quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou De Novo - Capítulo 25

Olhei para Andrew, minha mente clareando e ao mesmo tempo se embaralhando. Eu beijei Andrew Marew! Não conseguia acreditar naquilo. Eu devia cuspir no chão, passar àgua sanitária na língua e cortar os pulsos com a faca da bancada. Mas o máximo que conseguiria seria que Andrew me chamasse de emo, antes de chamar uma ambulância. Talvez ela não chamasse a ambulância. Talvez ela me deixasse esvair em sangue até morrer. Ou talvez eu mesmo teria que pegar meu celular no bolso e chamar a emergência pra mim. Então isso renderia umas boas manchas no carpete que eu teria que esfregar depois que dessem pontos nos meus pulsos. O pior de tudo é que eu não queria cuspir, nem me flagelar por tê-la beijado. Uma parte de mim queria beijá-la de novo, enquanto meu bom senso me repreendia e me fazia perguntas que eu não sabia responder. Eu estava confuso.

- Eu... eu... beijei você... - minha afirmação saiu mais parecida com uma pergunta.
- Você enlouqueceu, seu idiota? - perguntou Andrew, perplexa.
- Me desculpe, eu... eu não... não sei nem por que fiz isso. - gaguejei, completamente atordoado.
- Não acredito que encostou essa boca cheia de baba de líder de torcida em mim! Eu devia matar você, te esquartejar e jogar seus pedaços no bueiro! - gritou ela.

Ela estava sendo injusta. Eu não havia planejado beijá-la. Não fiz aquilo por maldade. Foi então que a confusão na minha cabeça começou a lançar sandices para minha boca:
- Ei, ei, ei! Você me beijou também! - ataquei.
- Argh! Eu empurrei você, isso sim! - gritou ela de volta.
- Mas que droga! Pare com isso, Andrew! Eu não sei o que me deu! - esbravejei, colocando a mão na cabeça, cansado de discussões.
- Então faça o favor de ficar longe de verdade de mim dessa vez! Seu tarado! Só não beija a mãe porque é sagrado! Argh! Que nojo! - gritou ela, passando teatralmente a mão na boca. - Eu odeio, odeio, odeio você!

Andrew saiu da cozinha batendo o pé. Subiu as escadas fazendo um barulho estrondoso no taco do chão. Eu fiquei na cozinha, meio zonzo, desejando que aquilo tivesse sido só um pesadelo. Fechei os olhos com força, na esperança de estar em minha cama quando os abrisse. Mas ainda estava na cozinha. Se antes minha convivência com Andrew já era difícil, agora então seria impossível. Me arrastei pela escada para ir ao meu quarto. Hesitei um pouco no corredor, pensando seriamente na opção da faca na bancada da cozinha. Revirei os olhos me achando ridículo e entrei no meu quarto.

Sentei na minha cama, olhando para o grande espelho perto da janela. Meu rosto estava frustrado. Quando olhei meus próprios olhos, os fatos anteriores começaram a rodar na minha cabeça. Pensei em todas as garotas com quem tinha me envolvido. Elas eram lindas, cobiçadas pelos meus próprios amigos. Estava em dúvida se a mais bonita era Selena ou Ashley. Selena era ruivinha, apimentada, só que fácil demais. Ashley, uma loirinha maravilhosa mas com pouquíssimo conteúdo. E Liz? Ela era uma das mais legais. Era bom conversar com ela, mas mesmo assim eu não consegui me prender a ela nem fortificar o que eu sentia. Não importava quantas eu beijasse, nenhuma delas alcançava o fundo do meu coração. Era apenas azaração. Elas era lindas, mas eram passageiras em minha mente. Os beijos com elas eram ardentes e me deixavam sem fôlego, mas eu não me perdia neles, como havia me perdido beijando... Andrew Ammy Marie Marew.

Naquele instante tudo perdeu o sentido. Que graça tinha ser o capitão do time de basquete? Que graça tinha ser invejado pelos garotos na escola? Que graça tinha me envolver com tantas garotas? Parecia um esforço idiota para alcançar o vento. O que isso acrescentava em minha vida, a não ser futilidade? Mas entre tudo o que estava à minha volta, uma única coisa parecia valer a pena.

Levantei assustado da cama ao ter esse pensamento. Olhei meu rosto novamente no espelho, só que mais de perto. Encostei o rosto no vidro frio, e fechei os olhos. Senti como se várias mãos tentassem alcançar meu coração. De repente uma delas, que possuia uma adaga afiada, cravou a lâmina brilhante bem no centro. Uma dor aguda percorreu minhas veias. A dor passou, mas algo ainda estava dolorido. Cada batida do meu coração latejava suavemente, mas aquilo não era ruim. Cada batida tinha um significado. Cada batida batia por alguém. Então reconheci a mão que fincou a faca em minha alma e deixou uma marca eterna. Era Andrew.

Abri os olhos para o espelho e encarei a realidade. Eu estava apaixonado por Andrew Marew.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 24

Saí pela porta do refeitório e vi de relance Liz sorrindo pra si mesma. Andei pelo pátio chegando ao estacionamento. Fiquei olhando meu velho Maverick pensando no que faria. Não queria voltar para a sala de aula, então entrei no carro e liguei o motor.

Quando cheguei em casa, fiquei surpreso ao ver que a moto Halley de Andrew estava na garagem. Sinal de que ela também tinha pirado da aula.

Entrei pela porta da sala e joguei minha bolsa no sofá. Olhei rapidamente para a escada, mas fui direto para a cozinha. Peguei um copo e enchi com àgua. Enquanto tomava o primeiro gole, ouvi os passos leves de Andrew atrás de mim. Já estava acostumado a decifrar a presença dela. Me virei sem me assustar dessa vez.

- Você fez de novo, não é? - perguntou ela, calma, se encostando no balcão próximo de mim.
- O que? - perguntei, confuso.
- Terminou com uma líder de torcida na frente de todo mundo. - respondeu ela, olhando para mim indescritivelmente.
- Olha, se Matt, Freud e Jonny contam como "todo mundo", a resposta é sim, porque só eles estavam na mesa. - argumentei, depressa.
- Brad, o fato de as pessoas não ouvirem o que você diz, não quer dizer que não saibam o que está fazendo. Pela cara dela ou pela sua própria expressão, todos definiram bem a situação.
- Você estava no refeitório? - perguntei.
- Sim, mas saí no instante em que vocês dois começaram a discutir. Não ia assistir àquela cena uma segunda vez. - respondeu ela, mais calma do que o normal. Achei que ficaria brava comigo, como da outra vez.
- Argh! Andrew, todo mundo sabia que ela ia sair com Adam Turnwell. Queria que eu fosse mais corno ainda aceitando conversar sobre término com ela depois da aula?
- Não. É por isso que não estou lhe dando um sermão. - falou ela, delicadamente.
- Obrigado. - falei, irônico.
- Sem problemas.

Tomei mais um gole de àgua. Andrew ainda estava alí.
- Por que foi embora da escola? - perguntei, engolindo a àgua.
- Perdi a vontade de estudar por hoje. Cabeça cheia, não ia tirar proveito nenhum. - respondeu ela, automaticamente fitando o vazio. - E você? - perguntou.
- Eu fugi de Ashley. Ela ia me perturbar. Sabe disso.
- Eu sei. Mas ela nem tem tão mal gosto assim. Aquele Adam é uma gracinha. - zombou Andrew.
- Adam é um babaca. - resmunguei, revirando os olhos.
- Não, o babaca da história é você. Ele é um gentleman. Já conversou com ele? - disse Andrew, ainda tentando me zuar.
- Já, e não vi nada demais nele. - respondi, seco.
- Deve ser porque você pensa com os bíceps e ele com o cérebro, provavelmente. - riu ela mais ainda. Que graça tinha em me insultar?
- Uau, você deveria escrever um livro de auto-ajuda. O título seria "como sentir vontade de se esfaquear em 5 capítulos". - falei, àspero e ironicamente.
- Não esquenta, Brad. Ashley não era a pessoa certa. Eu te avisei quando começou a namorar ela só pra não perder "status" no colégio. - refletiu Andrew.
- E existe "a pessoa certa"? - perguntei, gesticulando as aspas com as mãos.
- Não sei. Acredito que pra você, não. - ela riu.
- Ótimo, isso é mesmo de muita ajuda. - acabei rindo também.
- Você só precisa parar de fazer as coisas visando sua imagem perante os outros. - disse ela, se virando pra mim, me olhando nos olhos. - Precisa fazer as coisas porque você quer, porque sente que é o melhor.

Quando ela me olhou nos olhos, senti a mesma energia estranha daquela vez no refeitório antes de Liz me espancar e Ashley entrar em guerra com ela. Eu não conseguia piscar, nem falar. Percebi então que os olhos de Andrew estavam mais próximos, sem me lembrar de ter me inclinado mais para perto dela. Descobri que aquela energia era uma força desconhecida, mas muito forte, que nos empurrava involuntariamente um para o outro.

- Eu não me importo mais com o que os outros pensam. - eu consegui dizer, finalmente, e minha voz saiu falhada, no tom de um sussurro.

Nesse instante os olhos de Andrew que eu fitava perderam a forma, se tornando uma nuvem negra. Ao mesmo tempo que eu me perdia na escuridão, eu encontrava outro tipo de luz. A escuridão não era ruim, era algo bom. Eu me sentia confortável nela, como se por causa dela eu pudesse alcançar o inimaginável. Eu perdi o controle sobre os meus braços, mas ainda podia senti-los. Eu sabia que eles abraçavam algo com intensidade, mas ao mesmo instante, com cuidado, como se o que abraçavam fosse extremamente delicado e importante para eles. E meus lábios tocavam a superfície mais suave da qual eu já provara. E eu havia perdido o controle sobre eles também. Eles ansiavam por mais daquela suavidade na qual eu desejava cegamente me perder. E de alguma forma eu sabia que a superfície desse sonho mítico ansiava por mim também.

De repente senti uma força brusca me empurrar. A força não era tão grande assim, mas foi o bastante para me despertar do meu sonho. Fui obrigado a voltar a realidade, e percebi que a escuridão significava que eu havia fechado os olhos. Quando a luz do dia tornou as coisas diante de mim visíveis outra vez, vi Andrew me olhando com uma expressão completamente confusa, misturada com raiva. Eu a havia beijado. E ela havia me empurrado. Mas que diabos estava acontecendo comigo?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 23

- Do que é que está falando? - perguntei, atordoado. O almofadinha britânico sorriu maliciosamente para mim.
- Que vou levar Ashley Hanners para jantar esta noite. - respondeu Adam, na maior cara de pau.

Senti o sangue ferver nas veias e subir na minha cabeça. Meu rosto estava quente, e meus músculos de repente ficaram rígidos. Senti então minha mão direita se fechar, pronta para dar um soco, na vontade incontrolável de quebrar os dentes reluzentes daquele burguês. Mas, nesse instante, ela entrou no meu campo de visão.

Andrew Marew estava vindo pelo corredor com alguns livros nos braços que envolviam o peito. Ela andava devagar, com um olhar tranquilo. Nesse momento, ela me viu, e viu que estava de frente com Adam. Sua sombrancelha direita se ergueu, demonstrando claramente sua desconfiança. Ela parou a certa distância e me fitou por mais um momento. Então, algo inédito aconteceu. Andrew sorriu para mim.

Não, não era o costumeiro sorriso de deboche. Era um sorriso sincero. Era um sorriso lindo. Um sorriso que eu nunca tinha visto nos lábios de Andrew. O sorriso chegava a ser... solidário. Talvez ela já tivesse ouvido rumores de que minha namorada ia me trair saindo com Adam esta noite. Talvez estivesse com pena de mim, e me lançasse aquele sorriso num intuito de empatia. Era só o que me faltava. Pena alheia.

Andrew entrou na sala de aula, saindo do meu campo de visão. Não importava o que estava por trás daquele sorriso, o efeito dele sobre mim foi poderoso. Toda minha raiva desapareceu. A ardência nas veias se esvaiu num suspiro baixo. Meus músculos relaxaram e minhas mãos se afrouxaram. Tudo mudou em meio segundo. Levantei os olhos e fitei Adam, que me observava, confuso:
- Quer saber? Dane-se! Saia com Ashley... engula a Ashley... eu não dou a mínima. - murmurei, fechando o armário. O britânico desgraçado parecia mais confuso ainda.
- Espera! Você desiste assim? Não... não ama sua namorada? - perguntou ele.

Pensei por um instante. A pergunta do Adam me pegou de surpresa.
- Claro... - respondi, mais confuso que ele agora. Ashley foi a garota que mais gostei de beijar até hoje. Isso deveria significar alguma coisa, não?
- Então vai me deixar roubá-la de você assim, na boa? - perguntou Adam.
- Ei, qual é o seu problema? Tá me pedindo pra te socar, é isso?
- Não, só esperava uma reação.
- Ashley não vale a pena. Não vale nem ao menos uma reação, por menor que seja. - disse, saindo de perto do britanicozinho idiota, impressinado pela veracidade de minhas palavras. Ashley não valia a pena mesmo.

Na sala de aula, Ashley sentou do meu lado como sempre, mas eu não falei com ela e ela também não puxou assunto comigo. Assim que o sinal tocou, sai feito um jato direto para o refeitório. É claro que Ashley veio atrás de mim:
- Brad, Brad! Me escuta, por favor! - pediu ela, enquanto eu me sentava na minha mesa onde já estavam Matt, Jonny e Freud.
- Não tenho nada para escutar. Tchau Ashley Hanners! - falei, àspero.
- Iiiih, Brad vai dar outro fora em mais uma líder de torcida. - sussurrou Matt, zuador.

