domingo, 24 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 95 - FINAL

Passei pelo grande portão de ferro do ginásio. Atingi o estacionamento, que estava abarrotado de carros, mas não vi nem sombra de Andrew por alí. Passei pelas pilastras e entrei na escola, que estava escura, visto que a festa estava acontecendo no ginásio. Corri pelo corredor meio cego procurando pela minha ninfa sombria. Virei à esquerda, que dava para o refeitório. A porta do refeitório estava trancada, então virei para a direita e fui para o pátio. No banco de cimento, que ficava no centro do pátio, Andrew estava recostada olhando o chão. O pátio não era coberto, então a luz forte da lua deixou o local iluminado. Quando me ouviu chegar, ela olhou para mim:

- Olá, Bradley Tommas Stanley, capitão do time de basquete. - ela sorriu, mas não era um sorriso feliz. Era compassivamente melancólico.
- Andrew, eu sinto mui... - Andrew me cortou antes que eu pudesse responder.
- Não precisa sentir nada, Brad. Acho que já sentimos coisas demais por uma noite. - ela riu desanimada.
- Não está chateada, está? - perguntei, me sentando ao lado dela.
- Chateada? Talvez... mas comigo mesma.
- O que? Pode explicar, por favor?
- Você dança muito bem, sabia? - ela passou a mão no meu rosto delicadamente.
- Não respondeu minha pergunta.
- Brad, por que veio atrás de mim? - ela me olhou, franzindo as sobrancelhas finas.
- Porque não há nada naquela festa que faça sentido pra mim. A única coisa importante pra mim esta noite está sentada no banco do pátio me olhando como se... como se não pertencêssemos ao mesmo mundo. - falei.
- Mundo... dimensão. - se lembrou ela de repente. - Aquele pacto do silêncio foi a coisa mais idiota que inventamos.
- Você inventou.
- A idiotice é merito seu.
- Obrigado. Sabia que você ia me ofender a qualquer momento da noite.
- Você é o rei do baile. Onde está sua rainha? - Andrew perguntou.
- Minha rainha está com o príncipe encantado dela. E eu vim buscar minha princesa. - peguei a mão dela.
- Sua princesa não combina com você. Principes são pares de princesas. Reis são pares de rainhas. - ela riu.
- Então talvez você deva ficar com o Jonny. - eu ri.
- Ah, claro. - ela revirou os olhos.
- Quando vai entender que eu te amo? Por favor, sem essa de que não combinamos. - pedi.
- O fato de você ser escolhido rei com Ashley Hanners prova o quanto não combinamos. - reclamou ela.
- Queria ter sido a rainha do baile?
- Não, nem me inscrevi.
- Então do que está reclamando? Você nem competiu pra saber se iam votar em você. - refleti.
- Brad! Não preciso comprovar coisas que são óbvias. Não estou magoada com o fato de você ser a imagem da perfeição junto de Ashley. Não tenho ciumes disso. Não tive ciumes de te ver dançando com ela. É que desde o começo eu me puni por te amar, e hoje eu descobri porque. Eu me punia porque eu queria ser diferente, no entanto eu era exatamente igual a todo mundo. Porque eu não consegui conceber o fato de que um cara popular tenha preferido a mim do que a todas as garotas lindas e patricinhas do colégio, assim como todo mundo. Faz idéia do isso significa? Minha mente é tão pequena quanto a sua. Eu não queria ser igual a você. Mas sou... num nível rebaixado. Isso me deixou triste. Saber que tudo que lutei pra não ser, é o que eu me tornei. Uma vítima da sociedade. Uma discípula do tabu. Uma cega e prisioneira de ideais mesquinhos. - suspirou Andrew.
- Você não é igual a mim.
- Não?
- Não. Eu concebi o fato de que te amava no instante em que descobri. E nesse instante o que os outros pensavam deixou de importar. - contei.
- Então você é melhor que eu. - ela suspirou outra vez.
- É o segundo elogio que me faz hoje. - pedi.
- Então sua bola deve estar bem cheia, já que não costumo te elogiar. - ela sorriu outra vez.
- Sabe, você é a vítima da sociedade mais linda que eu já conheci. Pode me dizer algo com a sinceridade que tenho esperado desde que descobri que te amava? - eu disse, sério agora.
- O que?
- Diz... você me ama?
- Ah Brad... sinceramente, se não fosse pela sua imaturidade, nada disso teria acontecido. Eu não estaria aqui de vestidinho bege com sandalinhas pensando no quanto sou socialmente cega. Eu não teria terminado com Stuart. Eu não teria pagado o mico de ser mais uma na sua lista na escola. Eu não teria visto meu pai triste por estar longe da Janet. Eu não teria que aturar a Liz e o Matt toda santa manhã. E, principalmente, eu não teria vivido as emoções mais fortes da minha vida. Eu não teria brigado comigo mesma na frente do espelho. Eu não teria rido como uma idiota por qualquer coisa. Eu não teria assistido a porcaria daquele jogo de basquete. Eu não teria me sentido tão viva. E eu não teria sido tão feliz quanto eu sou quando olho nos seus olhos e vejo refletido neles a mesma emoção que há em mim exatamente no mesmo instante. Então, Bradley Tommas... sim... eu amo você. E eu adoro saber disso. - ela confessou, e eu ofeguei quando ela terminou.

