sala e Matt entrou, se jogando na poltrona. Andrew, desceu as escadas e ficou pálida quando me viu todo manchado de sangue:
- O que aconteceu? - se desesperou ela.
- Brad bateu o carro. - respondeu Matt, ligando a TV.
- Meu Deus! E por que não está no hospital? - reclamou Andrew, chegando perto para ver o estrago.
- Não foi nada. É um corte superficial. Estou bem, pelo menos melhor que Adam Turnwell. - respondi, despreocupado, me dirigindo para a escada a fim de ir lavar meu machucado.
- Adam não se feriu. Só o carro dele que já era. - refletiu Matt.

O rosto de Andrew passou do pálido para o vermelho:
- Bateu no Porsche de Adam Turnwell, o riquinho britânico? - perguntou Andrew, pasma.
- É... - murmurei.
- Ah, droga! Me diga, por favor, que ele é que estava errado! - implorou Andrew.
- Não. O Brad é que tava errado. Ele saía do estacionamente sem olhar direito quem estava passando. - se intrometeu Matt. Fuzilei ele com os olhos.
- Ah não! Não, não, não! Brad! Você bateu num Porsche Boxster novinho? - Andrew agora estava desesperada de verdade.
- Bati... - murmurei.
- Como pretende pagar o conserto? - perguntou Andrew, ríspida. Parecia minha mãe falando.
- Eu tenho umas economias, tá!
- É melhor ajoelhar e rezar para que o Adam perdoe essa dívida, porque se ele resolver cobrar vai te arrancar até as cuecas boxer da Red Nose! - ralhou Andrew.
- Ei! Como sabe que eu uso cuecas boxer da Red Nose? - me assustei.
- Rá! Esse papo ficou estranho! - riu Matt, se chacoalhando todo no sofá.
- Matt, senhor step do Brad, por que não vai pra SUA CASA? - Andrew gritou com Matt.
- Desculpe bruxela, mas eu estou à pé, visto que trouxe seu irmão dirigindo o carro dele. - respondeu Matt, mudando os canais da TV.
- Que pena! - ela foi bem irônica - E daí? Tá esperando o que pra ir embora? - insistiu Andrew.
- Poxa, fui mó mão na roda. Esperava pelo menos filar uma bóia da dona Janet. - contou Matt.
- Sua mãe não faz comida, não?
- Faz, mas a mãe do Brad cozinha melhor que a minha. - Matt me mandou uma piscadela.

Andrew se virou para mim.
- Bate o carro, se machuca todo e ainda me tráz um zé folga para almoçar? Hoje você conseguiu, Bradley Tommas! - disse Andrew, jogando as mãos para cima e subindo a escada antes de mim.

Suspirei e olhei para o Matt.
- Matt, vou tomar um banho. Não quebre nada. E se minha mãe chegar, por favor, não conte nada a ela. Quero contar do meu jeito. - pedi.
- Tá certo, irmãozinho. E tranque a porta do banheiro! - alertou Matt.
- Hã?
- Se a Andrew sabe até mesmo o tipo de cueca que você usa, não me surpreenderia que descobrisse outras coisas também. - riu Matt.
- Ah! Vai pro inferno, Matt! - ralhei, me virando para a escada.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 38

Os alunos que nos cercavam, vendo que eu não ia estribuchar no chão nem sangrar até a morte, foram se disperçando e indo embora. Matt veio para perto de mim, o único preocupado de verdade.
- Caaaaaara! O que foi isso? - perguntou Matt, com a mão no meu ombro.
- Acho que foi um acidente de carro! - respondi, sarcástico e irritado.


Matt revirou os olhos. Ele estava acostumado com minhas patadas.
- Eu te levo na sua casa, anda, vem no meu carro. - ofereceu Matt, amistoso como sempre.
- Entrar no seu Ford amarelo, e deixar meu carro aqui? Nem morto! - fui meio ríspido.
- Brad, você bateu com a cabeça. Não vou deixar você dirigir, brother. Vou te levar pra casa, depois você vem com a dona Janet ou o senhor Jonathan buscar o seu Maverick. - refletiu Matt.

Matt era tão calmo e paciente comigo. Eu já teria me mandado pro inferno. Respirei fundo. Não queria mais ser grosso com o único naquela escola que me estendia a mão. Lembrei de Andrew e me perguntei por que ela não veio correndo ver se eu estava bem. Ela se preocupava comigo, não? Aí me lembrei que ela sempre chegava antes de mim em casa, e que com certeza nem sabia do acidente. Olhei para Matt, menos irritado.
- Eu já disse que estou bem, amigão. Isso não foi nada. E o Maverick tá inteiro. Se o Adam dirigiu aquele entulho que ficou o carro dele, também posso dirigir meu carrinho. - fui mais dócil.
- Ferimentos na cabeça costumam dar sonolência. Você no volante ia bater o carro de novo. Está atordoado. Ei, você sabe que quero ser médico. Leio muito sobre isso. Então seja bonzinho e me deixe te levar para casa. - insistiu Matt.
- Por que quer tanto fazer isso? - perguntei, amoado.
- Você é meu amigo. Amigos são pra essas coisas. Sem contar que estou com saudades de comer o bolo da sua mãe, e ela com certeza vai me recompensar por salvar a vida do filhinho dela, não? - riu Matt.
- Ah seu interesseiro safado! - eu ri também. Fazia um bom tempo mesmo que Matt não ia em casa.
- Então, vamos? - perguntou ele mais uma vez.

Olhei melancólico para meu Maverick arranhado e com as lanternas trincadas. Ele estava muito melhor que o Porsche de Adam, mas parecia ressentido comigo por ter deixado que esse acidente acontecesse. Nunca tinha batido meu carro. Aquela vez que derrubei a moto de Andrew na garagem não contava. Acidentes de garagem não deveriam ser considerados acidentes. Depois fitei de mal gosto o Ford LTD 1968 amarelo horroroso desbotado de Matt. Eu cuidava muito melhor do Maverick do que ele do Ford. Deixar meu carrinho alí, sozinho? Matt percebeu minha hesitação e bufou.
- Tudo bem! Você está sendo idiota. Aqui na escola seu carro ia ficar muito bem e seguro. Ainda mais dentro do estacionamento. Mas se vai começar com essa boiolisse de sentimentalismo mecânico, eu não me importo. Deixa meu Ford aqui, depois venho buscá-lo. Vamos no seu Maverick, mas eu dirijo, pode ser? - propôs ele. Aquela era uma alternativa melhor.
- Ok! Mas cuidado com o Maverick. Ele não gosta quando outros o dirigem. - eu disse, zuando, piscando os olhos como se ainda demonstrasse sentimentalismo para com o carro.
- Vai tomar naquele lugar bem tomado! - riu Matt, entrando no Maverick do lado do motorista.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 37

Saí da escola sentindo uma mistura estranha de alívio e preocupação. Alívio porque eu descobri que adorava Liz, e era bom ser amigo dela novamente. Liz era inteligente, engraçada e estressada, mas sincera e honesta. Só que isso não era o bastante para ofuscar o fato de que Andrew Marew nesse momento estava me odiando em algum lugar na face da terra. Será que ela achava que eu tinha voltado pra Liz? Eu teria que explicar a verdade a ela mais tarde.

Entrei no Maverick me sentindo leve como uma pluma. Olhei pelo retrovisor e o caminho parecia livre. Liguei o som velho na minha estação de rádio favorita. Liguei o carro e engatei para dar a ré. E tudo aconteceu muito rápido. TRASH!!!

O estrondoso barulho de lataria amassando e lanternas trincando e estilhaçando deram as respostas antes de eu me fazer perguntas. Depois do baque, olhei pelo retrovisor novamente, meio atordoado, e vi, colado na traseira do meu carrinho, o Porsche vermelho reluzente de Adam Turnwell.

Meu queixo caiu nos pés, minha boca escancarada de desespero e ódio de mim mesmo. Saí do carro com os joelhos moles, e já estavamos rodeados por alunos. Adam tinha saído do Porsche também, e estava com uma expressão muito infeliz, com as mãos na cabeça.
- Droga! Droga! Droga! Carro velho, nojento, lata-velha suja e acabada! Detonou a porta do meu carro novinho! - se lamentava Adam, naquele sotaque britânico engraçado.
- Ei ei ei ei! Olha como fala do meu Maverick. Ele é velho mas é limpinho. Dou um trato nele todo fim de semana! - defendi meu carro velho de guerra.
- Olha a porta do carona do meu carro, Bradley Tommas! A traseira da sua lata velha estraçalhou a lataria e até o vidro do meu carro! - se desesperou Adam.