De longe, vi Liz observando nossa mesa.
- Brad, não é nada do que você pensa... - Ashley começou a se justificar.
- Eu disse que não quero ouvir desculpinhas esfarrapadas. Cai fora! - cortei ela.
- Ei, era um plano. Um plano idiota. Eu queria provocar ciumes em você. Eu pedi pro Adam mentir que íamos sair juntos...
- Era um plano? Ashley, você é maluca?
- Eu sei, eu sei. Foi bobagem minha. É que voce é tão distante. Eu só queria me sentir valorizada como sua namorada. - choramingou Ashley.
- Ash, eu não acredito. Eu fui um excelente namorado pra você. Te apresentei pra minha mãe, te levava pra sair toda semana. Te pegava e te levava de volta pra casa. Nunca te traí e respeitava você. E olha o que você faz! Me transforma no palhaço do colégio!
- Não, Brad... eu...
- Assim como eu, ninguém sabia que seu esquema com o britânico era um planinho. - rosnei.
- Me perdoa, tá. Eu... eu te amo...
- Não somos mais namorados. É melhor sair da minha mesa. - falei, frio e vazio.
- Isso não vai acabar assim. Eu não vou sair daqui! - falou ela, desesperada.
- Se você não sai, quem sai sou eu. Tchau! - eu disse, saindo da mesa.

Ashley não veio atrás de mim. Deve ter ficado na mesa em choque. Mas eu não me importava. Todos riram de mim a semana toda. Ela ficou pendurada no braço de Adam Turnwell durante a semana toda. Bom, ela que se consolasse com ele agora. Eu não ligava se eu não seria mais o garanhão do colégio. Não ligava se esse britânico ganhasse todas as líderes de torcida. Eu só queria sair dalí.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 22

Segunda feira, o pior dia da semana. Acordei molenga e desci as escadas me arrastando como sempre. Cheguei na cozinha, peguei o leite, joguei na tigela com cereais e me sentei para comer. Foi quando eu percebi que estava silencioso demais. Andrew não estava na cozinha. Será que já tinha ido pra escola? Eu estava atrasado?

Olhei o relógio da parede e vi que estava dentro do horário. Talvez ela tivesse algo importante para fazer antes da aula.

Me troquei, peguei minha bolsa, entrei no Maverick e dirigi até a escola. Saí do carro protegendo o braço, esperando que Ashley pulasse em cima de mim, mas ela não apareceu. Será que estava magoada ainda com aquela vez que eu joguei o livro dela pela janela? Dei de ombros e entrei no prédio.

No corredor do colégio vi Andrew conversando com as amigas encostada no seu armário. Pelo jeito dela, parecia estar reclamando de alguém. Fui até meu armário tranquilamente, e Jonny chegou do nada:
- Ei, Brad! Queria me desculpar pela forma como me comportei esse dias aí. Eu tava meio chateado com seu namoro com a Ashley, você sabia que eu gostava dela. Mas firmeza, ela quis você, então, bate aí, irmão! - falou ele, levantando a mão pra me dar um toque.
- Falou, cara! Você é meu brother, sabe disso. Não vale a pena brigar por mulher. - eu disse, pegando a mão dele. Eu adorava o Jonny.
- Viu o novo aluno já? - perguntou ele, de repente.
- Novo... aluno...? Não. Quem é o mané? - fiquei meio tenso. Novo macho no pedaço, território em perigo.
- Mané? O cara é do seu tamanho, mas não é muito malhado não. O duro é que ele é britânico. Chegou essa semana da inglaterra, e as meninas tão caidinhas pelo sotaque e pelo carrão dele. O nome dele é Adam Turnwell. - contou Jonny.
- Ah, merda! Um burguesinho de carrão, era só o que me faltava.
- Olha lá ele vindo. E adivinha quem está do lado dele... Ashley Hanners! - apontou Jonny.

Mas que vadi... desfrutável! Ashley estava empuleirada no braço comprido de Adam como se fosse uma sacola. O cara era tudo o que eu temia - estiloso, com uma jaqueta jeans em cima da camisa branca, pele clara (muuuuito clara), cabelo louro arruivado e um rosto bem delineado. Esperei eles passarem por mim com as mãos na cintura, olhando sugestivamente para Ashley. Ela parou assim que me viu:
- Oi amor, esse é Adam, novo aluno. Estava mostrando a escola para ele. - se desculpou ela.
- É um prazer conhecê-lo, Brad. Ashley me falou de você. Capitão do time de basquete, hein! - cumprimentou Adam.
- Sim, é um prazer conhecê-lo também. - disse, bem azedo. Eu era um atleta, mas ele era um gentleman. Eu duvidava se as mulheres prefiriam os malhadões ou os príncipes delicados. Ashley parecia preferir os príncipes hoje.
- Bom, vou para minha sala. Não quero me atrasar no meu primeiro dia de aula. Até mais Brad... Ashley, obrigado por tudo. - disse Adam, educadamente, beijando a mão de Ashley. Em que séculos estamos?

Ela se virou para mim suspirando, mas algo no meu rosto a fez estremecer.
- Olha, Brad, eu só estava sendo gentil...
- Eu não quero ouvir desculpinhas, está bem? Vou pra aula. - disse, àcido. Agora sabia porque Andrew parecia atordoada hoje. Na certa ela teria visto Ashley com Adam, e não concordou com a atitude descarada dela.

A aula correu tensa. No intervalo, tratei Ashley friamente, enquanto ela observava as outras líderes de torcida na outra mesa paparicando o recém chegado. E assim foi o resto da semana. Andrew me aconselhou a largar de Ashley o quanto antes, porque levaria um chifre cedo ou tarde. Mas eu não podia fazer isso agora. Não queria ter que explicar a minha mãe porque estava solteiro de novo.

Na sexta feira, enquanto remexia no meu armário na escola, Adam encostou no armário ao lado e sorriu maliciosamente para mim:
- Oi Brad! Vou sair com a sua namorada essa noite. - disse ele.

Me virei para fitá-lo, e senti que em meu rosto não havia expressão.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 21

- Eu não acredito!!! - sussurrou Andrew, fervendo de ódio ao me ver no quarto dela, mas falando baixo para não acordar nossos pais.
- Quem não acredita sou eu!!! - sussurrei também, gesticulando o livro na minha mão. Era o livro que tinha a maçã.

Andrew fechou a porta do quarto e acendeu a luz, se virando para mim.
- Brad, por que está fazendo isso? - perguntou ela, respirando fundo para manter a calma.
- Olha, sério! Não queria vasculhar seu quarto nem nada. Mas é que Ashley disse que possivelmente você seria uma viciada em Crepúsculo e eu cheguei em casa e vi a caixa embaixo da sua cama... cara! Isso ferveu na minha mente. Eu precisava tirar a prova real! Caramba, Andrew! Você é uma tremenda duma poser! Diz que é metaleira, mas gosta desse lixo. Freud disse que isso é um insulto para a teoria dos vam...
- Cala a boca, Brad! E eu já disse que metaleiro é fabricante de panela!
- Fabricante de panela ou não, você é poser! Não passa de uma tontinha que curte fantasia e homens que brilham!!!
- Acorda Brad! Metal não é uma filosofia de vida, e nem um estilo de roupa. É apenas o tipo de música que eu escuto. Gostar ou não gostar de um livro não me torna uma poser.
- E a teoria dos vampiros? - perguntei, pasmo.
- Por que você acha que chamo seu amigo Freud de poser? Ele acha que alguém que curte metal não tem personalidade própria. Todos são iguais: cabelo comprido, caveiras, correntes, bandanas, coturnos, camisas de banda... qual é? É esse tipinho de gente que detona com as coisas. Emos são assim... eles sim transformam o que são num estilo de vida. Mas nós, que curtimos metal de verdade, sabemos que é só música. Apenas isso, Brad... música. Se eu quiser sair de roupinha rosa amanhã, o problema é meu! A roupa que eu visto não interfere no meu gosto musical. E não é um livro que me transforma numa poser, sacou?
- E o negócio dos vampiros?
- A teoria de Sthephenie Meyer é diferente. Não segue nenhuma regra que eu conheça. Mas ela tem o direito de criar a versão dela. Então, sendo a história fantástica, não vejo problema algum. Afinal, Crepúsculo é um romance, não uma história de terror. Os vampiros não são o foco... são apenas meros detalhes.

Olhei para Andrew com a boca aberta. Ela tinha razão. Metal era só música. Ela não era uma poser, e tinha uma personalidade só dela. Quando a ouvi falar daquele jeito, descobri que na verdade admirava quem Andrew era. Tão diferente de todas as garotas que conheci. Tão... única. A forma como ela se vestia só tinha um motivo: ela gostava de ser assim. Diferente de Freud, que se vestia daquele jeito porque metaleiros tinham que ser assim. Agora eu compreendia a diferença entre Andrew e Freud; porque ela odiava que eu a chamasse de metaleira e porque ele nem ligava. Porque ela sim era uma headbanger de verdade.

Mas o que me fez dar esse chilique não era o fato de Andrew ser poser ou não. Meu desespero era que até Andrew tinha caído no mundo fantasioso e gay de Crepúsculo. Livro babaca e emboiolado. Se eu soubesse que as meninas gostavam de viadões, jogava glitter no corpo e saía dançando pelo colégio. NÃO! Não faria isso, não. Prefiria morrer sem mulher do que me entregar ao modismo da vez.

Sentei na cama de Andrew meio atordoado.
- Não faz idéia do quanto Ashley me atormenta por causa desse livro. E não só ela. Ouço murmúrios pelo colégio todo. No meio dos cadernos das meninas tem sempre um livro desses. E o pior é que ficam comparando os homens da realidade com o vampiro-brilhantina e o tal do lobisomem que não é monstro. - reclamei.
- Olha, Brad... - disse Andrew, um tom de voz doce, se sentando do meu lado. - ... esse é o problema que eu vejo nas mulheres. A história é maravilhosa, mas as meninas são fúteis demais para entender que é só uma história. Vocês, homens reais, obviamente não chegam aos pés de Edward Cullen, por isso mesmo, porque Edward é apenas uma história. A essência da perfeição só poderia ser fantasia, e eu aceito isso.
- Nem Stuart chega aos pés do tal Edward? - perguntei, com um sorriso bobo no rosto.
- Hahaha! Você não ouviu o que eu disse? Edward é a essência da perfeição. Stuart é apenas humano. - respondeu ela, fitando o vazio, sorrindo.
- Ótimo... a luta eterna dos humanos contra os príncipes encantados dos contos de fadas. - murmurei.
- Não se preocupe. Logo a febre do vampiro que brilha passa... e você volta a ser o avassalador capitão do time de basquete pro colégio inteiro.
- Você gosta mesmo do Stuart? - perguntei, de repente, sem pensar.

Andrew me olhou assustada, mas visto que a conversa estava sendo amistosa, ela decidiu responder.
- Não posso fazer afirmações concretas, mas... ele é legal. Gosto do jeito dele. Ainda estou conhecendo ele.
- Hmmm. - foi só o que consegui dizer.
- E você, hein! Quem diria... mais de um mês namorando a mesma líder de torcida. É um récord!
- Na verdade, fez um mês hoje, segundo Ashley. - respondi, desanimado.
- Não gosta de verdade dela, não é?
- Lógico que gosto!
- Tá bom!
- Só porque você namora um cara sem morrer de amores por ele, não quer dizer que todos namorem pessoas por namorar. - falei, azedo.
- O mais bizarro em você é que você mente pra si mesmo e realmente acredita na própria mentira.
- Boa noite, Andrew. - me levantei para sair do quarto antes que ela começasse a ofender minha inteligência.

Fui até a porta, enquanto Andrew me fitava com a cara amarrada.
- Olha, me desculpe por isso, está bem. - disse, olhando para ela, hesitando na porta. - Prometo nunca mais mexer nas suas coisas.
- Eu não acredito em você, mas tudo bem... está desculpado.

Dei um meio sorriso e saí do quarto.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 20

Guardando o Maverick na garagem, vi que a moto de Andrew não estava lá. Já era sábado, uma e meia da manhã no meu relógio. Talvez o lugar para onde ela tenha ido estivesse muito bom mesmo.

Subi as escadas na ponta dos pés, já que, com certeza, minha mãe e o Jonathan estavam dormindo. Passei pelo corredor e parei em frente ao quarto de Andrew. Ela havia esquecido a porta aberta. A luz do corredor, sempre acesa, iluminou diretamente a caixa debaixo da cama de Andrew. Observei meio atordoado, enquanto me lembrava da vez que havia entrado no quarto de Andrew para procurar algo que a incriminasse. Lembrei-me de ter visto a caixa, mas meu desânimo era tanto que nem senti vontade de abrí-la daquela vez. De repente, as palavras de Ashley ecoaram na minha mente "Não me surpreenderia que ela tivesse a coleção inteira da saga Crepúsculo escondida debaixo da cama"...

