domingo, 24 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 95 - FINAL

Passei pelo grande portão de ferro do ginásio. Atingi o estacionamento, que estava abarrotado de carros, mas não vi nem sombra de Andrew por alí. Passei pelas pilastras e entrei na escola, que estava escura, visto que a festa estava acontecendo no ginásio. Corri pelo corredor meio cego procurando pela minha ninfa sombria. Virei à esquerda, que dava para o refeitório. A porta do refeitório estava trancada, então virei para a direita e fui para o pátio. No banco de cimento, que ficava no centro do pátio, Andrew estava recostada olhando o chão. O pátio não era coberto, então a luz forte da lua deixou o local iluminado. Quando me ouviu chegar, ela olhou para mim:

- Olá, Bradley Tommas Stanley, capitão do time de basquete. - ela sorriu, mas não era um sorriso feliz. Era compassivamente melancólico.
- Andrew, eu sinto mui... - Andrew me cortou antes que eu pudesse responder.
- Não precisa sentir nada, Brad. Acho que já sentimos coisas demais por uma noite. - ela riu desanimada.
- Não está chateada, está? - perguntei, me sentando ao lado dela.
- Chateada? Talvez... mas comigo mesma.
- O que? Pode explicar, por favor?
- Você dança muito bem, sabia? - ela passou a mão no meu rosto delicadamente.
- Não respondeu minha pergunta.
- Brad, por que veio atrás de mim? - ela me olhou, franzindo as sobrancelhas finas.
- Porque não há nada naquela festa que faça sentido pra mim. A única coisa importante pra mim esta noite está sentada no banco do pátio me olhando como se... como se não pertencêssemos ao mesmo mundo. - falei.
- Mundo... dimensão. - se lembrou ela de repente. - Aquele pacto do silêncio foi a coisa mais idiota que inventamos.
- Você inventou.
- A idiotice é merito seu.
- Obrigado. Sabia que você ia me ofender a qualquer momento da noite.
- Você é o rei do baile. Onde está sua rainha? - Andrew perguntou.
- Minha rainha está com o príncipe encantado dela. E eu vim buscar minha princesa. - peguei a mão dela.
- Sua princesa não combina com você. Principes são pares de princesas. Reis são pares de rainhas. - ela riu.
- Então talvez você deva ficar com o Jonny. - eu ri.
- Ah, claro. - ela revirou os olhos.
- Quando vai entender que eu te amo? Por favor, sem essa de que não combinamos. - pedi.
- O fato de você ser escolhido rei com Ashley Hanners prova o quanto não combinamos. - reclamou ela.
- Queria ter sido a rainha do baile?
- Não, nem me inscrevi.
- Então do que está reclamando? Você nem competiu pra saber se iam votar em você. - refleti.
- Brad! Não preciso comprovar coisas que são óbvias. Não estou magoada com o fato de você ser a imagem da perfeição junto de Ashley. Não tenho ciumes disso. Não tive ciumes de te ver dançando com ela. É que desde o começo eu me puni por te amar, e hoje eu descobri porque. Eu me punia porque eu queria ser diferente, no entanto eu era exatamente igual a todo mundo. Porque eu não consegui conceber o fato de que um cara popular tenha preferido a mim do que a todas as garotas lindas e patricinhas do colégio, assim como todo mundo. Faz idéia do isso significa? Minha mente é tão pequena quanto a sua. Eu não queria ser igual a você. Mas sou... num nível rebaixado. Isso me deixou triste. Saber que tudo que lutei pra não ser, é o que eu me tornei. Uma vítima da sociedade. Uma discípula do tabu. Uma cega e prisioneira de ideais mesquinhos. - suspirou Andrew.
- Você não é igual a mim.
- Não?
- Não. Eu concebi o fato de que te amava no instante em que descobri. E nesse instante o que os outros pensavam deixou de importar. - contei.
- Então você é melhor que eu. - ela suspirou outra vez.
- É o segundo elogio que me faz hoje. - pedi.
- Então sua bola deve estar bem cheia, já que não costumo te elogiar. - ela sorriu outra vez.
- Sabe, você é a vítima da sociedade mais linda que eu já conheci. Pode me dizer algo com a sinceridade que tenho esperado desde que descobri que te amava? - eu disse, sério agora.
- O que?
- Diz... você me ama?
- Ah Brad... sinceramente, se não fosse pela sua imaturidade, nada disso teria acontecido. Eu não estaria aqui de vestidinho bege com sandalinhas pensando no quanto sou socialmente cega. Eu não teria terminado com Stuart. Eu não teria pagado o mico de ser mais uma na sua lista na escola. Eu não teria visto meu pai triste por estar longe da Janet. Eu não teria que aturar a Liz e o Matt toda santa manhã. E, principalmente, eu não teria vivido as emoções mais fortes da minha vida. Eu não teria brigado comigo mesma na frente do espelho. Eu não teria rido como uma idiota por qualquer coisa. Eu não teria assistido a porcaria daquele jogo de basquete. Eu não teria me sentido tão viva. E eu não teria sido tão feliz quanto eu sou quando olho nos seus olhos e vejo refletido neles a mesma emoção que há em mim exatamente no mesmo instante. Então, Bradley Tommas... sim... eu amo você. E eu adoro saber disso. - ela confessou, e eu ofeguei quando ela terminou.

Naquele instante eu entendi. Entendi que eu não era mais eu mesmo, e sim a essência do que eu era misturado docemente com o que eu aprendia e tirava de Andrew. Nós éramos dois precipitados tentando deixar sua marca no mundo da forma errada. E apenas juntos aprendemos que o mundo não importa, pois a única marca que fazia sentido é a que havíamos deixado um no coração do outro. E aquela marca era para sempre... e ela era incrível. Me inclinei para ela e a beijei docemente uma última vez como adolescente. E enquanto a lua das 11 da noite se transformava na lua da meia noite, eu crescia mentalmente, emocionalmente e fisicamente nos braços da minha ninfa sombria. Minha Andrew Marew. De mãos dadas voltamos para a formatura e dançamos a noite toda com Matt, Liz, Freud, Ellen, Ashley, Jonny, minha mãe, Jonathan Marew, o restante dos alunos, professores e pais também.


O ano terminou, e eu me mudei com Andrew para o campus da faculdade. Tinha passado o máximo de tempo com meus amigos, e confesso que chorei quando vi Matt uma última vez. Minha mãe não queria me deixar ir embora, e foi nessa hora que agradeci por ela ter casado de novo. Jonathan a desgrudou do meu pescoço e eu corri pro Maverick, onde Andrew já esperava. Ela vendeu a Halley. Partimos juntos para uma vida nova.

E enquanto dirigia meu carro com minha Andrew do lado, pensei: e tudo isso só aconteceu exatamente assim porque minha mãe casou de novo.


FIM

domingo, 17 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 94

De repente tudo ficou escuro. A luz correu do palco e focou a figura delicada e gloriosa de Ashley Hanners. Como um raio de sol, seu cabelo brilhou forte, e o vestido rosa curto e florido cintilou com o reflexo, provocando veneração em quem observava sua beleza naquele dia. Os grandes olhos azuis estavam tão chocados quanto eu, e ela procurava desesperadamente algo na escuridão. Quando seus olhos encontraram os meus, uma segunda luz forte brilhou sobre mim e me cegou por uns segundos. Andrew soltou minha mão e desapareceu na escuridão.

- Venham para o palco Ashley Hanners e Bradley Tommas! - clamava Jordan, sob uma luz roxinha fraca, ao lado de Selenna, que carregava uma almofada de cetim com duas coroas.

Meus olhos esquadrinharam a escuridão, mas não vi nada, nem rostos dos presentes, nem as mesas e cadeiras, muito menos minha ninfa sombria. Voltei meu olhar para Ashley, que se destacava na luz como eu, e ela me lançou um olhar de desculpas. Balancei a cabeça despreocupadamente, para que ela não se sentisse culpada. Afinal, não era culpa dela que justo nós dois tínhamos ganhado de casal mais perfeito do colégio. Nem éramos um casal! Mas Andrew e Jonny tinham que entender. Respirei fundo tentando controlar minha preocupação, caminhei até Ashley Hanners, as luzes ainda nos focando, e junto com ela subi no palco.

Jordan sorriu para mim, mas a falsidade no sorriso faiscava. A vontade expressa nos olhos dele era de me mandar a merda, tacar a coroa no chão e sair dalí. Selenna elogiou o vestido de Ashley enquanto colocava a coroa nela, mas o tom de sua voz era de extrema inveja. Quando chegou a mim, colocou a coroa com tamanha brutalidade que machucou meu couro cabeludo:

- Sei que votou em mim e em Ashley. Obrigado Seleninha, meu bem. - pisquei ironicamente, sussurrando para ela.
- Tomara que você tropece e quebre um dente quando descer do palco. - ela guspiu as palavras, e saiu dalí o mais rápido possível.

Ouvi palmas por todo o ginásio, e a escuridão se iluminou um pouco, mas a luz sobre mim e Ashley ainda nos deixava cegos. Uma musica lenta começou a tocar, e Ashley tocou meu braço:

- Não precisamos dançar a valsa dos reis, sabe disso. - ela sussurrou.
- Por mim tudo bem. Jonny vai ficar bravo? - perguntei.
- Não acho que nos culpe por isso. Mas Andrew não parece muito racional, e eu não estou afim de sair da formatura de olho roxo. - ela riu.
- Ela entende. Não fiquei implorando pelo colégio pra ser o rei hoje. Me concede a honra, senhorita Hanners? - sorri, com meu velho tom galanteador.
- É um prazer, senhor Stanley. - ela sorriu também, e pegou minha mão.

Rodamos num compasso lento no meio do ginásio. De repente percebi que eu devia aquilo a Ashley. Ela sempre sonhou em ser um casal perfeito comigo, e sempre ambicionou ser a rainha do baile ao meu lado. O sorriso de repente vitorioso em seus lábios me fez perceber que aquela cena era como um dejavu para ela. Ela tinha sonhado exatamente assim. Eu e meu smoking impecável, ela e seu vestido rosa florido, as coroas em nossas cabeças e o ginásio em silêncio nos admirando enquanto rodávamos feito plumas ao vento. E eu a havia magoado tanto e matado esse sonho tantas vezes. E lá estava ela, ressucitando e realizando um sonho perdido.

Pensei mais uma vez em como Andrew se sentia vendo aquilo. Eu e Ashley éramos aparentemente tão perfeitos juntos... a líder torcida e o capitão do time de basquete. E ela, uma metaleira rebelde perdida na escuridão do ginásio olhando de longe. Típico de um fim de filme, se ela fosse a vilã. Eu e Ashley éramos perfeitos em um mundo perfeito, e Andrew não fazia parte dele. Esse último pensamento me doeu, como se meu coração se dividisse em dois, entre o Brad capitão popular e o Brad mudado. O Brad da Andrew. Da Andrew que não era vilã... porque na minha história, não havia vilão a não ser eu mesmo. Eu quebrava corações.