Naquele instante eu entendi. Entendi que eu não era mais eu mesmo, e sim a essência do que eu era misturado docemente com o que eu aprendia e tirava de Andrew. Nós éramos dois precipitados tentando deixar sua marca no mundo da forma errada. E apenas juntos aprendemos que o mundo não importa, pois a única marca que fazia sentido é a que havíamos deixado um no coração do outro. E aquela marca era para sempre... e ela era incrível. Me inclinei para ela e a beijei docemente uma última vez como adolescente. E enquanto a lua das 11 da noite se transformava na lua da meia noite, eu crescia mentalmente, emocionalmente e fisicamente nos braços da minha ninfa sombria. Minha Andrew Marew. De mãos dadas voltamos para a formatura e dançamos a noite toda com Matt, Liz, Freud, Ellen, Ashley, Jonny, minha mãe, Jonathan Marew, o restante dos alunos, professores e pais também.


O ano terminou, e eu me mudei com Andrew para o campus da faculdade. Tinha passado o máximo de tempo com meus amigos, e confesso que chorei quando vi Matt uma última vez. Minha mãe não queria me deixar ir embora, e foi nessa hora que agradeci por ela ter casado de novo. Jonathan a desgrudou do meu pescoço e eu corri pro Maverick, onde Andrew já esperava. Ela vendeu a Halley. Partimos juntos para uma vida nova.

E enquanto dirigia meu carro com minha Andrew do lado, pensei: e tudo isso só aconteceu exatamente assim porque minha mãe casou de novo.


FIM

domingo, 17 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 94

De repente tudo ficou escuro. A luz correu do palco e focou a figura delicada e gloriosa de Ashley Hanners. Como um raio de sol, seu cabelo brilhou forte, e o vestido rosa curto e florido cintilou com o reflexo, provocando veneração em quem observava sua beleza naquele dia. Os grandes olhos azuis estavam tão chocados quanto eu, e ela procurava desesperadamente algo na escuridão. Quando seus olhos encontraram os meus, uma segunda luz forte brilhou sobre mim e me cegou por uns segundos. Andrew soltou minha mão e desapareceu na escuridão.

- Venham para o palco Ashley Hanners e Bradley Tommas! - clamava Jordan, sob uma luz roxinha fraca, ao lado de Selenna, que carregava uma almofada de cetim com duas coroas.

Meus olhos esquadrinharam a escuridão, mas não vi nada, nem rostos dos presentes, nem as mesas e cadeiras, muito menos minha ninfa sombria. Voltei meu olhar para Ashley, que se destacava na luz como eu, e ela me lançou um olhar de desculpas. Balancei a cabeça despreocupadamente, para que ela não se sentisse culpada. Afinal, não era culpa dela que justo nós dois tínhamos ganhado de casal mais perfeito do colégio. Nem éramos um casal! Mas Andrew e Jonny tinham que entender. Respirei fundo tentando controlar minha preocupação, caminhei até Ashley Hanners, as luzes ainda nos focando, e junto com ela subi no palco.

