quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 56

- Estão secando a monstrenga da Andrew Marew? - disse Liz, desacreditada.
- Monstrenga? Olha direito pra ela! Ela é uma ninfa... - suspirou Freud.
- Tenho que concordar com o Freud hoje. Andrew está... gostosa naquela meia arrastão. - soltou Matt, sem querer, ainda fitando Andrew.
- Ei! Olha como fala da minha... é... irmã. - eu não ia usar a palavra "irmã", na verdade.
- Francamente, meninos! - rugiu Liz.
- Qual é Liz, está com ciumes de Andrew Marew? - riu Matt, encostando na cadeira de Liz novamente.
- Depois que perdi meu posto para Nadine, minha auto estima está completamente ameaçada pelo grupinho dessas metaleiras hipócritas. - disse Liz, remexendo o canudinho no suco.
- Andrew não é como Nadine. Ela não é hipócrita. - defendi.
- Não? Olha pra ela, Brad. Onde está o estilo dela, a personalidade dela? Agora ela usa saia? Desde quando? Desde que Nadine virou líder de torcida? Você não conhece mesmo a sua irmã. - respondeu Liz, atônita.
- Ela não é minha irmã! - falei àspero, de novo.
- Acabou de dizer que era... - disse Freud, agora olhando para mim.
- Ah... eu só... não gosto que desrespeitem a filha do marido da minha mãe. Questão de consideração. - justifiquei.
- Claro, claro. Pra quem me condenava por ser apaixonado por ela, você está bem protetor agora. - disse Freud, confuso.
- Ei, qual é? Podem falar o que quiser do Brad, mas ele sempre teve consideração com a família. - ajudou Matt, o único que sabia de minha paixão avassaladora pela minha não-irmã.
- Sei... - ironizou Liz.

Andrew passou por nossa mesa fitando a mim e a Liz ao meu lado. Engoli seco quando vi uma certa conclusão passando por seus olhos redondos. Eu sabia o que ela estava pensando, e isso não era bom. Então Andrew passou pela mesa de Ashley e Jonny, e percebi que Nadine estava sentado com eles quando Andrew passou por ela fuzilando-a com os olhos. Eu sabia que meu anjo sombrio nunca concordaria com aquela atitude hipócrita de Nadine. Estava orgulhoso de comprovar que minha Andrew era um ser de personalidade.

- Viram só? Andrew nem falou com Nadine. Certeza que ela não concorda com o proceder da EX melhor amiga. - enfatizei o ex.
- Não sonha, Brad. Andrew é ser humano. Todos somos corrompíveis e influenciáveis. - filosofou Liz.
- Você está parecendo a Andrew agora. - eu ri com a filosofia sombria.
- Eu vou lá falar com ela. - disse Freud, tomando um último gole de refrigerante.
- Ei! Como assim? - me assustei.
- Ela está solteira. Meu irmão e ela não tem mais nada. Não vou perder o amor da minha vida uma segunda vez. - respondeu Freud.
- Acorda, ela nunca vai te dar uma chance! - ralhei.
- Qual é a sua, Brad? Parece que tá com ciumes dela. - disse Freud, e senti uma pontada no estômago.
- Não... eu só não quero que você sofra. - eu menti.
- Rá! Comece por não zuar mais a minha mãe. Depois se preocupe com minha vida sentimental. Fui! - disse Freud, àspero, se levantando.

Revirei os olhos. Andrew nunca daria uma chance a Freud. Afinal, tinha namorado o Stuart, irmão dele. Isso era contra seus princípios pessoais, se ela tivesse alguma consideração por seu ex namorado. Matt começou a lançar seu charme em Liz outra vez.
- E então Liz, o que vai fazer sexta à noite? - perguntou ele, e eu automaticamente arrastei a cadeira para dar uma privacidade aos dois.
- Qualquer coisa que não seja sair com você. - respondeu Liz, na lata, e eu arregalei os olhos para Matt.
- Ah, é... ah... - Matt ficou sem resposta.
- Acha que eu não sei o que está fazendo, Matt? Eu ainda sou a ex do Brad, não? Sua fama na escola é bem interessante. Ainda me lembro de Selena roxa no banheiro chorando humilhada depois de ter saído com você, e ter sido humilhada nesse mesmo refeitório por você e Brad rindo da cara dela comparando o "desempenho" nos beijos de vocês dois. - ralhou Liz, agora falando comigo também.
- Liz, isso faz um bocado de tempo. Selena até perdoou a gente já. Eu mudei, e o Matt mudou também. - sussurrei, envergonhado
- Independente disso, Matt tem fama de pegar as suas ex, e eu não vou entrar nessa lista. Vou indo, tenho treino com minhas novas líderes de torcida. Boa aula pra vocês! - Liz não deu chance de Matt falar, e eu a fitei saindo da mesa boquiaberto.

Matt ofegou, e depois me encarou atônito.
- Eu te avisei que Liz era dura na queda. - fui o primeiro a falar.
- Você tinha fama de pegador de líderes de torcida. Como foi que conseguiu algo com Liz sem ela ficar com receio de ser mais uma na sua lista? - perguntou Matt.
- Liz era apaixonada por mim, e tinha esperanças de que ia conseguir mudar meu jeitão cafajeste. E eu usei de muita lábia. Disse pra ela que ela era única, que eu me sentia diferente com ela e que queria namorar sério. - dei de ombros.
- Essa lábia não vai funcionar de novo. - se lamentou Matt.
- Fomos dois desgraçados, Matt. Acho que Andrew e Liz vão nos fazer pagar todos os nossos pecados. - ri, passando para a cadeira do lado de Matt.
- Só pode ser praga da minha mãe. - riu Matt, mais ainda.
- Olha só o Freud! Tá mesmo conversando com a Andrew. - vi, de repente.
- Ela está dando atenção para ele. Será que é pra te afetar? - refletiu Matt.
- Pode ser... mulheres... - resmunguei.
- Relaxa, Brad! Em último caso, nos resta a mãe do Freud. - riu Matt.
- Claro, vamos fazer terapia. - ri também.
- E queeee terapia! - disse Matt, gesticulando curvas com as mãos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 55

Cheguei no refeitório e Liz, Matt e Freud já estavam alí. Puxei a cadeira com um leve sorriso no rosto, tentando entender por que Matt estava vermelho de tanto rir.