Andrew Marew, a metalei... ops, headbanger durona, lendo Crepúsculo? Ela sempre foi dark, e duvido que não tivesse a mesma paixão por vampiros como Freud. Freud, meu grande amigo, sempre falava mal dessa série, dizendo que era um insulto os vampiros brilharem no sol. Mesmo que não fosse contra a teoria dos vampiros, o livro era feminino demais. Balancei a cabeça, tentando reorganizar as idéias. Andrew nunca leria essa hitorinha fútil feita para patricinhas como Ashley. Tentei me virar e ir para meu quarto, mas meus pés pareciam estar fincados no chão. Um onda de eletricidade passou por minhas mãos, como se ansiassem por algo. Cedi ao impulso e entrei pela segunda vez no quarto... na cripta da Noiva Cadáver -Andrew Marew.

Me senti ridículo puxando a caixa de debaixo da cama. Respirei fundos duas vezes, na certeza de que não encontraria nada alí além de desenhos de ET's. Podia ter até revistas de homens pelados (seria muito estranho) mas não podia ter livros de menina bocó como esses da saga Crepúsculo. De repente, me perguntei por que estava tão preocupado se Andrew estava ou não estava lendo esse lixo. Afinal, o que eu tinha a ver com isso? Talvez o fato de até Andrew ser afetada por esse livro me desesperasse por ver como as meninas estavam perdidas em um mundo de fantasias, onde homens perfeitos que brilhavam no sol transformava a nós, homens reais, em insetos aos olhos delas. Até Ashley tinha dito uma vez que eu, Bradley Tommas Stanley, o capitão do time de basquete, o cara mais cobiçado do colégio, não chegava aos pés de um tal de Edward Cullen. Pior! Falou até que o lobisomem da história era melhor do que eu! Um cão raivoso mutante melhor do que eu? Esse livro estava pirando as garotas.

Não! Eu precisava acreditar que ao menos Andrew estava salva. Talvez uma minoria feminina estivesse salva. Mas se Andrew tivesse sido apanhada pelas garras do vampiro-glitter, a garota mais durona que já conheci, então o mundo inteiro estaria em crise.

Abri a caixa sem fôlego. Quando a luz do corredor iluminou 4 capas negras, cada desenho nelas foi um choque para mim. Duas mãos segurando uma maçã, uma orquídea (é uma orquídea isso?), uma fita vermelha, e um tabuleiro de xadrez!!! Reconheci entre os livros aquele que estava nas mãos de Ashley nessa mesma noite, antes de eu jogá-lo pela janela do carro. A fita vermelha reluzente com letras minúsculas que brilhavam prateadas na luz: Eclipse!

Eram os livros da série Crepúsculo, não havia dúvida ( ainda mais porque no primeiro livro estava escrito "Crepúsculo" bem brilhante na capa ). De repente, vi um vulto paranda rente à luz do corredor. Um arrepio me passou pela espinha. Olhei para trás.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 19

As semanas corriam normais. Café da manhã, maverick, escola, Ashley, casa, cama... não exatamente nessa ordem. Andrew vez ou outra aparecia com Stuart em casa. Ele ria com o Jonathan, batia um papo com a minha mãe, comia alguma coisa e ia embora. Me perguntava quando é que ele e Andrew ficavam "sozinhos", namoravam mesmo. Aquilo parecia um namoro de 3 décadas atrás. Não que meu namoro fosse muito normal. Eu quase nunca deixava Ashley vir em casa, às vezes ia na casa dela, quando os pais dela não estavam. Na escola, eu me dedicava mais do que o normal às aulas, o que aumentou minha notas, pra ter uma desculpa pra não ouvir a tagarelice de Ashley, que agora sentava do meu lado. No intervalo sentava com meu amigos, mesmo com Ashley grudada no meu braço, apesar de Jonny insistir em implicar e fazer cara feia para mim. Eu realmente não sabia qual era o problema dele, e, na verdade, também não estava ligando pra isso.

Andrew voltou a fingir que eu não existia. Nosso pacto raramente era quebrado quando Stuart estava em casa, porque sua costumeira simpatia me incluía nas conversas, e às vezes, nem que fosse pra me ofender, ela falava comigo.

Nos fins de semana eu saia com Ashley por aí. Mas quando eu não estava beijando ela, era quase insuportável sua companhia. Ela vivia fofocando sobre a vida dos outros, falava mal do cabelo de Liz, e então elogiava os personagens de um livro. Eu não tenho certeza, porque não prestava muita atenção, mas o livro era uma epidemia entre as meninas. Chamava-se "Crepúsculo", e, p não era um só, era uma série. Ashley dizia estar no terceiro livro da série, e ficava comparando um tal de Jacob com um tal de Edward na dúvida eterna de qual dos dois era melhor. Eu não sabia qual dos dois que era o vampiro, mas quando ela disse que o vampiro brilhava no sol, caí na gargalhada.
- Do que está rindo? - peguntou Ashley, furiosa, segurando um livro com a capa negra e uma fitinha vermelha rasgada desenhada, enquanto eu dirigia meu Maverick.
- Qual é? Isso é um livro sobre vampiros ou sobre homens-glitter? - zombei.
- A pele do Edward é como se fosse mármore e diamante, por isso brilha no sol! - rugiu ela.
- Ah, então esse Edward que é o vampiro... - refleti.
- É! - respondeu Ashley, ríspida.
- E esse outro aí... o Jacó... ele é o que mesmo? - perguntei, tentando parecer interessado, visto que eu tinha realmente irritado ela.
- É JACOB! E ele é um lobisomen! - ela quase gritou.
- Hummm. Lobisomen... e ele também brilha?
- NÃO!
- Então acabou a dúvida. Jacó é melhor que o Edward. É o menos viadinho da história.
- Vai pro inferno, Brad. Jacob é lindo, mas o Edward não é viadinho.
- Jacob é lindo? Na minha época os lobisomens eram monstros. - resmunguei. - Então ele é um viadinho também. Pronto, é tudo gay nesse livro.
- Aff, Brad! Vocês homens realmente não sabem reconhecer uma boa história. Este é o melhor livro que eu já li na vida!
- Esse livro é um lixo... - murmurei.
- Pode ser um lixo pra você, senhor testosterona, mas todas as mulheres do universo são viciadas nessa história. - disse Ashley.
- Ah, mas não é mesmo. Acho que posso apontar alguém que com certeza vomitaria na capa do seu livrinho. - afirmei.
- Mulher? Duvido!
- Andrew Marew... conhece?
- Até mesmo a ogra da sua irmanzinha se derreteria por esse livro... se é que não já se derrete.
- Andrew? Não mesmo...
- Não me surpreenderia que ela tivesse a coleção inteira da saga Crepúsculo escondida debaixo da cama. - brincou Ashley, olhando pela janela do carro. Eu revirei os olhos. Aquilo era um absurdo.

Estacionei o carro na frente da casa de Ashley. Ela abriu a porta e saiu. Virou-se e disse:
- A propósito... parabéns!
- Parabéns pelo que? - me surpreendi.
- Um mês de namoro!!! - festejou ela.
- Já?
- Tá vendo! Comigo do seu lado, o tempo voooooa!!!
- Tchau Ashley. - resmunguei, me inclinando para fechar a porta do carona.
- Ei, quer ficar com meu livro pra ler? Esse na minha mão é o Eclipse, o terceiro. Mas tenho o primeiro, Crepúsculo, lá em cima. O que acha? - ofereceu ela. Eu não acreditei no que ela estava dizendo.
- Me dá isso aqui! - estiquei o braço e arranquei o livro da mão dela. Olhei pela minha janela e joguei o livro no meio da rua. - Pronto! Essa literatura estava te fazendo mal. Me lembre de fazer isso com seus outros livros dessa série. Tchau, minha linda! - e arranquei com o carro enquanto ela corria para o meio da rua pegar o livro, fervendo de ódio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 18

- Desde quando você cozinha? - perguntei, meio azedo. Andrew me jogou um olhar macabro, mas eu ignorei, afinal, ela quebrou o pacto do silêncio primeiro.
- Quem você acha que fazia o almoço quando necessário antes de meu pai se casar com a sua mãe? - respondeu ela, mais azeda que eu.
- Desculpe. Devia perceber que não é lá grande coisa. Afinal você está fazendo bacon, e bacon se come no café da manhã. - argumentei.
- Você nunca come bacon de manhã. Apenas cereal. - comentou Andrew. Observadora, não?
- Sou um atleta, nada de colesterol.
- Que bom! Isso quer dizer que não vai almoçar conosco? - ela sorriu maliciosamente.
- Nada de colesterol de manhã... na hora do almoço, não vai me matar. - sorri também.

Ela passou por mim com a frigideira na mão. Foi então que eu notei que seu cabelo comprido estava preso, e que por cima da roupa ela estava com o avental de florzinhas da minha mãe. Não aguentei e comecei a rir. Andrew de florzinhas?
- Tá rindo do que? - perguntou ela.
- Nada não... - murmurei, ainda rindo, me sentando na cadeira.
- Se não parar de gracinha, você vai almoçar a frigideira! - ameaçou ela.
- Um atleta precisa de ferro... não de inox... - eu ri, e ela revirou os olhos.
- Você só fala besteira... - murmurou ela, mas no canto de sua boca vi um lampejo rápido de um sorriso.

O almoço correu silencioso. Minha mãe e Jonathan, pai de Andrew, não haviam chegado ainda. Stuart comia na dele, hora ou outra elogiando Andrew pela comida. Meu humor variava. A comida estava boa, mas os elogios de Stuart me deixavam enjoado. Terminei antes deles, e me levantei da cadeira. Lavei meu prato, porque sabia que a louça sobraria para mim mais tarde, na tentativa de diminuir meu carma. Corri para o meu refúgio, meu quarto.


No quarto, fiquei me perguntando porque Andrew gostava de Stuart. Ele era um cara legal, mas muito sonso para ela. Não que Freud, talvez, fosse melhor que Stuart, mas sempre imaginei Andrew com um namorado grandalhão cheio de correntes e tatuagens. Da minha cama ouvi o sedan de Jonathan chegar, e logo depois a minivan da minha mãe. Ouvi também alguém empurrando a halley da folgada da Andrew pra dentro da garagem, e logo depois guardaram meu Maverick. Ouvi o barulho de um motor desconhecido, talvez a lata velha que Stuart chamava de carro, que em alguns segundos virou a esquina. Depois, passos curtos andaram pelo corredor e bateram uma porta com força. E então meu celular tocou:
- Oi... Ashley... - atendi, azedo. Eu estava muito chato ultimamente.
- Oi Brad! Você nem me esperou no fim da aula! - reclamou ela.
- Ash, estou com dor de cabeça. Se for pra ficar reclamando, é melhor desligar.
- Ah amor, eu sinto muito. Não vou brigar com você, juro! Posso ir aí hoje? - pediu Ashley.
- Hoje não Ash, é segunda feira. A gente se vê amanhã. - implorei.
- Ah, eu queria te mostrar um livro novo que eu to lendo. O carinha do livro é tão perfeito. Você não chega aos pés dele! - provocou ela.
- Por isso que eu sou real, e ele apenas um personagem. Tchau, Ashley. - desliguei, sem esperar resposta.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 17

O treino de basquete foi até divertido. Enquanto Jonny insistia em passar a bola para mim, eu me distraía observando as líderes de torcida. Ashley, a chefe, coordenava tudo. Mas Liz sempre foi seu braço direito. As duas inventavam os passos juntas, e até treinavam todas as outras juntas. Só que hoje o treino delas estava um inferno; Ashley insistia em fazer de conta que Liz não existia, e Liz discordava com tudo que Ashley ordenava. E na hora da pirâmide, vi Liz balançar o corpo para derrubar Ashley do topo... era realmente guerra.

Jonny me acertou uma bolada na cabeça.
- Bebeu, irmão? - perguntei, nervoso.
- Eu não, mas você parece que sim. Tá no mundo da lua, é? Acorda ow, não se ganha um jogo de basquete distraído com as saias das líderes de torcida. Deixe os hormônios para depois do treino! - respondeu Jonny, tão nervoso quanto eu. Por que ele estaria bravo comigo?
- Eu sou o capitão do time. Já mandei você passar a merda da bola pro Matt, caramba! Mas você insiste em passar pra mim! Dá pra me obedecer? - gritei.
- Você anda tão avoado, Brad, que só tacando uma bola nessa sua cabeça pra ver se acorda! To começando a achar que precisamos de um novo capitão. - respondeu Jonny, ríspido.
- Ow, ow, ow, ow!!! Qual é, brothers? Somos amigos, hã? Não vamos quebrar a harmonia do time. - interviu Matt.
- Pra mim o treino acabou! - respondi, jogando a bola com força no peito do Jonny, que ofegou.
- Acabou uma ova, senhor Stanley! - ordenou o treinador David. - Todos vocês, correndo em volta da quadra!!! Acho que os rapazes estão se esquecendo de quem manda aqui, não?

Maravilha! Graças ao Jonny, além de levar uma carcada do treinador, tive que correr que nem um bocó em volta da quadra. Vi, pelo canto do olho, que as líderes de torcida riam. Ao menos o bom humor em relação à desgraça dos outros estava intacto.
- Idiota! - murmurei para o Jonny, que corria na minha frente.
- Bichona! - apelou Jonny, e minha vontade era passar o pé nele pra que ele caísse de boca no chão. Me segurei, respirei fundo e continuei a correr.


Realmente estava cansado de contar os piores dias da minha vida. Minha vida estava uma droga mesmo. Saí correndo do vestiário direto pro estacionamento, me sentindo seguro dentro do meu Maverick. Acelerei o carro antes que Ashley aparecesse com sua tagarelice irritante e com ela, Liz e seus tapas ardidos.