Dei a volta pelo carro observando os estragos. Essa era a vantagem de ter um carro velho. Os antigos eram mais robustos e resistentes, enquanto os novos eram mais frágeis e mais tendentes à perda total. Meu Maverick, colado no Porsche, parecia inteiro. Eu só conseguia ver uns arranhões, até onde começava o amassado vermelho já não mais tão reluzente assim. Mas o Porsche de Adam estava detonado. A porta do carona estava definhada para dentro, e tinha caco de vidro por todo lado. Olhei para Adam assustado para ver se ele estava machucado. Afinal o carro naquele estado poderia refletir bons ferimentos no dono. Mas ele parecia bem, tirando o pavor de ver o carro daquele jeito.

Nesse momento senti um líquido quente descendo por minha testa. Passei a mão automaticamente, e então vi que estava sangrando.
- Oh, meu Deus, Brad, você está ferido! - gritou Matt, que já estava alí, não sei desde que hora.
- Eu acho que ... que bati com a cabeça no volante na hora do impacto. Mas nem estou sentindo dor. Estou bem. - eu disse, despreocupado.
- Você está bem mesmo? - perguntou Adam, olhando pra mim, parecendo preocupado. Por que sangue assusta tanto as pessoas? Passei a mão com cuidado no corte.
- Sim, é um corte superficial. - refleti.
- Ótimo, então me passe o número da sua casa. - falou Adam, pegando o celular no bolso.
- Minha casa? Pra quê? Já disse que estou bem...
- Quero falar com seu pai. - cortou ele.
- Hã? - eu fiquei confuso.
- Você está errado. Deu ré sem olhar se eu estava passando. Seu pai vai pagar o estrago da sua imprudrência. - reclamou Adam.
- Ah, vai pro inferno! Eu arco com as consequências dos meus atos! - respondi, indignado.
- Você trabalha? - perguntou Adam.
- Não...
- Quem comprou esse lixo que você chama de carro?
- O marido da minha mãe quando eu fiz meu aniversário de 16 anos...
- Me passe o telefone da sua casa! - disse Adam, outra vez, mais imperativo.
- Eu recebo mesada... - tentei argumentar.
- Ora, faça-me o favor! O telefone da sua casa! - zombou Adam.

Olhei para ele contrariado, mas ele não confiava que eu conseguiria pagar o conserto do carro dele. Revirei os olhos. Passei o número de casa de má vontade, afinal, se ele ligasse agora não encontraria ninguém, e se ligasse mais tarde, daria tempo de eu falar com o Jonathan sobre o acontecido.

Adam anotou no número da minha casa no celular, mas não discou. Olhou com desprezo para meu carro mais uma vez, e aquilo ferveu no meu sangue. Fitei os dois carros batidos também. A raiva pela metideza do almofadinha britânico me fez sentir orgulho do meu Maverick. Ele estava alí, lindo e inteiro, e amassou muito bem amassado aquele Porsche fresco. Agora eu amava meu carro mais do que nunca.

Dei a volta pelo meu Maverick dando tapinhas de satisfação no capô, enquanto Adam afastava o Porsche semi-destruído. Eu ri vendo o senhor-eu-vim-da-Inglaterra indo embora num carro estragado, mas parei de rir no instante em que saquei que teria que pagar o estrago. Eu estava mesmo com uma maré de azar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 36

Eu virei a cabeça lentamente para ver quem era a meliante que se dirigia para nossa mesa. Como sempre acontecia quando eu a via, arfei.
- Argh! Liz!

Sim, era Liz Angree, uma das minhas ex. A bela morena brava da pele acobreada e o cabelo cacheado. Ela andava pacientemente e estilosa pelo refeitorio, segurando uma bandeija com frutas, olhando diretamente para mim, vindo na minha direção parecendo hipnotizada. Liz passou pela mesa das líderes de torcida sem nem ao menos olhar para a cara delas, e muito menos para meu ex amigo, Jonny.

Liz parou diante de mim.
- Oi, Brad! Oi, Matt! Oi, Freud! Posso me sentar com vocês hoje? - perguntou Liz, sinceramente simpática.
- Qual é o plano dessa vez? - perguntei, assustado. Eu andava muito na defensiva em relação à líderes de torcida.
- Não tem plano nenhum. - respondeu Liz, injuriada.
- Vai sentar na sua mesa de patricinhas frescas! - exclamou Freud.
- Eu não posso me sentar lá. - reclamou Liz.
- Por que? - perguntou Matt, desconfiado.
- Porque eu não suporto o Jonny! - respondeu Liz, enojada.

Olhei para Liz. Ela era a mais sincera das líderes de torcida, e a mais politicamente correta. Liz era nervosa e saia dando tapa a toa, mas ela nunca foi desleal comigo como Ashley fez. Observei a mesa onde Jonny e Ashley estavam sentados. Todas aquelas garotas olhando para Jonny como se ele fosse um rei e Ashley grudada nele como se ele fosse propriedade dela. Lembrei então do nosso último treino de basquete, onde todas as líderes acenaram e jogaram beijinhos para Jonny, o novo capitão do time de basquete, e vi na minha mente a imagem de Liz, me olhando frustrada, sem dar a menor atenção ao Jonny.

Liz não era como elas. Ela era líder de torcida não para ser popular, e sim porque realmente amava dançar. Os passos de dança eram inventados por ela e Ashley, que juntas formavam uma boa dupla. Mas Liz realmente gostava de mim, e não havia porque eu tratá-la mal, se ela estava jogando a toalha e tentando ser minha amiga.

- Senta aí, Liz. - falei, finalmente, sorrindo para ela. Matt e Freud me fitaram boquiabertos.
- Obrigada, Brad. - ela sorriu também, colocando a bandeija na mesa.
- Tá brigada com as líderes de torcida, é? - perguntou Matt, mais conformado com a situação.
- Acho que é mais ou menos isso. - respondeu Liz, rindo.
- Cuidado! Nós somos os reclusos da escola agora. Só somos zero vírgula um por cento mais popular que o grupinho de Andrew Marew. Você vai ficar mal falada por andar com a gente. - brincou Freud.
- Não me importo. - falou Liz, menos animada. - Em breve acho que nem serei mais líder de torcida mesmo.
- Por que? Você é uma das melhores. - me assustei.
- Ashley tem feito umas audições com algumas garotas da escola. E só fazem audições quando querem escolher uma nova líder de torcida. Ainda somos dez meninas, nenhuma de nós saiu do grupo. Então isso só pode significar que uma de nós vai rodar. - contou Liz.
- E por que seria você? - perguntou Matt, mais solidário.
- Eu e Ashley estamos à um bom tempo em pé de guerra. Ela é puro veneno e não ia deixar barato. Sendo a chefe das líderes de torcida, ela pode fazer isso. E vai se livrar de mim assim que arranjar uma garota com potencial. Acabou com a vida do Brad, então por que eu escaparia do ódio dela? - respondeu Liz.
- Droga! Tudo isso é culpa minha. Se eu não tivesse namorado a Ashley, vocês nunca teriam brigado. - me lamentei.
- Esquece, Brad. Não to ligando, não. Está insuportável andar com as líderes. Elas só falam do Jonny. E o Jonny é um chato! Ele não desgruda da gente. Vai ser um alívio cair fora. - reclamou Liz.
- Antes elas só falavam do Brad. Não era chato do mesmo jeito? - riu Matt.
- Não, porque eu estava incluída na conversa. - retrucou Liz.
- Ah, é. Disfarça. - riu Matt outra vez.
- Bom, reclusa. Seja bem vinda ao grupo das vítimas de Ashley Hanners! - eu disse, colocando o braço em volta da cadeira de Liz, feliz por estar de bem com ela.
- É bom me sentir confortável com quem estou de novo. - Liz sorriu de volta, e senti que agora éramos amigos.
- Uma gata para enfeitar a nossa mesa! É, Brad, não estamos tão mal assim, hã! - riu Matt, não perdendo a chance de galantear. Revirei os olhos para ele.
- Se quiser, pode jogar basquete com gente, prometo não te dar boladas. - brinquei.
- Você nunca me convidou para jogar basquete com vocês. - se magoou Freud.
- Aposto que Liz joga melhor que você. - interviu Matt, e Freud deu um soco no ombro dele.
- Tudo bem, rapazes. Não é porque sou honesta, que significa que eu seja boazinha. Tenho um plano contra Ashley Hanners. - disse Liz, agora com uma sombra no olhar.
- Vai encher a Ashley de tapas? - perguntou Freud, assustado.
- Não! - ralhou Liz.
- Agora fiquei com medo. - disse, olhando para ela.
- Adoro mulheres malvadas. Diz aí, vou amar ver Ashley lamber a lona. - se animou Matt.
- Aguardem e verão do que eu sou capaz. - respondeu Liz, sem mais detalhes.