Jordan sorriu para mim, mas a falsidade no sorriso faiscava. A vontade expressa nos olhos dele era de me mandar a merda, tacar a coroa no chão e sair dalí. Selenna elogiou o vestido de Ashley enquanto colocava a coroa nela, mas o tom de sua voz era de extrema inveja. Quando chegou a mim, colocou a coroa com tamanha brutalidade que machucou meu couro cabeludo:

- Sei que votou em mim e em Ashley. Obrigado Seleninha, meu bem. - pisquei ironicamente, sussurrando para ela.
- Tomara que você tropece e quebre um dente quando descer do palco. - ela guspiu as palavras, e saiu dalí o mais rápido possível.

Ouvi palmas por todo o ginásio, e a escuridão se iluminou um pouco, mas a luz sobre mim e Ashley ainda nos deixava cegos. Uma musica lenta começou a tocar, e Ashley tocou meu braço:

- Não precisamos dançar a valsa dos reis, sabe disso. - ela sussurrou.
- Por mim tudo bem. Jonny vai ficar bravo? - perguntei.
- Não acho que nos culpe por isso. Mas Andrew não parece muito racional, e eu não estou afim de sair da formatura de olho roxo. - ela riu.
- Ela entende. Não fiquei implorando pelo colégio pra ser o rei hoje. Me concede a honra, senhorita Hanners? - sorri, com meu velho tom galanteador.
- É um prazer, senhor Stanley. - ela sorriu também, e pegou minha mão.

Rodamos num compasso lento no meio do ginásio. De repente percebi que eu devia aquilo a Ashley. Ela sempre sonhou em ser um casal perfeito comigo, e sempre ambicionou ser a rainha do baile ao meu lado. O sorriso de repente vitorioso em seus lábios me fez perceber que aquela cena era como um dejavu para ela. Ela tinha sonhado exatamente assim. Eu e meu smoking impecável, ela e seu vestido rosa florido, as coroas em nossas cabeças e o ginásio em silêncio nos admirando enquanto rodávamos feito plumas ao vento. E eu a havia magoado tanto e matado esse sonho tantas vezes. E lá estava ela, ressucitando e realizando um sonho perdido.

Pensei mais uma vez em como Andrew se sentia vendo aquilo. Eu e Ashley éramos aparentemente tão perfeitos juntos... a líder torcida e o capitão do time de basquete. E ela, uma metaleira rebelde perdida na escuridão do ginásio olhando de longe. Típico de um fim de filme, se ela fosse a vilã. Eu e Ashley éramos perfeitos em um mundo perfeito, e Andrew não fazia parte dele. Esse último pensamento me doeu, como se meu coração se dividisse em dois, entre o Brad capitão popular e o Brad mudado. O Brad da Andrew. Da Andrew que não era vilã... porque na minha história, não havia vilão a não ser eu mesmo. Eu quebrava corações.

Então olhei nos olhos azuis de Ashley e vi neles um sorriso familiar refletido. Era o meu sorriso. Eu estava sorrindo para ela, como ela para mim. O Brad popular estava sorrindo. E a pontada aguda que me veio nesse momento parecia o Brad de Andrew reclamando dessa felicidade inconcebível. Eu não merecia Andrew, não com essas vontades e pensamentos fúteis. E ela sabia disso o tempo todo. Por isso tantas vezes lutou para não se apaixonar por mim.

Foi nesse instante que uma mão masculina pousou em meu ombro. Olhei assustado para o lado, e me deparei com Jonny sorrindo para mim. A expressão serena e doce em seu rosto me pareceu tão estranha, visto que eu estava com a mão na cintura da namorada dele.

- Ei capitão, me concede a honra de dançar com a rainha do baile? - perguntou ele, com a voz divertida.
- Cla-claro... - gaguejei.

Uma leve sombra de decepção passou pelos olhos de Ashley quando passei sua mão da minha para a de Jonny. Sair do seu doce sonho e voltar para a realidade a pertubou um pouco. Mas ela se recompôs rápido e beijou o rosto de Jonny, depois olhou para mim:

- Foi incrível Brad. Apesar do susto, estou muito feliz de ser a rainha do baile. Obrigada por não me deixar sozinha lá em cima. - ela agradeceu.
- Um cavalheiro jamais faria isso. - respondi.