Cheguei em casa louco pra cair no sofá da sala e assistir qualquer coisa que fizesse minha mente vagar pra longe da realidade. A droga da halley de Andrew estava no portão mais uma vez, e mais uma vez eu contei até dez desejando a morte dela a cada segundo, mas me acalmando, respirando fundo pra não quebrar o novo pacto. Entrei pela porta da sala e Stuart estava sentado no meu sofá favorito.
- Oi, Brad! - cumprimentou ele, simpático.
- O que está fazendo aqui? - perguntei, azedo.
- Vim almoçar com Andrew. Ela está na cozinha agora. - respondeu ele.
- Andrew está... cozinhando? - fiquei pasmo.
- Ao que parece... - respondeu ele.
- E minha mãe?
- A senhora Janet não chegou ainda, segundo o que Andrew disse.
- Se atrasou no trabalho de novo. - murmurei - Mas se Andrew está fazendo o almoço, isso significa que vamos comer largatixas ou aranhas?
- EU OUVI ISSO!!! - uma voz feminina ecoou da cozinha. Irgh! Ela quebrou o pacto do silêncio de novo! Ela falou comigo... droga. Estremeci.
- Pelo aroma, parece ser bacon. - respondeu Stuart, sorrindo.

Revirei os olhos e fui pra cozinha. Stuart era simpático demais pro meu estômago.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 16

Empurrei a porta do ginásio com tudo. Deixei minha bolsa cair perto da cesta de basquete, e encostei no cano que cercava a arquibancada. Olhei do lado e vi ela - Andrew Marew sentada na arquibancada, mais ou menos na 3ª fileira, distraída, riscando seu caderno. Senti meus lábios se repuxarem nos cantos, e fiquei surpreso sem entender por que estava sorrindo ao vê-la.

Levantei-me disposto a resolver os últimos mau-entendidos, com a intenção de pelo menos voltar a ter um pacto do silêncio sem esse melodrama de ódio eterno. Fiquei ainda na quadra, encostado no cano que cercava a arquibancada, de frente para ela:
- Deixa eu adivinhar... está desenhando alienígenas? - perguntei, zombador. Que bela maneira de começar um tratado de paz.

Andrew se assustou, mas assim que viu que era eu, jogou o caderno com ódio dentro da bolsa, a fim de sair dalí.
- Não, não, não! Espera... prometo que não vou perturbar você. É só que... achei estranho você passar o restante do intervalo aqui, no ginásio. - falei, calmamente.
- Não ia ficar no refeitório assistindo duas idiotas se esbofetearem por causa de um babaca!- respondeu ela, ríspida, colocando a bolsa de lado.
- Aquilo foi mesmo idiotisse...- murmurei.
- Sério? - perguntou ela, desconfiada - Achei que você estivesse todo alegrinho com a situação.
- Você não pode ver a expressão no meu rosto? Estou cansado de tudo isso, Andrew.
- Bem vindo ao mundo dos populares, recluso. - respondeu ela, ironicamente, e eu reconheci a frase que eu mesmo disse para ela uns dias antes.
- Andrew, eu só queria que a gente parasse com isso. Eu realmente odeio ficar de birrinha com você. Não precisamos ofender um ao outro... e também não precisamos dar palmadas um no outro. - ela revirou os olhos quando disse isso. - Eu sei que você não me suporta, mas... não podemos voltar ao nosso antigo pacto? Você não existe, eu não existo, dimensões diferentes? Até que tava dando certo.

Andrew pensou por um instante, enquanto me olhava com as sombrancelhas unidas.
- Tudo bem! Adeus Bradley Tommas. - respondeu ela, se levantando.
- Ótimo! Temos um pacto. Adeus Andrew Marew. - respondi.

Ela saiu do ginásio sem olhar para trás. Eu fiquei esperando que o alívio viesse, que eu me sentisse leve de novo, sem culpa e sem peso na consciência. Achei que tudo o que eu precisava era ficar em paz com Andrew e excluí-la da minha vida novamente. Mas o alívio não veio. Continuava a me sentir tão mal, ou até mais do que antes.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou De Novo - Capítulo 15

Cheguei na escola um pouco atrasado. Estacionei o Maverick na vaga de sempre, atrás do carro de Matt, um Ford LTD 1968 amarelo apagado horroroso. Assim que saí do meu carro Ashley voou pra cima de mim:
- Está atrasado! - exclamou ela, pendurada no meu pescoço.
- Desculpa... tive um... um... um imprevisto. - respondi, me lembrando do incidente com Andrew.
- Vamos juntos pra sala amor. Estava mesmo esperando você. - disse Ashley, pegando a minha mão. - Ei, o que deu na sua irmãzinha hoje?
- Andrew? Por que está perguntando? - me assustei.
- Eu fui levar minha bolsa na sala antes de vir te esperar aqui. A morta viva da sua irmã passou por mim carrancuda e jogou a mochila dela na carteira lá do fundo. Aí eu fui perguntar pra ela se você já tinha chegado... ela me ignorou completamente! Eu chamei ela de Zumbi do resident evil, esperando, como sempre, que ela revidasse, mas pelo menos respondesse. Ela continuou alí, de cabeça baixa olhando pro nada como se estivesse desligada.
- Esquece ela, Ash... - pedi.

Era pior do que eu previra. Andrew estava realmente magoada comigo. Será que eu bati forte demais? Não, não devia ser isso. Agora meu medo era que ela contasse para o Jonathan que eu dei palmadas nela. Não que eu tivesse medo do Jonathan em si, ele ia rir ou, na pior das hipóteses, me pedir pra usar o bastão de beisebol da próxima vez. Mas minha mãe certamente iria arrancar minha orelha e servir no jantar.

Enquanto andava pelo pátio que ficava depois do estacionamento na escola, os alunos passavam e olhavam para mim e Ashley boquiabertos. Claro, os cochichos começavam a rolar. Todo mundo sabia que Bradley Tommas, o capitão do time de basquete, o garanhão da escola, estava namorando sério. Hoje seria o terceiro pior dia da minha vida, com toda certeza.

Me lembrei nesse instante que depois do intervalo teria treino de basquete. Não estava afim de assistir às primeiras aulas, ainda mais com Andrew no mesmo ambiente que eu. Depois daquela vez na garagem que ela apareceu de repente, não descartava mais a hipótese de ela se envolver com magia negra. E se ela me jogasse uma maldição? Pelo menos depois do intervalo eu não teria que encará-la. Parei no meio do caminho bruscamente, brecando Ashley comigo:
- Ash, não vou pra aula. - falei de repente.
- O quê? - perguntou ela.
- Hoje não tem nada de muito importante na aula de inglês, e muito menos na de história... então, estou afim de matar aula.
- E o que vai fazer? Voltar pra casa?
- Não, depois do intervalo tem treino de basquete e eu tenho que estar, porque sou o capitão do time... esqueceu? E até onde eu sei, tem treino das líderes de torcida também.
- E vai fazer o que... vagar pelo pátio até um inspector te pegar? - riu Ashley.
- Tenho uma idéia melhor. Por que não ficamos nós dois no meu Maverick? - sugeri, galanteador.
- Está me convidando pra matar aula junto com você? - disse Ashley, sorrindo maliciosamente.
- Essa é a idéia! - confirmei.
- Tô dentro! - festejou ela.



Ficamos as primeiras aulas dentro do carro. Não conversamos muito, mas nos beijamos bastante. Quando faltava 5 minutos para o intervalo, olhei no espelho do Maverick e vi que minha boca estava muito avermelhada. Olhei para Ashley e vi que ela estava com uma marca debaixo da orelha, mas nada que o cabelo louro comprido e liso não pudesse disfarçar. Eu podia ter me aproveitado mais, só que eu ainda não havia passado filme nos vidros do meu amado carrinho, então se alguém passasse por alí, a situação ficaria tensa.

O sinal tocou e eu saí do Maverick. Ashley veio correndo para perto de mim e pegou minha mão:
- Vamos juntos pro intervalo! - impôs ela. Eu não ia me opor, porque não ia adiantar mesmo. Ashley parecia ter cola nas mãos.


Na mesa de sempre, Matt, Jonny e Freud esperavam. Quando cheguei estavam falando da mãe do Freud. A senhora Margarett Fracelli Kennesty, psicóloga e extremamente atraente em seu costumeiro vestido de couro, sempre vinha buscar Freud na escola, o único de nós que ainda não tinha carro. Nós amavamos suspirar pela senhora Fracelli Kennesty perto dele, não que ela não fosse uma mulher realmente "gostosa" no auge de seus 38 anos, mas nosso objetivo era irritá-lo. Mexer com a mãe dele era a única coisa que realmente o deixava bravo. Eu queria me sentar alí e rir com eles, mas com Ashley por perto não teria graça alguma. Quando me viram chegando com Ashley colada no meu braço esquerdo, reviraram os olhos.
- Não vai sentar com as líderes de torcida hoje, Ash? - perguntou Jonny, e eu podia ver nos olhos dele que ele queria que ela sumisse. O assunto sobre a mãe de Freud devia estar fervendo.
- Não, vou sentar com meu namorado. - respondeu Ashley, autoritária.
- Na-na-namorado? - gaguejou Freud.
- Brad não deu a notícia a vocês ainda? - perguntou Ashley.
- Ouvimos rumores, mas nada concreto. Agora podemos ver que é serio... - respondeu Matt, com o olhar zombador pra mim. Devia estar feliz, porque comigo fora da jogada, ele seria o novo garanhão da escola.
- Vou pegar uma bandeija... estou com fome... - respondi, com o olhar vazio.


Me virei e meus olhos cruzaram com os de Andrew, que me observava de sua mesa. Achei que ela viraria a cara, como sempre fazia, mas havia algo diferente. Algo no ar prendia nosso olhar. Eu não conseguia desviar, nem ao menos piscar. Andrew parecia tão absorta quanto eu, até que um estalo ardido queimou meu rosto. Quando consegui abrir os olhos percebi que havia levado um tapa na cara. Focalizei a origem dessa agressão na minha frente. Essa não...
- LIZ? - quase gritei, assustado.
- Como se atreve! Namorando minha melhor amiga! Eu te odeio Bradley Tommas!!! - gritava Liz, me dando tapas. Eu estava paralisado de surpresa, e nem me defendia, até Ashley entrar na parada.
- Para sua loca!!! Solta meu namorado!!! - gritou ela, empurrando Liz, que caiu no chão.

Agora ferrou, pensei comigo mesmo. Achei que Liz ia ficar o mais longe de mim até que a escola esquecesse o incidente na sala de aula. Mas não... aquilo era um amor doentio. A garota não me esquecia. Fiquei parado enquanto as duas, Ashley e Liz, se engalfinhavam. Em poucos instantes uma roda de alunos se formava em volta delas gritando "porrada!!! porrada!!!". Matt se aproximou de mim e colocou a mão em meu ombro.
- É... briga de mulher. Tem um gel aí? Tava pensando em jogar no chão. - zombou ele.
- Eu não acredito que elas estão fazendo isso. Vo sair daqui. - suspirei.
- Não vai ajudar sua namorada? - perguntou ele, perplexo.
- Ela é uma líder de torcida. Bem saudável e flexível. Sabe se defender sozinha. - resmunguei - Ah, e que vença a melhor! - gritei.

Ao me dirigir para a saída do refeitório olhei automaticamente para a mesa de Andrew, no fundo. As amigas do mal dela estavam lá, mas ela não estava mais. Olhei na multidão aglomerada na esperança de achá-la alí, mas é claro que ela não estaria. Andrew odiava essas futilidades femininas, como brigar por homem. Bati na minha própria testa me perguntando porque estava procurando por ela. Suspirei e saí o mais rápido que pude dalí.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou De Novo - Capítulo 14

Fiquei o domingo inteiro no quarto amoado, porque sabia que segunda feira seria o terceiro pior dia da minha vida. Andar pela escola com Ashley de mãos dadas seria o mesmo que um chiuaua com uma coleira enorme sendo arrastado para ser castrado. O que mais me irritava é que Andrew cantarolava pela casa toda animadinha.

Na segunda de manhã o céu estava claro, e prometia um belo dia de sol. Nem isso foi o bastante para me animar. Desci as escadas me arrastando, como um condenado pelo corredor da morte. Parei na sala e espiei pela janela. Os sedan de Jonathan e a minivan da minha mãe não estavam na garagem, então ambos já tinham ido trabalhar. Minha mãe era corretora e Jonathan cuidava do departamento pessoal de uma empresa. Isso rendia uma boa grana, mas não influenciava nada na miséria que eu recebia de mesada. Não via a hora de chegar as férias de verão para arranjar um emprego temporário e dar uma turbinada no meu Maverick.