Então olhei nos olhos azuis de Ashley e vi neles um sorriso familiar refletido. Era o meu sorriso. Eu estava sorrindo para ela, como ela para mim. O Brad popular estava sorrindo. E a pontada aguda que me veio nesse momento parecia o Brad de Andrew reclamando dessa felicidade inconcebível. Eu não merecia Andrew, não com essas vontades e pensamentos fúteis. E ela sabia disso o tempo todo. Por isso tantas vezes lutou para não se apaixonar por mim.

Foi nesse instante que uma mão masculina pousou em meu ombro. Olhei assustado para o lado, e me deparei com Jonny sorrindo para mim. A expressão serena e doce em seu rosto me pareceu tão estranha, visto que eu estava com a mão na cintura da namorada dele.

- Ei capitão, me concede a honra de dançar com a rainha do baile? - perguntou ele, com a voz divertida.
- Cla-claro... - gaguejei.

Uma leve sombra de decepção passou pelos olhos de Ashley quando passei sua mão da minha para a de Jonny. Sair do seu doce sonho e voltar para a realidade a pertubou um pouco. Mas ela se recompôs rápido e beijou o rosto de Jonny, depois olhou para mim:

- Foi incrível Brad. Apesar do susto, estou muito feliz de ser a rainha do baile. Obrigada por não me deixar sozinha lá em cima. - ela agradeceu.
- Um cavalheiro jamais faria isso. - respondi.

Enquanto eu saía da luz forte, o restante dos casais no ginásio se juntavam a Jonny e Ashley para dançar. Olhei para Jonny mais uma vez, e percebi que ele não estava perturbado com a cena que teve de presenciar e aguentar. Ele estava sereno, sorrindo sinceramente para Ashley. E quando olhei para Ashley, ela olhava para Jonny tão ternamente que eu entendi que nosso lance tinha acabado de vez. O sonho perdido de Ashley não fazia mais sentido nem para ela mesma. Ela entendeu que sua felicidade agora dependia de Jonny, e não de mim. Eu tinha agora mais dois amigos verdadeiros. Nesse instante, o Brad popular perdeu força e sumiu do meu subconsciente. Então o Brad de Andrew, desesperado, voltou e implorou para que eu fosse atrás de Andrew Marew. Precisava ver minha ninfa sombria.

domingo, 10 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 93

A formatura estava ocorrendo no ginásio do colégio de Nova York. Haviam cinco salas do terceiro ano se formando. Reconheci entre as pessoas algumas meninas do segundo ano, e percebi que estavam acompanhadas de alguns garanhões do terceiro. Típico!

O ginásio estava todo enfeitado. A iluminação era baixa, luzes florescentes rondavam a quadra toda, haviam flores de papel crepom circundando toda a arquibancada, mesas compridas com ponches e salgados e um palquinho de madeira onde uma banda juvenil tocava músicas dos anos 80. O som alto não impedia os formandos de conversarem, e o murmurinho dava mais emoção à festa. Alguns pais mais idosos estava recostados nas cadeiras do canto, tomando ponche e tapando o ouvido. Outros pais, mais joviais, dançavam no meio da garotada no centro do ginásio.

Assim que entrei com Andrew apoiada no meu braço, Matt deu um tapão nas minhas costas:
- Olá capitão! - ele estava sem o terninho de cima, com a camisa semi-aberta e o cabelo mais espetado e desarrumado que o habitual.
- Oi Matt. - arfei- Deixa eu colocar meu pulmão no lugar.
- Larga a mão de ser chorão, o tapa nem foi tão forte assim. - reclamou Matt.
- Sempre um cavalo, distribuindo patadas. Esse é o Matt! - agulhou Andrew.
- Te perguntei algo, filha do Jason? - retribuiu Matt.
- Oi Matt, meu querido, é um prazer me formar e saber que não vou ver sua cara de pastel por um bom tempo. - sorriu Andrew.
- Igualmente, querida! - Matt sorriu também.
- A festa mal começou, e você já está bêbado? - eu ri.
- Não estou bêbado, aqui só tem ponche de frutas sem alcool. Menores de idade, esqueceu? Mas Jonny trouxe uma garrafa de tequila e está pensando seriamente em batizar os refrigerantes. - apontou Matt.
- Vou fazer de conta que não sei de nada. E que esculacho é esse? Cadê sua gravata? - perguntei.
- Isso é uma festa. Você vai perder a sua já já. - Matt se virou. - Ei galera, o capitão chegou! - gritou ele.

Quando dei por mim, um bando de garotos malhados, suados e altos me levantaram, gritando algo como "New York HighSchool", e trotando pelo ginásio inteiro me jogando pra cima. Ouvi gritinhos de garotas e algumas palmas, mas só me perguntava onde Andrew estava e se ficaria magoada por ter ficado sozinha. Tive a impressão de ouvir minha mãe gritando "parem com isso, vocês vão derrubá-lo", mas ninguém se importava com minha coluna vertebral mesmo. Quando me puseram no chão, percebi que aquele era meu time de basquete. Jonny e Matt foram os primeiros a me abraçar, seguidos pelo restante dos rapazes. Nunca senti tanto calor na minha vida. E também nunca senti tanta emoção. Eu não fazia idéia de quando veria aqueles caras novamente.

Enquanto ajustava o smoking, encontrei Andrew conversando com Freud e Ellen. Quando peguei na mão dela, ela não recuou, mas começou a rir. Junto com ela, Freud e Ellen riram também.

- Que é? - fiquei incomodado.
- Seu novo perfume é afrodisíaco. Qual o nome mesmo? Ah, "Suor del Time de Basqueton". Francês, né? - gargalhou Freud.
- Vai pro inferno. - eu ri também.
- É incrível como homem se adora. Vocês são tão gays. - falou Andrew.
- Ei! - fiquei bravo com isso.
- Os malhadões sempre são gays. Fique com os magrelos metaleiros. Somos homens de verdade. - piscou Freud, levando um tapinha ciumento de Ellen.
- Claro, claro. Por que você não... - eu pretendia fazer um piada maldosa de revide, mas o paraninfo chamou a atenção de todos ao palco.

Era Jordan Fartew, um nerdizinho metido a besta que tinha uma excelente oratória. Ele fez um rápido discurso sobre faculdade, amizade, obrigação com o mundo, futuro e carreiras... uma balela chata que fez muitos bocejar. Somente a fresca da Liz, que (admito eu) estava linda no vestido roxinho bebê rodado com gola franzida, chorou quando ele usou a frase final "que o colégio seja a doce lembrança de grandes homens e grandes mulheres com coração de criança". Pensei ter ouvido outros suspiros e "snif's" entre o murmurinho, mas ignorei, visto que agora viria uma parte interessante:

- Amigos e amigas do colégio de Nova York, é com muito orgulho que vou anunciar agora quem são os rei e rainha do baile desse ano. Vocês votaram o ano todo, então nada de decepção com o resultado! - avisou Jordan.

Eu ri, e Andrew me fitou:
- Eu estou rindo porque no começo do ano fiz muita campanha pra ser votado. - contei.
- Sei, e acha que vai ganhar? - ela ficou àcida.
- Não. Decaí muito. Ashley acabou comigo bem no final do primeiro semestre letivo. Jonny foi o carinha mais popular dos ultimos tempos. Acredito que ele ganhe. - ponderei.
- Ashley também decaiu. Nem é mais líder de torcida. Se Jonny ganhar, ela ganha. - Andrew deu de ombros.
- Hmmm, você tem razão. Talvez não seja eu, nem Ashley, nem Jonny. Talvez seja Matt e Liz. As votações bombaram na última semana, e eu ouvi muita gente dizendo que ia votar neles porque eles eram um casal perfeito. - conclui.
- É verdade. Eu ouvi muito isso também. - Andrew concordou.

Selenna subiu no palco com um envelope rosa nas mãos. Entregou a Jordan, que piscou pra ela. Selenna revirou os olhos, e todos no ginásio riram. Envergonhado, Jordan abriu o envelope:

- O rei e a rainha do baile de formatura desse ano são... Ashley Hanners e Bradley Tommas Stanley!

Tudo girou e eu não entendi por que diabos tinha ouvido meu nome combinado com o de Ashley na mesma frase.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 92

Minha mãe estacionou a minivan no jardim e entrou na casa grande de Jonathan Marew, mas eu preferi esperar no portão, parando o maverick no meio-fio. Em 5 minutos, os dois saíram e entraram no sedan de Jonathan, dando uma buzinada para mim antes de arrancarem. Ótimo, Andrew estava atrasada. Entrei no jardim e bati na grande porta de madeira trabalhada da frente da casa. Depois de 5 batidas, Andrew apareceu.

Meu queixo caiu quando a vi. Ela ainda parecia um anjo sombrio, pois a maquiagem negra não abandonou seus olhos claros, e a pele branca estava mais reluzente que nunca. Mas o vestido pérola era tão inacreditável, que eu não sei se meu choque foi por ver um vestido tão lindo ou ver Andrew Marew, a metaleira, nele. O vestido era tomara que caia, ia até um pouco acima do joelho, e rodado a partir da cintura, com detalhes discretos mas perfeitos parecidos com bordado, e ficavam suavemente doces no corpo magro de Andrew. Apesar dos olhos contornados severamente de preto, a boca trazia um brilho incolor discreto, e as bochechas estava levemente rosada. Uma correntinha fina prateada enfeitava o colo, e Andrew sorriu para mim quando percebeu que eu a admirava. Fiz uma careta quando cheguei aos pés, e percebi que ela estava descalça.

- Calma, eu já ia por o sapato, mas você não parava de bater. - ela riu.
- Espera! Que sapato a senhorita vai por? - perguntei.
- O que você acha?
- Não está pensando em ir com o coturno, está?
- Na verdade, não... mas sabe que não é má idéia. Esse vestido me deixou parecendo uma patricinha. O coturno cortaria essa imagem. Valeu, meu bem! - ela sorriu.

Peguei Andrew pelo braço, impedindo ela de ir buscar o coturno.
- Antes de optar pelo óbvio, que tal ver o presente que eu te trouxe?
- Presente? - ela olhou desconfiada a caixa marfim. - De formatura?
- Eu tinha planejado te dar no natal, mas você não ia merecer, já que foi uma menina má o ano todo. - ela revirou os olhos quando disse isso. - Enfim, parece que eu advinhei a cor do seu vestido.
- Hã? - ela não entendeu.

