segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 18

Os olhos verdes cintilavam, e o corpo frio se aproximava. Antonella estava caída no chão, encurralada num canto. Na escuridão, as mãos se esticavam para lhe tocar. Pensando que era o fim, Antonella cubriu o rosto com as mãos e soluçava. Nesse momento algo estalou.

A cabeça do zumbi rolou, e o corpo estribuchava enquanto esguixava o líquido tóxico. A barra de aço caiu no chão e um suspiro cortou o silêncio:
- Ah, Tomas...
- Acho que cheguei a tempo, né?
- Meu amor!

Antonella correu para os braços de Tomas. Sua saia rosa comprida estava desfiada e seu corpete branco sujo. Tomas também não estava em excelente estado; o líquido tóxico esguichou em sua camisa azul-bebê e na calça social. Ele afagou a cabeça de Antonella, tentando acalmá-la e disse:
- Agora está tudo bem, eu estou aqui. Não vou deixar que nada aconteça com você.
- Mas Tom... Agatha... aquela bruxa disse que a única saída do labirinto dá para o palco, e que se sairmos, ela nos mata!
- Agatha está perversamente ensandecida, mas ainda é Agatha. Sei como lidar com ela. Sei o que ela quer. Se for preciso, pra salvar você, eu darei a ela.
- Não Tom, o que está diz...
- Shhhhhh! Calma, agora temos que nos concentrar em sair desse labirinto.

Tomas pegou a barra de ferro no chão, que brilhava com os espirros do líquido tóxico. Sabia que ainda havia perigos no labirinto, e que ia ser difícil sair inteiro dalí. Os sussurros e ameças continuavam, mas corajosos, Antonella e Tomas seguiram adiante no labirinto, procurando a saída para o palco de Agatha.



A entrada era escura, mas Gerard sabia que não tinha muito tempo se quisesse realmente salvar Tomas e Antonella. A polícia talvez demorasse um pouco, e ele não podia esperar. As mãos trêmulas se arrastavam pela parede, e a faca estava empunhada em uma delas. Ele seguiu pela entrada, observando na escuridão as paredes irregulares, os musgos e os cipós que ligavam o local todo. Com a natureza de cientista, Gerard não pode deixar de comentar para si mesmo:
- Fascinante! A ruína toda está ligada a ela. Agatha tem um poder além do comum nesse lugar. Esse líquido é incrível demais.

Passou por umas pedras, e começou a ouvir uma música. A música lenta era de piano. Música de ballet. Mas naquele cenário, em vez de ser acalmante, era apavorante. Gerard parou e ficou pasmo com o grande saguão que Agatha havia construído entre as ruínas. O palco, bem no meio, com as cortinas vermelhas rasgadas; os outros zumbis como platéia ajoelhados no chão; o piano esfolado no canto do palco e a bela boneca de porcelana branca dos olhos verdes dançava em seu vestido desfiado. Naquele cenário, Agatha era uma bailarina muito mais graciosa do que era quando viva. As trevas lhe davam um toque de anjo-mau, e isso de certa forma era fascinante. A dança foi interrompida por um grito:
- CHEGAAAA!!! - correu Gerard com a faca em punho na direção do palco na tentativa desesperada de destruir Agatha.

Os olhos verdes cintilantes da bailarina se estreitaram:
- Idiota... - foi apenas o que ela sussurrou.

sábado, 29 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 17

O carro de Gerard apontava na esquina vazia que dava caminho à ruínas do teatro Del Bellis. Parou à uma boa distância, avistando o local destruído e completamente sem vida. Suas mãos tremiam, e seu rosto estava suado e pálido. A faca grande e afiada estava no banco do passageiro, e brilhava com a luz escassa da noite fria. O coração de Gerard batia de forma irregular, hora dando coragem, hora o acovardando. Ele queria ir lá, queria ajudar Tomas, queria ajudar Antonella... mas que poder teriam aqueles zumbis? E se matassem os três? Não seria mais inteligente buscar ajuda?

Nesse instante Gerard pegou o celular em seu bolso, e discou para a polícia local:
- Alô, sou Gerard Stewith... estava passando de carro pela rua que dá para às ruínas do teatro Del Bellis e vi umas coisas estranhas.... acho... acho que tem uns jovens aqui bagunçando- mentiu Gerard, tentando atrair a polícia para o local - ... e eu sei que a àrea é de risco, então... fiquei com medo da criançada se machucar...
- Ah esses pivetes, adoram um lugar abandonado. Vamos mandar uma viatura praí!
- Uma só?... bom... é que... são um grupo grande e ... creio que estão... bêbados... é, bêbados. Vão desrespeitar uma viatura só. Mande umas... umas 3 pelo menos...
- Certo, vamos ver quantas estão disponíveis agora. Caso precisemos prender alguns marginalzinhos na delegacia essa noite até o papai e a mamãe vir pagar fiança de manhã. Vá para casa, a polícia cuidará disso!
- Ah, o-obrigado. - disse Gerard desligando o celular.

Nesse momento um grito agudo vinha dos escombros. Gerard ficou paralizado, e de repente uma adrenalina dominou suas veias, que fez o sangue se agitar em pulsar em seu coração. Tomou fôlego, pegou a faca, saiu do carro e andou em direção à ruína do teatro Del Bellis.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 16

Aquilo não podia ter se transformado num filme de terror. Apenas 3 dias atrás Tomas estava em casa, dormindo com Antonella, sua nova esposa, sempre relembrando docemente do aspecto angelical de sua falecida e amada bailarina, tomando seu café, indo trabalhar na empresa, voltando para casa, às vezes assistindo um filme, outras saindo pra descontrair com seu amigo Gerard, aos poucos sua tristeza de perder Agatha tragicamente se amenizando, a dor diminuindo, a conformação aumentando. E agora estava alí, num pesadelo inacreditável. O amor de sua vida havia virado um zumbi diabólico que construiu um labirinto tenebroso para atormentar e matar ele e Antonella. Isso era demais para sua cabeça cansada.

Tomas cambaleou um pouco zonzo encostando-se na parede do labirinto, cheia de folhagens, cipós e musgos. Fechou os olhos com força, e tentou recuperar a sanidade. Tinha que colocar as coisas no lugar. Não seria justo Antonella morrer alí. Ela não deveria fazer parte de seu pesadelo. Tomas já havia feito Antonella sofrer quando escolheu Agatha como esposa há um bom tempo atrás. Depois da morte da bailarina, Antonella finalmente teve a chance de ser feliz, mas Tomas sempre estragava tudo em seus acessos depressivos de saudade e angústia pela falecida esposa. E quando finalmente Tomas parecia uma pessoa sã novamente, seu equilíbrio foi estremecido pela volta de Agatha, zumbi e completamente maluca, e ele machucou Antonella por se permitir ficar feliz por ver a ex-mulher novamente. Não... Antonella suportara muito, e mesmo depois de tanto ser pisada, ela deixou o coração inflamar e se permitiu ficar feliz por um simples "eu te amo" vindo do homem que sempre idolatrou. Ele realmente tinha que tirar Antonella dalí - viva!

Então o empresário deixou seus olhos castanhos correrem pelo lugar. O labirinto era uma obra insana realmente. As paredes irregulares, curvas e mais curvas, escuridão, folhagens... sem contar os sons amedrontantes. Tomas escutava sussurros, que no começo clamavam o nome de Antonella, mas agora chamavam por ele também. Vez por outra acreditava ver pontos verde florescentes passando pela escuridão, mas fechava os olhos e balançava a cabeça - e a escuridão amena voltava.

Se afastou da parede, e pegou um pedaço de aço que havia no chão - provavelmente um pedaço da estrutura do destruído teatro Del Bellis. Começou uma corrida frenética, gritando o nome de Antonella com o aço na mão. Virava as curvas escuras golpeando o ar com o metal, caso houvesse algum ser maquiavélico à sua frente. E os sussurros aumentavam:
- Tomaaaaas.... Antonella.... morte.... fome....
- ANTONELLAAAAAA!!! - apenas gritava Tomas

Até que finalmente ele ouviu um grito agudo e feminino. Só poderia ser Antonella. Era uma mistura de desespero e alívio. Ela ainda estava viva, mas poderia morrer a qualquer momento. Tomas acelerou o passo, seguindo o grito apavorado de Antonella.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 15

O carro de Tomas derrapava pela esquina esfolando os pneus num aperto frenético do freio para parar o carro na estrada molhada. Tomas ainda estava trêmulo ao volante, e quando desligou o motor do carro ouviu um grito agudo vindo das ruínas do teatro Del Bellis. Era Antonella.

Saiu do carro correndo, com os olhos arregalados e o rosto pálido suado. Parou trêmulo em frente aos escombros. Como ele entraria naquelas ruínas? Começou a vasculhar irracionalmente passando à mão pelos pedaços de cimentos e concreto quebrado, quando achou uma pequena entrada para o interior das ruínas enormes.

Era estranho o que havia alí. Não era um monte de escombros quebrados irregulares. Parecia que alguém tinha construído um corredor tenebroso com os pedaços de concreto. Musgos cresciam em todo canto, e longos cipós envolviam todas as paredes. Havia uma ligação estranha em todo aquele local. Em meio à escuridão, pontos florescentes esverdiados brilhavam - era restos de líquido tóxico.

A comprida entrada deu diretamente para o palco, onde Agatha dançava. Tomas passou como um robô por entre todos aqueles zumbis que a fitavam. Cipós envolviam os pés da bailarina, ligando ela à todo local. Tomas andava em direção ao palco, quando Agatha parou e o fitou:
- Já era tempo. Bem vindo meu amor. - expressou a bailarina.
- Onde.. está.. Antonella?
- Quem?
- ANTONELLA!!! - gritou Tomas, transtornado.
- Ela não é mais problema.
- O que fez com ela?

E um grito agudo outra vez tomou os ouvidos dos seres naquele lugar. Ele vinha debaixo do chão. Era Antonella correndo ainda no labirinto.
- Você a enterrou?
- A por favor, sou mais criativa que isso.
- O grito... vem debaixo do solo...
- Coloquei Antonella pra brincar com meus pupilos. Logo ela vai virar bigato!
- NÃO! - Tomas se ajoelhou no chão e começou a cavar com as mãos. - Vou te tirar daí Antonella!
- Levante-se Tom, você... você está maluco. - olhou indignada Agatha.

Ele não ouviu. Cavava obstinadamente gritando o nome de Antonella. Um cipó circulou os pulsos de Tomas, e outro circulou seu abdômen. Agatha o pôs de pé:
- Tom... você ama essa... idiota?
- Eu não posso deixar que ela morra assim Agui... não por minha causa...
- Achei que se ela morresse você ainda me amaria.
- Eu amo sua lembrança Agui... amo minha bailarina das bochechas avermelhadas, olhos azuis e vestido branco... você está morta, e é um monstro agora!