Apertei o braço no ombro dela, solidário.
- Vê lá, hein Liz. Ashley não é brincadeira. - alertei.
- Eu sei me cuidar, Bradley Tommas. - respondeu Liz.

Nesse instante vi a sombra passando por nossa mesa. Andrew estava com uma embalagem de suco na mão, que com certeza tinha ido pegar no balcão. Ela olhou para mim abraçando a Liz, e grunhiu, os olhos fervendo. Droga! Não era o que ela estava pensando, seja lá o que fosse que a mente doentia e macabra dela tivesse decifrado do que viu. Ela deu passos duros no chão e saiu de perto da nossa mesa sem olhar para trás. Eu dei um tapa na minha testa.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 35

Eu estava quase terminando os detalhes que faltavam na roda do meu desenho no caderno, quando um som agudo me puxou para a realidade. Era o sinal que dava início à aula que estava tocando. Quando dei por mim, percebi que a sala estava cheia e logo vi as sombras negras entrando pela porta.

Andrew, quando viu onde eu estava sentado, bateu com a mão na testa e Nadine, que com certeza já sabia do meu não-quase-eu-acho-que-era-um-caso com a minha não-irmã, juntou as sobrancelhas enfurecidas e veio para cima de mim com a bolsa em punho.

- Saia já do meu lugar! - ordenou ela.
- Tá escrito seu nome na carteira? - desafiei.
- Está! - apontou ela para a pixação no canto esquerdo numa letra gótica escrito "Nadine". Droga! Tudo bem, essa não funcionou. Revirei os olhos.
- Não existe um mapa de sala. Então eu sento onde eu quiser. - resmunguei, cruzando os braços.
- Vai pro inferno, Brad! Você nunca se sentou aí! - gritou Nadine.
- O que pensa que está fazendo, Bradley Tommas? - perguntou Andrew, frustrada.
- Você vive na mesma casa que eu. Vai doer sentar do meu lado só hoje? - respondi, sorrindo para ela. Nesse momento eu estava em dúvida se amava mesmo Andrew, ou se o que me fascinava era irritá-la. Pensei um pouco, olhando o rosto de porcelana da minha bonequinha das sombras. É, eu gostava era dela mesmo.
- Eu vou quebrar seus dent... - Andrew começava a me ameaçar, quando a professora Gertrudes de biologia entrou na sala.
- Muito bem classe, todos sentados! - ordenou ela.

Andrew olhou desesperada para Nadine, que colocou a mão no ombro dela.
- Fique tranquila. Lembra dos rituais de magia negra que eu disse que estava fazendo? Então... vou tirar o Brad da sua vida rapidinho, amiga. - ameaçou Nadine, indo se sentar no meu lugar mais a frente. Revirei os olhos. Era óbvio que aquilo era um blefe para me assustar. Nadine era uma bruxa, mas só de aparência.
- Brad... - falou Andrew, se sentando ao meu lado. - Está vendo a enorme régua de madeira alí no canto da sala? - apontou ela, para a régua atrás de nós encostada na parede empoeirada de giz.
- Sim, o que tem ela? - respondi, confuso.
- Não dirija a palavra a mim durante a aula toda, ou senão eu te faço engolir a régua... e não vai ser pela boca! - ameaçou Andrew, sussurrando maquiavelicamente.

Eu estremeci. Nunca desconfiei das ameaças de Andrew Marew. Então, decidi ficar na minha durante a aula.

O sinal tocou e Andrew fugiu do meu lado como um vampiro fugindo do sol. Suspirei e guardei minhas coisas, pensando em como seria meu intervalo. Eu ainda teria a mesa no centro do refeitório? Estariam pelo menos Matt e Freud esperando por mim, como sempre? Caminhei para fora da sala sem vontade.

Meu peito relaxou e eu sorri satisfeito ao ver minha mesa de sempre com Matt e Freud sentados conversando alegremente. Fiquei mais aliviado ainda quando meus bons amigos me viram de longe e sorriram para mim.
- E aí, irmão? Tudo na paz? - perguntou Matt, batendo a mão na minha.
- Por enquanto, nenhum ataque de líderes de torcida. - eu ri.
- Isso é bom. Com as acrobacias que elas sabem fazer, você não aguentava dez minutos de porrada com elas. - zombou Freud.
- Falando em ataque, já deu uma olhada na nova mesa do Jonny? - perguntou Matt, sutilmente.

Olhei pelo refeitório e vi, à três mesas, Jonny sentado no meio das líderes de torcida. Revirei os olhos. Ashley Hanners, minha ex namorada, pendurada no braço daquele ruivo sem graça como uma bolsa, rindo pelas orelhas.
- Ele nem tentou sentar com vocês? - perguntei, amargo.
- Não... está desfazendo de nós achando que logo seremos tão reclusos quanto você, por prefirirmos andar com Bradley Tommas, o ex-capitão. - respondeu Matt.
- E agora ele está lá, abarrotado de líder de torcida até o pescoço. Essas líderes de torcida. Só porque andam de sainha rodada pela escola, acham que são as melhores. Mas não passam de umas volúveis. É por isso que eu sempre prefiri Andrew Marew. Bonita, sim... mas não fútil. - refletiu Freud.

Quando Freud falou de Andrew daquela maneira carinhosa, fiquei mais amargo ainda. Tinha me esquecido de que Freud sempre foi apaixonado por Andrew, e achei que seu quase-encontro com a Liz tinha tirado Andrew da reta dele. Revirei os olhos, e retruquei.
- Andrew tem namorado! Ainda não desistiu dela? - olha só quem fala... o cara que a beija pelas costas do Stuart. Eu era um cara de pau mesmo.
- Eu sei. Stuart Kennesty! - soletrou Freud.

Pensei um instante no sobrenome. Kennesty... era o sobrenome do próprio Freud. Será que eles eram parentes?
- Stuart Kennesty? Conhece ele? - perguntei, abobado.
- Claro, ele é meu irmão. Morou fora uns tempos, fez faculdade, mas não terminou. Foi a anta aqui que apresentou o loirão grandão pra mulher da minha vida. - se lamentou Freud.
- Seu irmão? - eu fiquei pasmo, até sabia que Freud tinha um irmão, mas nunca o conheci, nem sabia o nome dele. Além disso, Freud nunca falou muito dele.
- É. Foi mês retrasado, eu acho. Fui com o Stuart no show do Metallica, já que fazia tempo que não fazíamos um programa juntos, e lá encontrei a Andrew, obviamente. Aí eu apresentei ele para ela. Andrew caçoou de mim, como sempre faz, mas ficou conversando com o Stuart o show todo. Quando descobri que os dois estavam juntos, fiquei em dúvida se me suicidava ou se estrangulava aquele traíra. Fui burro, mas ele sabia que eu gostava dela... disse isso quando a apresentei a ele. - contou Freud, traumatizado.
- Você é bem burro mesmo. - soltei sem querer.
- Bota burro nisso. - ajudou Matt.
- Obrigado, amigos. Me sinto muito melhor agora. - disse Freud, sarcástico.

Freud suspirou. Olhei para ele pensando em Stuart. Se ele havia roubado a garota do próprio irmão, então eu não era tão mau em roubar a garota de um cara que não era nada meu. Me senti mais animado em conquistar Andrew Marew. Mas Freud cortou meus devaneios. Ele olhou para frente, atrás de mim, com os olhos arregalados de repente.
- Alerta vermelho, alerta vermelho! Líder de torcida à vista! - avisou ele.
- O quê? - me apavorei.
- Ela está vindo em direção à nossa mesa. Merda! - reclamou Matt.

Engoli seco. Líder de torcida, para mim, agora era sinal de confusão. O que ela queria comigo a essa altura?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou De Novo - Capítulo 34

Acordei com o corpo muito descançado. Sorri para mim mesmo quando a energia fervilhou por todo meu corpo assim que abri os olhos. Me levantei, tomei um banho frio, coloquei minha camiseta vermelha e minha calça jeans mais escura e desci elétrico para tomar meu café da manhã.