Entrei na cozinha para tomar um leite rápido. É claro que Andrew estava alí, na cadeira de sempre, me olhando com a cara de bruxa infeliz que foi expulsa do inferno de sempre e comendo as torradas de sempre com o café preto de sempre.
- Bom dia, Mister Peitoral! - saudou ela.
- Bom dia vampira recauchutada. - falei. Nossa, eu devia estar mal mesmo. Vampira recauchutada?
- Ei, não parece animado para seu primeiro dia de aula sendo um cara compromissado. - reclamou a Mortícia.
- To flutuando de tanta alegria, olha meu sorrisão. - sorri, tão forçado que ela riu.
- Tá parecendo mais um pit bull idoso. - riu ela mais ainda.
- O Stuart vai vir hoje aqui... to com saudade daquele gostoso! - brinquei.
- Pare com isso, Brad! Eu realmente não gosto de brincadeiras homossexuais.
- Sinceramente? Achei ele um panaca. Ele é legal, mas não faz seu estilo. - falei, despreocupadamente, enquanto remexia a colher no copo de leite com achocolatado.
- É uma pena, porque Ashley Hanners também não faz seu estilo. Eu sei que você ama uma vagabunda, mas Ashley é vadia demais. - reclamou Andrew.
- Ei! Eu não estou denegrindo a moral do seu namorado, então, por favor, respeite a da minha namorada.
- Quando você virar o chifrudo do colegio, não diga que não avisei! - ameaçou Andrew, se levantando da cadeira e se dirigindo à porta da cozinha.
- E quando você resolver perder a virgindade e o mané lá brochar, não fique frustrada, ok? - apelei. Eu estava meio retardado hoje. O compromisso me faz um mal danado mesmo.

Senti um estalo nas minhas costas. Cuspi involuntariamente o leite pelo impacto, enquanto a dor latejava. Olhei para trás assustado, e me deparei com Andrew agachada amarrando o coturno. A filha da mãe tinha me jogado aquele sapatão enorme nas costas? Bati o copo na mesa e olhei pra ela.
- Olha, eu nunca bati em mulher, mas estou começando a mudar de idéia. Meus princípios estão ficando fracos diante da minha raiva... - ameacei.
- Vai me bater, Bradley Tommas? Bate, e quero ver você encarar meu pai depois. - desafiou Andrew, sorrindo.

Ah, aquilo já era demais. Ela tinha invadido meu quarto, me dedado pra minha mãe, vivia gozando da minha cara e agora tinha me jogado um sapato nas costas. Tirei a camisa branca e olhei para ver se tinha sujado. Tinha mesmo... minha camisa favorita. A marca da sola do sapato de Andrew não ia sair facilmente com àgua e sabão. Era a gota d'agua.

Joguei a camisa no chão e peguei Andrew pelas pernas jogando o corpo dela no meu ombro. Ela era leve, e parecia frágil, mas a raiva estava fervilhando dentro de mim, então desprezei meus princípios. Se Jonathan tinha mimado aquela garota, a vida teria que ensinar uma lição para ela. Incrível, acho que a vida me escolheu para isso. Levei ela para sala, enquanto ela esperneava e me mandava soltá-la. Sentei no sofá, deitando ela de bruço no meu colo, e comecei a lhe dar palmadas. Eu não era um ogro, logicamente. Nunca iria usar toda minha força bruta contra uma garota. As palmadas eram leves, porque minha intenção não era machucá-la, e sim constrangê-la. Ela estava com uma saia pregada de couro preto, então com certeza não doeu nada. A vergonha de ter levado palmadas iria latejar no orgulho dela para sempre. Mas a demônia me mordeu no braço e saltou do meu colo, enfurecida.

- Você enloqueceu, garoto! Idiota! Troglodita!!! - gritou ela.
- Não, só achei que estava mais do que na hora de você levar umas palmadas. - rebati.
- Eu achei que não poderia te odiar mais do que já odiava. Agora vejo que você supera o pior sentimento do mundo! - gritou ela, mais alto ainda, o rosto ficando vermelho de tanta raiva que chegou a enxer-lhe os olhos de lágrimas.
- Agora você vai pensar duas vezes antes de se meter comigo. - ralhei, esfregando o braço onde ela havia me mordido.

Foi então que percebi que Andrew não estava com a costumeira maquiagem escura. Ele havia passado um lápis preto nos olhos, mas era leve, até menos do que Ashley usava. A blusa por cima da saia pregada de couro era preta, mas era uma regata mais feminina do que aquelas camisetonas com nome de banda que ela sempre usava. Tirando o coturno enorme, ela até parecia uma bonequinha... uma bonequinha meio gótica, talvez uma barbie da Amy Lee, mas ainda sim uma bonequinha. A raiva era tanta que ela começou a chorar, e eu me assustei, esquecendo completamente o motivo pelo qual tinha brigado com ela.

- Ei, calma... eu... eu só queria que você aprendesse a lição. Droga, Andrew, eu perdi a cabeça. Me desculpa, tá? - as lágrimas femininas eram a coisa que eu mais temia. Vindas de Andrew, então, eram a coisa mais assustadora do mundo para mim. Fiquei desesperado. Me aproximei dela, pegando seu rosto entre as mãos. - É sério, Andrew. Me desculpa.

Ela me fitou por um instante com os olhos molhados. Foi um instante tão curto, mas ao mesmo tempo, tão longo. Senti uma fincada no fundo do meu coração, e não entendi o que era aquilo. De repente, ela me empurrou.
- Sai, Brad! Nunca mais encoste um dedo em mim! Eu te odeio! - gritou ela, pegando a bolsa na poltrona e saindo pela porta da sala.

Fiquei alí, completamente confuso... e sem camisa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou De Novo - Capítulo 13

- Vamos sair daqui, Stuart! - ordenou Andrew.
- Ei, deixa o cara comer um pedaço de bolo. - falei, sendo cordial com meu mais novo amigo.
- Ah, obriga... - começou a falar Stuart, antes de Andrew cortá-lo.
- Não, nada bolo! Não quero Stuart perto de você Brad. É um canalha, uma má influência! - reclamou Andrew.
- Opa! Não fala assim do meu namorado! - interviu Ashley, se levantando.
- Cala a boca, espantalho oxiginenado, não falei com você! - Andrew gritou com Ashley.
- Ow, ow, ow,ow, ow! - intervi, antes que Ashley partisse pra ignorância também - Olha o tom de voz. Se seu pai e minha mãe descerem e estivermos brigando, o que vão pensar de Ash e Stuart? - refleti, inteligente hein.
- Anda Stuart! - falou Andrew, puxando Stuart de novo.
- Vai levar ele pro seu quarto? - brinquei, só para irritá-la.

Tudo bem, dessa vez ela ficou brava mesmo. Largou Stuart e voou pra mim como uma abelha me fuzilando no fundo dos olhos:
- O que você está falando aí, cretino? - perguntou ela, cuspindo as palavras em mim.
- Calma, só ia sugerir que você mostrasse seus CD's da Britney pra ele. - falei, na brincadeira, rindo de novo.
- Britney? - perguntou ela, incrédula.
- É, Britney Spears! Eu ouvi lá do meu quarto tocando no seu rádio: "Hit me baby one more time!!!".- cantei, imitando a voz fina meia rouca da Britney.
- Você ouve Britney Spears? - perguntou Stuart, arregalando os olhos.
- Eu realmente vou matar você, Bradley Tommas! - falou Andrew, mais baixo, esfregando os dedos nas temporas tentando se acalmar.
- Você realmente ouve Britney Spears, Andrew? - perguntou Stuart, de novo. Ela ia acabar batendo nele.
- Cuidado Ashley, Brad é meio confuso. - falou Andrew de repente - Esses dias ele estava ouvindo Madonna no quarto dele. "Like a virgin, UH! Touched for the very first time!" - cantou Andrew, se vingando. Cara! Eu nunca ouvi Madonna. Só uma vez quando eu era criança e minha mãe colocou o disco dela no rádio da sala, mas fazia muito tempo.
- Madonna, Bradley? As músicas da Madonna são praticamente hinos gays! - se assustou Ashley. Ela acreditou nisso? Bom saber a moral que eu tinha com ela.

Me limitei a revirar os olhos. Olhei de volta para Andrew, que em fitava com uma sobrancelha levantada, esperando um rebate. Eu não queria mais brigar, não estava com espírito para isso.
- Claro, eu amo a Madonna! Ei Stuart, vem um dia aí pra gente ouvir juntos, gatinho. - brinquei, rindo e dando uma piscadela para Stuart. Funcionou. Ashley, Stuart e até Andrew estavam rindo.
- Você é um palhaço mesmo. - riu Andrew, dessa vez saindo da cozinha com Stuart. Era óbvio que Andrew não tinha CD's da Britney... quer dizer, pelo menos eu achava. Eu sabia que EU não tinha nenhum da Madonna.


Ashley veio para perto de mim, e nesse instante minha mãe entrou na cozinha.
- Bem, Jonathan está conversando com Stuart. Gostei dele, um rapaz muito bonito. - falou Janet.
- Eu sou mais bonito que ele. - reclamei.
- Claro que é, querido. - corrigiu minha mãe.
- Ele é legal, mas não sei se ele merece a Andrew... - refleti.
- Ai que gracinha! O irmãozão com ciumes da irmanzinha! - se maravilhou Janet.
- Que mané ciume, mãe! Ela não é minha irmã! Estou com dó é do Stuart por aturar aquela maluca. - falei.
- Calma, amor, um dia ela acaba cortando os pulsos. - riu Ashley, de repente.
- Ash, Andrew é metaleira, não emo. Emos cortam os próprios pulsos. Metaleiros cortam os pulsos dos outros. Então cuidado. - corrigi. Ashley arregalou os olhos para mim.

Minha mãe riu e começou a puxar assunto com Ashley outra vez. Na sala, Jonathan estava no maior papo com Stuart e Andrew. Droga, hoje com certeza foi o pior dia da minha vida... quer dizer... o segundo pior, porque o primeiro pior foi ontem. Quer saber... dane-se! Sentei na cadeira da cozinha ao lado de Ashley fitando o nada pensando na morte da bizerra.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo! - Capítulo 12

Estacionei o carro na frente da casa. Desci e me deparei com Ashley toda apressada pegando minha mão.
- Namorados andam de mãos dadas, amor. - ressaltou ela.
Eu revirei os olhos e me preparei para apresentá-la a Janet, minha mãe.

Entrei na sala e Janet já nos esperava. Estava com um vestidinho marrom que ela sempre usava em reuniões familiares - quando minha avó visitava a gente, ou a mãe de Jonathan resolvia passar por lá para dar um abraço em Andrew. Assim que viu Ashley, minha mãe me mandou uma piscadela, certamente fazendo graça em relação a beleza de minha recém-namorada. Eu revirei os olhos:
- Mãe... esta é Ashley Hanners, minha namorada. - Por que a palavra "namorada" tinha que sair falhada?
- Prazer em conhecê-la, senhora Stanley. - disse Ashley, cordialmente.
- O prazer é meu, Ashley. Me chame apenas de Janet. - respondeu minha mãe, sorrindo.
- Ótimo! Tchau mãe! - me adiantei, puxando Ashley comigo para a porta.
- Ei, calma aí mocinho. Fiz um bolo para Ashley. Fique e vamos conversar um pouco. - interviu minha mãe.

Essa não! Era só o que me faltava. Minha mãe ia me obrigar a passar uma noite caseira com Ashley. Agora não me sentia mais namorando... e sim casado!!! Fechei a cara enquanto Ashley e minha mãe fofocavam comendo bolo de chocolate.
- Está chateado, querido? - perguntou minha mãe, de repente.
- Não! - respondi, àspero, fechando a cara mais ainda.
- Que bom... - e se virou para Ashley novamente - ... eu também era líder de torcida na minha época escolar...

Argh! Janet nem notou que eu estava estressado com a situação. E Ashley, essa traidora, ficou dando corda para minha mãe contar a vida toda dela. Nesse momento, Andrew entrou na cozinha.
- Oi Janet! - cumprimentou ela.
- Oi querida, já voltou? - perguntou Janet.
- Bom, na verdade trouxe Stuart pro meu pai conhecer. - Eu arregalei os olhos. O zé metal ratinho branco estava na minha casa?
- O Jonathan está lá em cima, provavelmente lendo um livro. Quer que eu vá chamá-lo, querida?
- Claro Janet, obrigada.

Minha mãe saiu pela porta da cozinha, e nesse instante cumprimentou uma sombra. Andrew fez um sinal para que a sombra entrasse. Foi então que eu conheci Stuart. Achei que ele fosse um metaleiro, cabeludo ou até barbudo, cheio de piercings e tatuagens. Mas não era nada do que eu esperava. Stuart era alto e magro, não diria que era musculoso, o rosto quadrado, cabelo louro claro e curto, olhos verdes e um jeito risonho que me lembrava o Jonathan. De metaleiro não tinha nada - era um rapaz comum, que dava até para se comparar a mim. Mas não parecia ser popular. Tinha uns 18 ou 19 anos, talvez não frequentasse mais o colégio. A barba dele estava cerrada, uma penugem loira circulando a boca e o queixo numa tentativa de cavanhaque. Usava uma camisa branca folgada por cima de uma calça jeans surrada. Mas não pude deixar de notar os coturnos pretos que não combinavam com nada.