Então Agatha o jogou no chão, histérica. O chão começou a se abrir debaixo de Tomas, que olhava paralisado.
- DE UM JEITO OU DE OUTRO, VOCÊ E ELA VÃO MORRER! E DEPOIS DA MORTE, VOCÊ VAI ABRIR SEUS OLHOS E VAI SER IGUAL A MIM! E ENTÃO VAI ME AMAR OUTRA VEZ!!! - gritou Agatha, enquanto Tomas caía.

Tomas levantou, o braço dolorido pela queda. Olhou pra cima, e o chão se fechava debaixo do ódio de Agatha. Um grito ecoava das curvas escuras. Tomas estava no labirinto.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 14

Antonella tropeçava, levantava e gemia em meio às lágrimas de desespero. A cada passo que dava, a escuridão aumentava. Ela ouvia ruídos, unhas arrando as paredes e passos atrás de si. E tinha uma estranha sensação de que se perdia cada vez mais no labirinto.

Foi nesse momento que a loira ouviu um sussurro:
- Antonellaaaa... - a voz dizia tenebrosamente.

Antonella não sabia de onde vinha a voz tremida e sussurrada, mas o pânico crescia em seu coração. Sabia que se encontrasse o dono da voz, talvez não ficasse viva para contar história. O pânico cresceu tanto que agitou involuntariamente os passos de Antonella. Ela passou a correr e virava cada curva sem pensar onde isso daria. Ao mesmo instantes, perguntas atormentavam sua mente. De que adiantaria correr? Ela ia morrer de qualquer jeito, não ia? Não importava. A adrenalina no sangue de Antonella implorava que ela não perdesse as esperanças. Ela precisava continuar a correr. Nem que isso só servisse para adiar sua morte o máximo possível.

Não importava o quanto Antonella corresse, a voz sussurrada ficava mais próxima, e agora o chamado de seu nome acompanhava uma risada maldosa.
-Antonella... HAHAHAHAHA!!!

A loira, desesperada, deu um grito agudo e correu mais rápido, olhando para a escuridão atrás de si. De repente, ela trombou em algo. Algo duro e frio, mas ameno demais para ser uma parede. Caída no chão, Antonella fitava a causa de sua queda com os lábios tremendo, tentando caracterizar a figura à sua frente. E o ser frio abriu um par de olhos verdes cintilantes e um sorriso grotesco:
-Achei você! - exclamou o zumbi


E a criatura branca como gesso esticou o braço com a mão aberta e unhas compridas em direção de Antonella, caída ao chão. Em um grito desesperado, Antonella rolou, pois-se de pé e correu pelo Labirinto. A voz continuou sussurrando, não apenas o nome de Antonella, mas também ameaças:
- Não vai conseguir fugir Antonella... o labirinto está cheio de zumbis... e estamos com fome... Antonella...

Fome? Então essa seria a morte de Antonella? Jantar de Zumbi? As ameaças turvavam a mente da loira em pânico. Antonella estava ofegante, e já não sabia mais para onde correr. No meio da escuridão ela via vultos passando, levava arranhões enquanto corria, e até mesmo as paredes pareciam se mover. Então Antonella tropeçou e caiu no chão exausta. E as sombras do labirinto começaram a se aproximar dela, em risos maquiavélicos e suspiros de satisfação. Uma gota do suor de Antonella caiu desde a sua testa, passando por seus olhos arregalados e atingiu o chão.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 13

O carro estava no limite de velocidade. Tomas tremia ao volante. Era 1 e meia da madrugada, e a noite estava fria, nebulosa e sem estrelas. Típico de uma madrugada de segunda feira, as ruas estavam desertas e escuras. A rua lisa e molhada depois de uma tarde chuvosa comprometia os pneus do carro de Tomas, que derrapavam. Mas ele, em seu desespero, não se importava - apenas queria chegar ao teatro Del Bellis antes que Agatha ferisse Antonella.


Gerard ficou em sua casa, quebrando a cabeça pensando em uma forma de derrotar Agatha. Não poderia avisar a polícia sobre os zumbis - talvez nem ao menos acreditassem nele. Tinha que ser objetivo. Talvez analisando o líquido tóxico novamente acharia alguma fraqueza. Foi quando olhou para a gaiola do rato zumbi que ele havia criado experimentalmente:
- Oh ... meu ... Deeeus! - exclamou o cientista, com uma mistura de ironia e espanto.

Aproximou-se da gaiola para olhar melhor. Sim, o ratinho dos olhos verdes cintilantes estava flutuando na gaiola e os pedacinhos de papel no chão dela flutuavam em volta dele. Era como se o pequeno zumbi-roedor tivesse poderes sobre a gaiolinha onde havia sido transformado. Foi nesse instante que Gerard ligou os pontos:
- O rato... poder... o líquido. Oh! - pegou a câmera em cima da pequena mesinha ao lado do sofá e se posicionou para gravar. - Experiência 995, Líquido Tóxico Teatro Del Bellis Parte 5. Hoje foi detectada mais uma anomalia na cobaia de número 1. Além dos já considerados olhos cintilantes, pele fria e respiração agitada, hoje a cobaia apresentou certa influência sobre o espaço onde foi transformada em zumbi. A cobaia controla os pequenos adereços da gaiola, como podem ver na imagem... mas o que? - parou de repente.

O pequeno estava mordendo sua patinha e depois começou a arranhar o pescoço com as unhas compridas que possuía.
- Droga! Não faça isso cobaia idiota... - e o cientista correu em direção ao ratinho, abrindo apressadamente a gaiola. Mas quando abriu, parou - Que tipo de reação é essa? Não seria nada científico e profissional impedir o rato de se coçar... mas é que parece que ele quer se machucar... Oh! Droga!

E realmente o objetivo do ratinho-zumbi era se machucar. Ele arranhou o pescoço com força até cortar a àrea da jugular. Então começou a jorrar o líquido tóxico que preenchia as veias finas do roedor. Em intantes, ele expirou e morreu. Gerard observava pasmo. Então olhou pra câmera em cima da mesa maior e passou a dizer:
- Hora da morte 1 e 45 da madrugada... causa da morte: suicídio e insanidade ... cobaia número 1... resumo da experiência: fracasso... - então o olhar do cientista se iluminou - fracasso... ou não! Claro. Isso indica que os zumbis são mortais. Para acabar com eles, temos que fazer o líquido de suas veias jorrar para fora do corpo. Mas o que fez esse rato maluco se matar? Não sei...

Gerard correu para a cozinha e pegou a maior faca que tinha. Se esquecendo da experiência, pegou seu carro e saiu cantando os pneus.
-É... posso salvar meu amigo Tomas e a coitada da Antonella. Como eu imaginei, o líquido tornou Agatha um ser mal e insano. Ela terá que morrer... espero que Tomas supere quando eu cortar a jugular dela... e espero também que Tom me permita estudar o corpo zumbi da ex mulher dele... hahahaha isso soa tão insanamente... mas não importa... o principal é salva-los.

E o carro virou a esquina à caminho do teatro Del Bellis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 12

Antonella abriu os olhos, mas ainda estava zonza e sua visão estava embaçada. Estava deitada sobre um chão poeirento e frio. O ar era pesado, fazendo Antonella tossir. Então a loira levantou a cabeça e viu turvamente à sua frente um palco, e nele uma figura singular na ponta dos pés, parada, olhando para ela:
- Bem vinda ao meu mais novo e humilde lar Antonella. - disse uma voz familiar que vinha da pequena figura no palco.
- On-on-onde eu .... onde eu estou? - perguntou Antonella zonza levantando o corpo do chão.
- Nas ruínas do teatro Del Bellis.
- Agatha!
- Sim... ou o que restou de mim... - disse Agatha descendo do palco.
- Eu não tenho medo de você!
- Bom, deveria ter. - e um cipó largo rasgou o chão debaixo de Antonella e prendeu-lhe a garganta - aqui, minha Amiga, eu sou cada pedaço dessas ruínas, tudo o que está a sua volta, eu sou o chão, as paredes, os musgos... e você é apenas uma mortal.
- Vo-vo-cê es-tá me-me-me sufo-caaando! - exclamou Antonella desesperada.
- HAHAHAHA. Agora você entendeu. - e Agatha largou Antonella no chão - Você casou com o meu marido, está morando na minha casa, vivendo a MINHA VIDA!!!
- Sua vida? Você morreu. Tomas tinha que reconstruir a vida dele. Você não ama ele? Deveria desejar que ele fosse... feliz...
- Ah sim, claro. Desejaria de alma que Tomas fosse feliz com você... SE EU AINDA ESTIVESSE MORTA! Mas estou viva Antonella, VIVA! E vou pegar de volta o que é meu!
- Você ainda está morta. É um zumbi, uma aberração. Acha que Tomas vai querer você assim? É questão de tempo as autoridades descobrirem que os mortos do acidente Del Bellis viraram zumbis... e então os militares vão acabar com vocês!
- Já chega, não suporto mais ouvir essa sua voz ridiculamente desafinada. Tenho que me preparar, Tom está vindo pra cá...
- Tomas, ele ... ele vem me salvar!
- E eu tenho uma surpresa pra ele.
- O que vai fazer com Tom?
- Não o mesmo que farei com você! Boa sorte lá no labirinto. Cuidado com o chão e as paredes, e não confie nos musgos. Desejo uma morte violenta e assustadora. Quem sabe você consiga encontrar o caminho para o palco. Caso contrário, adeus Antonella!

E o chão se abriu debaixo de Antonella. Ela caiu alguns metros e o chão se fechou acima dela. Desnorteada, a loira se levantou, olhando em volta de si. E então se deparou com curvas e sombras - ela estava num labirinto debaixo das ruínas do teatro. Talvez Agatha, estranhamente ligada à todo local através daqueles cipós, tivesse preparado aquele labirinto para aterrorizar Antonella antes de matá-la. Que mente psicótica a bailarina possuía agora!

domingo, 23 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 11

A noite sem estrelas engolia o céu. Estava tudo escuro na casa de Antonella e Tomas. Ela estava sozinha na sala tomando um chá esperando Tomas voltar. A televisão ligada pra ninguém assistir, pois Antonella mal prestava a atenção. O vento batia na janela sem piedade, mas nada importava aquela noite. Apesar da real situação Antonella estava feliz. Tomas dissera finalmente que a amava.

De repente, num estalo, a caneca de chá caiu ao chão e se quebrou. Um grito abafado debaixo de uma mão fria que a tentava calar. Os zumbis pegaram Antonella e a levaram dalí.