Para minha surpresa, Andrew Marew estava alí, como fazia antes, tomando seu café da manhã sem se importar com a minha presença:
- Ora, ora, ora... bom dia. Que milagre você por aqui a essa hora! - exclamei, meio irônico.
- Estou cansada de chegar cedo na escola. - murmurou ela, sem olhar para mim.
- Até que enfim você parou de fugir de mim. - comentei.
- Decidi que não vou mais mudar meu hábitos porque um idiota como você resolveu implicar com minha existência. - respondeu Andrew, mais àspera, agora olhando para mim amarga.
- Andrew, eu não quero perturbar você. É só que... eu gosto realmente de você. Como foi que uma garota inteligente como você ainda não percebeu isso? - falei, mais melancólico.
- Brad! Você está confuso. Tem um monte de problemas acontecendo na sua vida, e você não pode afirmar nada do que sente agora. Você pode estar impressionado comigo ou encasquetado com essa idéia de que gosta de mim. Mas você vai ver... quando você acertar sua vida, vai ver que tudo isso é um grande mal entendido. - explicou Andrew, mais calma.
- Quem tá confusa é você. Você que prefere ignorar a realidade. - retruquei, mais colérico.
- Chega, tá! Vou pra escola. Boa aula, Bradley Tommas! - rugiu Andrew, se dirigindo para a porta da cozinha.
- Pensei que não fosse mais mudar sua rotina por minha causa! - provoquei.

Andrew parou, virou o rosto com a costumeira sobrancelha levantada e disse:
- Já está no meu horário, senhor Músculos. Você saberia se consultasse o relógio enorme no seu pulso antes de tentar responder a alguém. - retrucou ela, sorrindo e indo embora.

Revirei os olhos. Não adiantava discutir com Andrew se ela ia se comportar como se nada tivesse acontecido entre nós. Ela me chamou de Senhor Músculos? Depois eu é que era o infantil.


Saí de casa um pouco mais cedo do que de costume. Os acontecimentos envolvendo Andrew Marew em casa não tinham ofuscado meu conhecimento de como andava minha situação na escola. Se eu não corresse, ia ficar sem meu lugar na vaga dos populares. Eu ia tomar meu lugar de volta: minha vaga no meio do estacionamento, meu posto de capitão do time de basquete e meu respeito entre os alunos. Somente a carreira de "pegador" da escola que eu não fazia nenhuma questão de reconquistar, visto que agora eu era um babaca apaixonado e não conseguia me interessar por nenhuma garota que não fosse a chata da Andrew. Sempre que pensava nisso, eu me odiava e tinha vontade de me estapear na frente de um espelho. Mas aquilo era um fato, e contra fatos não existem argumentos, então não adiantava eu me lamentar de minha paixão repentina.

Cheguei na escola e percebi que ela estava meia vazia ainda. Saí logo depois de Andrew, sem tomar direito meu café da manhã. Vi de longe o carro de Matt, afinal, aquele amarelo pavoroso era fácil de reconhecer. Não sabia que ele chegava tão mais cedo que eu. Fiquei feliz ao ver minha vaga disponível, mesmo que as outras cinco do meu lado também estivessem vazias. Hoje Adam Turnwell ia ter que rebolar para achar um lugar que prestasse para estacionar.

Fui até meu armário e peguei os livros que íamos usar hoje. Fui até a sala de aula que estava completamente vazia. Onde será que Andrew ficava a essa hora? Dei de ombros e me sentei em uma das últimas carteiras, no lugar da amiga de Andrew, a bruxa da Nadine. Ela ia chiar quando me visse alí, mas eu não me importava. Não tinha mais nada a perder, por enquanto. Então estava realmente disposto a arriscar. Abri o caderno e voltei a desenhar um antigo mustang numa das folhas finais do caderno de biologia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 33

A porta de madeira se abriu e meu anjo sombrio entrou por ela com aquela carinha de boneca de porcelana com dor de cabeça. Estava meio avoada, mas não demorou muito para perceber minha presença no ambiente. Andrew arregalou os olhos quando me viu deitado na cama dela, mas em vez de gritar e me tacar um sapato como faria uns tempos atrás, ela grunhiu e fechou a porta. Na certa não queria alertar o Jonathan sobre o que andava acontecendo entre nós dois:

- Seu... seu... cara de pau! O que pensa que está fazendo aqui? - ela sussurrou, aspera e aguda, me fuzilando com os olhos.

Meu sorriso se alargou no rosto, e senti meu charme infalível flamejando nas mãos outra vez. Era bom me sentir "o irresistível"depois de tanto tempo, mesmo que fosse alí no quarto da minha irmã adotiva, e mesmo que eu estivesse tentando conquistar uma maluca metaleira que me enfiaria uma navalha na garganta assim que tivesse oportunidade. Olhei para ela cínico, me entusiasmando cada vez mais com a raivinha dela. Não que eu fosse masoquista, mas quanto mais Andrew ficava irritada comigo, mais eu gostava. Talvez porque o desafio de conquista-la fosse maior, e eu amava desafios.

- Vem deitar aqui do meu lado que eu te explico o que estou fazendo aqui. - eu ri. Agora sim ela me tacou um sapato. Eu ia rir mais se o sapato que ela me jogasse fosse uma chinelinha, sandalinha ou sapatilha de mulher. Mas o duro é que Andrew usava coturnos, e aquelas botas pesadas realmente machucavam.
- Cai fora daqui! Já! Sai! - ralhou Andrew, enquanto eu massageava o braço no qual ela havia acertado o corturno. Sentado na cama, olhei para ela sorrindo ainda.
- Tudo bem, eu vo embora. Mas só me diga quando vai terminar com o Stuart. - eu disse, e ela revirou os olhos.
- Por que eu terminaria com o Stuart?
- Porque você me ama! - afirmei, muito seguro do que dizia.
- Um beijo não significa nada, Brad. - resmungou Andrew.
- Isso depende do beijo, minha cara. - eu me levantei da cama e andei até ela. Andrew deu dois passos para trás, mas dois passos dados por suas perninhas curtas não davam nem metade de um passo dado pelas minhas pernas atléticas e muito mais longas. - Por exemplo, o beijo que você deu em Stuart na hora que ele foi embora. Pura ceninha. Um beijo longo e chato, só para mostrar aos outros que está gostando de verdade do seu namorado. - eu disse, todo garboso, colocando a mão na parede com o braço esticado, deixando Andrew em minha armadilha.
- Não foi ceninha, estúpido! - disse Andrew, insegura se sentindo acuada com minha aproximação.
- Tudo bem, agora compare com o beijo que você me deu na sala. - acusei.
- Eu... eu... eu... eu estava confusa Brad, com pena de você por tudo que aconteceu na escola. Mas isso não significa que...
- Desde quando beijar alguém na intensidade que você me beijou é sinal de pena? Pra mim, isso se parece mais com desejo. - acusei novamente, deixando ela sem resposta. Caramba! Eu nunca havia conseguido deixar Andrew sem resposta até hoje.

Passei a mão direita de leve em seu rostinho de boneca, e Andrew estremeceu ao meu toque. Ela estava na defensiva, mas não em relação a mim e sim a si mesma, no medo de se entregar como se entregou na sala antes daquele estorvo do Stuart tocar a campainha. Ela respirou fundo por um momento, enquanto eu fitava especulativamente seus olhos redondos escondidos pelos cílios longos. Ela olhou de volta para mim, ainda perturbada com a situação.
- Por que está fazendo isso comigo? - perguntou ela, num tom melancólico. Aquilo quebrou meu ceticismo e me fez suspirar.
- O que eu estou fazendo?
- Fica me confundindo... - murmurou ela, agora hipnotizada como eu ficava quando olhava pra ela deixando meu coração fluir em meus pensamentos.
- Eu não quero te confundir... eu quero é te mostrar a verdade... - murmurei também, pousando a mão de leve em seu rostinha angelical. Ela fechou os olhos lentamente ao meu toque.
- Isso é loucura, Brad. - sussurrou ela.
- Eu sei, mas você nunca licou para a sanidade mesmo. - respondi. Eu estava bom em dar respostas hoje.

Ela me empurrou compeltamente sem vontade.
- Vai embora, Brad, por favor. - implorou ela.
- Vou deixar você pensar, mas não vou desistir. - falei, beijando a testa dela e saindo do quarto.

Pelo menos uma coisa boa havia acontecido hoje. Eu consegui quebrar o gelo do coração de Andrew Marew. Essa noite ela ia sonhar comigo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 32

Andrew se assustou com o som da campainha e se afastou de mim. Mas ainda estava sem reação pela emoção do momento. Eu, que já havia admitido para mim mesmo que estava apaixonado por ela, me recompus imediatamente:
- Ei, calma... eu atendo. - disse para ela, minha voz muito serena e deliciada como fazia tempo que não ouvia. Por que eu me sentia tão idiotamente satisfeito?