Entreguei a caixa marfim a Andrew, e ela logo abriu. Esperei por xingos como "você está dizendo que eu não sei me vestir?", mas o máximo que Andrew fez foi arfar. Ela tirou as sandálias marfim da caixa, e ficou olhando deslumbrada para elas.
- São lindas, e quase da mesma cor do meu vestido!
- Por favor, diga que vai usá-las hoje, por favor, por favor! - eu implorei.
- Quanto é o salto?
- O vendedor disse que era 12 centímetros. Não são tão altas.
- Mas eu não me dou muito bem com salto.
- Você usa aquele monstro de coturno no pé. Essas sandalhinhas não são nada.
- Hmmm, não sei. E se eu cair?
- Eu te seguro, baby. - eu fiz charme.
- Ah claro, vou ter um bom motivo pra ficar agarrada a você na festa. - ela revirou os ohos e entrou na sala, sentando no sofá.

Fiquei maravilhado quando a vi por as sandálias nos pé. Os pés, branquinhos e delicados, ficaram perfeitos nas sandálias marfim de salto fino. Fiquei esperando Andrew atirar as sandálias em mim e reclamar que estava parecendo uma patricinha, mas isso não aconteceu. Andrew havia esquecido completamente o velho coturno, e estava radiante com os sapatos novos. Se eu soubesse antes que até Andrew se rendia a paixão feminina dos sapatos, teria usado essa tática mais vezes.

- Vamos de maverick? - perguntei, anestesiado com a beleza da minha namorada.
- Claro, espera que eu vá de moto assim? - a velha ironia de Andrew nunca mudava.
- É claro que não. Me dê seu braço. - pedi, e ela estendeu a mão confusa.

Coloquei suavemente a pulseira de flores no braço fino de Andrew, e vi os olhos dela brilharem com o gesto simples. Ela respirou fundo, e me olhou docemente:
- Pronto pra arrazar na festa de formatura, capitão?
- Sim, namorada do capitão. - eu ri.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 91

Os rumos que a vida toma, mesmo quando planejados, são inesperadamente intensos e confusos. Matt, meu melhor amigo, passou em medicina na Universidade de Chicago, enquanto Liz passou em Artes Visuais na Universidade do Estado da Luisiana. Os dois iam se separar, e isso foi triste de assistir. Liz chorou por duas horas seguidas, e eu deduzi que era uma hora de felicidade e uma hora de tristeza. Matt prometeu até pela vida do ramster dele que não ia deixar o namoro acabar, até que teve uma idéia que deixou tanto a mim quanto aos pais dele de boca aberta. No dia seguinte, a aliança brilhante na caixinha preta deixou Liz sem fala. Eles ficaram noivos.

Freud passou em Artes Cênicas, junto com Ellen, (quem diria) Jonny e Ashley na Universidade do Colorado. Andrew e eu tínhamos a teoria de que Jonny desistira da faculdade de Engenharia por causa de Ashley, mas ele jurava que Artes Cênicas sempre tinha sido seu sonho. Stuart, irmão de Freud e (grrrrr!!!) ex namorado de Andrew tinha ido embora para Phoenix. Segundo as más línguas, ele tinha fugido com uma morena bronzeada, mas ninguém nunca o viu de fato com tal mulher. Genna, minha companheira de detenção, tinha passado em Direito no Arizona, e eu nunca entendi como isso foi acontecer. Todas as líderes de torcida haviam passado em cursos semelhantes, o que era óbvio. Apenas Selenna optou por Biologia, embora sempre tenha ido mal nessa matéria. Alguns rapazes do meu (agora ex) time de basquete passaram em Educação Física na mesma universidade que eu, e o restante partiu para engenharia. Adam não foi mesmo para a faculdade, e talvez encontrasse Nadine no ano que vem no mesmo colégio de Nova York.

A noite estava linda. Não era lua cheia exatamente, pois a pequena sombra na lateral da lua revelava que ela estava minguando. Mesmo assim, ela iluminava perfeitamente a calçada diante da janela do meu minúsculo quarto do apartamento de minha mãe. Suspirei. Desencostei-me do parapeito, e me virei para o espelho para ajustar a gravata borboleta do impecável smoking. Meus cabelos pretos, normalmente espetados, hoje caíam arrumados com gel.

Peguei a pulseira florida dentro da caixinha de plástico que daria a meu par do baile, Andrew Marew. Ri ao pensar que vestido ela estaria usando. Isso é, se estivesse mesmo de vestido. Não me surpreenderia se ela aparecesse de camisetão e coturno. Eu ia querer morrer se ela fizesse isso, e ia dar um chilique, mas não me surpreenderia. Tudo bem, talvez ela usasse o corpete vemelho horroroso com alguma saia rodada... ou talvez usasse um vestido, mas não abrisse mão do coturno. Enfim, pro coturno eu estava preparado. No canto do quarto, peguei a caixa marfim e a coloquei debaixo do braço esquerdo, apoiei a pulseira de flores em cima dela, pegando com a mão direita a chave do Maverick e rodando no dedo indicador. Saí do quarto e encontrei minha mãe na sala. Ela usava um vestido comportado preto. Eu já disse o quanto minha mãe é linda? A pele morena madura, mas perfeita, o cabelo preto preso num coque grosso, deixando cair uns cachos, e sandálias escuras com saltinhos pequenos. Uma mulher linda e respeitável. Ela olhou para mim orgulhosa:

- Oh, Brad, meu bebê! - choramingou ela.
- Mãe, sem essa de bebê na frente dos meus amigos. - eu ri.
- O que é essa caixa? - ela percebeu o que eu carregava.
- Um presente para Andrew, nada demais. - sorri, cortando o assunto.
- Tudo bem. - ela respirou fundo. - Bradley Tommas Stanley, pronto para a formatura?
- Sim senhora, Janet Stanley Marew.
- Suas malas?
- Já coloquei no maverick. Tem certeza que posso dormir na casa do Jonathan hoje?
- Claro, Brad. Daqui dois dias você vai se mudar pro campus. E eu já assinei a recisão do contrato do apartamento. Amanhã já não podemos mais estar aqui. Além disso, eu quero muito voltar pra minha casa. - minha mãe sorriu com a idéia.
- Você tem certeza que não quer ir com o filhão de maverick pra formatura?
- Eu gosto da minha minivan. Além, tenho que buscar o Jonathan. Ele é meu par do baile. - ela riu.
- Ah, sei. Desde quando os pais dos formandos tem parzinho de baile?
- Desde que Janet Marew é um dos pais. - ela piscou.

Saímos juntos do velho apartamento. Antes de fechar a porta, meu sentimentalismo idiota fez meu coração bater mais forte. Parei e olhei para meu antigo lar uma última vez. Nunca mais eu voltaria para esse lugar, onde fui criado e onde passei os últimos seis meses da minha adolescência. Suspirei, e fechei a porta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 90

A semana de provas finais atingiu seu àpice na sexta feira, quando saíram as notas. Passei raspando em História e Geografia, arrasei em Matemática, Física e Química, fui mediano em Inglês e Biologia deu pro gasto. Eu estava aprovado no ensino médio, era o que importava. Andrew estava com notas impecáveis, quase tudo 9 e 10, apenas com um 6 em Matemática. Matt, Liz, Ellen, Jonny, Ashley, todos aprovados, até Freud. Vi Nadine sair de fininho, e fiquei sabendo que ela havia repetido de ano. Adam, o britânico almofadinha, não poderia ir pra faculdade, pois havia ficado em dependência de Biologia. No fim do corredor, vi Genna me lançando um cumprimento alegre, e logo me apercebi de que aquilo era um aviso de que ela havia passado.

Assim que cheguei no apartamento, minha mãe pulou no meu pescoço, e quase me derrubou. Ela ria e chorava ao mesmo tempo. Depois de sentá-la no sofá com muito esforço, minha mãe conseguiu falar:

- Chegou... chegou... chegou... - ela arfava.
- O que chegou, mãe? - eu perguntava, ansioso.
- A ad... a... nossa.. a admissão!!! - gritou ela.
- Admissão? Admissão do que... aaaah!!! - minha ficha caiu.
- AAAAH!!! - minha mãe gritou junto.
- Carolina do Norte? - perguntei, enlouquecido.
- UNC!!! UNC!!! - minha mãe gritava, mais enlouquecida que eu.
- WOW!!! UNC!!! - eu pulava na sala do apartamento.

Quando liguei para Andrew, eufórico, ela nem disse "Alô".
- UNC Brad!!! PSICOLOGIA!!! - berrava ela no telefone.
- Que demais. - murmurei, e a euforia dela passou.
- Você recebeu a carta também. - ela perguntou, ofegante.
- Sim senhora. - respondi, no mesmo tom baixo.
- Você... a carta... Brad, o que diz a carta?
- Educação Física.
- O que?
- Passei na UNC em educação física.
- Tá zuando! - o tom cético não escondia a alegria.
- Uau, me senti ofendido agora. Achou que eu não ia passar? - brinquei.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! - ela gritou vitoriosamente no telefone.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! - gritei junto.

E daí, foi só alegria. Jantamos no restaurante mais caro de Nova York para comemorar, e Jonathan pagou a conta. Minha mãe não parava de apertar minha bochecha, e Jonathan olhava para Andrew com tanto orgulho que dava até gosto. O melhor de tudo foi eu sentar de mãos dadas com Andrew junto com nossos pais. Aquela paz interior não tinha preço.

Quando voltei para o apartamento, deitei na minha cama olhando para o céu revelado pela janela aberta. As estrelas estava sufocantes de tão lindas. De repente veio à minha cabeça que eu não era mais um adolescente do ensino médio. Dalí a alguns dias eu iria para a faculdade... com Andrew, minha namorada sombria. Um aperto no coração me fez entender que aquela era uma das ultimas noites na minha cama. O medo se misturava com alegria, e a nostalgia com uma dose exagerada de euforia me fez ofegar. Meus amigos, minha casa... tudo iria mudar. Menos Andrew. Então fiquei feliz por te-la comigo nessa experiência completamente nova.

No sábado, seria a despedida final. Do meu quarto, ouvia minha mãe fazendo as malas para voltar para a casa de Jonathan Marew. Segui o exemplo dela, e me dirigi ao velho guarda-roupas. Separei o smoking impecável guardado no plástico para a formatura. Ri de pensar como as coisas mudaram desde que eu o comprei no começo do ano. Pensei que iria ao baile com uma das líderes de torcida. Achei que até o fim do ano letivo, eu escolheria a mais linda que conseguisse. Talvez fosse com Ashley Hanners, com quem certamente ganharia o título de rei do baile. Mas lá estava eu, arrumando o smoking no plástico para usá-lo no dia seguinte com Andrew Marew, filha do marido da minha mãe, menina rebelde com carinha de anjo e alma sombria. Minha ninfa das sombras, e agora namorada. Ri quando percebi que não ganharia o título de rei do baile. Não namorando Andrew deixando muitas garotas despeitadas por se acharem melhor do que a metaleira da escola. Talvez Matt ganhasse, por fazer um par tão perfeito com Liz. Eu não me importava. Só queria passar essa última noite adolescente com Andrew Marew.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 89

Quando as coisas estão para acabar, sempre senti como se o tempo parasse de me tocar. É como se as coisas não se movessem mais, e no momento em que eu pisco os olhos, o tempo que me restava termina repentinamente.