TOC, TOC, TOC!!! A batida frenética só podia ser Tomas. Gerard abriu aporta com um sorriso malicioso no rosto. Tomas entrou ansioso, e se sentou na sala entre os tubos de ensaio jogados. E Gerard pois-se a explicar:
-Caramba Tomas, você não imagina que líquido é esse... do que ele é capaz...
-Se você parar de rodeios e me falar, eu vou saber!
-Calma. Escute... eu não sei que tipo de experiências os militares estavam fazendo com esse líquido, mas ele possui propriedades regeneratórias. Bom, por exemplo. Pra um ser vivo, ele é totalmente tóxico, podendo causar cegueira, paralisia e outros males. Mas em um corpo morto ele age nas poucas células vivas que restam, ressucitando as mortas. Talvez estivessem tentando achar realmente a cura pra morte cerebral. Cura pras pessoas que vegetam. Eu fiz experiência com dois ratos. Um vivo, e um recém morto, que eu matei hehehe. Bom, no vivo o líquido agiu como veneno, deixou ele cego e fraco, mas o morto reviveu.
- Então Agatha está viva mesmo?
- Não, não exatamente. O líquido não tem um efeito perfeito. Ele tem suas sequelas. O rato morto reviveu, mas seu sangue foi extinto do corpo e substituído pelo líquido. E ele enlouqueceu. É como se tivesse um colapso de personalidade. Ele... ele se mordia.
- Está dizendo que Agatha pode ficar louca?
- Bom, o ser humano é muito mais... bom... creio que Agatha não vai se morder.. hehehe. Ela é racional. Mas ela pode ter uma crise de personalidade e... se tornar uma... Escute Tomas, o ódio, o amor, as emoções nela são muito mais fortes do que num ser humano normal. Ela pode ser movida facilmente pelas emoções e agir sem pensar. Ela pode ser um perigo. Uma assassina.
- Ela não me mataria...
- A você não... mas e Antonella?
- Antonella! Eu a deixei sozinha... em casa!
- Droga Tomas, ligue lá, mande-a vir pra cá agora mesmo.

Tomas pegou o telefone e discou e nervoso para sua casa. O telefone tocou três vezes, e alguém o atendeu. Ninguém do outro lado da linha respondia, apenas uma respiração agitada soava.
-QUEM É??? ANTONELLA É VOCÊ???- gritava Tomas no telefone.
-... Antonella não pode atender agora... - respondeu uma voz suave
- Oh não! O que fizeram com ela... onde ela está?
- Relaxe Tomas... Antonella foi visitar Agatha. Suas duas esposas precisam ter uma conversinha. Talvez queira se juntar a essa reunião familiar. Sabe onde encontrá-las meu caro. Boa noite. - e a voz do outro lado da linha cessou.

Tomas olhou desesperado para Gerard. Agatha era um ser completamente movido pelas emoções. E nesse momento, ela era apenas ódio. E o objeto de sua raiva, Antonella, agora estava em suas mãos. O que eles poderiam fazer?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 10

-Alô! Gerard... Agui... ela estava aqui!!!
-Calma Tomas. Você falou com ela?
-Falei, e ela está muito esquisita. Não sei explicar... eu falei pra ela que não podíamos ficar juntos e ela ficou muito irritada.
-É um pouco óbvio que vocês não podem ficar juntos. Mas você não devia ter espantado ela de novo. Eu andei pesquisando sobre aquele líquido. Descobri muitas coisas. Tem como vir aqui?
-Claro amigão! Já to indo praí.

E Tomas desligou o telefone quando a porta se abriu. Antonella chegou com o rosto cansado e olhou o marido com uma expressão vazia:
-E então, acabou essa palhaçada de correr atrás da morta?
-Antonella, você sabe que eu preciso resolver essa história... senão Agatha vai nos assombrar pra sempre. Ela esteve aqui agora a pouco outra vez.
-Aquela morta aqui de novo? AAAAAAH TOMAS, eu cansei.... cansei de tentar reconstruir seu coração. Três anos de trabalho àrduo. Fiquei do seu lado porque te amo, suportando você suspirar o nome dela pela casa. E quando você parece estar melhor ela vira zumbi. Isso é demais pra mim... cheg... - e Tomas tocou o lábio de Antonella delicadamente.
-Antonella. Eu sei tudo o que você fez por mim. E sei que Agatha está morta, apesar de estar aparentemente viva. Eu preciso resolver essa história, porque ela é metade do meu coração. Antes ela era meu coração por inteiro, mas quando ela morreu, metade dele foi entregue pra você. Eu... eu amo você!
-Ama? Você nunca... Tom... acredita que nunca disse isso pra mim antes?
-Eu sei. Eu estava morto junto com Agui, e agora voltei a viver com ela. Mas precisa encarar a realidade como ela é. Me dói te magoar. Por isso, me deixe ir...
-Tom... - disse Antonella quase chorando - vai lá... e depois volta pra mim tá?
-Ok!

Tomas saiu pela porta e pegou o carro. Dirigiu até a casa de Gerard apressadamente. O que ele dissera a Antonella era verdade. Seu coração se encontrava cortado ao meio pela espada do passado e presente, onde metade pertencia dolorosamente à Agatha, da qual a morte dominava, e à outra pertencia a Antonella, que a vida enchia de formosura.

Agatha chegou às ruínas de Del Bellis. Entro em passos furiosos, enquanto os cipós dominavam suas pernas e braços, a ligando novamente aos escombros. Agatha se dirigiu ao palco, com a respiração agitada, os olhos faíscavam enfurecidos, e as ruínas tremiam junto com a fúria da bailarina. Os outros zumbis a fitavam, assustados com o poder que ela tinha alí. Então Agatha finalmente pois-se a falar:
-Ele... ele ama aquela loira maldita!

Andrew, o melhor amigo de Agatha, era o único que sabia que ela falava de Antonella. Se aproximou do palco e falou:
-Três anos é um bom tempo pra se deixar o passado para trás...
-PASSADO??? É ISSO QUE NOSSO AMOR É??? PASSADO???... Quando Julieta acordou do sono da morte fingida e deu-se com Romeu morto ao seu lado, ela não chorou e saiu dalí procurando outro amor. EU NUNCA FARIA ISSO SE ESTIVESSE NO LUGAR DE TOMAS!!!
-Calma Agui, você vai derrubar as poucas paredes que ainda estão de pé aqui.
-Andrew... eu quero... eu quero Antonella aqui...
-O quê? Agui, não... isso é...
-Isso é uma ordem. Eu quero aquela traidora safada em minhas mãos. NESSE LUGAR ONDE EU POSSO FAZÊ-LA SOFRER SOB MEU PODER!
-Agatha...
-E tem mais. Tomas virá atrás dela. E eu vou acabar com os dois. Roubar deles a vida que me foi roubada. Antonella, eu descartarei do meu baralho como a carta 8,9 e 10 do Truco. Mas a Tomas, mergulharemos no líquido tóxico, e não importa o quanto demore... ele acordará e será como EU!

Andrew olhou contristado para Agatha. Mas sabia que não podia fazer nada. Teria que obedecer. Olhou para os outros zumbis, e eles saíram pelas ruínas, caminho à casa de Antonella. O pesadelo do palco de Agatha estava para começar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 9

O sol raiava e o dia rasgava a noite desde o horizonte. A neblina desaparecia, e a cidade começava a ter movimento. Carros pelas ruas e pessoas pelas calçadas. Tomas deixou Gerard em sua casa, e se direcionou para a sua, onde Antonella esperava, irritada:
-Isso são horas senhor Tomas?
-Calma Antonella, nós fomos atrás de uma causa import...
-IMPORTANTE? Aquela zumbi? Ela não vai mais voltar Tom, ela viu que você reconstruiu a sua vida! Agora me diga, você durmiu pouquissimo essa noite, como vai trabalhar com essas olheiras enormes?
-Sou o chefe esqueceu. O dono daquela empresa. E não pretendo ir trabalhar hoje.
-E vai ficar fazendo o que em casa?
-Vou ficar do lado do telefone esperando Gerard ligar.
-CHEGA TOMAS... eu... eu vou trabalhar...
-Antonella... - disse Tomas segurando o braço da esposa - calma... não fica magoada comigo. Vai com calma tá bem? Agatha agora é um mistério que eu preciso resolver. Entenda por favor.
-Eu não entendo droga nenhuma! E não pretendo vir almoçar em casa hoje. Não quero chegar aqui e te ver pendurado no telefone esperando por notícias daquela morta. Tchau Tomas!

E Antonella saiu pela porta com passos duros, magoada com a situação. Tomas sentía-se culpado pela esposa, mas não podia conter a ansiedade por saber notícias de Agatha. Foi à cozinha, fez um café forte, e sentou-se ao lado do telefone. O dia corria, e Tomas permanecia alí sentado, fitando o telefone e o retrato de casamento dele e de Agatha, resistindo à tentação de correr à casa de Gerard pra saber de notícias.

Então o sol começou a cair, e a escuridão da noite comia todo o azulado do céu em tons gradientes de amarelo avermelhado, azul escuro e enfim o preto. Eram quase 7 horas da noite e nem Antonella havia voltado para casa e nem Gerard havia ligado. Tom continuava no mesmo sofá ansioso. De repente uma mão fria e branca como giz tocou-lhe o ombro esquerdo. Num susto, Tomas se levantou, e se deparou com sua falecida esposa de pé na sua sala, coberta metade de sua face pela escuridão da hora. E a morte, cruel em separá-lo dela, dominou as cores do rosto de Agatha, assim como o liquido verde dominara o azul de seus olhos, mas não teve poder algum sobre os traços perfeitos do rosto de menina. A roupa de bailarina, estragada pelo tempo e pelos escombros, não estragava a feição angelical de Agatha. Era uma boneca de porcelana perfeita, com olhos florescentes. Um sorriso surgia nos lábios da pequena, quando Tomas sussurrou:
-Agatha...
-Tomas... oh Tomas!

Por um instante, Tomas esqueceu-se da morte trágica, dos 3 anos de dor e angústia, do casamento com Antonella, do líquido tóxico... nada importava. E ele abriu os braços e recebeu o corpo frio de Agatha num abraço de saudade incontrolável. Agatha tinha no rosto uma expressão de emoção, mas não derramava uma lágrima sequer porque não havia em si lágrimas. Mas Tomas, ainda humano, chorou sobre o cabelo negro da mulher que tanto amou:
-Você não imagina a falta que me fez... desde o acidente, eu perdi metade do meu coração. Ele foi arrancado de mim, rasgado... e sangrou todo esse tempo esperando um dia apenas de alívio meu amor... - suspirou Tomas em meio às lágrimas.
-Tom, eu estou tão perdida. Só me lembro de estar dançando, e de um barulho estrondoso, e então algo caiu sobre mim e me dominou uma dor forte. E quando eu consegui me levantar e abrir os olhos, já não era mais eu mesma.
-Você ficou morta por 3 anos Agui.
-Agora eu sei. Mas eu voltei Tomas, estou aqui... por você!

De repente, Tomas se lembrou da real situação. Agatha era um zumbi graças à um líquido tóxico. Na verdade não era mais sua esposa. Ela deixou de existir no dia do acidente. Agora uma ação contrária a natureza a trouxera de volta, mas aquilo não era certo. Que tipo de vida teria Agatha? Que tipo de vida ela era? E como ficaria Antonella.