- Perdi a piada, pelo jeito. - reclamei.
- É só mais uma das piadinhas machistas de Matt em relação a mãe do Freud. - respondeu Liz, revirando os olhos.
- Isso explica porque só o Matt está rindo. - bufou Freud.
- Irmão! Você perdeu. A mãe do Freud veio trazer ele hoje na escola. Sabe aquele vestidinho vermelho colante? - Matt começou a contar.
- Ah, cara! O nosso preferido! O corpo dela fica perfeito nele. - entrei na de Matt. A senhora Kennesty era mesmo uma mulher muito "apresentável".
- Brad! - ralhou Liz.
- Quer se sentar com meninos? Suporte conversa de meninos. - eu ri.
- Então, cara! O Freud esqueceu um caderno no carro, e a senhora Kennesty saiu desfilando pela calçada pra dar o livro pra ele. Os garotos do primeiro ano quase tiveram um infarte. - riu Matt, enquanto Freud fazia cara de mau-humorado.
- Vou começar a falar que a dona Janet é gostosa... ou a dona Cíntia! - atacou Freud, falando das nossas mães.
- Minha mãe não colocou silicone nos seios. - disse Matt, mais vermelho ainda de tanto rir.
- E a minha não usa vestidos vermelhos colantes. - eu ri também.
- Ei, Brad. To pensando em fazer uma sessão de terapia com a respeitada psicologa Kennesty. - disse Matt, batendo no meu ombro.
- Pra que? Fazer regressão? - eu ri.
- Não. Estou com um problema sério. Tenho tido muito sonhos eróticos com vestidos vermelhos colantes. - disse Matt, engasgando de tanto rir.
- Mexer com mãe é a pior mancada. Brad! Matt! - Liz estava irritada.
- Freud sabe que é brincadeira. - eu me justifiquei.
- Nós amamos a senhora Kennesty. Eu e o Brad nem tanto, mas o Jonny idolatrava ela... - disse Matt, engasgando quando falou o nome de Jonny.

Todos na mesa ficaram quietos. De repente a lembrança de um passado que mais parecia outra vida assombrou nossos humores. Suspirei. Jonny era um cara legal. Meio cri cri, mas era nosso amigo. Fitei Matt, e ele refletia meus pensamentos.
- Jonny agora só idolatra Ashley Hanners. - cuspiu Liz.
- Ela tem sido a fonte de tudo que há de errado nas nossas vidas. - reclamei.
- O tempo dela está contado, Brad, meu bem. - disse Liz com um sorriso malvado no rosto.
- O que você está planejando? - perguntou Matt, se inclinando pra ela.
- Consegui montar um grupo B de líderes de torcida. - respondeu Liz, triunfante.
- O quê? - se assustou Freud.
- É, um grupo B. Apresentei meu projeto para a diretora Rosalie. Ela aceitou minha idéia como um grupo reserva das belíssimas líderes chefiadas por Ashley. Mas lancei um pouco do meu veneno no treinador David, que ama competições. Ele vai organizar um torneio de líderes de torcida. Meu grupo vai competir com o de Ashley, e quem vencer fica como titular. Eu confio muito no meu taco, então Ash não tem chances. - explicou Liz.
- Você é a coisinha malvada mais linda do mundo. - riu Matt, lançando um olhar charmoso para Liz.
- Obrigada pela parte que me toca. - riu ela, sem perceber a cantada.
- Tirar de Ashley o que ela mais almeja. Hmmm... seria uma vingança em tanto, não só pra você, como pra mim. - refleti.
- Nós temos muito em comum, não é, Brad? - Liz sorriu com os olhos brilhantes apaixonados para mim. Matt deu de ombros, mas vi que ficou chateado.
- Você é como uma irmã pra mim. - tentei salvar a situação.
- Andrew é sua irmã, não eu! - reclamou Liz.
- Andrew não é minha irmã. - disse, ríspido.
- Entendo sua aversão natural por Andrew... - começou a dizer Liz, antes de Freud cortá-la.
- Andrew é maravilhosa! - exclamou ele, extasiado, olhando para trás.

Fixei meu olhar na direção do de Freud, e vi Andrew andando pelo refeitório com uma bandeija nas mãos. Foi quando me dei conta do quanto ela havia mudado desde que eu a havia beijado. Antes Andrew andava por aí cercada de suas amigas bruxas, com camisetas de bandas, shortão e coturno. Agora lá estava ela, completamente diferente. Ela ainda era metaleira, claro, só que mais feminina. Uma regata lilás e uma saia pregada de couro negro (mais comprida que as das líderes, sem dúvida) revelava a meia arrastão que descia até os pés delicados semi cobertos por uma sapatilha preta.

Uma SAPATILHA? Aquilo sim era um milagre! Ela não estava mais destruindo sua imagem perfeita com aqueles coturnos horrorosos. E como os pezinhos dela eram pequenos! Então voltei ao rosto de ninfa, branco e delicado contrastado com o cabelo negro, e me surpreendi ao ver que a cor não era mais tão escura. Vestígios do castanho original desciam pela raíz. Andrew havia desistido da tinta macabra no cabelo? Eu não sabia, mas estava delirando ao fitá-la daquela maneira, e, comigo, Matt e Freud deliravam também, junto com todos os outros garotos no refeitório, enquanto Liz nos observava pasma.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 54

Andei pelo corredor do colégio em mais uma manhã da minha atropelada e maluca vida. Abri o armário para pegar os livros que usaria hoje. Foi quando um arrepio passou pela minha espinha:
- Oi, Brad! - disse uma voz feminina atrás de mim.

Eu reconheceria aquela voz fina irritante mesmo que estivesse embaixo d'agua. A voz que se tornou a mais pavorosa para mim nessa vida. A voz da garota que acabou com a minha vida social - Ashley Hanners.