O último semestre na New York High School não tinha nada de último. Continuei jogando os capeonatos de basket como capitão, junto com Matt e Jonny, numa sintonia perfeita. Treinei os reservas que eram garotos do segundo ano junto com o treinador David, venci jogos incríveis, e voltei a ser o garoto mais popular do colégio. Ao meu lado Andrew Marew também brilhava como a namorada do capitão do time de basket, embora vivesse reclamando disso. Durante algum tempo eu ouvia murmurinhos sobre isso ser esquisito e Andrew ser minha irmã, mas pararam de dizer isso quando colei um cartaz no corredor com letras vermelhas escrito: "ANDREW NÃO É MINHA IRMÃ!!!". É claro que peguei uma detenção por isso, mas foi bom ver minha colega vândala Genna outra vez, já que em horário normal de aula ela quase nunca aparecia.

Matt e Liz davam enjoo de tão apaixonados, Freud e Ellen não se largavam e Jonny e Ashley nunca mais brigaram. Adam Turnwell, o almofadinha britânico dono do porsche no qual meu maverick bateu, passava longe da minha turma, que era a mais popular do colégio. Liz e Ashley fizeram as pazes, já que agora amavam caras diferentes. Quando uma das novas líders de torcida desistiu, Ashley voltou para o grupo titular por indicação de Liz, a chefe.

Minhas notas variavam de 5 a 8, mas o 10 em matemática era impecável. Em casa, minha mãe, Janet, cantarolava o tempo todo, e então descobri que ela estava adorando essa fase de sua vida por se sentir outra vez namorada de Jonathan. Jonathan, pai de Andrew, mandava flores toda semana. Eu e minha mãe jantávamos toda segunda, quarta, sexta e domingo com Andrew e Jonathan, então ainda nos sentíamos uma família. Nos sábados, eu e Andrew saímos com meu maverick para uma sorveteria, cinema ou simplesmente para ficar dentro do meu carro conversando sobre tudo e nada... mesmo assim, era incrível. Incrível porque Andrew ficava linda só com o brilho da lua; incrível porque, não importasse o que ela dissesse, eu ficava todo bobo só de ouvir a sua voz, e incrível porque mesmo quando ela brigava comigo, eu via graça e adorava seus tapinhas ocasionais.

Sabe aquele momento da vida em que tudo está bem, e todos os dias tem um teor de rotina, mas você gosta tanto dela que não sente que os dias passam? Tudo que é bom dura pouco, já dizia o ditado. Pois bem, só me dei conta de que o tempo passou quando andava no corredor do colégio de mãos dadas com Andrew e me deparei com uma grande faixa cor-de-rosa com glitter escrito: "BAILE DE FORMATURA". A data no canto inferior esquerdo me congelou, e parei bruscamente fitando o nada fazendo contas mentalmente para justificar o tempo.

- O que foi, Brad? Você está bem? - Andrew se assustou.
- Faltam... faltam três semanas para o baile de formatura? - eu sussurrei, ainda paralisado.
- Sim, é por isso que estamos na semana das provas finais. - disse Andrew, num tom de obviedade.
- Mas... mas... mas como?
- Como o que, Brad? Você fala como se não tivesse visto o tempo passar. - reclamou Andrew.
- E não vi mesmo. - resmunguei, fechando os olhos.
- Ei, todo mundo tá em clima de fim de semestre. Você treinando meninos do segundo ano pra ficarem no seu lugar quando se formar, votações de rei e rainha do baile, Ashley e Liz discutindo vestidos mais bonitos, cartazes por todo lado, formulários de faculdade para preencher...

Quando Andrew falou dos formulários, meus olhos se arregalaram:
- Argh! Formulários! - quase gritei.
- O que tem?
- Eu não preenchi nenhum ainda! - me desesperei.
- Brad! Seu cabeça de vento!
- É que tudo estava tão bem, e eu estava tão feliz que nem me dei conta de que o tempo passa tão rápido quando a fase é boa...
- Brad! Essa é a última semana pra enviar os formulários! Você tem que se apressar, ou não irá comigo pra faculdade! - me alertou Andrew.
- Nossa... estou me sentindo tão velho...
- Brad, você tem 17 anos.
- Eu sei, mas logo terei 18. E vou pra faculdade. Serei um adulto, sem mamãe pra fazer meu almoço.
- É... 18 com mentalidade de 13. Anda, vamos embora. - riu Andrew.

Assim que cheguei no apartamento, me deparei com a pilha de formulários na mesinha de centro. Preenchi todos ansiosamente, e só lendo os nomes de Universidades como Darthmouth me dei conta de que aquilo tudo era real. Logo eu estaria fora de casa. É claro que não ia me candidatar a Princeton ou Harvard, porque não era tonto de sonhar com isso nem tinha dinheiro pra me manter lá. Eu e Andrew havíamos planejado ir para a UNC (Universidade da Carolina do Norte). Mas será que conseguiríamos ser aprovados na mesma faculdade?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 88

- O que? - a voz de Andrew ficou àcida.
- Preciso fazer uma coisa altruista. Olhe pra ela. Não te dá pena? - choraminguei.
- Sinceramente, não! - Andrew estava brava.
- Andrew, pode ser um pouco solidária pelo menos uma vez na vida? Jesus disse que temos que amar nossos inimigos. - apelei.
- Ai Brad! Você sabe que sou agnóstica. - ela gemeu.
- Tudo bem, mas eu sou cristão, então com licensa.

Ouvi o queixo de Andrew trincar, mas eu sabia que ela me perdoaria mais tarde. Ainda mais quando ela soubesse o que eu estava planejando fazer. Andrew era mau humorada, chatinha, orgulhosa, mas era ética. E o que eu ia fazer era perfeitamente ético.

Enquanto me aproximava da mesa de Ashley Hanners, ouvi cochichos por toda parte. Assim que me viu chegar, Ashley olhou para todos os lados, se endireitando na cadeira e passando a mão no cabelo louro liso perfeitamente penteado. Não tenho certeza, mas acho que vi sua mão tremer assim que puxei uma cadeira e sentei.
- Oi Ash. - cumprimentei, sério.
- Bradley... o que... o que você quer? - gaguejou ela.
- Vim falar com você. Me diga, está triste? - tentei manter uma voz solidária.
- Não é da sua conta. Vá sentar com sua namorada! - ela ficou ríspida.
- Ash, as coisas não precisam ser assim...
- Brad, se tem uma coisa de que não preciso agora, é da sua pena!
- Não é pena. Eu só quero te avisar que você só está infeliz porque quer.
- Ah claro. Eu escolhi perder meu posto de líder de torcida, e perder você pra noiva cadáver! - ironizou ela.
- Ashley, eu sou um canalha...
- Tá, agora me conta algo novo. - ela riu, melancólica.
- Não, é sério. Sei que fiz mal a você, e admito que não te mereço. Você é linda Ashley, e não vou dizer que é mais linda que Andrew porque vocês duas tem belezas diferentes. Ela tem uma beleza sombria, algo delicado como boneca de porcelana e um mistério fascinante nos olhos. Já você, é iluminada como um raio de sol. Estonteante. Mas eu não sou apaixonado por você. Só que existe uma pessoa que daria tudo pra ter você, e assim como eu, você está cometendo o erro de não dar valor a quem te merece. - fui sincero.

Ashley ponderou por um momento, depois olhou para mim confusa. Os elogios quebraram a raiva inicial dela, e minha suposição final a desarmou:
- De quem está falando?
- Dá uma olhada alí do outro lado, no balcão do canto. - apontei.

Jonny estava de camisa polo azul escura e jeans surrados em pé no balcão das bandejas parecendo indeciso se pegava ou não comida. Seu rosto tinha a mesma expressão do de Ashley, uma dor disfarçada em carranca, e seu cabelo ruivo estava despenteado. O conflito mental entre a escolha ou não de pegar comida parecia se dar pelo fato de ele não fazer idéia de onde e com quem se sentar. Ele não iria até a minha mesa, pois ainda estava magoado com o fato de Ashley ainda achar que me amava. Aquilo cortava meu coração, porque apesar de tudo, eu adorava o Jonny. Quando olhei para Ashley outra vez, ela possuía no olhar um reflexo de empatia. Por um momento, seus olhos brilhando numa mistura perfeita de emoção e sentimento, ela me pareceu mais linda do que o habitual. Quase pude ouvir o clique no cérebro da loirinha no momento em que ela entendeu o quanto Jonny a amava e o quanto poderia ser feliz se parasse de achar que eu era o homem de sua vida.

- Pode me dar licensa, Brad? - Ashley pediu docemente, a voz fina suave, sem realmente olhar para mim, mas focada em Jonny.
- Claro! Vai lá! - incentivei, me sentindo um cupido.

Ela passou por mim, mas antes que se afastasse, chamei:
- Ei, Ash!
- O que é? - ela parou.
- Amigos? - perguntei, sorrindo.

Ashley suspirou, depois retribuiu o sorriso:
- Amigos... mas isso não inclui sua namorada-irmã-vampira. - ela riu.
- Andrew não é minha irmã. - fingi uma expressão irritada.

Ashley Hanners se virou, e eu permaneci na mesa vazia observando. Vi quando ela tocou no ombro de Jonny, e ele piscou três vezes antes de ser dar conta que era real. Vi quando ele desistiu da comida, largou a bandeja e se virou surpreso para ela. Vi quando ela pareceu pedir desculpas com os olhos baixos e ele ergueu seu queixo delicadamente com a mão. Vi quando um sorriu para o outro e quando saíram de mãos dadas do refeitório. Respirei fundo, e senti como se tivesse tirado trinta Ashleys das minhas costas.

Olhei satisfeito para minha mesa, quando encontrei a costumeira sobrancelha arqueada de Andrew Marew me fitando. Agora era hora de enfrentar a minha leoa, e explicar aos cinco rostos confusos na minha mesa o que eu tinha feito e então poderia tocar minha vidinha simples e tranquila ao lado da minha ninfa das sombras. Foi nesse instante que me lembrei de que ainda havia um casal separado por minha causa - não só por minha causa, mas por causa de Andrew também. Minha mãe e o Jonathan. Ótimo, mais um peso em minha consciência.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 87

Liz chegou atrasada na aula, e sentou correndo na minha frente. A professora de história não era tão chata quanto o professor Marcos de matemática, então a turma conversava na aula, juntava as carteiras e entrava a hora que queria. Minha carteira estava colada na de Andrew, e assim que Liz chegou, começou a copiar a matéria da lousa, mas espiava constantemente por cima do ombro.