Caminhei até a porta e a abri antes de tocarem a campainha novamente. Meu estômago se revirou quando vi quem era. Stuart... namorado de Andrew. Tinha me esquecido daquele loiro babaca.
- Oi, Brad, meu amigo! Como vai? - disse Stuart em seu tom alegrinho e simpático de sempre.
- Stuart... - disse o nome dele como se estivesse soletrando. Olhei para Andrew por um instante. Ela ficou muito mais atormentada quando o viu. E eu me senti atormentado por causa dela. Não que eu nunca tivesse beijado uma garota comprometida, mas aquela situação era diferente.
- Ei Andrew, meu amor! - falou Stuart, entrando sem eu convidar, dando a volta por mim.
- Oi, Stuart. - disse Andrew, meia sem voz.
- Andrew, acho melhor eu deixar você conversar com o Stuart... - comecei a dizer.
- Não tenho nada importante para conversar com ele! - resmungou Andrew, infatizando a palavra "importante". Caramba! Tinha certeza de que agora Andrew sabia em si mesma que me amava, e mesmo assim ela não ia admitir.
- Talvez então eu deva conversar com ele. - eu ameacei.
- Por que não vai pescar na pia da cozinha? - falou Andrew, àspera. Bom, ela realmente não estava pronta para lidar com os próprios sentimentos. Suspirei.
- Opa! O clima tá meio tenso aqui... algum problema, Andrew? - perguntou Stuart. Eu queria dizer "claro que temos um problema, tem saliva minha na boca da sua namorada, o que acha?", mas Andrew me daria um tiro. Eu sei, ela não tinha uma arma, mas se eu dissesse aquilo, ela arranjaria um jeito.
- Não! Claro que não! Você sabe, meu único problema é o Brad. Mas ele já estava de saída, não é Brad? - disse Andrew, toda cínica.
- Claro, claro. - fui cínico também. - Depois a gente se fala, espertinha. - pisquei para ela, e tinha certeza que ela ficou furiosa.

Subi as escadas numa vontade doentia de escurrassar Stuart de casa. De todos os meus obstáculos para provar para a própria Andrew que ela era louca por mim, Stuart parecia ser o único que restava.

Do meu quarto ouvi minha mãe chegar, e logo depois ouvi Jonathan entrar com seu sedan na garagem. Minha mãe subiu para me chamar para almoçar. O almoço foi um martírio, pois, além de comermos comida do restaurante italiano da esquina (de novo), Andrew estava num mimo exagerado com Stuart. Era "meu amor" pra cá, "meu bem" pra lá. De rabo de olho vi até mesmo o eterno paciente senhor Marew com cara de azia pela ceninha que Andrew exagerava só para me mostrar que estava feliz com Stuart e não queria nada comigo. Eu não nasci ontem. O exagero é um desespero para encobrir uma verdade já exposta. Ri para mim mesmo, espero ansiosamente que Stuart fosse embora para dar o bote outra vez. Coitado, Stuart era um cara legal. Um perfeito corno manso, mas mesmo assim me despertava pena.

Eram 4 e meia da tarde quando Stuart se despediu de Andrew no jardim com um beijo demorado. Eu estava espiando pela janela do meu quarto, claro, e aquilo me deixou com raiva. Minha pretensão de beijá-la novamente desapareceu, porque não queria vestígios da saliva de Stuart na minha boca. Mas isso não significava que eu não ia provocá-la.

Andrew entrou em casa. Do meu quarto ouvi os passos do coturno dela pela escada. Me adiantei e fui até o quarto dela, esperando deitado na cama dela com os braços atrás da cabeça numa pose tranquila que iria deixá-la fervendo de irritação. Não me senti muito a vontade naquela cama roxa cor de púrpura, mas só de imaginar o rostinho de boneca de Andrew com expressão de raiva já valia a pena. Irritar Andrew era a única forma que eu encontrei de fazê-la ter uma reação em relação a mim. O ódio era um sentimento forte como o amor. E o amor era muito próximo do ódio. No meu plano infundado, o ódio viria a ser amor. Mesmo opostos, os sentimentos eram muito próximos. Respirei fundo.

A porta de madeira escura se abriu.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 31

O treinamento foi tranquilo, a não ser pelas vezes em que o Jonny me ordenava algo eu TINHA que obedecer. Eu merecia o troféu "paciência". Mas com Matt me dando força, foi mais fácil suportar. No fim, fui para o chuveiro exausto mental e fisicamente.

Andei pelo estacionamento e entrei no meu carro. Foi nesse instante que me lembrei que estava na vaga dos nerds e que nem vi a cara de Adam Turnwell para arrancar-lhe os dentes por ter estacionado na minha vaga entre os populares. Tanta coisa aconteceu. A vaga parecia um cisco perto de um monte de ripas de madeira para mim naquele momento. Mesmo assim, uma parte do velho Bradley Tommas ainda existia no meu coração. Saí do maverick, peguei uma caneta e risquei a tinta reluzente do Porsh de Adam. Foi uma sensação maravilhosa. Olhar para aquele carro novinho com um riscão na porta. O sorriso em meu rosto devia estar mais reluzente que o carro. Corri pro velho maverick e saí dalí de alma limpa. Afinal, se alguém riscasse meu carro, mesmo sendo meu maverick velho de guerra, eu ia querer cortar os pulsos. Pensar em como Adam ficaria ao ver seu Porsh me deixava em êxtase.


Cheguei em casa e me deparei com Andrew sentada na sala. Ela me olhou, mas não correu para o quarto como achei que faria. Esse era o único momento em que ficávamos sozinhos, antes de nossos pais chegarem. Ela se levantou e veio até mim:
- Eu sinto muito, Brad... - disse ela, me olhando perturbada. Pena? Eu odiava que tivessem pena de mim.
- Eu não preciso da sua pena, obrigado. - resmunguei, jogando a bolsa no sofá.
- Não é pena, é empatia. Não sabe a diferença, seu cérebro de minhoca? - falou Andrew, mais àspera.
- Olha, noiva cadáver, pegue sua empatia e faça uma poção mágica, ok! - eu disse, mais àspero que ela.
- Por que você não consegue ser você mesmo nem quando está na pior? - perguntou Andrew, amarga, e aquilo deu uma pontada no meu coração. Havia me esquecido o quanto gostava dela. Mas meu coração idiota estava alí, batendo para me avisar.

Respirei fundo. Me virei para fitá-la. Tudo dentro de mim fluía para fora quando eu a olhava assim, com os olhos do coração. Minha alma latejava:
- Andrew, eu tinha tanta coisa inútil que não vai me fazer a menor falta. As líderes de torcida, a vaga no estacionamento... mas o basquete era minha vida... - eu disse, começando a sentir o quanto estava realmente magoado por ter perdido meu posto. Meus olhos arderam, e senti que precisava engolir o choro.

Andrew se aproximou de mim, colocou a mão em meu ombro e olhou no fundo dos meus olhos. Por um instante eu esqueci o que estava dizendo:
- Brad... você é o melhor jogador daquela escola. Vai conseguir ser o capitão de novo... todo mundo sabe disso. Onde está o mister músculos que eu conheço e implico? - disse Andrew, rindo. Todo mundo havia me dito aquilo hoje. Mas vindas de Andrew, finalmente as palavras tiveram efeito.
- Sabe, só existe uma coisa pra mim mais importante que o basquete. - falei, começando a dizer coisas que não havia planejado, como costumava acontecer quando estava com Andrew.
- Ah, é? - perguntou ela, sorrindo confusa.
- Você... - sussurrei. Quando dei por mim, já estava beijando-a.

Dessa vez ela não me empurrou. De alguma forma, ela estava sofrendo com a minha derrota também. Ela se preocupava comigo e sentia que precisava fazer algo para me deixar melhor. E ela me beijou de volta na mesma intensidade que eu a beijava. E eu sentia como se meu coração batesse num compasso diferente do normal. Ele batia junto com outro coração, no mesmo ritmo. Ele batia com o de Andrew. E aquilo era mágico. Porque quando eu estava com Andrew, eu era quem eu realmente queria ser.

Nesse momento, a campainha tocou.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 30

Fui para o ginásio achando que me sentiria melhor, mas minha tristeza aumentou quando olhei para a cesta de basquete naquela quadra vazia. Sentei encostado nela e coloquei a cabeça entre os joelhos. Eu não era mais o capitão do time de basquete. Eu não era mais o pegador da escola. Eu não era mais Bradley Tommas.

Pensei por um instante como a punhalada poderia ter vindo de duas pessoas que deviam ser importantes para mim: meu amigo e minha ex-namorada. O estranho é que Ashley me procurou nessa mesma manhã, no intuito de me ter de volta. Que sínica! Em que momento ela teria convencido o Jonny a falar com o professor David contra mim? Só poderia ter sido antes de hoje. Então ela estava armando um plano do mal fazia um bom tempo. Loiras não são nada burras...