-Agatha ...- disse Tomas afastando o rosto de Agatha de seu peito - você não imagina o quanto eu e amei e ainda te amo. Você sempre foi a minha vida. E eu morri junto com você naquele dia. Mas hoje você não é o que era. Não podemos... Agui... eu casei com Antonella... e...
-Está dizendo que não me quer porque está com Antonella agora? - respondeu asperadamente Agatha - Eu achei que fosse única pra você. Achei que nem a morte teria poder sobre o nosso amor!
-Agui você não entende que...
-Não Tomas, não entendo nada! Mas as coisas não vão ficar assim. - e Agatha empurrou Tomas - Você é meu Tomas... pela eternidade. Eu volto!

E Agatha correu para a janela e saiu pelas sombras da rua escura. O que Agatha tinha em mente? E o que ela quisera dizer com "você é meu Tomas... pela eternidade... eu volto!"? Tomas ficou atordoado e correu ao telefone.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 8

A criatura de olhos verdes cintilantes se aproximou do palco. Fitou Agatha por um instante, que parou de dançar. Então a morta-viva pois-se a dizer:
- Agui, ele estava aqui!
- Tomas?
- Sim, com um outro rapaz de óculos.
- Deve ser Gerard, um amigo dele cientista. Eles estavam me procurando?
- Não exatamente. O carinha de óculos pegou uma amostra do líquido florescente e foram embora.
- Será que estão tentando descobrir o que aconteceu conosco?
- Provavelmente. Estavamos mortos e agora voltamos à vida. Mas que vida somos, se nossos corpos são estranhos e frios?

Agatha desceu do palco e segurou as mãos da moça que falava com ela. O nome dela era Jeena, e ela tinha cabelos escuros longos e um rostinho delicado, e seu vestido envelhecido e rasgado era um Tutu-romântico desfiado.Ela era a mais novata entre os dançarinos do teatro:
- Acalme-se Jeena. Ainda somos humanos. Pensamos, falamos, andamos... e temos sentimentos.
- Mas não comemos, não bebemos e em nossas veias não há sangue.
- Mas nossos corações ainda batem. Ainda posso ouvi-lo pulsar.
- Agui, nossos corações pulsam esse líquido verde. Prefiria estar morta do que ser esse zumbi!
- Preciso ver Tomas...
- Pra que Agui... você é uma aberração agora. Acha que ele vai querer você?
- Ele me ama e eu estou viva. É o bastante!
- Isso é contra as leis da natureza. Você é um zumbi agora.
- Chega Jeena!

E um grande cipó circulou o pescoço de Jeena. De repente, o cipó raspou o pescoço da moça, que abriu uma fenda, de onde vazava o líquido verde. Ele escorreu, e Jeena caiu ao chão ofegante. Agatha ficou desesperada e correu para socorrê-la:
- Oh meu Deus! Jeena me perdoe... eu ainda não me acostumei com o controle que tenho sobre tudo aqui. Eu não quis te machucar, não tive a intenção... Jeena fale comigo!
- Shiiiiu... - disse Jeena bem baixinho, quase sussurrando - isso... isso é bom... nós somos mortais... esta é a lei da vida. Estou morrendo Agui, cumprindo minha sentença que deveria ser paga no dia do acidente. E agora sim estou em paz...

E num último suspiro, o líquido florescente abandonou o corpo de Jeena, e seu rosto branco cor de giz se tornou sereno. E Jeena, sem vida, parecia uma boneca de porcelana. Agatha se levantou, e os cipós envolveram o corpo de Jeena, puxando-a para debaixo do chão. E a folhagem cobriu o corpo da pequena para sempre.

Todos os outros mortos-vivos fitavam Agatha assustados. Por que ela podia controlar tudo e eles não? Por que ela tinha esse poder alí, naquelas ruínas?

Andrew se aproximou de Agatha:
- Minha amiga Agatha. Você é a única que tem poder sobre todos aqui. Apesar de sermos aberrações agora, não queremos morrer... de novo. Mas também não sabemos que tipo de vida teremos agora. Enfim, faremos o que você quiser.
- Só quero ver Tom, nem que seja só pra saber o que ele pensa de mim agora.
- E quer que o tragamos para cá.
- Não! Não quero assustá-lo. Eu vou atrás dele. Vocês esperem aqui. Dependendo de como tudo ocorrer, tenho planos pra vocês.

E Agatha se direcionou para sair das ruínas, enquanto os cipós destavam dos seus pés e se desligavam de seu corpo. E o restante, amendrontados e obedientes, sentaram diante do grande palco esperando o retorno de Agatha.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 7

Uma neblina expessa circulava o local do acidente. O silêncio lamentava as mortes, e o vento quebrava o luto com seu sopro gelado. A chuva cessara naquela madrugada.

Tomas e Gerard desceram do carro. Andaram e se aproximaram das faixas amarelas que isolavam o local. Passaram por debaixo dela cuidadosos:
-E ae Tomas, tá vendo algum zumbi?
-Não, nem sinal de vida por aqui. Olha, debaixo daquelas pedras, algo florescente.
-É o líquido, vou pegar uma amostra.

E Gerard se aproximou das pequenas pedras e do líquido verde que vazava por debaixo delas. Abriu sua pequena bolsa e dela tirou um tubo fino. Pegou um pequeno pincel e passou sobre o líquido. Depois o guardou dentro do tubo, quando Tomas sussurrou:
-Não se mecha agora Gerard...
-O-o-o-o que é Tomas? - disse Gerard tremendo
-Olha, na sua frente, à pouca distância de você...

E Gerard levantou vagarosamente a cabeça. Então viu ao longe dois olhos verdes brilhantes e um cabelo escuro esvoassante oculto pela neblina. Impressionado, o cientista se levantou devagar, fitando a criatura diante de si, que também o observava.
-E-e-ei... Agatha? - perguntou Gerard, mas a criatura não respondeu.

Quando ficou de pé, num estalo o ser de olhos florescentes sumiu. Era como se descesse para dentro dos escombros. Gerard tremia inteiro, mas quando olhou para Tomas, viu que o amigo estava prestes a gritar e correr atrás da criatura que eles achavam ser Agatha. O cientista correu para segurá-lo:
-Tomas!! Tomas!! Vamos sair logo daqui! Esse lugar está infestado de mortos vivos. Não sabemos do que eles são capazes. E se comerem gente que nem nos filmes?
-Não seja ridículo Gerard... é Agui!
-Tomas, não seja estúpido. Além disso tem a radioatividade que pode nos fazer mal. Deixe-me estudar isso antes, e então voltamos, eu prometo.
-Você a viu Gerard? Viu? Era ela... está viva!
-Sim, eu vi, eu vi... vamos sair daqui Tomas.
-Está ouvindo isso... parece... parece música!
-Tomas, agora... vamos embora!

Puxando Tomas para o carro, Gerard arrancou e saíram as pressas do local. Entre os escombros, os olhos ainda cintilavam. E a criatura desceu novamente para dentro das ruínas. Embora lembrasse, não era Agatha.

Ela seguiu por um tipo de labirinto por dentro das ruínas. Era incrível como o local do acidente era grande e profundo. O grande teatro Del Bellis era agora um enorme e perigoso labirinto. Adentrando a parte mais profunda, a criatura chegou ao palco, que embora estivesse com as tábuas fora do lugar, parecia reconcertado por alguém. Nele, uma criatura branca como giz, com o vestido Tutu-Bandeija vermelho e preto dançava, tão graciosamente como se fosse uma bailarina viva. E em volta dela muitas outras criaturas mantinham os olhos verdes cintilantes fitando a bela dançarina da morte. A música que a bailarina-zumbi dançava vinha da vitrola semi-destruída que ficava no canto do palco. A vitrola tocava uma música triste de piano, como uma música fúnebre. E a bela bailarina de giz rodopiava mortalmente pelo palco de madeira, cujas cortinas amarradas com leves desfiados davam um ar de trevas.

Agatha dançava, tentando esquecer o que viu em sua própria casa. Em volta de si estavam seus fiéis companheiros de ballet, agora, pós morte, fiéis súditos da mais divina morta-viva. Suas pernas que transpareciam a palidez de sua pele entre a meia calça negra desfiada estava envolvida por um longo cipó, como galhos verdes de musgos. Eles subiam pelas pernas e envolviam os braços da dançarina. E os galhos jaziam desde as extremidades do palco e circulavam todo a estrutura das ruínas. Era como se todo o lugar estivesse ligado à Agatha. Era como se toda a ruína obedecesse Agatha. Aquele era seu reinado, seus súditos, seu teatro.

Aquele era o palco de Agatha.

*Continua

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 6

TOC TOC TOC!!! As batidas fortes e nervosas na porta eram constantes. Gerard, um rapaz magro, cabelos ruivos e óculos redondos no rosto, correu para atender tal pessoa ansiosa. Tomas entrou ofegante:
-Gerard meu amigo, preciso que você me diga que não estou louco!
-Sinto muito Tomas, mas você é louco. Anda, senta aqui no sofá e me conta logo o que está te deixando tão nervoso.

A casa de Gerard era típica de um homem que morava sozinho. Um pouco bagunçada, sem cor, sem vida. Mas o que tornava a casa de Gerard única era o pequeno detalhe de ele ser cientista. Tubos de ensaio, experiências inacabadas, frascos com líquidos perigosos por toda parte. E apesar da enorme inteligência de Gerard, ele conseguia ser um homem centrado e equilibrado. Ele era um sujeitinho sério, calmo, simpático e atencioso. E era um grande amigo de Tomas. Talvez Gerard fosse o único com quem Tomas pudesse contar:

- Gerard... hoje, esta madrugada, eu vi... eu vi Agatha!
- Ah não Tom! De novo? Ok, ok... eu ainda devo ter um daqueles remédios contra alucinações por aqui. Mas é a última vez que eu te dou esse remédio sem prescrição médica. Se esse vidro acabar, você que vá num psicó...
- Não Gerard! - cortou Tomas - Cara, a Antonella estava comigo, ela viu também.
- Legal, não sabia que sua insanidade era contagiosa. Você conseguiu pirar a coitada da Antonella.
- Pare de ironia Gerard. Me escuta. Agatha apareceu em casa essa madrugada. Ela quebrou um porta retrato e estava muito esquisita. A pele branca como giz, toda bagunçada, as mesmas roupas de ballet do dia que ela morreu, e os olhos, eles eram... eram verdes, verdes cintilantes. Antonella disse que Agui era um zumbi.
- Agui Zumbi? HAHHAHHAHA. Meu querido amigo, você se esquece que sou um homem da ciência? Não acredito em zumbis, nem espiritos, nem nada. Essas coisas não existem.
- Eu sei Gerard.
- Tá bem amigão, qual é a sua teoria.
- Eu vim até você Gerard porque acho que Agatha reviveu por uma causa científica.
- O quê? Uau, a ciência tem cura para morte e não me avisaram?
- Gerard...
- Tá bem, parei... continue.
- O helicóptero que se chocou com o teatro era um helicóptero militar. Nele havia tambores de um líquido tóxico desconhecido. O líquido é tão estranho que preferiram esperar o efeito dele passar para finalmente remexer os destroços. Talvez esse líquido tenha tido algum efeito sobre o corpo de Agatha. Ela não parecia ressussitada perfeitamente. O corpo frio, liso e branco como giz.. os olhos florescentes... ela era um zumbi, mas tem algo a ver com aqueles tambores e eu preciso que você me ajude a entender isso.
- Vou ligar para Antonella.
- O quê?
- Você não está bem, vou mandá-la vir te buscar...
- Gerard... voc.. ah esquece! - desistiu Tomas.