Me virei de má vontade. Ashley me dizendo "oi"? Não era coisa boa.
- Mas que diabos você quer? - rugi.
- Relaxa, Brad. Vim fazer uma boa ação. Avisar que amanhã é o grande jogo de basquete. Mas do jeito que você anda avoado, aposto que não se lembrava. - riu Ashley, zombando de mim.
- Eu não sou avoado e sei bem que tenho um jogo importante amanhã! - respondi àspero, querendo me livrar logo dela.
- Ah, claro. Sempre atento. Tão atento que perdeu o posto de capitão do time! - atacou Ashley. Por que ela queria me provocar?
- Eu fui vítima de um plano. Parabéns, você sempre consegue o que quer. Ainda é namorada do capitão do time de basquete. Pena que agora o capitão é o Jonny, e você nem gosta de verdade dele. - contra-ataquei.
- O que você é agora no time... hmmm... pivô, né? - zombou ela novamente.
- Vai pro inferno, Ash!
- Pensa bem, Brad. Você pode ter tudo de volta. - ela disse, mais doce.
- Poucas coisas eu quero de volta, e vou conseguir por mérito próprio.
- Você era o capitão do time de basquete e namorava a garota mais linda do colégio... - começou a dizer Ashley, e eu logo cortei.
- Quem? A Liz? Sim, ela é mesmo muito linda. - isso ia ficar engasgado na garganta de Ashley por um bom tempo.
- Argh!
- Olha Ashley, se você fez tudo o que fez contra mim na tentativa de me ter de volta, então sinto muito, mas não vai funcionar. Existem coisas na vida que tem muito mais valor do que um título no time ou a moral no colégio. Você não sabe o que é amor, e até não conhecer isso, não vai me entender. - refleti.
- Está apaixonado por Liz? - se magoou Ashley. Com certeza ela já havia reparado que Liz se sentava todo dia do meu lado no refeitorio. Isso deveria dar más impressões. Esperava que esse tipo de pensamento não atingisse Andrew...
- Você ferrou sua melhor amiga só pra me afetar. - acusei.
- Liz mereceu cair fora das líderes de torcida. Ela fazia tudo errado de pirraça! - se justificou Ashley.
- Para com isso! Liz dançava melhor que você e todas as outras líderes juntas! - defendi minha amiga.
- Então é isso... o problema esse tempo todo era a Liz! - agora Ashley achava que estava apaixonado por Liz! Argh, que inferno!
- Acho melhor mudar a expressão enciumada do seu rosto porque seu namorado vem chegando aí. - apontei para Jonny chegando pelo corredor, passando a mão no cabelo ruivo.

Ashley revirou os olhos, mas dissimulou e se virou sorrindo para Jonny, que me fuzilou com os olhos quando percebeu que eu e Ashley estávamos conversando.
- Fala, Brad! - cumprimentou ele.
- Oi senhor capitão! - ironizei, batendo continência.
- Não vai esquecer do jogo amanhã, cabeça de vento! - respondeu Jonny, irritado.
- Não, senhor capitão!
- É melhor parar com as gracinhas. Estou quase te colocando no banco como reserva, Bradley Tommas! - agora sim o Jonny estava nervosão.
- Essa é uma decisão que cabe ao treinador David, senhor capitão. - respondi, sem me deixar abalar.
- Eu posso ter outra conversinha com o treinador, Brad. - ameaçou Ashley.
- Faça isso! E então os Tigres vão perder o jogo amanhã. Afinal, mesmo não sendo mais o capitão, todo mundo sabe que eu sou essencial. - disse, ainda seguro de mim mesmo.
- Você é muito metido, Brad. Sempre foi. Não sei como suportei ser seu amigo por tanto tempo. - reclamou Jonny.
- Eu sou metido, e você é um idiota. - joguei o verde, olhando para Ashley, e saí batendo o ombro no de Jonny.


Eu estava com raiva, não porque não era mais o capitão do time, nem porque o Jonny havia ameaçado me deixar no banco, mas porque aquele ruivo filho de uma anta era um dos meus melhores amigos e agora me odiava por causa de Ashley Hanners. Mulheres são mesmo seres malignos destrutivos que deturpam a mente masculina. Naquele instante meu ódio era tanto que eu queria virar gay - mas mudei de idéia assim que Nicole, uma das líderes de torcida (que eu não havia pegado) passou por mim de sainha e me jogou uma piscadela.
- Mulheres... - suspirei.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 53

Abri a porta de casa sentindo minha alma leve, e me deparei com Andrew Marew sentada apoiada na mesinha da sala lendo nada mais nada menos que um daqueles livros daquela série maldita de vampiros que brilham. Ela levantou a cabeça quando me ouviu entrar e, milagrosamente, sorriu para mim. Senti um reflexo do sorriso dela acelerar meu coração, e me senti um idiota por isso.
- Oi Brad! - disse ela, contentinha.
- Momento "Medo"! - ironizei. - Você, Andrew Marew, sendo gentil? Quem você quer que eu mate?
- Rá, rá, rá! Como você é engraçado. Só estou aliviada por ter voltado vivo para casa.
- Pensei que tivesse dito que queria que arrancassem meu coro.

Andrew se levantou e veio para perto de mim, sem tirar os olhos dos meus.
- Você sabe que eu estava brincando.
- É realmente difícil distinguir quando você fala sério, ou quando tá brincando.
- Bem, e você disse que se voltasse vivo, ia me pegar de jeito. - ela riu, como se interpretasse aquilo como uma brincadeira.
- Bom, mas eu também estava brincando. Lembra da promessa que te fiz? - eu ri também, e o riso dela ficou menos amistoso.
- Não... - respondeu Andrew, parando de rir por completo.
- Vai ter que implorar pelo meu beijo, se quiser. Caso contrario, vai ficar sem Bradley Tommas para sempre. - respondi, me sentindo, pela primeira vez, o dono da conversa.
- Por que você não vai pro inferno? - resmungou ela, brava.
- Porque o inferno não existe.
- Se existisse, teria um lugar reservado pra você.
- Não é a primeira vez que me dizem isso. Matt falou a mesma coisa. Rá, mas ele não queria um beijo meu, diferente de você, que está louquinha por mim. - eu ri.
- Vai sonhando!
- A realidade é mais interessante. - eu disse, olhando no fundo dos olhos dela, jogando todo o poder do meu antigo charme que eu acreditava ter perdido.

Andrew respirou fundo por um minuto e fechou os olhos com força. Eu mordi o lábio para não gargalhar. Eu tinha sobre Andrew o mesmo efeito que ela tinha sobre mim, mas a diferença era que eu era mais malicioso que ela nessa coisa toda de conquista. Sabia exatamente o que fazer, enquanto ela jogava como uma simples mortal.
- Eu odeio você. - suspirou ela.
- Quando você mudar essa frase pra "eu amo você", talvez entremos em um consenso.