- Eu vou quebrar os dentes dela. - resmungou Andrew.
- Nossa... por que? - me assustei.
- Ela está me irritando. - explicou Andrew.
- Liz, você está irritando a Andrew. - falei mais alto.
- Brad! - Andrew protestou, e eu ri.
- Desculpe Andrew, não precisa quebrar meus dentes. - Liz se virou - É que vocês dois estão... juntos. O colégio todo tá comentando.
- Sério? O que estão dizendo? - me interessei.
- Alguns estão dizendo que Brad está em decadência, que de líder de torcida decaiu pra uma rebelde sem causa. Mas a maioria está idolatrando você, porque até Andrew Marew, a indomável do colégio, entrou pra sua lista. - Liz engasgou quando Andrew trincou os dentes.
- Mas são uns desinformados mesmo. Tiram suas próprias conclusões. Relaxe Andrew, falta pouco para acabar o semestre. - eu conclui.
- Eu sabia que eu levaria a pior nessa. Depois que Nadine virou liderzinha de torcida, todos acham que as headbangers são mau amadas revoltadas que invejam patricinhas. Agora que sou sua namorada, vão ter certeza disso! - choramingou Andrew.
- E desde quando você liga para o que as pessoas pensam? - ataquei.
- Brad... - Andrew tentou se justificar.
- Não me venha com "Brad". Uma vez você me disse que eu devia fazer as coisas sem visar minha imagem perante os outros. Que eu devia fazer as coisas porque quero e porque acho que é melhor. O que aconteceu com minha Andrew de filosofia própria? Eu adorava os conselhos dela. - fingi uma expressão de lamento.

Andrew suspirou.
- Pode ser um milagre, mas dessa vez você tem razão. Que se dane o colégio. Logo estaremos fora daqui.
- É assim que se fala, amiga! - Liz vibrou.
- Eu não sou sua amiga. - Andrew rebateu, azeda.
- Tudo bem... colega. - Liz riu, e eu revirei os olhos para o mau humor de Andrew.

Na hora do intervalo, Matt e Freud esperavam eu, Andrew e Liz na mesa do centro do refeitório. Liz deu um beijo leve em Matt, e se sentou ao seu lado. Assim que me sentei junto a Andrew, percebi a companhia nova à mesa. O cabelo verde cintilou na luz da manhã que contagiava o refeitório, e o piercing no nariz pequeno brilhou também. Ellen Watch, amiga de Andrew, estava de mãos dadas com Freud, com quem havia saído várias vezes, e ele se derretia todo enquanto dava colheradas de mingau na boca dela. Andrew revirou os olhos, e colocou teatralmente o dedo na garganta ameaçando vomitar. Eu ri quando percebi, então, que éramos 3 casais naquela mesa.

Enquanto Matt fazia piadas sobre a sainha de pregas de Andrew e Liz apostava suas economias que o sonho oculto da minha namorada era ser líder torcida, vagueei com o olhar pelo refeitório. No fundo, avistei uma pessoa solitária numa mesa vazia. De camiseta baby-look branca e jeans normais, Ashley Hanners remexia na bandeija, o olhar baixo e a expressão depressiva. Foi então que o assombro do olhar doloroso dela no corredor voltou a me atormentar. O fato provocou uma onda de algo parecido com dor e remorso em mim, e fiquei surpreso ao perceber que me sentia mal por ela. Afinal, se eu não fosse um canalha, ela nunca teria brigado com Liz, e nunca perderia seu posto de líder de torcida. Eu era o culpado, e sabia que a mudança que Andrew causara em mim não me permitiria ser feliz até que todo mal que eu havia feito não fosse perdoado. Eu também havia feito mal a Liz, mas ela havia me perdoado, e estava feliz com Matt, e era uma grande amiga minha.

Então, onde estaria o final feliz de Ashley? Só porque ela tinha armado contra mim por despeito, isso não significava que ela era a vilã dessa história. Talvez o vilão tenha sido eu o tempo todo. Uma vez Andrew dissera que eu era o vilão da história dela. Talvez para Ashley, eu realmente fosse o vilão. No entanto, eu não queria ser. Ela podia ser infeliz, e eu não ligaria, se não fosse por minha causa. Por isso, soltei a mão de Andrew e me levantei da mesa.

- Onde vai? - perguntou Andrew, surpresa.
- Falar com Ashley Hanners. - contei.

domingo, 26 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 86

- Brad, meu pai está arrasado. Parece uma múmia vagando pela casa, sem saber o que fazer e para onde vai. Não posso suportar isso. Ele não sabe mais viver sem sua mãe. - Andrew contou.
- Acha que minha mãe está pulando de alegria? Aquele apartamento está parecendo um velório. E eu também estou mal. Não gosto de ficar longe de você. - choraminguei.
- Brad, não se trata de nós. É dos nossos pais que estou falando. Poxa, o que foi que a gente fez? Nosso namoro é um absurdo. - ela disse isso fitando o vazio.
- Ei, ei, ei. Mesmo que a senhorita esteja pensando em terminar comigo, sabe que não vai funcionar. Minha mãe não vai por nós dois na mesma casa outra vez.

Andrew ponderou por dois segundos e fez um beicinho fofo, se sentindo confusa. A observei enquanto ela pensava.
- Brad, acho que estragamos tudo já, e não tem mais como ser como era antes, não é? - concluiu ela.
- Uau! Acertou na mosca, minha noiva cadáver. - ela até riu com minha ironia fora de hora.
- Escuta, você não vai largar de mim do nada pra voltar a ser uma lenda no colégio, não é capitão abdomen? - Andrew entrou no meu ritmo.
- O que? Já sou uma lenda. Fui destituido do cargo, consegui ele de volta, dei o fora na ex-chefe das líderes de torcida e já namorei a atual chefe, e agora namoro a rainha da rebelião gótica. Sou o cara! - eu ri.
- Ótimo, namoro o Mister Músculos Pateta Metido. - resmungou ela.
- Namora, é? Isso quer dizer que vai finalmente aceitar o fato de que me ama? - me iluminei.
- Talvez, se você parar de bancar o Super Man Colegial. - ela sorriu estranhamente.
- Tudo bem, sempre gostei mais do Homem Aranha.
- Ah não, o Homem Aranha é nerd. Você tá mais pra Homem de Ferro, absurdamente convencido. - ela riu de novo.
- Tá ok, minha Pepper... traga-me um chá. - o clima estava pra brincadeiras agora.
- Vai sonhando.
- Eu sonho sempre, ainda mais com você.
- Ah é, deviam ser pesadê-los. Adoraria esfaquear você agora. - Andrew fez uma voz sombria.
- É por isso que eu te amo. - falei, solenemente.

Ela sorriu mais docemente.
- Eu também te amo cara, bate aqui. - Andrew riu, disfarçando o momento romântico.

Em vez de bater na mão dela, a segurei delicadamente e a abaixei, etrelaçando meus dedos nos dela. Ela estremeceu e olhou para os lados se sentindo desconfortável.
- Qual é, namorados andam de mãos dadas. - reclamei.
- Me sinto uma patricinha. - resmungou ela.
- Claro, pra isso falta um pouco de rosa na sua roupa. - eu ri.
- Devo ter uma fita rosa na bolsa, engraçadinho.

Puxei ela comigo pelo corredor do colégio, e ela estava sendo literalmente arrastada enquanto caminhávamos para a sala de aula. Todos nos observavam, e embora parecesse estranho, eu me sentia orgulhoso de ser o namorado da rebelde metaleira mais gata do colégio. Senti alguns olhares maldosos, outros surpresos, mas no fim do corredor um olhar em particular me congelou. Ashley Hanners, de jeans e não roupa de líder de torcida, me olhava com dor, não com ódio. O amor que ela sentia por mim talvez fosse verdadeiro, pois a dor desiludida em seus olhos era quase tangível. Engoli seco e senti Andrew rígida ao meu toque. Como um cavalheiro, assenti com a cabeça como cumprimento, e puxei Andrew comigo para dentro da sala. Logo depois de nos sentarmos, lado a lado, a professora de História entrou e começou a aula. Ashley não entrou. Uma estranha onda de preocupação passou pelo meu peito, e a sombra daqueles olhos azuis melancólicos me assombraram a aula toda. Andrew, ao meu lado, refletia o mesmo sentimento.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 85

- Faaaaaaaaaaala Bradley Tommas, Capitão do time de basquete! - gritou Matt, vindo pelo corredor do colégio, o cabelo louro claro todo espetado.
- Oooi Matt, ala principal! - entrei no clima.
- Estacionou o carro na vaga dos bonzões do colégio? - Matt sorria.
- Sempre, irmão... sempre. - eu ri, vendo como minha vida não estava tão destruída assim. Afinal, eu era o capitão do time de basquete outra vez.
- Cadê a namorada? - perguntou meu melhor amigo, e minha expressão mudou da àgua pro vinho.
- Viu Andrew por aí hoje? - perguntei, tenso de repente.
- O quê? Você mora na mesma casa que a bruxa de blair, e não viu ela ainda? - Matt forjou uma expressão pasma.
- Não moro mais com Andrew Marew. - falei, me dirigindo ao meu armário.
- O que houve, cara? - perguntou Matt, agora sério.

Suspirei enquanto pegava meus livros.
- Minha mãe descobriu meu rolo com Andrew, e ela acha que é perigoso para nossas virtudes morarmos na mesma casa. - revirei os olhos. - Então me arrastou para o nosso antigo apartamento. - contei.
- Ah, ce tá me tirando? Não acredito nisso, velho! Estamos no século vinte e um. De que museu a sua mãe tirou essa bagaceira de "virtude". - Matt estava pasmo de verdade agora.
- Minha mãe ficou grávida de mim com 17 anos e foi abandonada pelo meu pai. É lógico que ela quer preservar tanto a mim quanto Andrew disso. E acha que morando na mesma casa, temos fácil acesso um ao outro. Ela não proibiu o namoro. Só quer que seja um namoro normal. - refleti.
- Ah, pensando por esse lado... mas tipo, Brad... sua mãe largou do Jhow? - perguntou Matt.
- Não, não, não. Eles só vão ficar separados de casa enquanto eu e Andrew ainda morarmos com eles. Assim que formos pra faculdade, eles voltam. - expliquei.
- Sei. Sua mãe confia no seu taco. Quem disse que você vai conseguir ir pra faculdade? Acho que se depender disso, Janet e Jonathan ficarão separados para sempre. Que tragédia!- Matt retomou o tom brincalhão.
- Matt, olha bem pra mim. Vê se eu tô pra brincadeira hoje? - falei, seco.
- Desculpa irmão. Ei, olha quem vem vindo. - avisou Matt.