Enquanto eu saía da luz forte, o restante dos casais no ginásio se juntavam a Jonny e Ashley para dançar. Olhei para Jonny mais uma vez, e percebi que ele não estava perturbado com a cena que teve de presenciar e aguentar. Ele estava sereno, sorrindo sinceramente para Ashley. E quando olhei para Ashley, ela olhava para Jonny tão ternamente que eu entendi que nosso lance tinha acabado de vez. O sonho perdido de Ashley não fazia mais sentido nem para ela mesma. Ela entendeu que sua felicidade agora dependia de Jonny, e não de mim. Eu tinha agora mais dois amigos verdadeiros. Nesse instante, o Brad popular perdeu força e sumiu do meu subconsciente. Então o Brad de Andrew, desesperado, voltou e implorou para que eu fosse atrás de Andrew Marew. Precisava ver minha ninfa sombria.

domingo, 10 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 93

A formatura estava ocorrendo no ginásio do colégio de Nova York. Haviam cinco salas do terceiro ano se formando. Reconheci entre as pessoas algumas meninas do segundo ano, e percebi que estavam acompanhadas de alguns garanhões do terceiro. Típico!

O ginásio estava todo enfeitado. A iluminação era baixa, luzes florescentes rondavam a quadra toda, haviam flores de papel crepom circundando toda a arquibancada, mesas compridas com ponches e salgados e um palquinho de madeira onde uma banda juvenil tocava músicas dos anos 80. O som alto não impedia os formandos de conversarem, e o murmurinho dava mais emoção à festa. Alguns pais mais idosos estava recostados nas cadeiras do canto, tomando ponche e tapando o ouvido. Outros pais, mais joviais, dançavam no meio da garotada no centro do ginásio.

Assim que entrei com Andrew apoiada no meu braço, Matt deu um tapão nas minhas costas:
- Olá capitão! - ele estava sem o terninho de cima, com a camisa semi-aberta e o cabelo mais espetado e desarrumado que o habitual.
- Oi Matt. - arfei- Deixa eu colocar meu pulmão no lugar.
- Larga a mão de ser chorão, o tapa nem foi tão forte assim. - reclamou Matt.
- Sempre um cavalo, distribuindo patadas. Esse é o Matt! - agulhou Andrew.
- Te perguntei algo, filha do Jason? - retribuiu Matt.
- Oi Matt, meu querido, é um prazer me formar e saber que não vou ver sua cara de pastel por um bom tempo. - sorriu Andrew.
- Igualmente, querida! - Matt sorriu também.
- A festa mal começou, e você já está bêbado? - eu ri.
- Não estou bêbado, aqui só tem ponche de frutas sem alcool. Menores de idade, esqueceu? Mas Jonny trouxe uma garrafa de tequila e está pensando seriamente em batizar os refrigerantes. - apontou Matt.
- Vou fazer de conta que não sei de nada. E que esculacho é esse? Cadê sua gravata? - perguntei.
- Isso é uma festa. Você vai perder a sua já já. - Matt se virou. - Ei galera, o capitão chegou! - gritou ele.

Quando dei por mim, um bando de garotos malhados, suados e altos me levantaram, gritando algo como "New York HighSchool", e trotando pelo ginásio inteiro me jogando pra cima. Ouvi gritinhos de garotas e algumas palmas, mas só me perguntava onde Andrew estava e se ficaria magoada por ter ficado sozinha. Tive a impressão de ouvir minha mãe gritando "parem com isso, vocês vão derrubá-lo", mas ninguém se importava com minha coluna vertebral mesmo. Quando me puseram no chão, percebi que aquele era meu time de basquete. Jonny e Matt foram os primeiros a me abraçar, seguidos pelo restante dos rapazes. Nunca senti tanto calor na minha vida. E também nunca senti tanta emoção. Eu não fazia idéia de quando veria aqueles caras novamente.