Ela revirou os olhos - mal sinal, significava que estava recuperando o controle sobre si. Ataquei logo, antes que o meu poder sobre ela se esvaísse de vez. Peguei o braço fino dela e a puxei um pouco para perto, e os olhos de Andrew lampejaram para mim - ela achava que agora sim eu ia beijá-la. Mas ter lidado com tantas garotas servia para me dar força em resistir a dar a única que eu havia amado o que ela queria para continuar a me maltratar. Se eu beijasse Andrew agora, ela ainda se acharia superior nesse relacionamento, e eu perderia essa batalha. Com o cuidado de não cair na minha própria armadilha por estar tão inebriado quanto ela pelo o que a presença de um representava para o outro, aproximei meus lábios de leve à orelha dela.
- Sabe, você pode estar perdendo tempo. Eu não vou bater na mesma tecla para sempre. - ameacei, roçando os dentes devagar na parte inferior da orelhinha pequena de porcelana dela.

Senti Andrew estremecer e se arrepiar, e ri sussurrado no pescoço dela, o que só provocou outro arrepio. Como se não bastasse a reação dela que me implorava por mais, eu mesmo me sentia preso por um ímã que me puxava ainda mais para perto dela. Lutei contra meus instintos e me afastei, sem esquecer do meu sorriso cafajeste de meia boca. Andrew se apoiou no sofá enquanto me fitava.
- Boa leitura, irmãzinha! - disse, pegando a mochila e me dirigindo para as escadas.

Antes de começar a subir, ouvi minha não-irmã ofegar. Hoje a batalha era minha.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 52

- Liz? Mas... - estourei logo.
- Tira o cavalinho da chuva, Brad. Não estou aqui por sua causa. - cortou logo Liz.
- Então...
- Bati em uma garota no corredor agora na saída. - Liz respondeu, chateada, enquanto se sentava ao meu lado.
- O que? - fiquei pasmo.
- Conhece Nadine D'angeles? Aquela bruxa amiga da sua irmã.
- Andrew não é minha irmã... mas, sim, conheço. O que tem ela?
- Esse grupinho de metaleiras hipócritas, cretinas... - começou a se queixar Liz, e eu olhei assustado para Genna, que ria da cena.
- O que ela fez? - insisti.
- Ashley Hanners chamou ela para ser líder de torcida no meu lugar. E a cretina aceitou! Dá pra acreditar? E ela que dizia odiar as líderes... ARGH! - arfou Liz.
- E você bateu nela por isso?
- Ela veio me irritar no corredor. Zombar de mim porque caí fora. Não tenho sangue de barata, né Brad. Parti pra cima dela e rolamos no chão.
- Outch! Eu perdi essa briga! - se lamentou Patrick, que olhava pra gente, escutando a conversa.

Nesse instante a bruxa macumbeira da Nadine entrou na sala. Liz revirou os olhos quando Nadine se sentou na frente dela.
- Você é idiota, garota? Por que não deixa a Liz em paz? - reclamei, defendendo Liz. Os olhos de Liz brilharam pra mim, e eu quis quebrar meu próprio pescoço.
- Eu te perguntei alguma coisa, senhor bíceps? - ironizou Nadine.
- Aposto que você é louca pra pegar nos meus bíceps. - desafiei.
- UUUUUUUUUUHHH!!! - fez a sala toda, escutando a discussão.
- Que nojo! Prefiro pegar num sapo! - berrou Nadine.
- Sei, tanto nojo quanto tinha das líderes de torcida, não é sua cara de pau! - berrei de volta.
- Silêncio! - ordenou uma voz grossa na frente da sala.

Era o inspector Joe, negro, grande, forte e cheio de autoridade. Colocou uns livros em cima da mesa e se apoiou sobre eles. Olhou sombriamente para a sala, e eu me encolhi no meu lugar.
- Senhor Stanley. Primeira vez na detenção e já está causando folia? - perguntou ele.
- Nã... não inspector. Eu só... - gaguejei.
- Silêncio! Peguem seus livros! Revisão das aulas de terça e quarta feira! - me cortou ele, virando para a lousa.

Liz e Nadine trocavam, vez por outra, olhares que pareciam sair raios. Genna sorria para mim toda vez que eu olhava para o lado, e o inspector Joe batia com a régua na mesa assustando todo mundo pedindo atenção. E foi assim durante 1 hora inteirinha, que mais parecia 1.000 anos. Quando fomos liberados, me senti como o Mandela saindo da cadeia. Queria sair correndo pelo portão e entrar no meu amado Maverick, mas a diretora Rosalie queria nossa assinatura no livro preto. Vi Patrick fazer uma careta quando a diretora avisou que a próxima assinatura dele iria significar que ele estava expulso do colégio.

Atravessei o estacionamento esbarrando nos alunos que estudavam a tarde - gente desconhecida. Entrei no Maverick e acelerei. Eu tinha passado por mais essa provação, e estava vivo! Acho que agora eu podia sorrir.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 51

Fiquei encostado no velho Maverick na rua esperando o estacionamento da escola esvaziar, enquanto meu coração se apertava ao ver todo mundo indo embora e só eu ficando. O treino de basquete tinha sido uma droga, com Jonny pagando de capitão. A prova de história era o meu desespero - eu tinha estudado praquela droga, mas jurava que tinha ido mal. Suspirei. Foi então que a figura incomum parou diante de mim. O ronco tão familiar da moto preta Halley 150 MVK de Andrew chamou minha atenção, e ela parou alí, com a moto ligada, tirando o capacete vermelho da cabeça, jogando o cabelo liso comprido e negro para trás. Eu olhei para ela e de repente me vi extasiado - a jaqueta de couro curta na cintura, mangas longas com botões prateados nas bordas, o shorts preto na altura da coxa que revelava a meia-calça arrastão descendo até o coturno grande e preto, embaixo o branco que só poderia ser uma regata caíam perfeitamente no corpo magro e delicado de Andrew. Inclinada sobre a moto ela ficava tão sexy. Mordi o lábio enquanto a fitava.