- Boa noite, Morgana! - falou Ashley para Andrew. Ai, droga, por favor, nada de brigas hoje.
- Oi senhorita QI negativo. - respondeu Andrew, sorridente. - Esse é Bradley Tommas, filho da mulher do meu pai, e a namorada dele, Ashley Hanners. Ash Silicone, Brad Mister Anabolizante, esse é MEU Stuart. - ela tinha que citar os apelidos.
- Prazer em conhecê-lo, Stuart Little. - se era guerra, então eu partia pra luta. Não ia deixar barato o "Mister Anabolizante".
- Ah eu sabia que essa idéia de silicone tinha saído da cabecinha da alienígena. - me cortou Ashley.
- O quê? - Andrew ficou surpresa. Na certa não imaginaria que eu perguntaria a Ashley se ela tinha silicone.
- Brad me per...
- Aaaaa noite está maravilhosa mas... temos que ir, né amor? - cortei, subindo um pouco o tom da minha voz, antes que ela contasse minha proeza no carro.
- Mas já? Nem acabei meu pedaço de bolo. - falou Ashley.
- Pode ficar, He Man, nós não vamos atrapalhar. - respondeu Andrew.
- Uau, que festival de elogios. - disse Stuart, de repente, rindo.
- Vai se acostumando. Daqui uns tempos ela arranja um apelido pra você. - zombei.
- Claro. Brad, não é? Caramba, hoje foi a primeira vez que Andrew me falou seu nome. Seus apelidos eu sei de cor. - riu Stuart ainda mais.
- Estou acostumado com apelidos. Minha mãe me chamava de super graveto quando eu tinha uns 11 anos, porque eu era magrelo e alto, parecia um bicho pau, e brincava fingindo que voava pulando de um sofá pro outro. - comecei a rir também.
- Sério? Minha mãe me chamava de Gordozilla. Sim, eu era gordinho, e destruia a cozinha. - Stuart riu mais ainda.
- Legal! Eu ganhei músculos lá pros 14 anos. Comecei a malhar, jogar basquete...
- Uau, eu jogava basquete no colegial. Mas aí fui pra faculdade, e parei totalmente. - falou Stuart, passando a mão no cabelo.
- Ah, você tá na faculdade. O que você faz? - perguntei.
- Jornalismo. Sempre foi meu sonho...

Eu conversava com Stuart e nem reparei que Andrew e Ashley nos observavam chocadas. Eu não podia evitar. Éramos homens, nós nos entendíamos. O cara era legal e emanava uma energia positiva dele. Homem é assim, simples e direto, do tipo "fui com a tua cara irmão, toca aqui!" ou "você é um porre, ah, firmeza, então não cruza meu caminho". Nunca entendi por que as mulheres são tão competitivas. A vida social é tão fácil. Andrew se aproximou de Stuart e o puxou, me fuzilando com os olhos forçadamente pintados de preto.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo! - Capítulo 11

O sabado correu calmo, porque Andrew ficou no quarto dela o dia todo. O dia teria sido até lindo, se Andrew não tivesse erguido o som no último. Os berros entre o agudo da guitarra para mim eram todos iguais; aquilo não era música - era uma tortura sonora. Lá da garagem, onde eu lavava meu Maverick, conseguia sentir as paredes tremendo por causa do som dela.

Jonathan e Janet estavam em casa. Ele cortava a grama e ela estava na sala lendo. É, ELA ESTAVA LENDO! Eu também me perguntei como ela conseguia ler com aquele rádio da Andrew ligado. Se fosse eu quem estivesse com o som naquela altura, já teria levado uma chinelada na orelha. Mas não, Andrew podia fazer o que quisesse. Minha mãe nunca reclamava, pois se sentia menos dona da casa do que a filhinha do Jhow. Por isso, não abri minha boca.

A noite veio ligeira - claro, o momento de não ser mais solteiro tinha que vir rápido. Eram sete e meia da noite, eu tomei banho, coloquei minha camisa preta e minha calça jeans, peguei a chave do Maverick e fui para a garagem. Abri a porta da garagem com o controle, liguei os faróis que iluminaram um corpo feminino em frente ao carro. Eu gritei:
- AAAAH! Argh! Andrew, você quer morrer atropelada? Sai da frente da porta da garagem, estrupício das trevas! - arfei, assustado com a aparição repentina dela. Será que agora ela conseguia se teletransportar? Estava começando a acreditar em um possível pacto com o diabo.
- Acorda Brad, minha moto também fica na garagem. - falou Andrew, tranquilamente, dando a volta no meu Maverick e montando na halley preta. Ela usava uma jaqueta de couro vermelha em cima da roupa preta, e eu ri baixo me lembrando de Michael Jackson no clipe "Thriller".
- Vai... sair? - perguntei, hesitando um pouco.
- Não! Estou montando na moto para dar voltinhas por cinco minutos no jardim de casa. - resmungou Andrew. Tudo bem, ela era boa nas ironias mesmo.
- www.grosseria.com. É o seu site! - acrescentei, sarcástico, acenando para que ela saísse logo.
- Vou na casa do Stuart. - respondeu Andrew.
- Não perguntei...
- Ah, é! E o que aconteceu com o "vai sair?"? - riu Andrew, imitando minha voz grossa.
- Perguntei por educação naquela hora, agora não quero mais saber. TCHAU! - enfatizei.
- Tchau Bradley Tommas. - despediu-se Andrew, colocando o capacete.
- Tenha uma boa noite com seu ratinho branco. - falei, tentando irritá-la.
- Tenha uma boa noite com sua oxigenada siliconada. - respondeu ela, acelerando a moto e saindo da garagem.

Ei! Ashley não era oxigenada, e também não usava silicone. Quer dizer, eu acho que não. Tudo bem, pensei, colocando meu carro em movimento. Afinal, silicone não era tão mal assim. Era falso, mas devia ser gostoso de pegar também.



Estacionei o carro no meio fio, buzinando duas vezes. Ashley apareceu com um colante preto que deixava sua cintura fina ainda mais acentuada, o cabelo louro claríssimo liso caindo nos ombros. Ela correu até o carro e se sentou no banco do carona.
- E então, onde vamos? - perguntou Ashley, depois de me dar um beijo leve nos lábios.
- Primeiro, vamos até minha casa. - respondi, sério.

Ashley me olhou por um tempo, confusa, depois falou:
- Aaaaah espertinho! Seus pais não estão em casa, não é?
- Não! Não é isso! É que... minha mãe quer te conhecer. - falei, tirando a mão dela que subia sinuosamente pela minha perna direita.
- Me conhecer? Pra que? - perguntou ela, surpresa.
- Ao que parece, temos um namoro sério aqui agora. - confessei.

O rosto de Ashley ficou vermelho. Os olhos dela brilharam, e ela atirou os braços finos em volta do meu pescoço.
- Ah Bradley, eu sabia! Eu sempre soube que você me amava! Namorou todas aquelas barangas só pra me fazer ciume! - arfava Ashley, enquanto me enchia de beijos. Eu segurei os braços dela, firmes, um pouco pasmo.
- Calma Ash! Ei! Vamos tentar, tudo bem.
- Claro meu amor! Liz vai querer se atirar de um precipício! - exultou ela.
- Opa! Sem ciuminhos pra Liz. Não quero que ela me odeie mais ainda...
- Tem razão, dane-se a Liz. Caramba! Eu consegui namorar Bradley Tommas Stanley sério! Isso é demais! Vou ser uma lenda na escola: a única garota que conseguiu por as rédeas no capitão do time de basquete. - deslumbrou-se Ashley.
- Ei ei ei ei ei!!! - intervi, bravo de verdade dessa vez. - Que história é essa de lenda?
- Nada!
- Estou começando a repensar a minha escolha...
- Não, não, Brad. Eu tava brincando... me perdoa, tá? Prometo ser a melhor namorada do mundo.
- Ashley, antes de irmos para minha casa, posso te perguntar uma coisa? - falei, meio hesitante pelo que ia perguntar.
- Claro amor, você pode me perguntar o que quiser.
- Ash... você tem... você tem silicone nos seios? - perguntei, enfim, meio sussurrando.

Ashley arregalou os olhos e escancarou a boca. Ia começar a rir, mas viu qu e eu falava sério. Então revirou os olhos e sorriu.
- Claro que não. Sou menor de idade, não posso por ainda.
- Ah... - foi só o que consegui dizer.
- Por que perguntou isso?
- Nada! - cortei. Ela não insistiu. Suspirou e encostou no banco, enquanto eu arrancava com o carro, me sentindo um babaca por ter levado a sério a acusação falsa de Andrew.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo! - Capítulo 10

- Muito bem! Agora escutem aqui vocês dois... - disse minha mãe - Vocês tem que parar com essa rivalidade, certo! Um invadindo o quarto do outro, onde vamos parar?
- Brad vai parar à sete palmos da terra e eu na prisão, porque se esse boyzinho nojento entrar no meu quarto outra vez eu corto a garganta dele enquanto ele estiver dormindo! - ameaçou Andrew.
- Aaaah, olha aí mãe! A Andrew tá me ameaçando! - eu apelei... ela era psicopata, podia ser uma ameaça verdadeira.
- Andrew! Pare com isso! - ordenou Jonathan. Milagre, ele nunca fazia nada.
- Venham, vamos para a cozinha comer o jantar que a gente trouxe. E depois os dois vão pra cama, ouviram bem? - falou Janet. Lógico que a gente ouviu bem, não somos surdos, e ela havia quase gritado, pensei comigo mesmo.

Na cozinha eu e Andrew comemos quietos, sem olhar um para a cara do outro. O strogonoff estava gostoso, apesar de hoje ter sido o pior dia da minha vida. Comi rápido, com pressa de subir para o meu quarto, e queimei a língua. Corri escada acima e entrei no banheiro. Liguei o chuveiro com o intuito de tomar um banho rápido, mas então lembrei de que Andrew iria querer usar o banheiro, e decidi tomar um banho demorado só para irritá-la.




Acordei pela manhã com o barulho da chuva batendo na minha janela. Maravilha! Odiava chuva. Uma manhã chuvosa era uma excelente forma de começar o segundo pior dia da minha vida. Olhei no rádio-relógio da cômoda ao lado - eram 9 e meia da manhã - cedo demais para se acordar numa manhã de sábado. Me espreguicei e levantei, pois geralmente o barulho da chuva me incomodava, então não conseguiria dormir outra vez.

Desci as escadas lentamente, ainda só com o shorts que usava para dormir. Passei pela sala vazia e entrei na cozinha. Droga! Das três pessoas que moram comigo, por que justamente Andrew teria que estar tomando café? Assim que a vi, revirei os olhos e parti para a geladeira. Ela, assim que me viu, falou a "gentil" frase:
- Ih! Perdi a fome.

Ignorei ela e peguei o leite na geladeira me dirigindo ao armário para pegar a caixa de cereais. Ela insistiu na provocação:
- E então senhor esteróides, gostou do resultado do seu brilhante plano?
- Andrew! - eu me virei para olhá-la face a face, irritado - O pacto de silêncio ainda está de pé, então por favor, PARE DE FALAR COMIGO!
- O pacto foi quebrado e arregaçado ontem. É tarde demais, agora nossas dimensões estão fundidas. - ela respondeu, dando de ombros.
- Você não pode voltar a ignorar minha existência? - implorei.
- Não... sua presença é insuportável demais para ser ignorada.
- Argh! - eu arfei, jogando a tigela no balcão.

Comecei a comer o cereal sem olhar mais para ela, mas senti seu olhar em mim:
- O que você quer, Andrew? - perguntei, àspero.
- Bom... - hesitou um pouco - já que existimos na mesma dimensão agora, estava me perguntando... o que sua mãe achou da listinha?

Eu a fitei com uma expressão azeda. Isso não a abalou - ela continuava a sorrir. Cara de pau! Me ferrou com a minha mãe e ainda queria saber o resultado de sua maldade. Eu forcei um tom de voz bem ríspido.
- Graças a você hoje vou ganhar coleira... satisfeita?
- Na verdade, não... o que isso quer dizer? - ela me fitou, confusa.
- Quer dizer que hoje trarei Ashley Hanners para conhecer minha mãe, e vou apresentá-la como minha namorada!
- Na-na-namorada? Mas por que? - ela perguntou, incrédula.
- Como "por que"? Minha mãe me deu duas opções: ou não saio com Ashley, ou a namoro sério.
- Mas você não gosta dela a ponto de namorá-la. Por que não pulou fora dessa? - perguntou Andrew, ainda pasma.
- Não podia dar o fora na Ashley. Eu ia perder... perder meu status. Ela ia se jogar pro Matt... sabe como as líderes de torcida são. Não posso perder meu posto...
- Então é isso? - interrompeu ela, se levantando da mesa - É tudo uma idiotisse de "território masculino"? Vai assumir compromisso com uma garota que nem gosta pra não perder status?
- É... - eu disse, ficando mais irritado com a atitude dela - ... bem vinda ao mundo dos populares, reclusa!
- Você não é só um babaca nojento musculoso. Você é patético! - falou Andrew, asperadamente, dando a volta na mesa.
- E você é louca mesmo. Se apenas pego a Ashley e depois largo, sou nojento... se namoro ela sério, sou patético. Legal, é bem difícil agradar você, não? - falei sarcasticamente.
- Huh! - rugiu ela, saindo da cozinha.

Eu fiquei olhando para minha tigela de cerais perplexo. Achei que o objetivo de Andrew era me ferrar e que ela tinha conseguido. Afinal, eu agora estava sendo encoleirado. Mas, ao invez de comemorar e sair pulando em cima da mesa da cozinha, ela ficou brava comigo? Brava por eu assumir compromisso segundo os bons costumes, até trazendo Ashley para o consentimento de minha mãe? Bom, ela realmente tinha alguns problemas consigo mesma. Nem quando conseguia acabar com a minha vida, ela se sentia feliz. Enfim, eu não estava nem um pouco preocupado em agradar a "megera indomável versão gótica". Peguei a colher e continuei meu café da manhã.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 9

- Mas... o que... O QUÊ VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO MEU QUARTO??? - gritou Andrew.
- Ah... ah... - por um momento fiquei sem resposta, assustado com o flagra que ela me dera. Respirei fundo, uni as sobrancelhas e sorri maquiavelicamente. - Estou fazendo o mesmo que você fez comigo!