Enquanto ajustava o smoking, encontrei Andrew conversando com Freud e Ellen. Quando peguei na mão dela, ela não recuou, mas começou a rir. Junto com ela, Freud e Ellen riram também.

- Que é? - fiquei incomodado.
- Seu novo perfume é afrodisíaco. Qual o nome mesmo? Ah, "Suor del Time de Basqueton". Francês, né? - gargalhou Freud.
- Vai pro inferno. - eu ri também.
- É incrível como homem se adora. Vocês são tão gays. - falou Andrew.
- Ei! - fiquei bravo com isso.
- Os malhadões sempre são gays. Fique com os magrelos metaleiros. Somos homens de verdade. - piscou Freud, levando um tapinha ciumento de Ellen.
- Claro, claro. Por que você não... - eu pretendia fazer um piada maldosa de revide, mas o paraninfo chamou a atenção de todos ao palco.

Era Jordan Fartew, um nerdizinho metido a besta que tinha uma excelente oratória. Ele fez um rápido discurso sobre faculdade, amizade, obrigação com o mundo, futuro e carreiras... uma balela chata que fez muitos bocejar. Somente a fresca da Liz, que (admito eu) estava linda no vestido roxinho bebê rodado com gola franzida, chorou quando ele usou a frase final "que o colégio seja a doce lembrança de grandes homens e grandes mulheres com coração de criança". Pensei ter ouvido outros suspiros e "snif's" entre o murmurinho, mas ignorei, visto que agora viria uma parte interessante:

- Amigos e amigas do colégio de Nova York, é com muito orgulho que vou anunciar agora quem são os rei e rainha do baile desse ano. Vocês votaram o ano todo, então nada de decepção com o resultado! - avisou Jordan.

Eu ri, e Andrew me fitou:
- Eu estou rindo porque no começo do ano fiz muita campanha pra ser votado. - contei.
- Sei, e acha que vai ganhar? - ela ficou àcida.
- Não. Decaí muito. Ashley acabou comigo bem no final do primeiro semestre letivo. Jonny foi o carinha mais popular dos ultimos tempos. Acredito que ele ganhe. - ponderei.
- Ashley também decaiu. Nem é mais líder de torcida. Se Jonny ganhar, ela ganha. - Andrew deu de ombros.
- Hmmm, você tem razão. Talvez não seja eu, nem Ashley, nem Jonny. Talvez seja Matt e Liz. As votações bombaram na última semana, e eu ouvi muita gente dizendo que ia votar neles porque eles eram um casal perfeito. - conclui.
- É verdade. Eu ouvi muito isso também. - Andrew concordou.

Selenna subiu no palco com um envelope rosa nas mãos. Entregou a Jordan, que piscou pra ela. Selenna revirou os olhos, e todos no ginásio riram. Envergonhado, Jordan abriu o envelope:

- O rei e a rainha do baile de formatura desse ano são... Ashley Hanners e Bradley Tommas Stanley!

Tudo girou e eu não entendi por que diabos tinha ouvido meu nome combinado com o de Ashley na mesma frase.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 92

Minha mãe estacionou a minivan no jardim e entrou na casa grande de Jonathan Marew, mas eu preferi esperar no portão, parando o maverick no meio-fio. Em 5 minutos, os dois saíram e entraram no sedan de Jonathan, dando uma buzinada para mim antes de arrancarem. Ótimo, Andrew estava atrasada. Entrei no jardim e bati na grande porta de madeira trabalhada da frente da casa. Depois de 5 batidas, Andrew apareceu.

Meu queixo caiu quando a vi. Ela ainda parecia um anjo sombrio, pois a maquiagem negra não abandonou seus olhos claros, e a pele branca estava mais reluzente que nunca. Mas o vestido pérola era tão inacreditável, que eu não sei se meu choque foi por ver um vestido tão lindo ou ver Andrew Marew, a metaleira, nele. O vestido era tomara que caia, ia até um pouco acima do joelho, e rodado a partir da cintura, com detalhes discretos mas perfeitos parecidos com bordado, e ficavam suavemente doces no corpo magro de Andrew. Apesar dos olhos contornados severamente de preto, a boca trazia um brilho incolor discreto, e as bochechas estava levemente rosada. Uma correntinha fina prateada enfeitava o colo, e Andrew sorriu para mim quando percebeu que eu a admirava. Fiz uma careta quando cheguei aos pés, e percebi que ela estava descalça.