- Não vai pra casa não, palhaço? Tá parado aí que nem um "dois de paus". - perguntou ela, bruscamente.
- Ah... ah... - eu gaguejei, saindo do meu extase momentâneo - não, não... eu vou ficar na... na detenção.
- Tah brincando? - ela arregalou os olhos redondos pintados de um negro incomum.
- Não to não. Cheguei atrasado e me ferrei. - disse, dando de ombros e colocando as mãos nos bolsos da minha calça jeans.
- Puxa! Quando saí de casa você ainda estava dormindo, mas não achei que ia se atrasar tanto. - refletiu Andrew.
- Bem vinda à vida de Bradley Tommas! - fui sarcástico.
- O povo da detenção te odeia, sabia?
- Já me disseram isso.
- São maconheiros com canivetes.
- Eles não são maconheiros, e todo mundo sabe disso.
- Mas são marginais.
- Andrew! Está tentando me animar? Porque não parece. - eu disse, revirando os olhos.
- Desculpe. Boa sorte. Espero que volte vivo pra casa. - ela riu, ajeitando o capacete para por de novo.
- Se eu voltar vivo, vou te pegar de jeito! - ameacei.
- Rá! Retiro o que disse. Tomara que arranquem seu coro! - rugiu ela, arrancando com a moto.

Guardei o carro no estacionamento da escola, agora vazio. Andei pelo corredor acizentado até a grande sala da detenção. Quando abri a porta e entrei, cinco pares de olhos me fitaram arregalados. Um garota com o cabelo castanho todo espetado no fundo da sala arfou.
- Bradley Tommas Stanley! - sussurrou ela.

Estremeci ao ver de perto os tipos que estavam alí. Camisas abertas para fora da calça, bonés de lado, correntes enormes, os que tinham cabelo comprido eram despenteados, o olhar macabro e os pés com tênis encardidos colocados em cima da carteira. Me sentei no fundo, ao lado da garota do cabelo castanho espetado. Ela era a menos anormal alí. Tinha um rosto peculiar, sem maquiagem nem adorno, mas não diria que era feia. Ela era... simples. Usava um coletinho vermelho opaco com uma camiseta baby-look branca por baixo. Estava de calça jeans, mas estava rasgada nos joelhos. A orelha tinha um monte de brincos e as unhas estavam pintadas de um preto descascado mal feito. Nos pés, um all star vermelho como o colete. Pelo menos o tênis dela estava limpo. Ela não era metaleira, como Andrew - ela era rockeira, uma coisa próxima dos metaleiros, mas um pouco menos pesado.

- O que... como... você... - ela gaguejou, falando comigo, parecendo pasma.
- Que que é? - me incomodei.
- Bradley Tommas! O capitão do time de basquete na detenção? - falou um rapaz desmazelado sentado na frente dela.
- Não sou mais capitão do time de basquete... e como sabem meu nome? - eu fiquei assustado.
- Todo mundo sabe seu nome. Você é uma lenda nessa escola! - disse a mocinha do cabelo espetado.
- É... é um boyzinho nojento metido a pegador! - criticou o rapaz desmazelado olhando pra mim com um ódio sombrio.
- Eu não sou boyzinho. - murmurei, sem ter certeza do que estava dizendo.
- Sou Genna Louise. Prazer em conhecê-lo de perto... e... uau! Você é gato mesmo. - disse a moça do cabelo espetado, olhando pra mim com admiração.
- Obrigado... Genna. - resmunguei.
- Eu sou Patrick Topsom. E fica esperto, boyzinho. Se te pego, tá ferrado na minha mão. - ameaçou o rapaz desmazelado.
- Cala a boca, Patrick, e fica na sua! - xingou Genna, chutando a cadeira de Patrick. - Ei, Brad... posso te chamar de Brad, não é?
- Pode...
- Por que está aqui?
- Por atraso.
- Essa diretora Rosalie é uma velha múmia dos infernos mesmo!
- E você? - perguntei, curioso agora. Genna parecia uma garota do bem.
- Eu to sempre aqui. Por pixar o muro, irritar as patricinhas, dormir na sala de aula... coisas bobas assim.
- Ah...
- Virou festa agora??? - gritou Patrick de repente.

Olhei automaticamente para a porta. Liz entrava com o rosto emburrado e eu escancarei a boca. O que Liz estava fazendo na detenção?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 50

- Hey, Brad! - chamou Liz, chegando na mesa do refeitório onde eu estava sentado.
- Oi Liz... - suspirei.
- Achei que não tinha vindo pra escola hoje. - disse ela, se sentando, enquanto o refeitório enchia de gente.
- É, eu me atrasei. E dá uma olhada. - respondei, gesticulando o papel na minha mão. - Vou ficar na detenção hoje.
- Ah, tá brincando? Só por causa do atraso?
- É a vida...
- Você está mesmo numa maré de azar. - disse Liz, pondo a mão no meu ombro.

Eu fiquei alí, com a cabeça apoiada nas mãos, enquanto Liz afagava meu braço. Matt nos encontrou assim, e sentou brusco na cadeira.
- Oi, Matt... - disse, me assustando e desencostando de Liz.
- Oi Brad! - respondeu Matt, dizendo meu nome como se fosse um palavrão.
- Você parece estressado, Matt. - comentou Liz.
- Estou bem. É que as vezes as pessoas são cegas e isso me irrita. - respondeu Matt.
- Nossa, que humor do cão, hein Matt. Brad... - disse Liz, se virando pra mim. - ... vou pegar uma bandeija. Quer que eu traga algo pra você?
- Não... - disse de imediato, enquanto Matt revirava os olhos. - obrigado, Liz. Já já eu vou pegar.

Liz se levantou da mesa sorrindo pra mim, enquanto Matt me fuzilava. Ah, mas que droga! O que eu podia fazer para ser legal com Liz sem despertar os ciumes de Matt.
- Ah, Matt. Eu não posso fazer nada. - cochichei.
- Eu sei, e é isso que me mata. Liz tem que olhar em volta, tirar um pouco você do foco.
- Se você for chato e mau humorado assim, ela nunca que vai te dar mole.
- Você poderia contar pra ela que tá apaixonado pela Andrew. - sugeriu Matt, e eu congelei.
- Cala a boca! Bebeu é?
- É sério Brad. Ela é mulher, poderia até de dar uns conselhos.
- Ela ia me odiar de novo e me bater.
- Não ia não. Brad, você não iludiu mais ela.
- Ah Matt. Quer uma garota? Ganhe ela por mérito próprio. Eu não vou jogar a Liz nos seus braços.
- Valeu amigão. - resmungou Matt.
- Você não é o loirão gostosão da escola? - eu ri.
- Sei lá... você me acha gostoso? - Matt aceitou a brincadeira. Era fácil descontraí-lo.
- Eu acho, que musculos! Jogando basquete você fica sexy. - ri mais ainda, enquanto Liz voltava pra mesa.
- Que nojo, se vão ficar de boiolisse, eu nem sento mais aqui. - disse ela, rindo também.
- Você não acho o Matt gostoso, Liz? - joguei esse verde. Matt me agradeceria mais tarde.
- Claro que o Matt é gostoso. - respondeu Liz, abrindo o refrigerante. - Mas você é muito mais, Brad. Tenho essa queda por morenos. - ela deu de ombros.