Gerard pegou o telefone, discou e Antonella atendeu:
- Oi Antonella, Tomas está aqui. Acho que ele não está bem, está falando que viu Agatha de novo...
- Ow Gerard, foi tão asustador, ela é um zumbi! A maldita quebrou meu retrato de casamento mais lindo. Ela voltou do inferno para me atormentar. Você precisa inventar um repelente pra zumbis!
- Espera! Antonella, está me dizendo que Agatha realmente está... de certa forma... viva?
- Sim, ela estava aqui em casa. Não estou louca Gerard, e dessa vez Tomas também não está. Não sei como essa maldita reviveu, mas espero que ela não volte nunca mais. Eu a expuls... CLAC! - Gerard desligou o telefone atordoado sem ao menos se despedir de Antonella.

Então o cientista se virou para o amigo com o olhar parado. Depois de alguns segundos, Gerard arrumou os óculos no rosto, fechou os olhos e respirou fundo:
- Bem amigo, tenho uma teoria.
- Você acredita em mim Gerard?
- Em você não, mas em Antonella sim. HAHAHAHA. Não faça essa cara, é que Antonella não teria alucinações com a sua falecida esposa que ela odeia. Bom, vamos ao que interessa. Talvez o líquido tóxico tenha alguma variável que de alguma forma reagiu com as poucas células vivas que ainda restavam no corpo sem vida de Agatha. Células como as que fazem as unhas e os cabelos crescerem depois da morte. Vamos supor que seja isso. Agatha não está viva, na teoria, pois em suas veias não correm mais sangue, e sim o líquido tóxico dos tambores militares. A questão é, se essa reação química deu vida a Agatha, provavelmente...
- Todos os outros que morreram no desastre também... Oh meu Deus!
- Isso quer dizer que temos um bando de mortos vivos por aí. Enfim, gostaria de pesquisar isso. Quero saber qual a duração dessa "nova vida", se Agatha ainda é um ser racional, se .. bom, são muitas perguntas.
- E o que vamos fazer agora?
- Vamos ao local do acidente. Quero pegar uma amostra desse líquido. E talvez encontremos a própria Agatha por lá. Então vou levar uma rede para capturá-la...
-Ei, Agatha não é uma cobaia... voc...
- Calma Tomas, de qualquer forma, precisamos saber o que está havendo. Vou pegar minhas coisas.
- Está me dizendo que vamos à um lugar isolado por possibilidade de contaminação radiotiva cheio de mortos vivos à 5 e meia da madrugada?
- Sim...
- Legal!
- Mas logo vai amanhecer e creio que só vamos conseguir pegar uma pequena amostra do líquido tóxico. Mas assim que eu pesquisar essa amostra, voltaremos lá. Vai ligando o carro Tomas, vou pegar o que preciso.

E Tomas correu para o carro, enquanto Gerard arrumava sua bolsa de cientista. Estavam prestes a desvendar o mistério que rondava o acidente no Teatro Del Bellis.

sábado, 15 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 5

Os traços do rosto eram de Agatha. Só poderia ser ela. Mas como? Depois de 3 anos, viva? Onde ela esteve esse tempo todo? Tomas ficou zonzo com a situação. Agatha estava estranha, acabada, parecia uma criatura, um zumbi. Mas era Agatha:
-Agatha?.. é... é você?
-O quê? Tom, não está me reconhecendo?
-Da onde você veio?
-Eu não sei direito. Estou tão assustada. A última coisa que me lembro é do barulho, e do teto caindo. Depois escuridão, somente escuridão. Então uma dor enorme corroeu meu corpo todo. E eu acordei debaixo de um monte de coisa. Saí completamente zonza desesperada em chegar em casa. Tomas... o que aconteceu? Por que eu estava lá?
-Não... não... -começou a choramingar Tomas - ...essas alucinações de novo não! Foram 2 anos de psicologo para parar de ver você nas sombras e agora eu ouço sua voz tão claramente... não...
-Tom, eu não sou uma alucinação. Sou eu meu amor.
-Ah .... meu ... Deus!!! - exclamou Antonella descendo da escada.

Ela parou em chocada em frente à Agatha, ao lado de Tomas. Sua boca aberta de surpresa, sem reação. Depois de um minuto de silêncio, ela conseguiu dizer:
-Você é um zumbi?
-O quê... eu... Antonella, o que faz de camisola na minha casa? - perguntou Agatha
-Sua casa? Agatha, você está morta à 3 anos! - respondeu desacreditada Antonella
-Morta? Não... à pouco tempo eu estava dançando... eu... eu desmaei eu acho...
-Não, você morreu! Três anos atrás um helicóptero militar se chocou com o teatro e as ruínas mataram você e os outros bailarinos. Três anos... e você está aqui... veio nos assombrar?
-Não... eu, eu só voltei para casa... minha casa... meu marido...
-Olhe pra você Agatha. Você está branca como giz. Seus olhos brilham verde florescente. - Antonella se aproximou e tocou com a ponta do dedo em Agatha - e está fria... fria como um defunto.
-Se eu estou morta, como explica eu estar andando, pensando e falando?
-Não sei! Não sei! Isso é loucura. Você é um zumbi que veio atormentar minha vida. Depois de 3 anos àrduos para curar o coração do meu Tomas, você volta pra me assombrar. Seja lá o que você for, volte pras trevas sua zumbi... saia da minha casa!!! - gritou Antonella

Agatha olhou para Tomas, que continuava parado fitando a mulher que tanto amou. Ele estava em choque. Agatha derramou-se em pranto, mas correu para a porta da frente. Tomas balançou a cabeça, e correu atrás:
-Não Agui... não vá... por favor... - e o "por favor" saiu como um sussurro

E ele ficou parado em frente da casa, na chuva, zonzo, sem saber se Agatha havia estado mesmo alí, ou se fora outra de suas alucinações. Antonella correu até Tomas:
-Amor, ela foi embora... é um fantasma... não vai voltar... entre, você vai se resfriar.
-Agatha... Agatha estava aqui não estava?
-Sim amor, ela é um zumbi horrível.
-Preciso... preciso falar com Gerard... agora, o telefone...
-Gerard? Aquele seu amigo cientista?
-Sim.. sim ... -disse Tomas, agitado, correndo para dentro - o número... telefone...
-Tomas pare!!! - gritou Antonella - São 4 da madrugada. Gerard está dormindo. E o que diabos você quer com ele?
-Gerard nunca dorme. E se dormiu, vai acordar. Ele tem que me explicar como uma mulher morta estava na minha sala essa noite, me chamando de amor. Algo aconteceu Antonella... algo que ressussitou Agatha. Eu preciso saber o que é!
-Não...
-Shiiiiiiiiuuuu!!!- cortou Tomas, no telefone - Gerard, oi amigão. Estou indo pra sua casa. É, é mais uma de minhas loucuras sim... você não vai se arrepender de me atender. Ok! Estou indo praí! - disse Tomas desligando o telefone e pegando casaco atrás da porta.

Ele pegou a chave do carro e saiu apressado à caminho da casa de Gerard. Antonella tentou impedí-lo, mas não conseguiu. Agatha tinha mesmo voltado dos mortos para atormentar a vida de Antonella.

*Continua

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 4

Três anos se passaram. A àrea do desastre continuava isolada. Ruínas, poucas paredes de pé, cizas, e a luz verde do material tóxico debaixo dos escombros selavam uma sepultura eterna para os pobres dançarinos e músicos que perderam sua vida nessa tragédia. A floresta escura atrás das ruínas e as ruas desertas que espaçavam o teatro da cidade dava ao local um ar tenebroso. Durante os 3 anos que se seguiram, ninguém passou por perto do teatro destruído.

Um estalo foi ouvido do meio dos escombros. Outro estalo, e os pedaços de cimento e madeira tremiam. Foi quando uma mão surgiu do meio das ruínas. E um corpo forçava a liberdade do meio dos destroços. Se levantou do meio dos escombros uma criatura peculiar, que parecia um humano. Cabelos longos, negros, bagunçados, pele pálida e suja pelo pó das ruínas, olhos verdes reluzentes e uma respiração agitada. O corpo era coberto por um tutu-badeija curto, negro com detalhes vermelhos, rasgado e amassado, mas quem o via jurava que um dia tal vestido já havia sido belo. As sapatilhas estragadas e a meia calça desfiada davam ao ser uma aparência estranha. Agatha havia voltado dos mortos.

O ser pois-se a andar desengonçada pela rua deserta, cambaleando. Andava com fraqueza. O céu naquela noite estava nublado, o que tornava seu negro manto cinza e sem estrelas. Começou a chover. Era madrugada e não havia pessoas na rua naquela chuva. E Agatha cambaleva se esforçando para chegar em casa.

A casa em que Tomas e Agatha moravam permanecia intacta. Uma casa modesta, com um belo jardim, paredes brancas e telhado vermelho, a porta da frente de madeira e as janelas lustradas. Agatha entrou pelo pequeno portão, mas quando chegou à porta, ela estava trancada. Então se lembrou da chave debaixo do tapete, embora ainda estivesse se sentindo nauseada e confusa. Abriu a porta e andou pela sala. Estavam alí o mesmo sofá, os mesmos vasos com plantas, a pequena televisão e a estante com os retratos. Mas havia algo estranho entre os retratos. Antes, ficavam as fotos das famílias de ambos e amigos na parte de trás e bem à frente jazia o retrato de casamento de Agatha e Tomas. Mas agora, o retrato deles estava um pouco afastado para trás, e à frente, outro retrato maior tomava conta. Nele, uma bela noiva loira abraçava Tomas, e o sorriso de ambos demonstrava uma coisa que Agatha não compreendia. Tomas se casou com Antonella.

Como? Porque? Agatha completamente zonza pegou o retrato e o tacou com força no chão. O estalo da queda acordou Tomas, que dormia no quarto em cima junto com Antonella:
-Tomas... que barulho foi esse amor? - sussurrou Antonella
-Calma Antonella, vou descer e ver... fique aqui. - respondeu Tomas
-Não, pode ser perigoso. Leve a arma.
-Certo, espere aqui!

Tomas desceu pela escada e viu a sombra de uma mulher com vestido de bailarina na sala escura que reluzia pela claridade vindo da grande janela de vidro na extremidade. Ele parou por um instante, esfregando os olhos:
-Não, essas alucinações de novo não! Não é Agatha, ela está morta... agora vai lá! - falou Tomas para si mesmo.

O homem alto com a arma em punho andou levemente até o centro da sala e se deparou com a mulher vestida de bailarina, completamente bagunçada, respirando agitada e nervosa, de costas para ele, fitando o retrato quebrado no chão. Tomas não acreditava no que via, então conseguiu sussurrar:
-Mas... mas... o que... o que é você?

