segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Epílogo - Capítulo 13: O Lado Branco

Abri os olhos pesados assim que o motor do carro de Lerry parou de roncar. Fitei com minha vista meio embaçada o costumeiro alojamento onde ele havia parado e frente. Minha cabeça, ainda sob efeito da vodka, girava freneticamente em busca de uma desculpa para permanecer naquele carro.

- Está entregue, senhorita. - sorriu ele, mais lindo que nunca.
- Estou no lugar errado. - minha boca falava sem eu comandar.
- Não é esse alojamento? - ele ficou preocupado.
- É sim, mas essa noite o lugar certo não é aqui. - continuei.
- Não estou entendendo, Kris. - ele riu, meio confuso.

Me aproximei dele, colocando minha mão direita em sua perna.

- Leve-me para o seu apartamento. - disse, suplicante.
- Não Kris... você... você está misturando as coisas. - ele foi relutante.
- Você que está... só quero conhecer onde meu professor favorito mora. - fui cínica.
- Kris, você não deveria nem estar nesse carro. Vá para seu quarto, por favor. - ele pediu.
- Prometo me comportar. -  eu ri.
- Kris!
- Não vou sair do carro. - cruzei os braços.
- Então vou tirá-la eu mesmo. - ele parecia frustrado.
- Vai me largar bêbada na rua?
- Kris...
- Minha companheira de quarto está na festa ainda. Não há ninguém para me impedir de fazer uma loucura. Vai mesmo me deixar aqui?
- Está bem racional para uma bêbada. - ele estava bravo agora.
- Descobri que minha loucura é inebriantemente racional. - sorri para ele.
- Claro... que horas sua colega de quarto volta? - ele estava um pouco nervoso.
- Não sei. Mas pode me levar para seu apartamento, me fazer um café pra que eu melhore... - olhei ardentemente em seus olhos.
- Tu-tu-tudo bem! Só um café. - ele gaguejou, acelerando o carro.

Em vinte minutos estávamos em frente de um edifício acinzentado, com os portões dourados, de muito bom gosto. Lerry me ajudou a sair do carro, pois apesar de nossa discussão, eu estava mesmo cambaleante. Entramos pela porta principal, de vidro escuro. O porteiro nos cumprimentou, e Lerry parecia ter ficado vermelho. Entramos no elevador lentamente, e se me lembro bem, ele apertou o número 3. Minha cabeça girou, e quando me estabilizei, a porta do elevador se abriu.

O corredor era claro, e haviam vasos de plantas nos cantos. Lerry me arrastou até a porta de número 25, e abriu com cuidado a porta com a mão esquerda, enquanto com a direita me segurava.Cambaleei para dentro do apartamento, e me apoiei na cômoda que ficava logo na entrada. Lerry acendeu a luz, e eu fiquei maravilhada.

Para um homem sozinho, o apartamento era maravilhoso. Luxuoso, arrumado, todo decorado em tons de amarelo pastel e branco. Na sala, um painel de vidro com cascata de àgua. Sentei-me no sofá me deliciando no ambiente. Lerry deu a volta pela mesa de vidro no centro da sala e olhou para mim um pouco arredio:

- Fique sentadinha aí. Vou ligar a cafeteira. - avisou ele.

Não resisti ao impulso e o segui até a cozinha. Ele se virou para mim com as mãos na cintura, com ar de desaprovação. Eu ri, e segui meus instintos. Me empoleirei em seu pescoço e derreti minha boca sobre a sua. De início, o senti gelar, mas em poucos instantes seus lábios rígidos se amoleceram sobre os meus, tão quentes quanto suas mãos que se moldavam à minha cintura.Me pressionei contra ele no intuito de extasiá-lo com o momento, visto que já havia notado o quanto eu o deixava sem ação. A parte de mim que ainda era razão adormecia a cada segundo a mais em que eu sentia o prazer de beijá-lo. Entre os beijos ardentes, Lerry perdia sua razão também, assim como perdia o equilíbrio, tendo que se recostar no balcão da cozinha para não cair comigo no chão.

- Kris... Kris... - balbuciou Lerry na tentativa fracassada de impedir aquela loucura.
- Shhhhhhh... - o silenciei, beijando-o mais uma vez.

Quando foquei meus olhos nos dele, senti a chama que ardia em meu peito passar por seus olhos claros. A expressão preocupada e fraca passou para uma expressão decidida, forjada no desejo. Seus braço, antes hesitantes, se tornaram dominantes, me levantando em seu colo com vontade. Enquanto me beijava com o mesmo desejo que eu o beijava, ele me carregou, acredito eu, pelo corredor do apartamento. Não me lembro do corredor, nem da entrada do quarto, mas lembro da superfície macia que tocou minhas costas quando ele me deitou em sua cama. O quarto, sem luz, mas claro pela lua que reluzia cheia na noite lançava vestígios de que ele estava se despindo. Senti seus braço me apertar forte, enquanto sua outra mão deslizava o zíper de meu corpete negro. Eu caía, não em sono, mas em um sonho febril... febre que exauriu todo o àlcool em meu sangue, que fervia a cada toque de Lerry naquela noite.