Matt bateu a mão na testa e eu ri sem graça. Dessa vez foi Freud quem salvou a pátria.
- E ae mulecada... e mocinha. - cumprimentou ele.
- Fala Freud! - respondi, nem tão animado assim.
- Eita, tah desanimado hoje, brother? - perguntou Freud, se sentando.
- Vou ficar de detenção por atraso.
- Tá me tirando? Que mancada, véio! - exclamou Matt.
- Sério, estou começando a achar que alguém fez macumba pra mim. - resmunguei, jogando um olhar furioso para Nadine, sentada ao lado de Andrew, na mesa do outro lado.
- Tá ligado que o povo que fica de detenção é barra pesada, né? Do tipo que foram pegos com facas, navalhas, canivetes e até drogas dentro da escola. - avisou Freud.
- E do tipo que pinta rosas de preto no meio do pátio do colégio também. - lembrou Matt, olhando sugestivamente para Freud.
- Ei! Eu só fui pra detenção uma vez. E, cara... foi um inferno. - se justificou Freud.
- Vocês estão me animando muito. - gemi.
- Calma, Brad. Se quiser eu apronto algo e fico de detenção com você hoje. - disse Liz, afagando meu braço de novo, enquanto Matt bufava.
- Imagina Liz... - retirei meu braço de novo - ... eu vou ficar bem. Sou um cara grandão, ninguém se mete comigo.
- Você que pensa. Sabe o grupinho dos maconheiros? - falou Freud.
- Eles não são maconheiros de verdade. São apenas desleixados. O povo que deu esse nome pra eles por causa da aparência. - interviu Matt.
- Dane-se! Eles odeiam vocês do time de basquete. E aviso, eles são a maioria na detenção. - continuou Freud.
- Por que eles nos odeiam? - perguntei, inocente.
- Vocês são gatos, estilosos e populares. Até eu odeio vocês. - riu Freud.
- Vocês sempre ficam com essa gaysisse? - se irritou Liz.
- É brincadeira. Mas, sim Brad, a inveja causa ódio. - terminou Freud.
- É só 1 hora, Brad. Você vai suportar isso. - disse Liz, tentando me ajudar.

Engoli seco, olhando pelo refeitório. Então vi no fundão, três mesas depois da de Andrew, o grupo dos marginais da escola, sentados no chão, completamente aéreos, como se estivessem mesmo maconhados, vestidos de camisas brancas e pretas muito largas e surradas, além dos jeans rasgados, bonés virados de lado e os tênis encardidos dez vezes maiores que o pé deles. Se eles me odiavam e eu era minoria na detenção, hoje sim seria o pior dia da minha vida. Gemi e me encolhi na cadeira, ao lado de Liz.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 49

Acordei com uma rajada de luz intensa no rosto. Abri os olhos atordoado, enquanto a consciência dominava minha razão. Foi então que percebi que a luz era do sol que vinha de uma fresta na janela que eu havia deixada aberta. O sol estava um pouco forte demais para ser a hora de eu levantar, então meus olhos turvos de sono correram automaticamente para o rádio relógio na cômoda do lado da cama. Eram 8:15 da manhã.

Pulei da cama em um choque. Estava 1 hora e 15 minutos atrasado para a escola. Mas que droga! Por que o alarme não tocou? Eu sempre verificava o rádio relógio antes de dormir. Tomei um banho acelerado, vesti minha camiseta branca mais simples - porque era a única que não estava na gaveta - e uma calça jeans surrada jogada na cabeceira da cama. Joguei todos os cadernos à vista dentro da mochila e desci a escada rolando - sim, eu tropecei.

Entrei no Maverick, e enquanto o motor roncava, algo roncou junto. Meu estômago. Lógico que não tinha tempo para café da manhã. Já ia ganhar uma advertência pelo atraso, mas se atrasasse mais talvez teria de ficar em detenção depois da aula, junto com os marginais da escola que só aprontavam.

O portão principal da escola estava fechado, e o do estacionamento também. Suspirei - hoje meu querido carrinho teria de ficar na rua, com o risco de ser roubado. Parei o Maverick entre as duas casas que ficavam em frente da escola, e saí com o coração na mão, verificando a trava três vezes. Dei a volta pela escola até chegar ao portão da secretaria. A portinha de vidro estava aberta, e eu entrei com passos leves torcendo para que o inspector de alunos tivesse ido tomar um café e não me visse.
- Senhor Stanley? - chamou a voz rouca, e eu sabia que era o inspector Joe Durnst pelo arrepio que desceu pela minha coluna.
- Bom dia senhor Durnst! - disse, cordialmente sorrindo.
- Espero que tenha um atesdado médico ou algum bilhete da sua mãe aí com você para explicar seu atraso. - a voz dele era apavorante, visto que era um negro alto, cabelo raspado e cheio de massa corporal.

Todos os alunos tremiam só de pensar em cair nas garras do inspector Durnst. E que legal, olha na enrascada que eu tinha me metido. Com certeza eu ainda estava na minha maré de azar. Talvez hoje sim fosse o pior dia da minha vida.
- Na verdade, não... mas eu perdi hora, juro que não estava aprontando por aí...
- Bradley Tommas Stanley, você conhece as regras. Pra diretoria! - cortou ele, sem deixar que eu me explicasse.

Passei por ele de cabeça baixa, indo em direção a grande porta de madeira escura no fim do corredor - a sala da diretora Rosalie Scartt. O inspector Durnst bateu na porta duas vezes, antes que a mulher baixinha, com os cabelos brancos e óculos caídos no nariz abrisse a porta. A diretora Rosalie não era o que se chamaria de uma "mulher de presença", mas, apesar da estatura mínima e o corpo reconchudo, ela era temida na escola. Eu não tinha certeza se era porque ela nunca sorria, ou se era apenas o cargo de diretora que a colocava no topo dentre os mais apavorantes do colegio.
- Ora, ora, senhor Stanley. - disse ela, quando me viu. Droga, nunca tinha ido pra diretoria. Como ela sabia quem eu era?
- Bom dia, diretora. - suspirei.
- Ele chegou atrasado sem atestado nem aviso dos pais. - avisou o inspector na voz de trovão atrás de mim.
- Entre, Stanley. Obrigada inspector. - ordenou a diretora Rosalie, fechando a porta.