Nesse momento o treinador e professor David entrou no ginásio com seu costumeiro apito pendurado no pescoço e um saco de bolas de basquete nas costas. Ele me viu e eu me levantei para falar com ele:
- Treinador... - comecei.
- Oi Brad, veio cedo para o treino de hoje. - comentou ele.
- Eu não estava afim de ficar no intervalo. - lamentei.
- Bem, precisava mesmo falar com você.
- O Jonny me contou que não sou mais o capitão. - falei de uma vez.

O treinador David ergueu as sombrancelhas, mas logo relaxou:
- Esse Jonny sempre foi muito metidinho. Não sabe como fiquei tenso antes de decidir dar o posto de capitão para ele. Mas, ele era o mais dedicado... depois de você.
- Eu posso melhorar, treinador. Era só uma fase... - comecei a lamuriar.
- Brad, meu filho. - disse David, colocando a mão em meu ombro. - Infelizmente aqui não podemos pensar no pessoal. É o coletivo que importa. Temos um jogo muito complicado sábado que vem. Com um capitão avoado como você estava, não íamos vencer de jeito nenhum. Você é o melhor jogador, sem dúvida. Mas precisa de um tempo.
- Eu não quero um tempo. Eu preciso jogar! - eu respondi.
- É por isso que não te coloquei no banco, rapaz. Você é o ala. Ainda é importante. E dependendo do seu desempenho como ala, o posto de capitão volta para você, com certeza. Jonny nunca vai te superar. - refletiu David.
- Então eu vou lutar para ter meu lugar de volta. - prometi.
- Comece por se livrar dessas líderes de torcida. Elas só servem para distrair um bom atleta. - riu o treinador. Eu ri com ele, e não tinha como discordar.

O sinal tocou e aos poucos a quadra se encheu. Matt veio para o meu lado, enquanto Jonny me observava de queixo erguido. Nossa, que vontade de quebrar aquele queixo! Balancei a cabeça para afastar esse pensamento. Afinal, precisava de muita calma para conseguir meu lugar de volta. E precisava me concentrar.

A porta do ginásio se abriu e por ela entraram as líderes de torcida. Elas também tinham treino hoje. Ashley passou e deu um beijo na bochecha de Jonny, e todas as outras líderes deram um "tchauzinho" para ele. Apenas Liz parou na porta e olhou para mim. Eu olhei para ela e decifrei em seus olhos uma mistura de raiva com pena. Agora Jonny era o bonzão da escola. E eu era o coitado que perdeu o lugar no time. Como a popularidade é volúvel!

Liz passou por Jonny sem olhar para ele. Bom, pelo menos ela tinha princípios. Eu a admirei naquele instante. Talvez um dia ela me perdoasse e nós poderíamos ser amigos. Enquanto viaja nesse pensamento, uma bolada no estômago me trouxe para a realidade. Olhei fervendo de ódio, na certeza de que era o Jonny a origem do ataque. Para a minha surpresa, era Matt:
- Anda amigão, tem que sair do mundo da lua se quiser se o capitão outra vez! - disse Matt, sorrindo para mim. Ele tinha razão. Tinha que para com esses devaneios. E agora tinha certeza de que Matt ia me ajudar.
- Valeu, irmão! Mas por favor, sem boladas. Me cutuque se eu sonhar de novo, tá? - eu ri.
- Claro... que não! - e ele me deu outra bolada.
- Parem de criancisses! O treino começa agora! - gritou o treinador David.

Era hora de começar minha batalha pelo que era meu. Jonny me olhou de rabo de olho. Revirou os olhos. Meu melhor amigo agora era meu rival. Era guerra!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 29

Tropecei duas vezes pela pressão dos olhares em cima de mim. Sentei meio desajeitado na carteira, quase caindo da cadeira, o que provocou risadas dos outros alunos. Nesse meio tempo a professora Justine já estava em sua mesa, e achou que meu jeito atrapalhado fosse um tipo de afronta à sua presença:
- Está com algum problema, senhor Stanley? - perguntou ela naquele tom de repreensão.
- Não... desculpe... - murmurei, me ajeitando no lugar. Os outros alunos riram novamente.
- Chega, classe! Todos abram o livro na página 152! - ordenou a professora. - E você, senhor Stanley, sem piadinhas!

Seguiu-se uns murmúrios e enfim o silêncio. A professora começou a ler o texto do livro, enquanto eu queria morrer pelo acontecido. Fitei o livro sem realmente olhar para ele, e a voz da professora era apenas um zumbido irritante. Depois do intervalo teria treino de basquete. Isso era bom e ruim. Bom porque eu ia desestressar um pouco, visto que o basquete me desconectava de todos os problemas e me focava numa nova atmosfera. E ruim porque as líderes de torcida estariam treinando na quadra ao lado, e eu estava com um medo danado de encontrar Jolie e Rebecca, pois elas poderiam ter o mesmo ataque de Ashley, Liz e Selena.

Enquanto eu vagava nos meus problemas emocionais, o sinal tocou. Caramba! Como a aula passou tão rápido. Senti uma pancada brusca na nuca, e vi Andrew saindo da sala. Ela tinha batido com a bolsa na minha cabeça, e não foi sem querer. Hmmm. Espertinha ela, não? Na certa viu que eu estava vagueando e quis chamar a atenção. Talvez ela gostasse de mim, e ainda não soubesse. De repente, senti mais duas pancadas bruscas na cabeça e no ombro. Eram Liz e Ashley, que ainda ferviam de ódio de mim. Bom, isso era um sinal de que talvez Andrew não gostasse de mim tanto assim...

Andei me arrastando até o refeitório, onde estavam meus grandes amigos Matt Dagmore, Freud Kennesty e Jonny Henry Marshall. Quando cheguei, Jonny estava contando vantagem sobre alguma coisa que de início não captei o que era, enquanto Freud e Matt se entreolhavam meio chateados. Me sentei e Jonny tossiu e pigarreou quando me viu, o que "levantou minha lebre".

- Tavam falando de mim? - intimei, num tom grave e imperativo que usava no posto de capitão do time de basquete. Aquela pergunta parecia mais uma afirmação.
- Não, claro que não! E aí, cara, firmeza? - falou Jonny.
- Matt? - me virei para Matt, que era o amigo que eu mais confiava. Ele nunca escondia nada de mim.
- Ah, Brad, o treinador David ia te contar no treino hoje. - respondeu Matt, meio amargurado.
- Ótimo! Conheço essa sua cara Matt... lá vem bomba... - me adiantei.
- Olha Brad, você sabe que é o melhor capitão que essa escola já teve... - começou Jonny, num discurso solidário muito forçado.
- Eu rodei, não é? - eu disse, meu tom ficando meio desesperado.
- Rodou, cara! O Jonny robou seu lugar! - acusou Freud. Ele sempre era sincero demais.
- Cala a boca, não é assim... - Jonny falou asperadamente com Freud.
- Seu filho da... - eu queria quebrar a cara dele.
- Calma Brad, eu não tive culpa. Eu te avisei que você tava disperso demais, muito avoado. O treinador achou que seu desinteresse ia... ia prejudicar o time... - se explicou o desgraçado do Jonny.
- Eu vou quebrar a sua cara! - ameacei, me levantando da cadeira.
- Ei, ei, ei, Brad. Isso não resolve as coisas, amigão! - interviu Matt, me segurando. - Jonny foi influenciado pela Ashley! Sim, Ashley Hanners, aquela vadia! Ela veio toda doce pra cima dele e fez ele ir falar com o professor David. Os dois falaram com ele!
- Você... o que você tem a ver com Ashley? - perguntei a Jonny, atordoado.
- Ela veio falar comigo, Brad. Ela tinha razão. Você estava com muitos problemas emocionais e estava prejudicando o time. Eu só queria te ajudar, tirar esse peso das suas costas... - tagarelou Jonny.
- Você me ferrou pra se dar bem com a Ashley? - rugi, e Matt apertou a mão no meu braço.
- Desculpa, Brad. Você sabe que eu sempre gostei dela. - confessou Jonny.
- Que canalha! - resmungou Freud.
- O que aconteceu com "eu não pego ex de amigo meu"? - reclamei, ardendo de raiva.
- Droga, Brad! Não é só por ela. É por mim! Eu sou muito mais dedicado ao basquete do que você! Foi justo! - gritou Jonny.
- Justo? Você sempre teve inveja de mim, Jonny! Sempre! Eu vou acabar com você! - gritei, avançando pra cima dele. Ah, se Matt não estivesse me segurando...
- Calma, brother! - gritou Matt no meu ouvido. - Você é o melhor jogador de basquete dessa escola. O treinador David vai se arrepender de ter te tirado a liderança! O Jonny nunca vai te superar! Você só precisa provar que é melhor! E eu sei que você é melhor!