- Calma, eu já ia por o sapato, mas você não parava de bater. - ela riu.
- Espera! Que sapato a senhorita vai por? - perguntei.
- O que você acha?
- Não está pensando em ir com o coturno, está?
- Na verdade, não... mas sabe que não é má idéia. Esse vestido me deixou parecendo uma patricinha. O coturno cortaria essa imagem. Valeu, meu bem! - ela sorriu.

Peguei Andrew pelo braço, impedindo ela de ir buscar o coturno.
- Antes de optar pelo óbvio, que tal ver o presente que eu te trouxe?
- Presente? - ela olhou desconfiada a caixa marfim. - De formatura?
- Eu tinha planejado te dar no natal, mas você não ia merecer, já que foi uma menina má o ano todo. - ela revirou os olhos quando disse isso. - Enfim, parece que eu advinhei a cor do seu vestido.
- Hã? - ela não entendeu.

Entreguei a caixa marfim a Andrew, e ela logo abriu. Esperei por xingos como "você está dizendo que eu não sei me vestir?", mas o máximo que Andrew fez foi arfar. Ela tirou as sandálias marfim da caixa, e ficou olhando deslumbrada para elas.
- São lindas, e quase da mesma cor do meu vestido!
- Por favor, diga que vai usá-las hoje, por favor, por favor! - eu implorei.
- Quanto é o salto?
- O vendedor disse que era 12 centímetros. Não são tão altas.
- Mas eu não me dou muito bem com salto.
- Você usa aquele monstro de coturno no pé. Essas sandalhinhas não são nada.
- Hmmm, não sei. E se eu cair?
- Eu te seguro, baby. - eu fiz charme.
- Ah claro, vou ter um bom motivo pra ficar agarrada a você na festa. - ela revirou os ohos e entrou na sala, sentando no sofá.

Fiquei maravilhado quando a vi por as sandálias nos pé. Os pés, branquinhos e delicados, ficaram perfeitos nas sandálias marfim de salto fino. Fiquei esperando Andrew atirar as sandálias em mim e reclamar que estava parecendo uma patricinha, mas isso não aconteceu. Andrew havia esquecido completamente o velho coturno, e estava radiante com os sapatos novos. Se eu soubesse antes que até Andrew se rendia a paixão feminina dos sapatos, teria usado essa tática mais vezes.

- Vamos de maverick? - perguntei, anestesiado com a beleza da minha namorada.
- Claro, espera que eu vá de moto assim? - a velha ironia de Andrew nunca mudava.
- É claro que não. Me dê seu braço. - pedi, e ela estendeu a mão confusa.

Coloquei suavemente a pulseira de flores no braço fino de Andrew, e vi os olhos dela brilharem com o gesto simples. Ela respirou fundo, e me olhou docemente:
- Pronto pra arrazar na festa de formatura, capitão?
- Sim, namorada do capitão. - eu ri.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 91

Os rumos que a vida toma, mesmo quando planejados, são inesperadamente intensos e confusos. Matt, meu melhor amigo, passou em medicina na Universidade de Chicago, enquanto Liz passou em Artes Visuais na Universidade do Estado da Luisiana. Os dois iam se separar, e isso foi triste de assistir. Liz chorou por duas horas seguidas, e eu deduzi que era uma hora de felicidade e uma hora de tristeza. Matt prometeu até pela vida do ramster dele que não ia deixar o namoro acabar, até que teve uma idéia que deixou tanto a mim quanto aos pais dele de boca aberta. No dia seguinte, a aliança brilhante na caixinha preta deixou Liz sem fala. Eles ficaram noivos.