Andrew andava em nossa direção como uma ninfa sombria. Os olhos inexpressivos contornados de um preto intenso, que realçava o claro de seu olho, os lábios perfeitos na cor natural sem nenhum batom, os cabelos agora castanhos esvoaçando pelo movimento de seu andar. O corpo magro jazia em uma camisa branca de linho fino, e descia docemente por dentro da saia preta pregada, que ondulava e revelava as pernas claras de um branco único. Mas nos pés, os velhos coturnos quebravam o encanto. Nesse momento, decidi dar para Andrew sapatos novos no natal.

Ela parou diante de mim, e então eu percebi que tinha parado de respirar. Ofeguei, retomando o ar, e Matt riu de mim. Andrew revirou os olhos:
- Tchau, Matt! - disse ela, espantando Matt dalí.
- Ei, seja lá o que for que você vá falar pro Brad, pode falar na minha frente. Não é, amigão? - brincou Matt.
- Matt... - gemi.
- Tudo bem, tudo bem. Eu vou embora. Mas depois o Brad vai me contar mesmo, você sabe disso Andrew. - Matt riu de novo.
- Matt!!! - eu e Andrew reclamamos juntos.
- Tá bem, já fui. Vou procurar a Liz. - murmurou Matt enquanto ia pelo corredor.

Olhei para Andrew inquisitivo e ansioso. Ela suspirou.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 84

O apartamento estava escuro, embora ainda fosse 4 horas da tarde. As janelas fechadas lançavam pequenos raios de luz pelas frestas. Haviam sombras pela sala principal, o que demonstrava que os velhos móveis do apartamento continuavam intactos, como havíamos deixado. É claro que meu antigo quarto estava sem cama, porque minha cama estava na casa de Jonathan, e não pertencia ao apartamento e sim à minha mãe. Mas segundo o que minha mãe dissera, Jonathan iria desmontar a cama e até amanhã a traria para cá.

Minha mãe passou por mim, automaticamente abrindo as janelas por onde passava. Suspirei. Carreguei a mala até o sofá marrom e me joguei nas almofadas. Olhei para o teto e respirei fundo, me arrependendo ao sentir o pó esfolar minhas narinas. Tossi quatro vezes, e minha mãe voltou pelo estreito corredor.

- É, eles não cuidam muito bem dos apartamentos vagos. - murmurou ela me vendo tossir.
- Ainda bem que não tenho renite nem nada assim. - respondi.
- Temos sorte de não terem alugado nosso apartamento durante esse tempo. - refletiu Janet.

Olhei para ela e um nó fechou minha garganta. Nenhum de nós dois estava feliz por estar na nossa ex-casa.
- Mãe, tem certeza do que está fazendo? - perguntei, numa voz sufocada.
- Brad, querido, veja pelo lado positivo. Você pode namorar Andrew em paz, meu filho. Não mudou nada. Apenas estou sendo uma mãe responsável. Ainda sou esposa do Jonathan, e assim que você for pra faculdade, voltarei a morar com ele. - ela forçou um sorriso.
- Mãe, reflita. Se for pra eu fazer alguma besteira com Andrew, não acha que vou achar qualquer outro lugar pra isso? Afinal, você não pode controlar tudo. - ponderei.
- Brad, meu bem. Se algo acontecer, vou ter minha consciência limpa pelo menos. Minha parte de mãe eu fiz. - ela sorriu outra vez, e eu quis morrer.

Não importava o que eu fizesse ou o que eu dissesse, minha mãe estava certa. Ela era a melhor pessoa do mundo. Estava disposta a passar meses separada do marido pra que pudesse me ver ter um namoro saudável e normal. Seja lá quem tenha sido meu pai, eu sabia nas raízes do meu cabelo que ele nunca mereceu essa mulher. Se Andrew fosse metade do que minha mãe era, eu seria o cara mais feliz da face da terra.

- Hummm, querido, se importa de dormir na sala hoje? Não sei se Jonathan trará sua cama a tempo. - comentou Janet.
- Tudo bem, mãe. Adoro dormir em sofás empoeirados. - eu ri, mas parecia mais um gemido.

A noite foi longa, logicamente. Minha mãe havia posto uma bacia enorme de àgua do lado do sofá para melhorar minha respiração, mas aquilo só serviu pra molhar todo o carpete da sala quando tropecei na bacia pra ir ao banheiro no meio da noite. Ótimo! Agora a sala ficaria cheirando a mofo. Pela manhã, Janet saiu cedo, antes de eu acordar como sempre. Acordei com o cheiro de café fresco e torradas com geléia. Sorri feliz de ver que minha mãe havia deixado o café da manhã pronto. Mas logo fiquei preocupado, sem saber como Andrew me receberia na escola hoje.

Depois de tudo que nossos pais fizeram por nós, não acreditava que Andrew seria capaz de me ignorar na escola. Cruzei os dedos, enquanto procurava a chave do maverick. Sem respirar fundo, com receio do pó, caminhei ansioso até o elevador, torcendo pra que Andrew me aceitasse como seu namorado. Mas como havia jurado pra mim mesmo antes, se Andrew desse tamanha mancada, eu nunca mais falaria com ela. Entrei no maverick, me sentindo inseguro como nunca antes.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 83

- Está decidido! Brad, vá arrumar suas coisas! - ordenou Janet, minha mãe, pela quarta vez.
- Mas mãe... - tentei argumentar de novo, sendo cruelmente cortado.
- Brad! Será que dá pra me obedecer? - gritou ela.

Eu grunhi. Estava contrariado, magoado, estressado e mais mil "ados" negativos diferentes compondo uma sensação de nostalgia que me dava um nó na garganta. Minha mãe saiu do quarto decidida a sair da casa de Jonathan e me levar junto com ela. "Não estamos nos separando", garantiu ela ao ver minha cara de desespero junto com a cara pasma de Andrew, "é apenas por alguns meses, enquanto vocês terminam o colegial". Ela não estava feliz. Seu semblante derrotado entregava isso. Jonathan também estava arrasado. Por que eles estavam fazendo aquilo?

- Você sabe que assim é melhor. As coisas vão se ajeitar, Brad. - Jonathan tentou sorrir.

O combinado era: Janet voltar comigo a morar no nosso antigo apartamento no subúrbio de Nova York enquanto Andrew e Jonathan ficavam na casa grande dele no centro. Eu e Andrew poderíamos namorar, eles disseram que nem sequer pensaram em nos proibir disso. Mas não podiam permitir que dois adolescentes morassem juntos tendo fácil acesso um ao outro durante a noite toda. "Uma tentação que pode levar a um grande problema" foi a expressão que minha mãe usou. Ela e Jonathan ficariam separados até o fim do ano. "É como se voltássemos a namorar", disse Jonathan, sorrindo um pouco com a brincadeira melancólica. Eles se veriam sempre que pudessem. Minha mãe disse que iríamos sempre jantar na casa de Jonathan. Ainda conviveríamos juntos, mas não mais durmiríamos na mesma casa.

Dormir era todo o problema? Mas que droga! Propus que eles colocassem travas nas janelas e nas portas do meu quarto e me encarcerassem a noite pra que eu não pudesse sair e escapulir pro quarto de Andrew. Jonathan balançou a cabeça e minha mãe bufou. "Não vou proibir você de ser adolescente, meu filho" justificou ela. Então me mandou arrumar a mala uma quinta vez.

Eu obedeci, derrotado. Amassei minhas camisas xadrez na antiga mala com a qual eu me mudara para a casa de Jonathan. Parei enquanto colocava os livros na caixa de papelão. Olhei meu quarto singelo e suspirei. Talvez fosse a última vez que estava dentro dele. Eram mais alguns meses de colegial. Se eu conseguisse entrar na faculdade, iria ser independente. Pensei aliviado no fato de Andrew querer fazer a mesma faculdade que eu. Dalí a alguns meses, poderíamos ficar juntos sem que minha mãe e Jonathan se sentissem culpados. Mas a nostalgia composta de sentimentos ruins voltou no mesmo instante. Minha mãe teria que ficar meeeeses longe de seu marido por minha culpa. Ela se sacrificava demais.

Lembrei nesse momento que teria um problema maior pela manhã. Enfrentar os alunos no colégio. Meus colegas de escola agora sabiam de minha paixão pela rebelde metaleira metida a maluca. E eu ainda duvidava se Andrew ia assumir ser minha namorada na frente de todos. Se ela me desprezasse na escola, depois de tudo o que nossos pais estavam fazendo pra que pudessemos ter um relacionamento normal, ela me magoaria de verdade. Estava farto de passar por alto as grosserias de Andrew. Toda aquela nostalgia fez a certeza de que eu queria passar o resto da vida com Andrew ficar por um fio. Se ela me magoasse de tamanha forma, eu não iria mais correr atrás dela.

Levantei carregando a caixa de livros e cds num braço e a mala de roupas no outro. Desci as escadas onde esperavam minha mãe, Jonathan e Andrew.
- Querido, já liguei para o prédio onde morávamos. Estão nos esperando. Minha malas estão na minha mini van. Você vai levar o maverick? - perguntou minha mãe.
- É lógico! - falei, arregalando os olhos.
- Então vamos embora. Tchau Jonathan. Nós... vamos voltar. - Janet parecia que ia chorar.
- Claro meu amor. Qualquer problema me ligue. Eu te amo. - murmurou Jonathan.
- Ainda não acredito que estão fazendo isso. - Andrew praguejou.
- Vamos logo, mãe. - pedi, antes que eu chorasse também.

Joguei a mala e a caixa no banco de trás do maverick, entrei e acelerei. Minha mãe saiu com a mini van na frente e eu segui com o maverick atrás dela. Antes de sair do jardim, olhei pelo retrovisor. Andrew estava parada em frente da casa com uma expressão frustrada no rosto. Aquilo apertou ainda mais a nostalgia. Senti-me sufocado, mas a mini van já virava a esquina. Apertei os olhos e os abri novamente sem fitar o retrovisor. Saí pelo portão e segui para a esquina, deixando para trás a minha, agora, ex-casa.

sábado, 31 de julho de 2010

Minha Mãe casou de Novo - Capítulo 82

- Opa! Reunião de família? - riu Jonathan ao entrar em casa e se deparar com todos nós na sala.

Ele fez piada, mas mal sabia que era quase verdade o que dissera.
- Jonathan, meu bem, acho melhor se sentar. - Janet miou, a voz triste.