E a figura à sua frente se virou. Os olhos verdes brilhantes o fitavam com a expressão de alívio. Os lábios secos expressaram melancolicamente:
-Oh Tom... meu amor...

*Continua

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 3

O teto se quebrou acima do palco, lançando fragmentos de cimento, telha e madeira em cima dos bailarinos. A platéia saiu do choque e começou a correr para sair de dentro do teatro que desmoronava. Em meio aos gritos, Tomas era o único que tentava ir em direção ao desastre. Ele berrava o nome de Agatha desesperado. Antonella agarrou o braço de Tomas para tentar alertá-lo:
-TOM!!! TOM!!! Precisamos sair daqui.. vai tudo desmoronar.. vamos morrer...
-Me solte Antonella... Agui está no palco, ela... ela pode morrer... preciso salvá-la!!!
-TOM ME ESCUTA!!! Você não pode mais salvá-la... o teto caiu em cima dela no palco... ela já deve estar morta...
-NÃO!!! - gritou Tomas empurrando Antonella e correndo ainda em direção ao palco.

Antonella ainda ficou parada um instante, e então pois-se a correr como os outros para fora do teatro. Mas os bombeiros e policiais já estavam alí. Antes que Tomas chegasse perto demais do teto desmoronando, dois bombeiros o seguraram para tirá-lo dalí. Tomas gritava:
-NÃO!!! AGATHAAA... ELA ESTÁ DEBAIXO DOS ESCOMBROS... VOCÊS PRECISAM TIRÁ-LA DALÍ!!!

Mas o esforço dos bombeiros venceu e eles tiraram Tomas do teatro segundos antes do teto acima dos bancos da platéia começar a cair também. Foi uma grande tragédia. Um helicóptero militar que transportava galões tóxicos sobrevoava o teatro indo em direção ao centro especialista que ficava à pouca distância dalí. O piloto perdeu o controle e o helicóptero caiu em cima do telhado do palco. Os escombros caíram sobre Agatha e Andrew primeiro, que dançavam no centro do palco. Depois, atrás deles haviam os camarins onde estavam os outros bailarinos, que também foram massacrados pelo desmoronamento. Então a parte da frente do palco, onde estava a orquestra, também cedeu, e alguns dos músicos morreram porque não conseguiram fugir a tempo. Da platéia, o único que quase morreu foi Tomas, que corria em direção ao desastre, mas foi salvo, contra vontade, pelos bombeiros, que saíram de lá antes que todo o edifício cedesse à destruição.

Então as ruínas do teatro brilhavam nos escombros abaixo. Era o líquido tóxico dos galões do helicóptero militar que havia colidido com o teatro. E o pó da queda ainda sobrevoava os escombros como uma sombra espessa e cinza da morte.

À pouca distância estavam os carros de polícia e as ambulâncias, além do grande carro dos bombeiros. Tomas estava sentado em uma das ambulâncias, fitando o vazio, tentando controlar a dor enorme que rasgava seu peito. Antonella se aproximou dele:
-Tomas... - disse a loira numa voz chorosa - eu... eu sinto muito...
-Não sinta nada agora... Agui... Agatha pode estar viva sabia? Ela pode estar debaixo dos escombros machucada esperando esses lerdos desses bombeiros tirá-la de lá. Por que eles não vão logo... ela está machucada, precisa de ajuda... - e Tomas começou a gritar - VOCÊS PRECISAM IR LÁ... VOCÊS TEM QUE TIRÁ-LA DE LÁ!!!

E dois policiais foram segurar Tomas e encostá-lo na ambulância para acalmá-lo. E começaram a dizer com voz suave:
- Calma senhor por favor. Não podemos vasculhar a àrea hoje. Tem um líquido tóxico abaixo dos escombros. Não sabemos com o que estamos lidando. Pode ser fatal para os bombeiros, ou até para as pessoas que estiverem próximas. Me disseram que sua esposa estava no palco. Se ela tivesse sobrevivido à queda do teto, com certeza não sobreviveria aos galões de líquido tóxico que agora devem estar cobrindo o corpo dela. Eu lamento...

E Tomas fitava o vazio balançando vagarosamente a cabeça. Foi quando seu rosto enrrugou e ele deixou as lágrimas caírem. Os policiais o soltaram, e ele caiu no chão em pranto, enquanto negava a si mesmo que Agatha estava morta. Antonella o abraçou, mas Tomas estava inconsolável.


Três dias depois a ordem veio diretamente do Exército Militar. O líquido tóxico só perdia efeito 5 anos depois. Então a àrea das ruínas ficaria isolada até que este recesso se passasse. A àrea arruinada era enorme, e uma floresta cercava a parte de trás. Morreram bailarinos, a orquestra, os professores e coordenadores do teatro, o piloto e os dois soldados que estavam no helicóptero. Os corpos não podiam ser resgatados. Tomas nem ao menos teria o consolo de enterrar Agatha e ve-la dormir em paz para sempre. Nem sabia como estava seu corpo debaixo dos escombros. Ele não comia, não bebia, não falava... estava morto por dentro. Mas Antonella nunca o deixava. Estava sempre tentando consolá-lo, tentando fazê-lo comer algo. Afinal, Agatha gostaria que seu amado marido reconstruísse sua vida. Mas Tomas, em sua estátua triste e congelada, só sentia uma coisa: uma dor enorme que rasgava seu coração...


*Continua

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 2

O único som era o motor do carro pelas ruas vazias. Nem Agatha, nem Tomas estavam com uma expressão alegre. Mas alguém precisava quebrar aquele silêncio:

-Qual é o problema Agatha? Você não disse nem uma única palavra desde que saímos da casa de Antonella! - resmungou Tomas
-Tom não é possível que você seja tão inocente! Antonella não tirava os olhos de você...
-Ah não Agui... não começa vai... TÁ, tá bem, vamos supor que realmente Antonella ainda goste de mim. E daí? Tenho você, por que haveria motivos de eu querer algo com ela?
-Tom, eu sei que você não vai dar trela pra Antonella... mas ... é... bom, me irrita, me ferve o sangue quando ela fica secando você.
-Não importa mais Agui meu bem. Não vamos mais à casa de Antonella, não vamos mais vê-la ok? Seremos simpáticos se ela ligar de novo, mas nada de intimidades...
-Eu convidei ela pro espetáculo semana que vem. Ela disse que ia se sentar do seu lado.
-Mas você também é inteligente não? Morre de ciume, mas convida sua rival pra sentar do meu lado enquanto você estará ocupada no palco... palmas pra você!
-Não seja irônico Tom!Agora ela é minha rival? Hoje à tarde você disse que éramos amiiiigas...
-Você entendeu o que eu quis dizer.
-Tá bem amor. Eu sei que não há motivos pra ciume. Seus olhos serão só meus no teatro. O máximo que vai acontecer é ela ficar frustrada por não conseguir nada.

Tomas sorriu para Agatha. Ela tinha razão. Enquanto Agatha estivesse viva, Antonella jamais teria chances com Tomas.

No outro dia, Agatha acordou cedo e foi para o teatro. Lá Andrew já esperava com um sorriso no rosto.
-Vamos lá Agui... uma hora a mais hoje!
-Não me desanime Andrew, estou cansada só de pensar...
-Hahahaha, pensei que amasse dançar.
-É lógico que amo, mas sei lá, hoje não estou de bom humor.

E a tarde toda, treinaram os passos. E assim se deu durante a semana, até que o grande dia chegou. Era sábado, e Agatha estava no camarim dando os últimos retoques. Estava deslumbrante em seu vestido Tutu Bandeija curto. Era belíssimo, negro como a noite, e com detalhes vermelhos expressivos nas bordas. As sapatilhas negras, e o cabelo negro preso em um coque perfeito.
E o teatro estava lotado. Na fila para a entrada, Tomas aguardava anciosamente. Então ouviu alguém chamando seu nome:
-Tom... Tom... oi Tom. Não se importa se eu furar a fila não é? - disse Antonella, em seu belo vestido rosa longo de seda.
-Não Antonella, pode ficar aqui. - respondeu Tomas sorrindo, abrindo brecha para Antonella furar a fila.
-Estou tão anciosa pra ver Agui. Faz anos que não a vejo dançar. Ficarei bem ao seu lado pra curtimos esse espetáculo juntos.
-Claro Antonella. Mas não fique magoada comigo se comentar algo e eu não responder. É que quando Agui dança, eu fico hipnotizado. É como se nada mais existisse.
-Claro... - disse Antonella, chateada.

E a platéia glamurosa em smokens, vestidos de cedas e leques de plumas aguardavam o início do espetáculo. O grande palco mantinha as cortinas baixadas. E Tomas conseguiu um lugar no alto, e Antonella não desgrudava dele. No camarim, Agatha seguia pela porta quando deu de frente com Andrew.
-Oi Agui... pronta parceira?
-Andrew você quer me matar de susto? É, to pronta... vamos arrasar. Lembre-se de fazer cara de vampiro viu. Não se esqueça do tema do nosso espetáculo.
-Claro... Trevas não é? Olha só o pó branco na minha cara. Pálido desse jeito não preciso fazer nenhuma cara.HAHAAHHAHA. A propósito, que bela vampirinha você está hoje.
-Ainda não sou vampira esperto. Vou me tornar quando você me morder no 2° Ato, cena 3.
-Ah é, mas branquela do jeito que você é, acho que não vão passar pó em você! HAHAHAHAAH
-Ai Andrew... vamos lá vai!

E as cortinas se levantaram. A música da orquestra em frente ao palco soava leve. E Agui apareceu na ponta dos pés, rodopiando pelo palco. Antonella inclinou a cabeça para Tomas:
-Agui está linda, não é?... Tom... Tom... Tomas, estou falando com você!
-Ow... Antonella... desculpe, eu congelei. Te avisei que ficava em órbita quando Agui dança. Fique quietinha por favor.

Andrew entrou em cena, e os dois dançavam em suas roupas negras como cisneis das trevas dançando para a morte. Foi quando um zunido forte abafou a música da orquestra. O barulho que vinha do céu era tão alto que os bailarinos pararam de dançar. A platéia em silêncio olhava assustada para o teto. E o zunido ficava mais próximo a cada segundo. De repente, algo enorme estraçalhou o teto do teatro acima do palco, e os bailarinos no palco gritavam, enquanto a platéia pasma assistia a tragédia.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 1

*Nova História

Os pequenos pés eram tão delicados ao tocar suavemente o chão com apenas a ponta. Os giros, a destreza dos passos, e o belíssimo e perfeito espacarte no final. Agatha dançava ballet como ninguém.


No teatro "Del Bellis", a cada mês um novo espetáculo era preparado. Agatha Numier Cortês, uma mulher de 23 anos, linda em seus cabelos negros e pele branca destacando ilustremente seus olhos auis, era sempre a protagonista.
Logicamente, todos a respeitavam e admiravam. O tetro tinha cerca de 25 atores-balarinos, todos graciosos como cisneis. E o enorme teatro "Del Bellis" lotava todo sábado à noite.