Me sentei na cadeira verde musgo, enquanto a diretora dava a volta na mesa escura.
- Vamos ver, Bradley Tommas Stanley... hmmm... - murmurou ela, mechendo nas fichas dos alunos da minha sala. - ... achei. Ex capitão do time de basquete, excelentes notas em matemáticas e notas médias em outras matérias. Nada de advertências, nem detenções. O senhor é um bom aluno, Bradley. Mas, por que não é mais capitão do time de basquete?
- Porque o treinador David achou que eu não estava me dedicando o bastante. - respondi, baixo.
- Ah, David! Ele é um obcecado. Mas enfim, chegou atrasado hoje então?
- Sim, meu relógio não despertou. Eu sinto muito.
- Claro, isso às vezes acontece. Pela sua ficha vejo bem que é um bom rapaz, senhor Stanley. Por mim, mandaria você para sala imediatamente. Mas veja meu lado, sim. Se eu te liberar, os outros alunos vão achar injusto, e vão querer chegar atrasados também. É difícil manter um colégio amplo como esse nas rédias. Por isso, vai ficar em detenção hoje. - explicou ela.
- Detenção? Mas diretora, é a primeira vez que chego atrasado, não deveria ser apenas uma advertência? - me assustei.
- Você não leu a listagem de regras que entregamos no começo do ano? Lá diz claramente que atraso gera de advertência a detenção de acordo com o tempo em que o aluno demorou para chegar. É uma questão de responsabilidade, Bradley. O aluno tem que aprender a acordar cedo e cumprir seus horários na escola. Agora são quase 9 e meia da manhã. Logo logo é o intervalo. Está mais de 2 horas atrasado. - respondeu a diretora Rosalie, enquanto eu engolia seco.
- Ok. - foi só o que consegu dizer.
- A detenção não é tão ruim, é apenas 1 hora depois da aula. Tenha um bom dia, senhor Stanley. - disse a diretora, séria, me entregando um papel com sua assinatura que eu teria de entregar na detenção.

Saí da sala querendo rasgar o papel e correr para fora da escola. Detenção? Mas o que é que estava acontecendo na minha vida? Estava começando a acreditar na ameaça de Nadine, amiga da Andrew, de que ela faria bruxaria para acabar comigo. Eu poderia ter ficado em casa para não passar pela diretoria, mas hoje tinha prova de história depois do treino de basquete. Não compensava ir para a aula de inglês que estava terminando agora, então fui ao refeitório e sentei na minha mesa de costume, esperando o sinal do intervalo bater.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 48

- Oi Stuart... - a voz de Andrew ecoou pela escada meia nervosa.
- Oi Andrew. - respondeu Stuart, melancolicamente.

Me ajeitei na escada me sentindo um muleque por fazer aquela traquinagem, mas precisa ouvir essa conversa.
- Andrew, desculpe vir aqui. Eu sei que você... que você terminou tudo entre a gente, que precisa de um tempo. Mas eu precisava de um motivo. É horrível ficar assim, no vácuo, sem saber de um "por que". - explicou Stuart.
- Tudo bem, Stuart. Eu vou te dar um por que. - respondeu Andrew, cética.

Ouvi o barulho de alguém se sentando no sofá. A respiração de ambos estava baixa. O silêncio que se seguia, para mim, era indício de que Andrew estava formulando uma boa mentira para satisfazer Stuart.
- Stuart, eu sou uma pessoa horrível. Eu não podia mais enganar você. - se lamentou Andrew, e eu engasguei quando ela disse isso.

Enganar? Ela estava louca? Ia contar a verdade? Minhas mãos gelaram pensando nos golpes de jiu jitso que Stuart sabia fazer. Meus pés ferveram dentro do tênis, esperando o momento exato em que Andrew me acusaria e eu teria que correr pelo corredor, entrar no meu quarto e pular a janela.
- Do que está falando, Andrew? Eu sei que você não é assim. - disse Stuart.
- Stuart, eu traí você. Foi sem querer... eu acabei beijando outro cara. Mas eu gostava de você. Só que não podia continuar assim, sabendo o quão errada eu estava. - disse Andrew, e um silvo baixo saiu da boca de Stuart.
- Beijou outro cara? - perguntou ele, pausadamente. Meus pés ferveram mais ainda.
- Beijei. E é só isso. Agora você tem um por que.
- Quem? O Freud?
- Acorda, Stuart! O Freud? Pelo amor de Deus.
- Andrew, espera. Por que não falou comigo? Essas coisas as vezes acontecem. Eu... eu teria te perdoado.
- Perdoado? E eu por acaso pedi alguma redenção aqui? Stuart, se eu fui capaz de beijar outra pessoa, é porque não te amava o suficiente. Só isso.
- E você está com esse cara agora?
- Não, e nem pretendo. Ele é um idiota. Estou lidando com o que fiz tentando aprimorar a mim mesma. - essa parte me magoou. Idiota? Não precisava falar assim.
- Andrew, acho que deví...
- Não, Stuart. Não se judie tá. Você é legal, e eu te curto pra caramba. Mas acabou.

Senti Stuart engolindo aquilo seco, enquanto eu respirava aliviado por Andrew não ter citado meu nome.
- Tudo bem, Andrew. Eu vou embora.
- Eu sinto muito, Stuart.
- O dia em que você parar de ser tão racional e der um pouco de atenção pro coitado do seu coração, talvez você seja feliz. - disse Stuart, como um aviso.
- A razão nunca me fez mal, Stuart. Se eu tivesse ouvido meu coração, estaria te enganando até hoje.
- Não, talvez se tivesse escutado seu coração, teria conversado comigo antes e estaríamos numa boa agora. Tchau, Andrew.