As palavras amistosas e fortes de Matt me acalmaram. Minha visão se suavizou e o refeitória a minha volta tomou forma. Vi como os outros alunos tinham se juntado para perto de nossa mesa para ver a briga entre mim e Jonny. De relance, vi Ashley Hanners com um sorriso deliciado no rosto e os olhos ansiosos. Do outro lado, mais ao fundo, Andrew observava com a expressão preocupada e os olhos doloridos. Ela nunca ficava no refeitório quando brigas começavam. Ela odiava essa infantilidade. No entanto, lá estava ela, olhando pra mim, com o coração na mão.

Respirei fundo. Matt afroxou as mãos que me seguravam. Olhei para Freud:
- Você é o melhor cara, sabe disso. - murmurou Freud, e eu sorri tristemente, mas agradecido pela força.

Coloquei a mão no ombro de Matt, dando a entender que já estava sobre controle. Olhei para Jonny colérico e ameacei:
- Aproveite sua estadia no meu trono, porque seu reinado é curto!
- É o que veremos, amigo. - zombou Jonny.
- Eu não sou seu amigo! E eu vou acabar com você... mas não aqui... não assim... mas lá na quadra! - me virei para Matt - O que eu sou agora?
- Você é small forward, um ala... - disse ele. - Jonny é o point guard, o armador agora...
- Tudo bem, não faz diferença para quem tem talento.

Jonny ainda me olhou zombador e desconfiado. Vi o rosto de Ashley se fechar pela briga ter parado por alí. Dei passos largos, esbarrando em alguns alunos para sair do refeitório. Todos me olhavam, uns com uma solidariedade irritante, outros com ar de zombaria mais irritante ainda. Agora todos sabiam que Bradley Tommas não era mais o capitão do time de basquete do colégio. Saí pela porta completamente atordoado.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 28

- Argh! Liz! Por favor, não me bata. Não estou tendo um bom dia hoje. - arfei, quando vi Liz parada me olhando.
- Calma, Brad. - riu ela, toda doce. - Fiquei sabendo que terminou com Ashley Hanners. - credo, como as noticias correm.
- Éééé... í? - quase gemi, enquanto ela chegava mais perto sorrindo toda boazinha.
- Bom, eu só fiquei contente com a notícia. Talvez você tenha descoberto... que ama outra... - sugeriu ela, e eu automaticamente pensei em Andrew. Mas ninguém naquela escola imaginaria que eu, Bradley Tommas, me apaixonaria pela senhorita exclusão da escola.

Revirei os olhos e entendi onde ela queria chegar.
- Achei que estivesse saindo com o Freud. - eu disse, tentando me livrar dela.
- Hahahaha, Brad, não se faça de bobo. Você sabe que só chamei Freud pra ir em casa para te provocar. Ele foi, mas eu nem abri a porta. Nunca esqueci você... - riu ela, pegando no meu braço.
- Bem, não deveria usar as pessoas assim... - eu argumentei, tentando me desviar dela.
- Olha só quem fala. Ora Brad, a gente combina tanto.
- Liz... - eu gaguejei - você sabe... sabe que eu... eu não... eu não costumo voltar atrás em minhas decisões... - o rosto de Liz se fechou, como um dia ensolarado ficando nublado. Ela me deu um empurrão. Caramba, essas líderes de torcida eram fortes. Acho que escondiam anabolizantes nos pompons.
- Um dia, Brad, você vai cair desse pedestal. E quando precisar de mim, eu vou mandar você pro inferno! - berrou ela, saindo de perto de mim. Outra ameaça no mesmo dia? Comecei a ficar com medo.

Respirei fundo, peguei meus cadernos que caíram no chão com o empurrão de Liz e fui em direção à sala de aula. Na porta, reconheci o cabelo ruivo que parecia fogo. Selena Vegg.
- Oi, Brad! - cumprimentou ela, toda sorridente. Essa não! Hoje, hoje sim era o pior dia da minha vida.
- Oi Selena... - murmurei, estremecendo.
- Quer dizer que tá solteiro de novo? - perguntou Selena, barrando minha entrada.
- Estou, e você está atrasada pra sua aula, que é na sala do outro lado. - falei, colocando uma mão na cintura com sinal de impaciência.
- Eu lembro que você me dizia que amava ruivas. Sabia que Liz e Ashley iam rodar rapidinho. - Selena começou a falar, e eu revirei os olhos.
- Ruivas, morenas, loiras... eu gosto é de mulher. - eu ri, me virando para olhar do lado, e no instante que vi quem estava parado do meu lado querendo entrar na sala também, quis cortar a minha língua.

Eu nem vi Andrew chegar. Malditos coturnos que ela usava que não prestavam nem pra fazer um barulho estrondoso. Andrew rugiu em sinal de desaprovação pelo que eu dissera, me empurrou com o caderno e bateu o ombro no de Selena, entrando na sala. Ótimo, se antes ela me achava um safado, agora ela tinha certeza.
- Nossa! Que bruta! Gótica dos infernos! Credo Brad, você precisa falar pro seu padrasto comprar mordaças para sua irmãzinha! - reclamou Selena, e eu não gostei nada da palavra "padrasto". Jonathan era um cara legal, e eu nunca o encarei dessa forma.
- Andrew não é minha irmã. Agora vai pra sua aulinha, vai Selena. - implorei.
- Vamos dar um rolé depois da aula? - perguntou ela, toda alegrinha.
- Não! - respondi meio ríspido. Droga, não queria entrar em guerra com outra líder de torcida. E Selena sempre foi a mais compreensiva comigo.
- Ah, claro. Você não volta a sair com ex, não é? Tudo bem, Brad. Quem é a próxima? Nicole? Karine? - Selena resmungava, com tom amargo.
- Não tem essa de próxima, Selena. Eu quero paz!!!
- Você é um mentiroso, Bradley Tommas. Eu sei desse seu planinho de sair com todas as líderes de torcida, não é? Ai, eu nunca devia ter saído com você. Mas você vai se arrepender de ter me rejeitado! - rugiu ela, me olhando atravessada e saindo batendo os pés.

Maravilha! Ashley, Liz e Selena me odiavam. Queriam me ver morto. E elas eram perigosas. Ah, meu Deus! E se as três se juntassem contra mim? Isso era pavoroso. Não, elas não fariam isso. Pior! Se Jollie e Rebecca, minhas outras duas ex que também eram líderes de torcida quisessem jogar charminho pra mim e ficassem magoadas comigo, desejando minha morte também? Era o Apocalipse. Caramba, e nem estamos em 2012 ainda!

Antigamente, eu diria "calma garotas, tem Brad pra todas", mas esse amor idiota que eu sentia por Andrew Marew agora desabilitava meu charme. Eu era um inútil que estava destruindo com as próprias mãos o reinado de popular que eu mesmo tinha construído com muitos beijos e trabalho àrduo. Eu devia... eu devia odiar Andrew Marew. Mas não conseguia. E agora ela também estava com raiva de mim. Eu queria me enforcar com o arame do caderno. Tudo bem. Respirei fundo. A professora Justine de história estava vindo pelo corredor, e se me pegasse alí fora, não me deixaria entrar na classe. Ela e seu maldito pontualismo. Entrei na sala, e três pares de olhos me fuzilavam. Liz, na quarta carteira da segunda fileira; Ashley, na segunda carteira da última fileira e Andrew, na última carteira da primeira fileira. Nesse instante, rejeitei tudo o que havia resmungado pra mim mesmo. Hoje sim era o pior dia da minha vida.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 27

O resto do dia foi tenso. Jonathan chegou em casa com seu jeito simpático sem perguntar porque eu estava mais cedo em casa. Mas minha mãezinha Janet carinhosa, preocupada e intrometida lançou um interrogatório sobre a escola. Andrew ficou trancada no quarto, mas desceu para almoçar conosco. No almoço ela ficou completamente fechada, sem falar com ninguém, comendo devagar. É claro que Jonathan e Janet nem perceberam, achando aquilo um comportamento normal da rebelde da família, mas eu sabia que tinha mais coisas envolvidas do que um ataque de identidade da adolescência.

Desisti de esperar ter uma boa idéia às 8 da noite, e fui para meu quarto também. Me joguei na cama e liguei o som baixinho. Quando abri os olhos, já era dia.

Desci a escada correndo na esperança de encontrar Andrew na cozinha. Era óbvio que ela não me daria um mole desses, então, quando cheguei na cozinha, ela já havia ido embora. Quem nesse mundo vai tão cedo para a escola? Enquanto preparava meu costumeiro cereal me perguntei quanto tempo Andrew Marew me evitaria. Lembrei do nosso antigo pacto do silêncio e aquilo me desanimou. Ela poderia me evitar o ano inteiro, se quisesse.