-Já vai Agatha? - disse Andrew, o parceiro de dança de Agatha.
-Já sim, Tomas está aí na frente. Vamos jantar fora hoje. Amanhã treinamos uma hora a mais pra te recompensar ok?
-Certo Agatha. Manda um abração pro Tomas, o maridão. Fala pra ele que amanhã você será minha por longas horas, ahhahahahaha
-Vai brincando Andrew... bobo... vou indo, até!

No carro prateado na rua, aguardava Tomas, o marido de Agatha, que era um famoso empresário. Ele era um homem alto, cabelos escuros e pele branca, olhos castanhos e um sorriso exuberante, de temperamento calmo. Tomas amava muito sua esposa Agatha, e se orgulhava da forma graciosa como ela dançava ballet.
-Oi amor, parece cansada - disse Tomas, afagando o cabelo de Agatha carinhosamente como sempre costumava fazer.
-Sim Tom. Hoje foi um dia cansativo. O diretor dos espetaculos passou os novos passos. Muito difícil de pegar. Mas foi muito bom. Amanhã terei que ficar uma hora a mais, já que saí mais cedo hoje. Afinal de contas, onde vamos?
-Agui, meu bem. Lembra da sua grande amiga Antonella?
-Antonella? Como poderia esquecer... ela me odeia.
-Vocês eram tão amigas... não acho que ela te odeie...
-Eu simplesmente estou casada com o cara por quem ela foi louca durante toda a adolescência. Antonella acha que eu te roubei dela Tom. Desde que a gente se casou, nunca mais falei com ela.
-Ficaria surpresa se eu dissesse que ela me ligou hoje?
-Ligou? O quê? Pra que?
-HAHAHAHAHA... sem ciumes Agui. Ela nos convidou para um churrasco na casa dela hoje a noite. Não custa ir amor. É uma boa chance de vocês voltarem as pazes.
-Não sei... tá bem Tom, você já aceitou o convite mesmo. Vou aproveitar e convidá-la para o grande espetáculo semana que vem. O teatro vai bombar!
-E você vai arrasar Agatha... como sempre!

Na casa de Antonella, Agatha e Tom permaneciam calmos e contentes, conversando com os amigos presentes de outra época; amigos de escola. Antonella, uma loira belíssima com rostinho de boneca de porcelana, sentou-se ao lado de Agatha com uma travessa na mão:
-Agui, aceita um pedaço de contra-filé?
-Não Antonella, comi demais já. Vou guardar espaço para a sobremesa.
-Agui... Agatha... queria falar com você amiga. Eu sei que a gente brigou feio por uma infantilidade. Sei que você não teve culpa, amor acontece. Gosto muito de você, e do Tom também. 3 anos sem se falar já é o bastante. Me perdoa amiga?
-Te perdoar? Antonella, não há nada que perdoar. Você estava magoada. Mas eu nunca odiei você. Sempre fomos amigas, mesmo que você tenha virado a cara comigo por esses anos.

Antonella abraçou Agatha, mas quando as duas se soltaram, ela olhou ternamente para Tom, que comia despreocupado seu prato cheio de carnes assadas. Agatha viu que Antonella nunca esqueceu Tomas, e que talvez aquela aproximação fosse uma tentativa idiota de roubá-lo dela. Mas Agatha era confiante, sabia o quanto Tom a amava; Antonella não teria chance. Então fingir ser amável não seria difícil naquela noite.

-Antonella, trouxe pra você um convite do espetáculo da nova peça "Trevas" do teatro "Del Bellis". Eu vou protagonizar. Você sabe que eu ainda danço ballet né? Vai ser demais. No sábado semana que vem, você vai? - disse animada Agatha
-Agui querida, fiquei sabendo do seu sucesso naquele teatro enorme "Del Bellis". Lógico que eu vou. Enquanto você dança lá no palco, eu farei companhia para seu marido Tom - disse maliciosamente Antonella.

Agatha assentiu com um sorriso murcho. Não gostou nada do jeito como Antonella havia falado. Mas não importava. Durante todo o espetáculo, os olhos de Tom seriam de Agatha. Ela era o cisne, o palco o lago e Tomas a lua que observava imóvel do céu. Esse espetáculo prometia realmente ser inesquecível.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 14 - FINAL

Seus olhos cintilavam. A pele cinzenta reluzia. As tarjas negras sombrias contrastavam com a cor da pele. Os passos suaves. A respiração calma. Alison estava diante de Antonny.

O príncipe se levantou, mas não podia esconder que estava com medo da forma como Alison estava agora. Apesar do momento ser confuso, muitas perguntas se formavam em sua mente ao mesmo tempo. A maldade de Harrison havia entrado em Alison? Ela teria absorvido tanto fôlego que ficou sombria? Estaria louca? Iria ter coragem de atacá-lo depois de lutar bravamente para salvá-lo? De que adiantariam suposições? Estava na hora de quebrar o silêncio e o suspense. Talvez palavras doces fossem a melhor escolha:

-Meu amor... acabou agora. Todos eles estão mortos. Não existe mais nenhum Ladrão de Vidas pra..
-Ainda resta um! - cortou Alison com a voz tenebrosa.
-Do que está falando?... Não, não Alison - retomou Antonny quando percebeu qual era a intenção da moça- eu já disse, eu sei que podemos te ajudar. Você... você salvou meu reino, salvou meu pai... nós vamos proteger você agora, vamos encontrar uma cura, eu...
-Você sabe que não existe cura Antonny. Olha pra mim! Estou me sentindo tão assassina. Não só por ter matado Marrie e Harrison, mas porque todas as vidas que eles roubaram estão em mim agora. Elas gritam por uma justiça dentro de mim. Eu tenho que deixar essas vidas finalmente descansarem em paz...
-Não Alison, o que eu vou fazer sem você?
-Antonny... eu te amo. Desde a primeira vez que você tentou me matar - disse Alison com um sorriso melancólico na boca - Quero que volte ao palácio, quero que aprenda com seu pai e quero que um dia se torne rei. Um rei de verdade, e que reine com justiça sempre. Agora não haverá mais essa lenda idiota pra te desafiar. Pessoas não vão mais sumir à toa.

Antonny derramava lágrimas pesadas de uma angústia insuportável. Sabia que Alison estava dizendo adeus. A pequena sombria se aproximou do belo príncipe. A neve caía, o céu melancólico, como se lamenta-se aquela despedida. O chão coberto pelo imenso branco, às àrvores que sutentavam a neve acima de si, e no meio da floresta da maldição, Alison beijou calidamente os lábios de Antonny.

Seus olhos se abriram e fitaram os de Antonny uma última vez. Alison se afastou, e abriu os braços olhando para o céu. Seus pés deixaram de tocar o chão, e ela estava levitando. Foi quando um gemido agudo tomou a garganta de Alison. Seus olhos vermelhos reviraram, e ela expelia de seus lábios cinzentos uma fumaça negra que girava em torno dela. Lentamente, seus cabelos negros se clareavam desde á raiz, e em instantes, eram loiros como um raio de sol. Sua pele cinzenta adquiria a cor de um branco inigualável. Seus olhos não estavam se revirando mais, e vía-se claramente como o vermelho sangue se tornava azul como o céu em um dia de verão. As tarjas em seus rosto regrediram, e sumiram completamente. Seus lábios se tornaram vermelhos. E a fumaça negra cedeu, subindo ao céu e desaparecendo para sempre entre á névoa.

O corpo magro de Alison caiu, mas antes de alcançar o chão, Antonny a segurou. Em seu colo, Alison deu seu último suspiro:
-Eu te amo... - num sussurro baixo que se misturou ao vento gelado.
-Como você é linda... tão clarinha, e loirinha... mas eu amo você sendo monstro ou não. Não devia ter feito isso... Alison - choramingava Antonny sobre o corpo da pequena.

Chamou por horas, mas não havia quem respondesse. O corpo de Alison, abatido pela frieza da morte, congelava-se na eternidade da neve. A lágrimas de Antonny congelavam ao caírem dos olhos. Mas o príncipe precisava voltar ao palácio. Deixou a amada deitada sobre o manto branco que cobria o chão, selou o cavalo, enquanto uma dor rasgava seu coração. E cavalgou entre às àrvores, abandonando para sempre a floresta da maldição.

E a neve cobriu o corpo de Alison e Harrison, os Ladrões de Vidas. E a floresta da maldição se tornou sua sepultura eterna. Nunca mais se ouvira falar de pessoas desaparecidas, e em alguns anos, a lenda dos Ladrões de Vidas morreu junto com o idoso rei Rodney. Antonny assumiu o trono, e seu reino foi um reino de paz e justiça. Mas, apesar da felicidade do povo e dos súditos, o rei Antonny levava consigo sempre uma tristeza nos olhos. As pessoas esqueceram, o tempo esqueceu, a neve esqueceu... mas Antonny nunca esqueceu... nunca deixou de amar Alison. Em sua mente, o que predominava ainda eram os intrigantes olhos vermelhos que conheceu e amou desde a primeira vez que pisou na floresta da maldição.


FIM

E que a eternidade seja o amor em vossos corações!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 13

O portão principal estava aberto. Os poucos guardas que ainda restavam estavam em volta do trono, inutilmente na tentativa de proteger Rodney caso Harrison o atacasse novamente. O frio cortante que entrava pelo portão dava a alusão de que o tempo virara. Estava nevando lá fora.

Alison levantou-se, recuperando o fôlego que quase perdeu quando Alicia a atacou. Correu em direção ao portão - era uma atitude involuntária do próprio corpo desesperado tendo em si a certeza de que Harrison a mataria assim como matou Meloddy. Saiu do portão principal do palácio, e correu pelo jardim que se perdia ao ser coberto pela neve. Harrison ia atrás de Alison, mas não corria, andava pacientemente em sua roupa negra, como uma sombra que perseguia uma criança.

Perto dos muros onde terminava o jardim, Alison olhou para trás, e viu Harrison vindo calmamente em sua direção. Mas seus passos lentos indicavam uma só coisa - não importava o quanto ela corresse, ele a encontraria e a mataria. Não havia porque ele correr - onde Alison estivesse, ele a pegaria. O desespero subiu pela espinha de Alison, que numa velocidade inexplicável, pulou o muro, e correu para a floresta negra da maldição.

O céu estava claro, apesar de ser noite, pois o frio e as nuvens que carregavam gelo eram claras. A neve já cobria todas as àrvores da floresta, e Alison corria sobre um manto branco. Parou perto de uma àrvore, e sentou-se, exausta pelo pânico. Então começou a chorar:
-Pobre Meloddy, ele a matou... matou ela que era experiente... quanto mais a mim... ele vai me matar... vai me pegar... não posso correr para sempre...