Eu bufei e me joguei no sofá de quatro lugares. Dessa vez vi Andrew revirar os olhos.
- O que houve? - agora Jonathan estava preocupado.
- Brad e Andrew... estão dizendo que estão apaixonados. - Janet falou pesarosamente.
- O que? - Jonathan ficou perplexo.
- Olha Jonathan, antes que você comece a viajar, só quero avisar que a única coisa que fiz foi beijar a sua filha. Mais nada! - discursei e minha mãe me olhou apreensiva.
- Espera, espera. Filhinha, você odeia o Brad, não odeia? - Jonathan estava meio sem acreditar ainda na história.
- Ah... bem... o ódio é bem próximo do amor, não acha? - Andrew respondeu. Que bela forma de dizer "eu amo o Brad".
- Cheguei em casa e vi Brad beijando Andrew. Querido, eles juram que não passaram de beijos, mas estou atormentada. Eles ficam muito tempo sozinhos aqui em casa. - Janet explicou.
- Calma... espera um pouco. - Jonathan pediu.

O homem calmo e risonho agora estava perturbado também. Vi ele se apoiar no braço da poltrona de minha mãe e respirar fundo. Colocou os dedos indicador e polegar direito na base do nariz e fechou os olhos, tentando engolir o que ouviu. Quando abriu os olhos, me fitou confuso.

- Está namorando Andrew escondido? - ele perguntou, a voz falhando.
- Namorar é uma palavra bonita, não? Dá a idéia de seriedade. Gostei. Acho que você entendeu que estou falando a verdade quando digo que a amo. - respondi, mais calmo.
- Desde quando estão namorando escondido? - Jonathan parecia sério agora.
- Não sou muito bom com datas. - confessei.
- Isso está errado. Vocês são como irmãos. - Jonathan disse isso pra si mesmo.
- Epa, não vem com essa de irmãos, pai. - pediu Andrew.

Janet suspirou:
- Não entendem? Estamos numa crise aqui. Se permitimos que isso continue, com vocês assim, tendo tão fácil acesso um ao outro, pode imaginar o que vão dizer de nós? É negligência paternal. Vocês são muito jovens ainda.
- Mãe, temos mais seis meses de colegial. Estamos nos formando e iremos para a faculdade. Logo seremos maiores de idade e estaremos fora do controle de vocês. Podemos fingir que não temos nada até lá. - sugeri, e Andrew fez uma careta.
- Não se trata disso. Se trata que é estranho e nada natural. Se estão apaixonados, não vão resistir um ao outro enquanto estiverem morando juntos. Podem acabar fazendo alguma besteira e acabando com a juventude de vocês. - explicou Jonathan.
- Não vamos fazer besteira. - Andrew reclamou.
- Andrew, dia após dia juntos, sozinhos nessa casa. Não subestime seus hormônios, querida. E se você sair dessa grávida? - Janet foi direta.
- É uma possibilidade... e talvez uma fatalidade. - concordou Jonathan.

Revirei os olhos. Aquilo era um absurdo. Eu não ia engravidar Andrew. Pra que existiam contraceptivos? Além disso, não ficávamos tanto tempo sozinhos assim. E Andrew era meio durona na queda. Não ia conseguir levar ela pra cama tão fácil.
- Jonathan, meu bem. Só há uma solução para isso. - Janet disse, decidida.
- O que vai fazer, amor? - vacilou Jonathan.
- Venha comigo, quero conversar com você a sós lá no quarto. - ela pediu, e Jonathan a seguiu pela escada.

Suspirei. Iam falar da gente sem a nossa presença. Quando escutei a porta do quarto lá de cima se fechar, olhei para Andrew completamente perdido.
- O que acham que eles vão fazer? - sussurrei, tenso.
- O que você acha? - Andrew respondeu, ríspida.
- Há tantas coisas para se fazer trancado no quarto. - eu ri, mas minha piada era tão ruim que meu riso foi desafinado e desanimado.
- Aff, Brad. É óbvio que eles não vão namorar agora! - Andrew achava que eu estava falando sério?
- Eu estava brincando... - avisei, só por precaução.
- Brad, sua mãe é durona. Ela vai propor separação ao meu pai, certeza. - Andrew sussurrou, tensa também.
- O que? Mas... mas eles se amam. - fiquei horrorizado com a idéia.
- Como você disse, temos mais 6 meses nessa casa. Isso se formos aceitos na faculdade. Eles vão tentar nos manter afastados até lá. E o unico jeito de nos separar, é eles se separando também. - Andrew tentou me fazer raciocinar.
- Não... - eu arfei, pasmo.

Não era isso o que eu queria confessando nosso amor. Queria que minha mãe entendesse. Eu juraria de joelhos se ela me pedisse. Eu assinaria um contrato com meu sangue prometendo não passar dos limites com Andrew Marew. Eu ficaria na rua até que ela e Jonathan estivessem em casa. Mas não queria que minha mãe se separasse do pai de Andrew. Não queria vê-la triste longe do único cara com quem ela conseguiu construir uma vida. E também não queria ficar longe da minha ninfa das sombras.

sábado, 24 de julho de 2010

Minha Mãe casou de Novo - Capítulo 81

- Mas o que... o que.... ah... Brad?... Andrew??? Vocês.... - minha mãe gaguejava em choque.
- Mãe, não é nada do que a senhora está pensando! - foi a primeira coisa que veio à minha mente.

Mas que coisa inteligente a se dizer. Claaaaro. "Não é nada do que você está pensando". Andrew teria revirado os olhos e me dado um chute se não estivesse em choque também ao meu lado. Eu era o único que ainda conseguia se mecher, então tinha a obrigação de dar um desfecho a essa história.

- Mãe, pode soltar a maçaneta da porta? Vai quebrá-la torcendo-a dessa forma. - Janet piscou soltando a maçaneta e flexionando os dedos, saindo do estado de choque. - Sente-se mãe, precisamos conversar.

Minha mãe, Janet, engoliu seco, mas saiu da posição que estava, fechando a porta atrás de si e cambaleando para a poltrona onde Andrew estivera sentada quando cheguei. Ao ver Janet se mechendo, Andrew ofegou e estremeceu, saindo do choque e me olhando desesperada. Olhei de volta para ela meio envergonhado, meio que me desculpando e meio que alertando que ia contar tudo.

Não era a hora perfeita. Eu não tive tempo de escolher as palavras certas. Como foi que não ouvi a mini van de minha mãe entrando no jardim? A presença de Andrew me atormentava mesmo. Eu tinha ficado surdo, bobo e burro desde que me apaixonara por ela. E agora a senhorita Dona-da-Verdade estava em pânico e eu é que tinha que dar um jeito na situação? Era mais fácil quando Andrew tomava a dianteira. Ela era tão melhor com as palavras do que eu. Mas a garota da pele de porcelana com os olhos perdidos ao meu lado agora não parecia nem sombra da moça metaleira de atitude que fazia meu peito acelerar de paixão. Mesmo assim, meu coração acelerou e senti uma enorme vontade de reconfortá-la. Mas a mulher sentada na poltrona respirando fundo e contando as batidas do próprio coração estava esperando uma explicação. E eu tinha que ser homem agora.

- Mãe, eu e Andrew estamos apaixonados. - essa era a melhor maneira de começar.
- Brad! Você enlouqueceu? Você e Andrew... se odeiam! - Janet arfou.

Por que todo mundo dizia isso? Argh!
- Talvez nosso ódio fosse medo de admitir uma atração tão forte. - suspirei, e Andrew vacilou atrás de mim, caminhando até o sofá ao lado.
- Não, não, não querido. Você puxou isso do seu pai. Tão volúvel. Você só acha que está atraído por Andrew porque ela é uma garota diferente. Não faça isso com ela. - Janet choramingou, mas eu grunhi com a comparação.
- Pelo amor de Deus, mãe! Já disse pra não me comparar com meu pai! Não é nada disso. Não é ilusão. Eu a amo mesmo. - refleti.
- Disse que amava a moça loira também. - tuchê! Eu sabia que cedo ou tarde minha mãe ia jogar Ashley Hanners na minha cara.
- Mãe, por favor. Acredite em mim. Estou apaixonado. - disse, e olhei para Andrew. Ela fitava o chão.
- Desde quando estão fazendo isso? - Janet perguntou, ofegando, se referindo ao beijo que presenciou.
- A algum tempo. - eu respondi.
- Droga... droga. - Janet lamuriou.
- O que foi, mãe? - fiquei tenso.
- Eu nunca considerei um perigo deixar voces dois sozinhos nessa casa antes. Vocês eram incompatíveis, viviam brigando. Eu achei que essa implicância vinha porque vocês se viam como irmãos mesmo. Nunca achei que... que iriam ceder a tentações. Ah! Não confie em adolescentes, mesmo que se odeiem. - Janet choramingou para si mesma.

Dessa vez, Andrew falou:
- Não, Janet! Nós não fazíamos nada demais pelas costas de você e do papai. Não pense besteira. Apenas aconteceu um beijo ou outro. Eu não sou... assim. - ela se defendeu.
- O que eu posso pensar, Andrew? Chego em casa e vejo você e Brad se beijando! - Janet gritou.
- Mãe! Está fazendo tempestade em copo d'agua! - gritei também.
- Vocês moram na mesma casa! - Janet devolveu o argumento.

Andrew lançou as mãos para cima, exasperada:
- Eu te disse, Brad! Eu te disse que eles iam pensar isso. - ela arfou.
- "Eu te disse" não ajuda muito agora. - murmurei.
- Vocês dois ficaram sem supervisão. É o que acontece. Mas como, como eu podia imaginar... - Janet falava consigo mesma, pesarosa.

Nesse instante, ouvimos o sedan de Jonathan entrando no jardim. Ah, ótimo! Agora o circo tava completo. Com Jonathan em casa, minha mãe ia piorar na palhaçada. Respirei fundo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 80

Cheguei em casa e me deparei com a moto de Andrew na frente do portão. Ri para mim mesmo e estacionei o Maverick na rua, junto à moto da minha ninfa do mal. Desci do carro e dei a volta, entrando pelo portão meio enferrujado e passando pelo jardim. Quando abri a porta da sala, encontrei Andrew sentada na poltrona com uma expressão amoada.

Enquanto eu entrava na sala, ela nem sequer se mechia.
- Andrew? - eu disse, achando que ela não tinha percebido minha chegada.
- Reconheço o som do seu maverick à quilometros de distância. Já falei pra você levar num mecânico e dar uma checada no motor. Droga de carro velho! - murmurou ela, sem olhar para mim.
- Que bom que você está de bom humor - ironizei. - Precisamos conversar.

Andrew arfou e levantou da poltrona. Olhou para mim perplexa.
- Conversar? Já não basta a loucura que você fez hoje no colégio? - rugiu ela.
- Loucura? Andrew, Ashley nos delatou. Não compensava mentir. Chegou a hora de encarar a verdade! - rugi devolta.
- Brad, você tem idéia da extensão que vai ter o que você fez hoje? Agora todos sabem sobre a gente! Logo logo isso vai chegar aos ouvidos do meu pai e da sua mãe! - gritou ela, desesperada.
- É aí que eu queria chegar. Está na hora de contar para eles, Andrew. - eu disse.