Andrew arregalou os olhos por um instante, mas recuperou a pose superior em um instante. Olhou para mim de um modo debochado.
- Rá, rá! Muito bem Mister Músculos, quanta originalidade. Não vai encontrar nenhuma listinha de ex-namorados colecionados meus. Então VAZA!!! - berrou ela, apontando imperiosamente o dedo para a porta aberta.
- Aaaah não, é? Você tem razão, achei algo bem mais interessante. "Amei ter te conhecido, me liga". Rá! Quando vai apresentar o Stuart pro papai? - falei mais debochado ainda, e fiquei satisfeito com a minha performance.
- Do que está falando? - perguntou Andrew, forçadamente cínica. Cara de pau!
- To falando do Stuart do recadinho aqui olha! - gesticulei com o papelzinho, balançando perto do rosto dela.

Andrew teve uma reação que eu não esperava. Ela sempre agia tão superiormente, nunca com violência física, talvez com certa violência verbal, ela conseguia arrasar com as pessoas com frases formuladas compostas por palavras difícieis. Mas dessa vez ela deixou de lado a diplomacia e a superioridade voando para cima de mim insadecida para pegar o papel da minha mão.

Eu, obviamente mais alto e mais forte, coloquei meu braço direito entre nós e estiquei o braço esquerdo que continha o papel para cima. Ela se repuxava esticando os braços finos com as mãozinhas abertas para alcançar o papel, o dorso colado no meu braço. Eu ia me inclinando para trás, e ela se inclinava mais ainda para cima de mim, o rosto próximo do meu. Conseguia vizualizar as sombracelhas finas e escuras delas unidas de frustração.

Aquela situação não era nada legal. Eu passei um ano inteiro fazendo de conta que Andrew não existia, para agora me deparar com ela no quarto dela lutando por um papelzinho feito duas criancinhas birrentas brigando por um brinquedo. Pensei nisso enquanto ela se retorcia, em como parecíamos dois bocós. Foi então que comecei a rir:
- Tá rindo do que, idiota? - perguntou Andrew, mais frustrada ainda.

Eu não conseguia responder. Não conseguia parar de rir e fiquei meio mole por causa disso. Ela avançou e pegou o papel da minha mão. Parei de rir na hora:
- Ei! Me dê isso! - eu disse, segurando o pulso direito dela e arrancando o papel, empurrando ela para a cama.
- Bradley Tommas, você é maluco! Devolve, isso é meu! - resmungou ela, se levantando.
- Chega dessa palhaçada! Vou descer, esperar o Jonathan chegar e entregar para ele o papel.
- Se fizer isso, Brad, vou te odiar pro resto da vida! - ameaçou ela.
- Olha minha cara de quem tá se lixando pra isso. - respondi, rindo.

Desci as escadas contente com o papel na mão. Sentei no sofá sem prestar atenção no que passava na TV. Ouvi os passinhos curtos de Andrew na escada e o barulho que ela fez ao se jogar emburrada no sofá. Ficamos alí, sem nos falar, por mais ou menos 1 hora até minha mãe e o Jonathan chegarem. Eles nos encontraram alí, sentados sem nos olhar, ela emburrada e eu sorrindo.

- Oi crianças! - disse Janet. Mania maledeta de nos chamar de crianças.
- Oi mãe, oi Jhow... tenho uma coisa pra você. - eu disse, e Andrew bufou.
- Pra mim? - perguntou Jonathan, confuso.
- Sim, pegue. - disse, dando o papel na mão dele.
- "Amei ter te conhecido... me liga ... Stuart" - leu Jonathan, em voz alta.

Quando acabou de ler, Janet e Jonathan me fitaram com os olhos arregalados. Minha mãe escancarou a boca e Jonathan deu duas tocidas.
- Brad... está tentando nos contar que é... gay? - perguntou Janet, me olhando aflita.
- O QUÊ? - eu me assustei.
- Olha Brad, é muita coragem sua nos contar isso. Eu nunca desconfiei mesmo... esse... esse Stuart deve ser um bom rapaz. Devia trazer ele para conhecer sua mãe. - disse Jonathan, tentando ser legal e bancar o compreensivo.
- Era por isso que namorava todas aquelas garotas, Brad... pra esconder esse Stuart? - perguntou Janet, com a voz melancólica.

Foi aí que eu saquei o que eles estavam pensando:

- Ei... EI! Esse recado não é pra mim!!! Eu... EU NÃO SOU GAY, MÃE! Esse recado é da Andrew!!! - eu falei, perplexo pela mente fértil dos dois.
- Aaaaaah!!! - falaram os dois, minha mãe suspirando de alívio.
- O idiota do Brad vasculhou meu quarto! - reclamou Andrew.
- Assim como você vasculhou o meu! - acusei.
- Ei, ei! Vocês dois... parem com isso. Brad, o que quer entregando isso a Jonathan. - falou Janet.
- Avisar a ele que a filhinha dele está namorando... e não queria contar para ele de jeito nenhum. Com certeza ele deve ser um "bom rapaz". - eu disse, ironicamente, gesticulando as aspas com os dedos.
- Não é isso! Stuart é um cara legal, pai. Só que... eu queria que ficasse mais sério antes de te contar. - falou Andrew, timidamente.
- Ah Andrew... eu te entendo amor. - refletiu Jonathan, sempre bonzinho demais. - Não quero que tenha vergonha de me contar as coisas. Olha... quando se sentir pronta, traga o Stuart aqui e eu serei o melhor sogro do mundo pra ele, está bem.
- Eu te amo, pai! - respondeu Andrew, abraçando Jonathan.

Eu revirei os olhos. Droga! Meus planos nunca davam certo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo! - Capítulo 8

Abri a porta bem lentamente, esperando que ela rangesse, mas me esqueci que Andrew não era de verdade um personagem de filme de terror, e que eu não estava entrando na cripta do Conde Dracula. A porta de madeira escura abriu macia, igual a porta do meu quarto. Mas o quarto de Andrew não tinha nada a ver com o meu por dentro.

O meu quarto tinha o carpete cinza claro, a cama de madeira clara coberta com a colcha azul marinho que minha mãe adorava. Embaixo da cama eu guardava umas revistas - de carros e de "assuntos especiais". Tinha um guarda-roupas e um rádio antigo, além das cortinas azul-marinhas como a colcha. Eu tinha um teclado velho que eu nunca tocava, uma prateleira com uns livros que eu nunca lia e um cabideiro com minha mochila pendurada. Na extremidade da prateleira tinha uma caixa de sapato, que eu usava para guardar meus CD's preferidos. O computador perto da janela não era dos melhores, e a internet de provedor grátis também não era lá grande coisa, mas servia para pesquisas de trabalhos escolares e umas enviadas de e-mail. Mas o quarto de Andrew com certeza tinha sido decorado por ela.

Não era arrumado, mas também não poderia chamar aquilo de bagunça. A cama era de ferro pintado de preto, a colcha roxa escura cobria a cama como uma nuvem de púrpura. Não tinha carpete - o chão era taco de madeira. As sombras embaixo da cama davam alusão à alguma caixa que ela guardava alí, e o restante combinava com a pintura da cama. O guarda roupa era de madeira escura, e ela tinha uma escrivaninha interessante, com um notebook fechado - era óbvio que a filhinha do papai teria um computador melhor que o meu. O cabideiro roxo perto da janela de cortinas pretas de renda que lembravam a estrutura de teias de aranha possuia algumas roupas penduradas. Na parede havia alguns posters do Metallica e do Stratovarius... olhando aquele loirinho cabeludo, fiquei pensando em como o cabelo dele lembrava o da Ashley. Medo! O quarto era um culto de bruxaria a Stratovarius, na minha concepção. Os livros espalhados em cima da cama deveriam significar que ela lia muito. Me aproximei para ver sobre o que eram os livros, na esperança de que fosse alguma literatura comprometedora, mas, para minha decepção, eram livros sobre a ciência e o universo. Que lixo! Por que um ser humano normal leria aquilo?

Passei rapidamente para a escrivaninha e abri o notebook. Cliquei na pasta dos arquivos da Andrew, e encontrei outra pasta com fotos. Quando cheguei na 35ª foto, desisti - eram algumas dela com as amigas, outras de um tal de Kotipelto, o mesmo loirinho de madeixas lisas bem femininas que estava no poster da parede. Saí daquele Notebook idiota novinho e abri as gavetinhas da escrivaninha. Uma papelada sem sentido, com desenhos de alienígenas e rabiscos resultantes do tédio. Fechei a gaveta e remechi na pequena agenda do lado do notebook. Da agenda caiu um papel dobrado.

Peguei o papel do chão e desdobrei. O papel era um recadinho. Entre dois corações estava escrito:

"S2 Amei ter te conhecido. S2
me liga
Stuart - 5555-6255"


O quê? Andrew tinha um paquera? Stuart - isso lá é nome de gente. O último Stuart que vi era um ratinho branco falante de um filme. Só um cara com nome assim pra se interessar por Andrew - um cara com nome de ratinho de filme infantil. Olhei no espelho que estava pendurado na parede em cima da escrivaninha. Me deparei com meu rosto estressado, com as sombrancelhas unidas, como se algo tivesse me irritado muito. O recadinho desse "Stuart Little"? Não! Talvez o estresse dessa sexta feira tivesse fechado a minha cara.

Olhei o quarto em volta suspirando. A cripta da Morticia não tinha nada que a deixasse em "mals lençóis". Avistei a sombra embaixo da cama, a caixa fechada que alí havia. Lembrei da gaveta da escrivaninha e cheguei a conclusão que não valia a pena olhar - na certa seriam desenhos de alíenígenas guardados alí também. Olhei para a parede e avistei o poster do Stratovarius. Que gosto horrível que Andrew tinha para homens. Esse Stuart deveria ser um cabeludo metaleiro enviadado que nem esse vocalista. Foi então que eu vi no papelzinho uma chance de me vingar.

Andrew estava de "affer" com um zé-metal. O pai dela não sabia disso. E... se eu contasse pro Jonathan minha descoberta, o que ele acharia? Talvez o senhor Marew, em sua inesgotável calma, nem ligasse - mas Andrew ficaria possessa com meu ato. E esse era todo o objetivo.

Nesse instante, a porta do quarto de Andrew se abriu.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo! - Capítulo 7

Anoiteceu enquanto eu estava deitado na cama do meu quarto escutando meu MP4. As músicas do Guns 'n Roses sempre me acalmavam e me faziam pensar.Eu queria ligar o rádio no canto do quarto no último, mas minha mãe com certeza ia me fazer abaixar o som. Pelo menos meu MP4 ninguém podia controlar. Eram umas 7 da noite dessa pior sexta feira da minha vida. Quando percebi o céu escuro lembrei que estava com fome. Decidi descer para ver o que tinha de bom na cozinha.

Desci a escada que dava para a sala, e lá encontrei Jonathan e Andrew assistindo TV. O som que vinha do televisor era insuportável, uma mistura louca daquelas guitarras enfurecidas que Andrew escutava no quarto dela. Jonathan, sentado no sofá do centro, não parecia prestar atenção na TV - estava todo arrumado e olhava a todo momento no relógio.

- Vai sair, Jhow? - assim que eu o chamava. Eu mesmo dei o apelido, legal né?
- Vou sim, com a sua mãe. Vamos num restaurante maravilhoso perto do Central Park. A nossa reserva está marcada, mas você conhece a Janet... estamos atrasados já. - respondeu Jonathan, risonho e calmo como sempre.
- Claro, bom jantar para vocês, enquanto eu me viro com os restos na cozinha. - falei, melancolicamente forçado.
- Ei! Você não vai sair hoje? - perguntou Jonathan.
- Não estou afim.
- Ah, claro. Vamos trazer algo do restaurante para Andrew... traremos para você também.
- Obrigado.

Jonathan era assim. Nunca me enchia de perguntas como "por que você não vai sair?", "está acontecendo alguma coisa?", sempre cordial e nada inxirido. Antes de eu entrar na cozinha, minha mãe desceu a escada. Essa sim era inxirida.
- Não vai sair hoje, querido? - perguntou ela. Com certeza tinha escutado nossa conversa lá de cima.
- Não, mãe.
- Por que? - ah, eu sabia que ela ia perguntar isso.
- To sem grana. Tenho que levar Ashley pra sair amanhã, então vou economizar hoje. - menti.
- Mas amor, eu dei sua mesada ontem. - Deus, por que me deu uma mãe assim?
- Andrew sempre fica em casa no fim de semana... por que não enche ela de perguntas? - falei, mal humorado.
- Bradley Tommas, veja como fala comigo!
- Ah, então tem algum problema de eu ficar sozinho com a Andrew em casa? - será que era esse o problema? Andrew revirou os olhos quando me ouviu dizer isso, demonstrando que não era este o motivo.
- Não, obviamente. Vocês se odeiam. Tenho certeza que será como se a casa estivesse vazia. É só que... você nunca deixa de sair na sexta. Só achei... estranho.
- Não é nada demais mãe. Só num to pra saidera hoje.
- Vamos Janet, por favor! Já estamos atrasados. - interviu Jonathan. Eu realmente gosto desse cara.
- Tudo bem querido... boa noite. - concluiu minha mãe, cansada de discussões, beijando minha testa.