Harrison andava sobre a neve como uma tesoura bem afiada que cortava o veludo. Seus passos lentos, sem imprecisão, o dirigiam ao meio da floresta da maldição. Foi quando parou num espaço razoàvel, e começou a dizer:
-Alison, você acabou com um grupo inteiro que eu demorei anos para juntar. Matou Madison, que estava comigo desde que tudo isso começou. Me obrigou a matar Meloddy, que era extremamente a melhor ladra de vida que já havia transformado. Acabou com o meu plano que demorei anos para aperfeiçoar. Sabes muito bem que não vou deixar isso barato. Então vamos acabar logo com isso. Apareça, sei que pode me ouvir.

Ele estava certo. Isso não ia ficar barato; ela não podia correr para sempre. Alison saiu do meio das àrvores, o rosto calmo, onde uma de suas lágrimas congelou antes de alcançar o fim de seu rosto em traços perfeitos. Harrison suspirou:
-Tão linda. Tão perfeita. Tão inteligente. Terias ganhado tudo ao meu lado. Seria minha rainha quando tomasse o trono. Mas não... você quis aquele príncipe magrelo... acha.. acha que não senti o cheiro dele em teu quarto, acha que não o vi escalando minha mansão. É uma pena te matar... mas me consolarei em te perder quando voltar naquele castelo e esfolá-lo vivo!
-Harrison... não vou me render sem lutar...
-Vai lutar comigo Alison? HAHAHAHAHA... comigo? Nem Meloddy pode comigo... e você acha que pode?
-Tudo é relativo; Meloddy estava distraída, mas eu estou atenciosamente fitando você...

Nesse momento, uma espada atingiu as costas de Harrison. Ele se virou e a fúria encheu seus olhos. Antonny, que lhe cravara a espada, jogou outra para Alison, que correu para ferir Harrison também. Em meio aos golpes, Harrison pegou Antonny pelo pescoço, e olhou em seus olhos, enquanto o príncipe engasgava. Alison feriu os olhos de Harrison com a espada, e Antonny, caído no chão, recompunha-se recuperando o ar. Alison cravou a segunda espada em Harrison, o cravando e prendendo na àrvore, ajoelhado. Seus olhos se regeneraram, e quando os abriu, ela já fitava sua íris. No mesmo instante, Harrison engasgou. Seus olhos vermelhos reviraram, deixando a àrea ocular completamente branca. E uma fumaça negra, expessa, deixava os lábios de Harrison, e entravam nos de Alison. Demoradamente, enquanto Harrison estribuchava, uma rajada escura descia dos cílios inferiores de Alison até o fim da maçã de seu rosto. Sua pele estava em um cinza ainda mais claro, e seus cabelos pareciam mais negros ainda. E Harrison, já não era mais um monstro. Seu cabelo se tornara castanho e sua pele branca e alva. As rajadas negras em sua face deixaram de existir. Em instantes, ele era apenas um homem, um corpo sem vida. Quando o fôlego acabou de abandonar seu corpo, sua cabeça tombou sobre seu ombro. O líder dos ladrões de vidas não existia mais.

Alison estava sombria; um rosto amedrontador pelas rajadas negras, mas ainda tinha traços perfeitos. Olhou para Antonny, que estremeceu. Toda maldade de Harrison havia passado para Alison? Ela andou em passos leves em direção a Antonny, com os olhos vermelhos fitados nele...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 12

Alison esticou o braço para pegar a lança, mas no mesmo instante Madison a pegou pelo pescoço:
-Sua traidora... eu vou acabar com você!
-Não Madison!!! - gritou Meloddy se aproximando
-Meloddy, ela matou Marrie... você, você não viu?
-Sim... e eu... MATEI TREVOR! - disse Meloddy cravando o machado em Madison
-Não... -foi quando Madison entendeu o que elas pretendiam fazer, mas aí já era tarde, porque ambas o golpeavam.

-HARRISOOOON!!! - Madison gritou em meio aos golpes, tão alto, que pode ser ouvido pelo salão todo, enquanto as pessoas fugiam pelas portas, já que ninguém mais as impedia.

No alto do salão que estava quase vazio a esta altura, Harrison olhou e viu Meloddy e Alison atacando seu fiel súdito. Desacreditado com a traição, Harrison largou o rei Rodney, que caiu quase sem ar no chão. O ódio em seu rosto era indescritível. E o grito ardido de Madison o tirou do transe em que se encontrou ao ver seu plano destruído.
-NÃÃÃÃOOO!! - gritou Madison a última vez, antes de engasgar e liberar todo o fôlego de vida que havia em si. Meloddy estava sugando. E Alison ainda segurava a lança no peito de Madison. Sua pele tomou a cor branca rosada, e seus cabelos ficaram claros, castanhos. Madison estava morto.

Harrison virou o rosto frio pra Alicia. Ela assentiu, e largou Antonny que correu para os braços do pai. Caminhando em direção as duas, Alicia murmurou:
-Vamos ver se vocês são páreo para mim!

Harrison observava em pose de estátua do trono a luta no salão vazio entre as três. Alison e Meloddy tentavam golpear Alicia, que era mais rápida que seus avanços. Apesar de Meloddy também os ter traído, Alicia focava machucar Alison, objeto direto de seu ódio mortal. Com uma espada em punho, Alicia golpeava Alison constantemente, que caiu ao chão, em retalhos. Alicia jogou Meloddy pra longe, e pôs-se acima do corpo de Alison. Olhou furtivamente para os olhos da pequena, que já engasgava. Mas numa rapidez inimaginável, Meloddy correu e cravou uma lança na cabeça de Alicia. Ela emitiu um som que parecia um rugido, e Alison conseguiu respirar, regenerando os outros ferimentos. Alicia sabia que tinha que ser rápida- eram duas contra uma. Arrancando de si a lança, de joelhos no chão, olhou em desespero para Harrison, que continuava em estátua. Seus olhos imploravam por ajuda, mas Harrison mal piscava. Em sua dor, que não vinha dos ferimentos, mas do coração traído tantas vezes, ela deixou-se fitar o homem que tanto amou, que lhe roubou a vida, que lhe deu noites inesquecíveis, que lhe deu a eternidade, e agora assistia sua morte sem sequer mostrar o mínimo sinal de que se importava.

Meloddy não exitou - golpeou Alicia novamente, puxou seu cabelo forçando a cabeça dela para trás, fitando seus olhos. Alicia olhou diretamente nos olhos de Meloddy - já não queria mais lutar, não tinha mais porque. Então os olhos de Alicia se reviraram, e ela engasgou. Sua pele era de um branco cintilante, leite, tão aveludada. E seus cabelos curtos continuaram negros - ela era morena mesmo. A marca no olho que parecia uma tatuagem na pele cinzenta, agora sobre a pele branca era visivelmente uma cicatriz. Alicia estava morta.

Antes mesmo de poderem respirar, uma espada golpeou Meloddy, enquanto dois pés grandes seguravam seus joelhos dobrados no chão. A mão cinzenta puxava o rosto de Meloddy para trás, que sem reação não conseguia se mexer. Alison correu pegar uma arma para ajudar sua cúmplice, mas já era tarde. Com os olhos revirados, Meloddy já liberava o fôlego. Seu cabelo castanho-avermelhado era lindo. E sua pele queimada do sol não lhe fazia jus ao seu estado agora - Meloddy estava morta.

Harrison era experiente demais para não fazer isso friamente rápido. Alison estava sozinha. Do alto do salão, Antonny, apoiando seu pai, a fitava. Mas sua mão roçava a espada em sua cintura. Antonny ia lutar junto com Alison, apesar de sua ajuda ser semi-inútil devida a fragilidade humana. Os olhos de Harrison faiscavam. Fitavam Alison, não mais com amor como antes... agora era ódio.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 11

Meloddy segurou o machado, e o cravou nas costas de Trevor. Ele se virou assustado:
-Mas que diabos está fazendo Meloddy?

Entre os gritos das almas inocentes naquele salão, Meloddy estava com a expressão fria:
-É hora de acabar com isso... adeus... eu sinto muito Trevor...

E com o machado, golpeou Trevor novamente. Ele se levantou , e focava em se regenerar, mas Meloddy continuava a ferí-lo, vez após vez. Com vários cortes no corpo, Trevor caiu ajoelhado:
-PARE MELODDY!!! NÃO ESTOU CONSEGUINDO ME REGENERAR!
-Esse é exatamente o objetivo...

Então, depois de um último golpe no pescoço, Trevor caiu no chão de costas. Desesperado, conseguia regenerar os mais pequenos cortes, mas Meloddy se sentou sobre ele, e olhou furtivamente em seus olhos. Em questãos de instantes, Trevor estribuchava, e uma fumaça branca saiu longamente de seus lábios cinzentos. Não era como roubar a vida de um humano. Antes de roubar propriamente a alma de Trevor, Meloddy teria que engolir todas as vidas que Trevor havia roubado. Em alguns segundos, a fumaça cessou, e Meloddy revirou os olhos em delírio. Nunca se sentira tão satisfeita. Trevor, morto no chão, perdia a cor cinzenta. Sua pele se tornava castanha, de um moreno perfeito, e seus cabelos negros também acastanhavam. Trevor era um moreno belíssimo, mas agora, não havia mais nele nenhum sinal de vida.

No outro lado do saguão, Alison se aproximava de Marrie. Agachada sobre um homem enquando roubáva-lhe a vida, não sentiu Alison chegando até ela. Mesmo com as mãos trêmulas, Alison usou sua força, e fincou a lança em Marrie. Ela se virou com o rosto desacreditado:
-Eu sabia que você ia ser um problema essa noite sua rata!

Arrancou de si a lâmina, e bateu no rosto de Alison com ela. Alison caiu no chão, e seu rosto arranhado se regenerou. Foi quando pegou a espada do homem morto ao seu lado, e cravou no pescoço de Marrie, enquano ela ainda não havia regenerado o corte em seu peito feito pela lança. Alison arrancou a lança de Marrie enquanto ela tentava arrancar de si a espada, e sem pensar, a feriu no abdômen. Com força arrancou a lança, e passou pelos pés de Marrie, que caiu atordoada no chão. Correu para cima dela, e feriu a cabeça com a mesma lança. Arrancou a espada e golpeou o abdômen de Marrie outra vez. Em retalhos no chão, Marrie se focava em se curar. Foi quando o instinto de Alison despertou. Ela olhou nos olhos de Marrie:
-Não Alison... por favor... não...

Então Marrie engasgou, e saiu de si uma longa fumaça branca que entrava nos lábios de Alison. Em instantes, a pele cinzenta de Marrie tornava-se branca como leite, e seu cabelo preto ficou vermelho como sangue. A ruiva que estribuchava finalmente expirou. Marrie estava morta.

Alison, depois de passado o extase de ter roubado vidas, sentiu-se pesadamente culpada. Entregou-se ao choro sentada ao lado do corpo de Marrie. Marrie era um monstro... mas era um ser vivo. Foi quando ouviu Meloddy gritar:
-Alison...
E ela apontava para Madison que corria na direção de Alison com ódio no olhar.

Não havia tempo para se lamentar... agora era guerra.