Andrew suspirou, enquanto a porta fechava. Eu desci todo desengonçado, porque minhas pernas ainda estavam moles. Andrew olhou para mim, enquanto eu despencava para a sala.
- Estava ouvindo, não é? - perguntou ela, e parecia mais uma afirmação.
- E adianta eu falar que não estava? - arfei.
- Eu devia te dar um soco no estomago por confundir minha vida a esse ponto e me obrigar a magoar uma pessoa encantadora como o Stuart. - disse Andrew, parecendo magoada.
- Tudo o que eu fiz não foi por escolha própria.
- Acho que acredito em você.
- Não gosto de ver você triste, Andrew. - eu sussurrei, e ela me fitou.

Andrew sorriu melancolicamente e se aproximou de mim. Me assustei quando ela passou os braços finos e delicados em volta da minha cintura, encostando a cabeça no meu peito, parecendo uma menininha de acordo com o seu tamanho em relação ao meu. Passei os braços por ela também, pousando minha cabeça de leve sobre a dela.
- Eu não costumo me enganar, Brad. Sempre disse que você era um babaca, e você é um babaca. Mas o que me surpreende em você, e talvez até o que me atrai, é como o que você pensa jorra da sua boca sem você se dar conta. E quando você não diz, eu sei o que está pensando só de olhar em seus olhos. - contou Andrew, ainda pousada em meu abraço.
- Rá! Obrigado pela parte do "babaca". Mas achei que minha especialidade fosse a mentira, e não a sinceridade. - me senti confuso.

Andrew afastou a cabeça para me olhar nos olhos.
- É por isso que você sempre se ferra. Suas mentiras não são nada convincentes. - ela riu, mas os olhos estavam cheios de àgua.
- Ok. - suspirei.
- Mas isso não é o bastante. Acho que nada seria o bastante para explicar o motivo pelo qual eu gosto de você.
- Por que não segue o conselho de Stuart, e dá uma chance pro seu coração?
- Porque meu coração é tão babaca quanto você. - se lamentou Andrew, saindo dos meus braços.

Ela se direcionou à escada e subiu os degraus apressada. Por que ela sempre fugia quando eu finalmente conseguia arrancar um pouco de sentimento dela?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 47

- Olá senhora Stanley Marew. - Stuart cumprimentou minha mãe. - Andrew está?
- Oi Stuart, claro que está. Entre, Brad vai chamá-la. Estou atrasada. Desculpe. - respondeu Janet, apressada, dando a volta por Stuart.

Olhei para ele ainda congelado, e ele olhava para mim esperando que eu o mandasse entrar.
- Ow, é... entra Stuart... vou... vou chamar a bruxa. - respondi, gaguejando.
- Ainda nessa rixa boba com a Andrew, Brad? - perguntou Stuart, entrando na sala.
- É... a gente se odeia!!! - forcei.
- Engraçado, ela tinha parado de falar mal de você. Se bem que...
- Se bem que o que? - eu estava suando frio.
- Que Andrew mudou muito comigo esses ultimos dias. E então terminou tudo entre a gente. - se lamentou Stuart.
- E você sabe o motivo do término? - perguntei, engolindo seco.
- Não faço idéia. Parecia que ela tinha se cansado de mim. Estava distante. Mas isso não faz o estilo da Andrew... ela não usa as pessoas. Ela pode ter se apaixonado por outro. - supôs Stuart.
- Que isso? Namoros terminam sem mais nem menos mesmo. Veja meu caso com a Ashley. Acabou sem sentido. - eu ri, nervoso.
- Você não está mais com a loirinha? - se surpreendeu Stuart.
- Não... Andrew não te contou?
- Eu te disse que ela parou de falar de você pra mim.
- Ah...
- Você não vai chamá-la? - pediu Stuart.
- Vou. Mas o que você quer com ela? - vasculhei.
- Conversar. Preciso entender por que acabou, sabe.
- Sei. Vou lá então...

Subi as escadas pesaroso. Eu sabia exatamente porque Andrew havia mandado Stuart pastar. Porque ela gostava de mim! Eu deveria estar orgulhoso de mim mesmo, olhar Stuart por cima, mas uma pontada de consciência pesada me dava um nó na garganta. Stuart era um cara legal. Tinha roubado a paquera do proprio irmão, mas era um cara legal. Seria o par perfeito para Andrew, se... se eu e ela não fôssemos dois masoquistas insanos de mundos contrastantes tentando se interligar nessa dimensão doentia.

Parei em frente ao quarto de Andrew, e bati na porta. Ela abriu rápido, me recebendo com um sorriso presunçoso.
- O que aconteceu com "se fugir para o seu quarto, não pense que vou bater na porta"? - riu Andrew, imitando minha voz grossa.
- Stuart está lá embaixo! - falei logo, para tirar o sorrisão irritante da boca dela.
- Stuart? - ela ofegou.
- É...
- O que disse a ele?
- Nada, eu só atendi a porta e vim te chamar.
- Droga!
- Deveria contar a verdade pra ele.
- Que verdade?
- Que ele é corno e você uma safadinha que sai beijando o enteado do seu pai. - eu ri, tentando irritá-la.
- Safadinha é a...
- Opa! Não vai meter mãe no meio!
- Quer mesmo que eu conte a verdade? Stuart faz jiu jitso. - avisou Andrew.
- Ele é muito pacífico.
- Até mexerem com a garota dele. - Andrew estava terrível hoje.
- Vai mentir então? Achei que essa era uma habilidade minha.
- Aprendi algumas coisas com você.
- Como, por exemplo, beijar né? - eu ri. Também estava terrível hoje.
- Vai te catar, garoto!
- Prefiro catar outra coisa. - disse, sugestivamente.
- Agora sim eu ia amar ver Stuart quebrar sua cara!
- Por que não bate você mesma? - provoquei.
- Argh! - rugiu Andrew.
- Ow, tudo bem, entendi. Você gosta mais de apanhar.
- Eu não vou mais perder tempo com isso. - suspirou Andrew, descendo as escadas.
- Estarei no meu quarto, te esperando. - ressaltei.
- Vai morrer esperando então! - gritou ela.


Me posicionei estrategicamente no início da curva da escada, de modo que Stuart e Andrew, na sala, não me vissem, mas que eu pudesse ouví-los. Eu não costumava escutar a conversa dos outros, mas essa era do meu interesse. Queria saber se Andrew contaria a verdade e eu teria que correr e pular a janela do meu quarto pra não levar um golpe de jiu jitso, ou se ela mentiria provando pra mim que não era a tal senhorita politicamente correta que se fazia parecer. Sorri esperando pela mentira. A voz de Andrew ecoou pela escada.