Enquanto eu finalmente me dirigia para a cozinha, Janet e Jonathan saíam pela porta da sala. Escutando o motor do sedan prata do Jonathan sendo ligado e acelerando, abri a geladeira e peguei o pacote de queijo e o de presunto. Enquanto o som do carro desaparecia na esquina, senti uma sombra atrás de mim. Virei bruscamente e levei um susto com a presença de Andrew, derrubando o queijo e o presunto no chão.
- Adrew! Mas que droga! - esbravajei.
- Bradley Tommas Stanley, eu só vim te dar um aviso! - falou a monstra das trevas.
- Mas o que é que você quer? - eu reclamei, irritado, pegando os pacotes do chão.
- Brad, você nunca fica em casa de sexta feira. Mas, se vai ficar hoje, é bom saber que toda sexta a televisão é só minha. É o único dia que eu tenho para ver meus DVD's, então nem pense em se esparramar por aquele sofá, entendeu? Recado dado! - disse Andrew, virando as costas para sair da cozinha.

Rapidamente, peguei o braço dela e a virei para mim. Ela arregalou os olhos, com uma expressão surpresa.
- Escuta aqui seu projeto de Freddy Krueger, eu não sei o que deu na sua cabeça nesses últimos tempos, mas eu to cansado de você quebrar o nosso pacto de silêncio. É bom sair da minha dimensão e ficar de boa na sua, porque se eu começar a entrar na sua dimensão, você não vai gostar.
- Brad... - respondeu Andrew, se recuperando do susto resultante da minha atitude e retirando o braço da minha mão. - Eu não gosto nenhum pouco de falar com você, mas estes últimos tempos tenho sido obrigada a fazer isso, visto que a sua vidinha ridícula tem lançado reflexos na minha dimensão! - caramba, o papo tá ficando estranho - Pode ficar tranquilo que não interfiro mais na sua vida, desde que você não fique cruzando meu caminho com suas barbaridades!

Fiquei encarando ela enquanto ela falava. Não fazia idéia da expressão no meu rosto, mas eu estava na verdade com vontade de rir de todo aquele papo maluco de dimensão. Quem ouvisse nós dois brigando diria com certeza que éramos dois débeis mentais. Ao acabar de dizer isso, Andrew saiu pela porta da cozinha com passos duros. Eu consegui ouvir alí da cozinha quando ela se jogou com raiva no sofá da sala. Foi então que eu tive a idéia. Minha mãe tinha saído com o Jonathan. Andrew ficaria na sala até umas 3 da manhã. Se eu fosse esperto e bem silencioso, entraria com facilidade no quarto de Andrew e finalmente teria minha vingança. Fiz meu sanduíche as pressas e engoli rapidamente. Passei me espreguiçando pela sala resmungando que iria dormir, para que Andrew ficasse na dela alí no sofá. Subi as escadas e tirei os sapatos em frente ao meu quarto. Virei o corpo e fiquei de frente com a porta do quarto de Andrew Marew. Era agora que a filha do Jason ia me pagar.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 6

- Oi Janet, é com você mesmo que eu quero falar. - disse Andrew, assim que minha mãe entrou na cozinha.
- Ótimo, Andrew! Quer ser ridícula, seeeja! Olha minha cara de preocupado. - resmunguei, olhando para Andrew com as sobrancelhas unidas.
- Brad... está falando com Andrew? Isso é o que eu chamo de progresso. Enfim, não deve ser coisa boa. Vocês dois perto um do outro, ainda por cima se falando. O que aconteceu, meu bem? - perguntou Janet.
- Você por acaso sabe que seu filhinho é o canalha do colégio? - perguntou Andrew, ríspida.
- Ei, Andrew, não fale assim. Eu sei que Brad teve várias namoradas, mas isso não... - Janet tentou me justificar.
- Bom... - cortou Andrew - Brad terminou com uma hoje e já vai sair com outra amanhã. Olha o que eu achei no quarto dele, é uma lista com os nomes das garotas que ele já pegou! Ele precisa de um psiquiatra. - reclamou Andrew.
- Vo-você entrou no meu quarto? - eu disse, querendo voar no pescoço daquela Morticia.
- Ei Brad! Que palhaçada é essa? - disse minha mãe, olhando pra mim batendo o pé com a minha lista na mão.
- Mãe, é uma futilidade da juventude...
- Brad! Você está tratando as mulheres como coisas a colecionar e não como gente. Que tipo de pessoa você está se tornando, meu filho?
- Eu vou deixar vocês conversarem. - disse Andrew, sorridente, saindo da cozinha. Isso ia ter volta, Andrew que me aguarde. Lista idiota! Por que eu a fiz?

- Mãe... - tentei falar - ... eu apenas ainda não encontrei a garota certa.
- Brad, você se lembra do que o seu pai fez comigo? Quer ser igual a ele? Um canalha?
- Ei, eu não engravidei ninguém. E se engravidasse, não fugiria da minha responsabilidade. Não me compare ao meu pai, por favor. - eu reclamei. Odiava meu pai.
- Brad, a partir do momento que você começa a tratar mulheres assim... - disse Janet, chacoalhando a listinha. - ... você perde a sensibilidade e se torna capaz de qualquer coisa.
- Tudo bem, eu não presto... é isso que quer ouvir de mim? Você nunca ligou que eu namorasse, por que isso agora?
- Não, Brad... o problema é que você está passando dos limites. Não dá mais tempo ao tempo. Como diriam os jovens, sai "passando o rodo" sem pensar nas consequências. Fez até lista! ... tudo bem... - respirou ela - Essa garota com quem terminou hoje... não gosta dela?
- Gostei, mas cansei. Acabou a... magia. - magia? Caramba, precisava melhorar meus argumentos.
- E essa com que vai sair amanhã? Gosta dela?

Essa não! Se eu dissesse que ainda não estava apaixonado por Ashley, minha mãe não deixaria eu sair com ela no sábado, ela ia se sentir rejeitada e ia partir pra cima do primeiro que aparecesse, me fazendo perder a fama de garanhão. Talvez ela saísse com Matt. Então todas as outras iam querer Matt também. Não! Ia ter que mentir, tudo graças aquela bruxa extraterrestre. Mas Andrew ia me pagar, ah se ia.

- Sim, eu gosto dela. Gostar é pouco... eu acho que estou... apaixonado por ela. - droga, a palavra "apaixonado" saiu falhada. Eu não gostava de mentir.
- Está falando sério, Bradley Tommas Stanley? - perguntou minha mãe, fitando-me nos olhos, desconfiada.
- Claaaaro. - caramba! Eu estava melhorando nesse esquema de cinismo.
- Tudo bem, saia no sábado com essa tal de...
- Ashley Hanners!
- Ashley... certo. Mas se você largar dela por qualquer besteira, vamos voltar a falar desse assunto mocinho. Não quero um filho cafajeste, ok?
- Tudo bem, mãe. - falei, aliviado.
- Ah, mais uma coisa. - sabia que não ia parar por aí. - Traga essa Ashley aqui. Quero conhecê-la. Já que está apaixonado por ela, deve ser sério.
- Tudo bem... mãe. - respondi, sem fôlego.

Ah que pesadelo! Apresentar Ashley Hanners para minha mãe só poderia significar uma coisa: NAMORO SÉRIO. Ashley ia espalhar para a escola toda que tinha "colocado coleira em mim". As meninas iam zombar de mim por namorar sério uma líder de torcida. Meus amigos iam me chamar de cachorrinho. E o pior de tudo - Andrew Marew ia se sentir vitoriosa. Aquela morta viva noiva cadáver mortícia bruxa de marte tinha conseguido me ferrar dessa vez. Por que raios essa Samara de "O Chamado" tinha que sair da dimensão infeliz dela e vir para a minha dimensão perfeita para destruir minha vida? Chega! Está na hora de eu invadir a dimensão dela.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 5

Liz andava com passos suaves, que não combinavam com o humor desequilibrado que ela deveria estar. Se aproximou da mesa delicadamente, e, olhou de relance para mim, se virando para Freud.
- Oi Freud, lembra aquela música do Epica que você me aconselhou a baixar? - perguntou Liz, docemente.
- Le-le-lembro... - gaguejou Freud.
- Então... eu A-DO-REI! - disse Liz, sorrindo. - Gostaria que passasse lá em casa amanhã para me dar mais uns toques sobre esses tipos de música que não costumo ouvir. O que você acha?
- Liz, você odeia metal, rock e qualquer coisa que tenha guitarra! Mandou Freud pastar quando ele te aconselhou a ouvir Epica. - eu cortei, pasmo demais com o cinismo dela.
- Não estou falando com você! - ela resmungou, curta e grossa - Freud, e então, o que me diz?
- Claro! - respondeu Freud.
- Ótimo, te vejo amanhã! - sorriu Liz, saindo da nossa mesa.

Eu não sabia se ria ou se vomitava. Liz estava apelando. Selena, uma das líderes que eu já tinha saído, também ficou meia magoada quando não liguei em um fim de semana. Ela apelou também, mas não decaiu tanto se jogando pro Freud. Mais esperta, ela partiu pra cima do Matt, mas o máximo que conseguiu, ao invez de me irritar, foi fazer com que eu e Matt ficássemos rindo comparando como ela se saiu no beijo comigo e com ele. Selena ficou possessa, mas depois de duas semanas, voltou a falar comigo. Talvez Liz, depois de uns tombos, também me perdoasse e entendesse minha posição na sociedade escolar.

- Agora você vai perder todas as chances com a Andrew. - falou Jonny, comendo um pão de mel.
- Ei, dei muitas chances à ela. Mas se Liz quer conselhos musicais, não vou negar um bem à humanidade. - respondeu Freud.
- Você é tão pilantra quanto o Matt. Pega meu resto. - murmurei, rindo.
- Amigos são pra essas coisas! - falou Matt, dando tapinhas nas minhas costas.
- Depois de três dias saindo com o Freud, Liz vai querer se matar... ainda mais quando perceber que você não dá a mínima. - refletiu Jonny.
- Bem, vou indo. Tenho um longo fim de semana... com Ashley Hanners! - enfatizei.
- Fala como se fosse um martírio. A loirinha é um sonho. Ela me deu três foras, cara. - reclamou Jonny.
- Quando eu der o fora nela, talvez você tenha uma chace! - zombei.
- Vai pro inferno! Está escrito "Matt" na minha testa? Ex de amigo meu pra mim é homem! - zombou Jonny.
- Ashley Hanners nunca será homem para mim, hehehe! - falou Matt.
- Vou mandar fazer uma plaquinha para você e Freud pendurarem nas costas: "Meninas com desilusões amorosas, consolo grátis!". - brinquei.



Parei meu velho Maverick preto na frente de casa. Não podia guardar na garagem porque a legalzona da Andrew parou a Halley preta bem na frente do portão. Eu podia passar por cima daquela motoca velha numa boa com meu carro, mas aí eu estaria invadindo a dimensão dela, e não queria ter outro raro diálogo com minha não-irmã. Para evitar um encontro desagradável com a alienígena da minha casa, parei o carro alí mesmo, desci e fui para dentro calmamente com o intuito de deixar um bilhete delicado na porta do quarto de Andrew para que ela tirasse a lata velha do caminho.

Fui até a cozinha beber um copo de água. Não tinha almoço pronto, ótimo! Minha mãe tinha se atrasado no trabalho outra vez, então provavelmente comeríamos comida italiana do restaurante furreca da esquina. Escutei uns passos na escada. Seria o Jonathan? Nesse instante o pequeno ser macabro entrou no ambiente, deixando tudo negro.
- Você não vale nada, Bradley Tommas! - Andrew falou meu nome como se fosse um palavrão.
- Epa, epa, epa! Você está quebrando as regras. Alow, eu não existo para você e você não existe para mim. Assim você estraga a paz entre nossas dimensões. - falei, me sentindo um idiota, pois quem escutasse aquilo ia achar que eu era doido.
- É difícil demais ignorar suas sujeiras, Brad.
- Andrew, do que você está falando? - perguntei, ainda me sentindo estranho por conversar com ela.
- Como... como pode terminar com a Liz num dia e sair com a melhor amiga dela no outro? Você sempre foi um canalha nojento, mas nunca fez uma sujeira tão grande!
- Eeeei! O que você tem a ver com a minha vida?
- Eu? Nada! Mas sua mãe vai adorar saber disso!
- Minha mãe sabe que saio com várias garotas.
- Sua mãe não sabe que você muda de namorada como muda de cueca... do dia para a noite!
- Por que está tão preocupada com minha moral? - perguntei, não entendendo aquele ataque.
- Eu tentei conviver com você, mas tenho que assistir diariamente os seus atos asquerosos. Gosto da Janet, e não quero que ela se depare de repente com um filho marginal.
- Andrew, Andrew... não é porque saio com várias meninas que vou me tornar um bandido.
- Começa assim, Brad. Você acha que pode enganar as mulheres, depois acha que pode enganar as autoridades.... eu li sobre isso... é assim que o mau caráter se forma!
- Você é pirada! Volta pra marte!

Nesse instante ouvimos a porta da sala se abrir. Era minha mãe, certeza. Os passos apressados com batidas do saltinho fino no assoalho se aproximavam da cozinha. Andrew olhou para mim com uma expressão maldosa.