Freud passou em Artes Cênicas, junto com Ellen, (quem diria) Jonny e Ashley na Universidade do Colorado. Andrew e eu tínhamos a teoria de que Jonny desistira da faculdade de Engenharia por causa de Ashley, mas ele jurava que Artes Cênicas sempre tinha sido seu sonho. Stuart, irmão de Freud e (grrrrr!!!) ex namorado de Andrew tinha ido embora para Phoenix. Segundo as más línguas, ele tinha fugido com uma morena bronzeada, mas ninguém nunca o viu de fato com tal mulher. Genna, minha companheira de detenção, tinha passado em Direito no Arizona, e eu nunca entendi como isso foi acontecer. Todas as líderes de torcida haviam passado em cursos semelhantes, o que era óbvio. Apenas Selenna optou por Biologia, embora sempre tenha ido mal nessa matéria. Alguns rapazes do meu (agora ex) time de basquete passaram em Educação Física na mesma universidade que eu, e o restante partiu para engenharia. Adam não foi mesmo para a faculdade, e talvez encontrasse Nadine no ano que vem no mesmo colégio de Nova York.

A noite estava linda. Não era lua cheia exatamente, pois a pequena sombra na lateral da lua revelava que ela estava minguando. Mesmo assim, ela iluminava perfeitamente a calçada diante da janela do meu minúsculo quarto do apartamento de minha mãe. Suspirei. Desencostei-me do parapeito, e me virei para o espelho para ajustar a gravata borboleta do impecável smoking. Meus cabelos pretos, normalmente espetados, hoje caíam arrumados com gel.

Peguei a pulseira florida dentro da caixinha de plástico que daria a meu par do baile, Andrew Marew. Ri ao pensar que vestido ela estaria usando. Isso é, se estivesse mesmo de vestido. Não me surpreenderia se ela aparecesse de camisetão e coturno. Eu ia querer morrer se ela fizesse isso, e ia dar um chilique, mas não me surpreenderia. Tudo bem, talvez ela usasse o corpete vemelho horroroso com alguma saia rodada... ou talvez usasse um vestido, mas não abrisse mão do coturno. Enfim, pro coturno eu estava preparado. No canto do quarto, peguei a caixa marfim e a coloquei debaixo do braço esquerdo, apoiei a pulseira de flores em cima dela, pegando com a mão direita a chave do Maverick e rodando no dedo indicador. Saí do quarto e encontrei minha mãe na sala. Ela usava um vestido comportado preto. Eu já disse o quanto minha mãe é linda? A pele morena madura, mas perfeita, o cabelo preto preso num coque grosso, deixando cair uns cachos, e sandálias escuras com saltinhos pequenos. Uma mulher linda e respeitável. Ela olhou para mim orgulhosa:

- Oh, Brad, meu bebê! - choramingou ela.
- Mãe, sem essa de bebê na frente dos meus amigos. - eu ri.
- O que é essa caixa? - ela percebeu o que eu carregava.
- Um presente para Andrew, nada demais. - sorri, cortando o assunto.
- Tudo bem. - ela respirou fundo. - Bradley Tommas Stanley, pronto para a formatura?
- Sim senhora, Janet Stanley Marew.
- Suas malas?
- Já coloquei no maverick. Tem certeza que posso dormir na casa do Jonathan hoje?
- Claro, Brad. Daqui dois dias você vai se mudar pro campus. E eu já assinei a recisão do contrato do apartamento. Amanhã já não podemos mais estar aqui. Além disso, eu quero muito voltar pra minha casa. - minha mãe sorriu com a idéia.
- Você tem certeza que não quer ir com o filhão de maverick pra formatura?
- Eu gosto da minha minivan. Além, tenho que buscar o Jonathan. Ele é meu par do baile. - ela riu.
- Ah, sei. Desde quando os pais dos formandos tem parzinho de baile?
- Desde que Janet Marew é um dos pais. - ela piscou.

Saímos juntos do velho apartamento. Antes de fechar a porta, meu sentimentalismo idiota fez meu coração bater mais forte. Parei e olhei para meu antigo lar uma última vez. Nunca mais eu voltaria para esse lugar, onde fui criado e onde passei os últimos seis meses da minha adolescência. Suspirei, e fechei a porta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 90

A semana de provas finais atingiu seu àpice na sexta feira, quando saíram as notas. Passei raspando em História e Geografia, arrasei em Matemática, Física e Química, fui mediano em Inglês e Biologia deu pro gasto. Eu estava aprovado no ensino médio, era o que importava. Andrew estava com notas impecáveis, quase tudo 9 e 10, apenas com um 6 em Matemática. Matt, Liz, Ellen, Jonny, Ashley, todos aprovados, até Freud. Vi Nadine sair de fininho, e fiquei sabendo que ela havia repetido de ano. Adam, o britânico almofadinha, não poderia ir pra faculdade, pois havia ficado em dependência de Biologia. No fim do corredor, vi Genna me lançando um cumprimento alegre, e logo me apercebi de que aquilo era um aviso de que ela havia passado.