Cheguei na escola com a intenção de estacionar meu Maverick na vaga de sempre, atrás do carro de Matt. Mas na vaga havia um Porsche Boxster vermelho cintilante novinho. Fiquei vermelho igual ao carro fervendo de ódio. Qual aluno naquela simples escola americana teria um Porsche Boxster? Com certeza não seria um aluno americano. Um britânico. Adam Turnwell.

Quem o cretino achava que era estacionando na vaga do capitão do time de basquete? Ninguém naquela escola se atrevia a estacionar na vaga de Bradley Tommas Stanley. Esse novato teria que aprender uma lição. Eu socaria meu velho carro na lataria daquele Porsche, mas isso só me renderia mais prejuízos. Revirei os olhos. Dei a meia volta e parei o Maverick atrás de um Plymouth Barracuda 1964 azul claro desbotado, e, a julgar pelo estado, só podia ser um carro de nerd. Saí do Maverick olhando em volta e percebi que realmente estava na ala dos nerds do colégio. Do outro lado, junto ao carro de Matt, Jonny e os outros carros dos rapazes populares que faziam parte do time de basquete, reluzia o maldito Porsche. Hoje sim eu ia quebrar os dentes daquele britânico atrevido.

Andei pelo corredor com passos bruscos. Dei um soco no ferro antigo do meu armário ao fechá-lo. Foi quando Ashley Hanners apareceu. Eu queria meter a cabeça na parede.
- Brad, será que podemos conversar hoje? - pediu ela.
- Ah, Ash, vai ver se eu to na diretoria. - resmunguei, encostando no armário de má vontade.
- Quando você vai entender que eu te amo? - perguntou Ashley.
- Eu já sei disso...
- Então... - os olhos dela se iluminaram.
- Então nada, Ash. Você é legal, mas eu não sou apaixonado por você. Podemos ser a... - tentei ser bonzinho, mas Ashley me cortou.
- Não se atreva a dizer a palavra "amigos", Bradley Tommas! - rugiu ela.
- Então sinto muito. Você é tão problemática quanto Liz. Vocês duas deviam aprender com a Selena. Ela é minha ex, mas ainda consegue ser minha amiga.- falei, cético.
- Selena te odeia. Ela te trata bem pra ninguém perceber que não superou o seu fora. - falou Ashley, entredentes.
- Poderia fingir também, hein. O que acha? - eu ri. Ela ferveu de ódio.
- Escuta aqui, capitão do time de basquete. Seu reinado nessa escola vai acabar, e eu quero ser o pivô da sua queda. Não existe coisa mais perigosa do que uma mulher rejeitada. Meu amor por você está virando ódio. Então, se prepare, porque eu vou te derrubar. E quando você estiver lá no chão e precisar de mim, eu é que vou mandar você pastar! - ameaçou ela, e eu estremeci. Além de Andrew, ninguém nunca tinha me intimidado naquela escola.

Ashley saiu pelo corredor, e eu ainda estava arrepiado com as palavras dela. Me virei e levei outro susto.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 26

Tudo bem, era uma coisa difícil de se admitir. Eu estava apaixonado pela única pessoa na face da terra que nunca se apaixonaria por mim. Ri de mim mesmo ainda fitando a imagem no espelho. Eu e Andrew juntos? O que eu era perto dela?

Talvez todo esse tempo ela tivesse razão. Eu era um palhaço, um babaca. E ela... ela era alguém que nasceu no planeta errado, onde todos são babacas como eu. Porque para todos eu era o certo e ela a errada. Quem era Andrew Marew? Apenas alguém que escolheu ter uma vida independente das influênicas humanas tão mesquinhas repletas de falsas filosofias. E o fato de ela não estar na mesma sintonia que o mundo inteiro fazia parecer com que realmente ela estivesse em outra dimensão. Eu conseguia vê-la, mas não tocá-la.

Respirei fundo. Talvez eu não estivesse apaixonado por ela. Isso poderia muito bem ser uma precipitação minha por todos os problemas que eu estava passando. Pensei em tomar um banho frio e esquecer tudo, mas essa dorzinha no fundo do meu coração ainda incomodava. Eu nunca fui um medroso. Quando tinha 5 aninhos, meu abajour do super man queimou e minha mãe queria deixar a luz do corredor acesa para que eu não dormisse no escuro. Quando ela adormeceu, eu fui até o corredor e apaguei a luz. Tudo bem, eu saí gritando até o quarto da minha mãe depois de quinze segundos, mas tinha tido a coragem de apagar a luz. Isso contava como coragem, não?

Abri a porta do meu quarto e fui até o quarto de Andrew. Bati na porta:
- O que você quer? - era óbvio que ela sabia que era eu, visto que eu era a única pessoa na casa.
- Eu preciso falar com você, por favor. - eu? Pedindo "por favor" a Andrew? Caramba, tava mal mesmo.
- Vai embora! - gritou Andrew.
- Andrew, me escuta... se você se acha mais madura que eu, deveria aceitar conversar... - argumentei. Funcionou, ela abriu a porta.

Andrew olhou para mim, mas o rosto não possuía mais raiva e sim uma certa frustração. Entrei no quarto e ela (não sei por que) fechou a porta e encostou na madeira escura me fitando, talvez esperando que eu falasse. Não imaginei que depois de saber da verdade seria tão difícil falar com ela. Minha respiração acelerou, e tive que olhar para baixo e respirar fundo antes de começar:

- Andrew... estamos realmente com um problema aqui... - comecei dizendo, mas ela me cortou.
- Problema? Sabe qual é o real problema, Bradley Tommas? O problema é você! Sempre foi você! Desde o primeiro dia em que você veio para essa casa. Você é um ser limitado completamente absorvido por esse mundinho fútil. Eu sempre soube que você seria um problema. Agora você acha que pode ter qualquer garota... tudo bem, talvez você possa ter qualquer garota. Qualquer babaquinha patricinha fresca. Mas não pode ter a mim! Não pode me beijar! Porque eu nunca iria querer algo com um mala como você! - rugiu Andrew, e eu estremeci com as palavras dela.
- Andrew, eu só...
- Isso é o que eu mais odeio em você. Quer se arriscar um pouco mais, e me coloca na sua lista? E o pior de tudo é que você mesmo não entende as próprias intenções. - ela bufou, e olhou para mim com um ódio confuso, nada focalizado. - Você é o ser que mais atrapalha minha vida. E eu odeio que apesar de eu saber o quão inútil você é, eu ainda me confundo. Eu permito que você me confunda. Você... você... você é o vilão da minha história, Bradley Tommas Stanley!

Eu ofeguei. Não esperava por isso. Eu sabia que ela me odiava, sabia o quanto eu era insuportável para ela, mas nunca imaginei que ela me encarava como um vilão. Aquilo doeu em mim. Então meu coração idiota decidiu desabilitar meu cérebro e falar por si mesmo. Quando abri a boca, não fazia idéia do que ia dizer, e mesmo assim eu disse, como se eu fosse um instrumento e algo muito poderoso me controlasse naquele momento:

- Tudo bem, eu sei... eu sou o vilão da história então... mas, se todo vilão tem uma fraqueza... a minha é você... - eu disse, quase sussurrando, e senti que toda a raiva de Andrew desmoronava diante de cada palavra que eu falava. Quando terminei, seus olhos brilhavam demais, e eu percebi que estavam cheios de àgua.

Eu não aguentava ver lágrimas por natureza masculina. Mas ver Andrew chorar era ainda mais doloroso pra mim. Fui até ela com cuidado e peguei seu rosto de porcelana nas mãos. Ela estava levantando os cílios molhados e eu sabia que assim que seus olhos encontrassem os meus, eu não saberia mais o que estava fazendo e a beijaria de novo. Mas antes de me olhar, Andrew murmurou algo:

- Não... Stuart... Stuart... - ela sussurrava, como se implorasse.
- Stuart é um babaca. - eu murmurei, sem pensar, só querendo que esse nome desaparecesse do momento. Droga! Não devia ter dito isso. Com certeza eram as palavras erradas. Eu tinha a vitória nas mãos, e joguei no chão pisando em cima. As sobrancelhas finas de Andrew se uniram numa raiva maior do que eu já conhecia.
- Eu já disse que o babaca da história é voce! - gritou ela, me empurrando e abrindo a porta. - Sai! Sai agora do meu quarto!

Eu hesitaria e tentaria de novo, se não tivesse ouvido o sedan de Jonathan, pai de Andrew, virando a esquina. Aquele som era conhecido, mas naquele momento era um alerta. Não queria explicar nada para ninguém agora, e tinha certeza de que Andrew também não. Saí do quarto olhando para ela, até que ela bateu a porta com força atrás de mim. Tudo bem, eu não ia desistir tão fácil.