Assim que cheguei no apartamento, minha mãe pulou no meu pescoço, e quase me derrubou. Ela ria e chorava ao mesmo tempo. Depois de sentá-la no sofá com muito esforço, minha mãe conseguiu falar:

- Chegou... chegou... chegou... - ela arfava.
- O que chegou, mãe? - eu perguntava, ansioso.
- A ad... a... nossa.. a admissão!!! - gritou ela.
- Admissão? Admissão do que... aaaah!!! - minha ficha caiu.
- AAAAH!!! - minha mãe gritou junto.
- Carolina do Norte? - perguntei, enlouquecido.
- UNC!!! UNC!!! - minha mãe gritava, mais enlouquecida que eu.
- WOW!!! UNC!!! - eu pulava na sala do apartamento.

Quando liguei para Andrew, eufórico, ela nem disse "Alô".
- UNC Brad!!! PSICOLOGIA!!! - berrava ela no telefone.
- Que demais. - murmurei, e a euforia dela passou.
- Você recebeu a carta também. - ela perguntou, ofegante.
- Sim senhora. - respondi, no mesmo tom baixo.
- Você... a carta... Brad, o que diz a carta?
- Educação Física.
- O que?
- Passei na UNC em educação física.
- Tá zuando! - o tom cético não escondia a alegria.
- Uau, me senti ofendido agora. Achou que eu não ia passar? - brinquei.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! - ela gritou vitoriosamente no telefone.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! - gritei junto.

E daí, foi só alegria. Jantamos no restaurante mais caro de Nova York para comemorar, e Jonathan pagou a conta. Minha mãe não parava de apertar minha bochecha, e Jonathan olhava para Andrew com tanto orgulho que dava até gosto. O melhor de tudo foi eu sentar de mãos dadas com Andrew junto com nossos pais. Aquela paz interior não tinha preço.

Quando voltei para o apartamento, deitei na minha cama olhando para o céu revelado pela janela aberta. As estrelas estava sufocantes de tão lindas. De repente veio à minha cabeça que eu não era mais um adolescente do ensino médio. Dalí a alguns dias eu iria para a faculdade... com Andrew, minha namorada sombria. Um aperto no coração me fez entender que aquela era uma das ultimas noites na minha cama. O medo se misturava com alegria, e a nostalgia com uma dose exagerada de euforia me fez ofegar. Meus amigos, minha casa... tudo iria mudar. Menos Andrew. Então fiquei feliz por te-la comigo nessa experiência completamente nova.

No sábado, seria a despedida final. Do meu quarto, ouvia minha mãe fazendo as malas para voltar para a casa de Jonathan Marew. Segui o exemplo dela, e me dirigi ao velho guarda-roupas. Separei o smoking impecável guardado no plástico para a formatura. Ri de pensar como as coisas mudaram desde que eu o comprei no começo do ano. Pensei que iria ao baile com uma das líderes de torcida. Achei que até o fim do ano letivo, eu escolheria a mais linda que conseguisse. Talvez fosse com Ashley Hanners, com quem certamente ganharia o título de rei do baile. Mas lá estava eu, arrumando o smoking no plástico para usá-lo no dia seguinte com Andrew Marew, filha do marido da minha mãe, menina rebelde com carinha de anjo e alma sombria. Minha ninfa das sombras, e agora namorada. Ri quando percebi que não ganharia o título de rei do baile. Não namorando Andrew deixando muitas garotas despeitadas por se acharem melhor do que a metaleira da escola. Talvez Matt ganhasse, por fazer um par tão perfeito com Liz. Eu não me importava. Só queria passar essa última noite adolescente com Andrew Marew.