O rosto de Andrew passou da habitual palidez pro vermelho. Ela ia explodir, mas respirou fundo e tentou me explicar com calma, falhando na voz trêmula.
- Brad... você não parou para pensar o que vai dar na cabeça dos nossos pais quando eles souberem? Nós moramos na mesma casa e sempre ficamos sozinhos na hora do almoço. Vão achar que estamos aprontando pelas costas deles. É o que toda a escola está pensando agora. Meu pai e sua mãe vão ficar desesperados com a idéia. Vão brigar tentando um colocar a culpa no filho do outro. E vão chegar a conclusão de que é melhor nos separar. E para nos separar, eles tem que se separar. Entendeu? Vamos acabar com o casamento deles!

Fiquei pensativo, digerindo o que minha ninfa estava dizendo.
- Andrew, você tá viajando. Estamos no século XXI. E mesmo que tivesse acontecido algo entre a gente, que de mal haveria nisso? - perguntei.
- O mal é que se trata dos nossos pais. Para eles, é um absurdo um casal de jovens morarem sob o mesmo teto. - ela argumentou.
- E qual era o seu plano então? Me namorar escondido pro resto da vida? - fiquei irritado.
- Meu plano era levar essa situação até que fôssemos para a faculdade e estivessemos livres da mão de nossos pais, podendo tomar nossas próprias decisões sem que eles achassem que somos jovens demais para decidir coisas importantes como nosso relacionamento. - desabafou Andrew.

Eu sorri com isso. Meio infantil, mas sorri.
- Então você não pensou em nenhum momento em me usar e depois me jogar fora e fazer de conta que nunca tivemos nada? - perguntei, tímido.

Agora Andrew riu também.
- É claro que não, seu bobo. Quem faz isso é o velho e garanhão Brad. Conhece?
- Conheço... e você matou ele. Eu gostava daquele cara. - ri de novo.
- Claro, um galinha sem futuro. Quem não gostava dele? - ela continuou rindo.
- Você amava... e ainda ama. - eu sorri, me aproximando dela.
- Você é um cachorro. - ela murmurou, sem resistir a minha aproximação.
- Au au. - eu brinquei, e ela riu mais uma vez.

Encostei os lábios nos dela, e meu mundo ficou colorido outra vez. Meu anjo sombrio envolveu meu pescoço com os braços finos e eu suspirei, abraçando-a pela cintura perfeita. Enquanto me deleitava de seu beijo, ouvi um arfar vindo atrás de mim. Soltei Andrew bruscamente no susto, e me virei para ver quem era. Minha mãe estava parada na soleira da porta da sala com o rosto apavorado.

domingo, 18 de julho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 79

- Senhorita Hanners, desça imediatamente de cima dessa mesa! - ordenou a voz imperativa da diretora Rosalie.

Todo mundo estremeceu com o rugir da mulher idosa e baixinha. Ashley desceu trêmula da mesa, enquanto eu fitava Andrew, que estava ainda paralisada. Assim que Ash estava no chão, a diretora Rosalie continuou.

- Senhorita Hanners, me acompanhe até a diretoria. Já sabe que vai ficar de detenção, não sabe? Onde já se viu, uma mocinha tão bem-parecida fazendo parafernalha na hora do intervalo! - ralhou ela, e depois se voltou para a multidão - E vocês? O que estão fazendo aí parados? Todos para a sala, imediatamente! Vocês tem cinco minutos pra sair da minha vista, ou irão para a diretoria também!

A multidão se dissipou rapidamente, e meu olhar correu para encontrar Andrew novamente, mas ela não estava mais alí.
- Algum problema, senhor Stanley? - perguntou a diretora, me fitando amargamente.
- Nã-não, diretora Rosalie. - gaguejei.
- Então vá para a sala! - gritou ela.
- Sim senhora! - eu corri, olhando para Ashley uma última vez.

Ashley estava com uma expressão desolada. O rosto confuso com minha declaração a Andrew, o semblante baixo e o ar de derrota por todo o corpo. Não gostei de vê-la assim. Uma pontada doeu fundo no meu coração.

Quando cheguei na sala de aula, percebi logo que Andrew não estava lá. A bolsa grande de preta não estava mais na carteira dela, então supus logo que ela havia fugido da escola. Medo dos alunos, ou medo de me encarar? A incerteza martelou em minha mente, enquanto me dirigia até minha carteira. O professor de Biologia ainda não havia chegado, e eu tinha poucos segundos. Na carteira da frente, Liz me olhava desconfiada:

- Vai atrás dela?
- Não sei... - suspirei.
- Ela não te apoiou lá no refeitório, na frente de todo mundo, Brad. Se a diretora Rosalie não chegasse, você ia pagar de tonto. - refletiu Liz.
- Andrew tem os motivos dela. - tentei ser compreensivo.
- Claro. Ela te ama, mas ainda quer que você pague pelos erros do passado. Quer saber, Brad? Ela é uma metaleira grossa que se acha dona da verdade. Uma idiota que se acha superior só porque tem coragem de bater de frente com os populares. Ela não é ninguém pra te julgar. Eu, que tenho o dever de te julgar, que sofri na sua mão, nunca te julguei. E no entanto você fez a coisa mais linda que eu já vi um cara fazer por uma garota, e ela foge? Qual é, Brad? Tá na hora de você ser homem! - Liz me deu um sermão.

Refleti um pouco. O ponteiro do relógio batia dez horas da manhã. Respirei fundo, e olhei nos olhos da minha amiga:
- Você tem razão, Liz. Eu tenho que ser homem. Mas... vou ser muleque uma última vez, ok? - eu ri, enquanto tacava a mochila nas costas e saia correndo da sala de aula.

Antes de sair pela porta, ouvi Liz bufar. Eu sabia que ela tinha razão. Andrew deu uma mancada feia. Mas eu não ia deixar isso barato. Só que, antes de tirar satisfação por isso, eu precisava saber onde Andrew estava. Avancei pelo corredor comprido, ainda com alunos se direcionando para as salas. Virei a direita e dei a volta para que o inspector não me visse fugindo da aula. Atingi o estacionamento e pulei para dentro do Maverick preto e antigo. Liguei o carro de primeira e dei ré até o portão aberto. Vazei pela rua, o motor roncando para combinar com a emoção da fuga. É claro que amanhã eu levaria uma advertência. E é claro que minha mãe ia arrancar minha orelha fora por causa disso. Mas naquele momento, isso não importava. Estava indo atrás da minha ninfa da escuridão. E eu tinha certeza que meu anjo sombrio estava em casa, com medo de encarar os outros alunos. Meu Maverick acelerou e roncou alto, no ritmo do meu coração.

domingo, 11 de julho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 78

O sinal tocou. Debandei da sala, arrastando Liz e Andrew comigo, segurando ambas pelo braço. Parei perto da entrada do refeitório.

- O que é Brad? Está me deixando apavorada! - gemeu Liz.
- Dá pra soltar meu braço? Está me machucando. - reclamou Andrew.

Eu as soltei.
- Ashley veio falar comigo. - arfei.
- O que ela queria? - perguntou Liz.
- Me ameaçou. - gemi.
- Larga a mão de ser frouxo, Brad. - zombou Andrew.
- É sério, Andrew. A última vez que Ash me ameaçou, ela me tirou do posto de capitão. - ofeguei.
- O que ela disse exatamente? - insistiu Liz, enquanto Andrew revirava os olhos.
- Disse que minha glória ia acabar hoje, no intervalo. - expliquei.
- Então vamos ver o que ela vai fazer. - concluiu Andrew, indo para a porta do refeitório.
- Andrew! - chamei.
- Eu não tenho medo de Ashley Hanners, Brad. - informou Andrew, abrindo a porta com tudo.

O clarão do reflexo do sol matinal sobre o piso branco do refeitório me cegou por dois segundos. Quando minha visão estabilizou, vi Andrew paralisada na porta. Liz, com boca escancara, entrava no refeitório. Eu entrei, e vi Ashley em cima da mesa central chamando a maior platéia possível. Minha boca se escancarou também.

- O que essa louca vai fazer? - sussurrou Andrew, um pouco menos confiante agora.
- Dar algum anúncio importante? - sugeriu Liz, palpitante.
- Ou contar algum escândalo. - supus.
- Caramba! Ash pirou de vez. A diretora baixotinha já foi chamada. Hoje a loirinha fica de detenção. - contou Matt, chegando de repente perto de nós.
- Você sabe o que ela quer com isso, Matt? - Liz perguntou, suplicante.
- Eu suspeito. Acho que tem a ver com Brad. E... fui eu quem chamou a diretora. Espero que ela chegue antes de Ash abrir a boca. - Matt explicou, e eu olhei tenso para ele.

Nesse momento, li nos olhos de Matt o que ele achava que Ashley ia fazer. Ele havia tentado me salvar chamando a diretora. Mas era tarde demais. Ela ia contar. A multidão de alunos circulava a mesa central, curiosa. Entre os alunos, estava Jonny, o olhar tenso. Ofeguei. Ao meu lado, Andrew ofegou também. Ashley abriu a boca.

- Temos um escâdalo nessa escola! E eu vou contar a vocês do que se trata! - gritou ela, decidida.

Sussurros e cochichos chiaram da platéia confusa. Ashley respirou fundo, e continuou:
- Conhecem Bradley Tommas, o ex e agora atual novamente capitão do time de basquete? Ele está apaixonado... e namorando escondido uma garota!

Quando ela disse isso, os alunos começaram a rir.
- Brad está sempre namorando alguém! Ele é um galinha! - gritou Selena, bufando.

- Dessa vez é diferente! - redarguiu Ashley. - Não é uma garota comum. Brad está namorando Andrew Marew, a irmã dele! - gritou ela, apontando para nós.

A multidão que fitava Ashley parou de rir, e voltou os olhos assustados e surpresos para trás, onde estavamos eu e Andrew. Meu coração vacilou e voltou a bater acelerado, e senti como se pudesse ouvir o coração de Andrew fazendo o mesmo. Liz e Matt congelaram, enquanto o cochicho entre os alunos recomeçavam.

- Andrew Marew? - ouvi Nicolle, uma das ex-líderes de torcida ofegar.
- Eles não são irmãos? - um cochichava para o outro.
- Acho que não... eles não tem laços sanguíneos. Parece que o pai dela casou com a mãe dele, uma coisa assim. - outros supunham.
- Mesmo assim, eles moram juntos. É estranho... - sussurravam alguns.

Nesse momento, meu coração se acalmou e reclamou uma atitude minha. O sangue em minhas veias ficaram mais quentes, e eu respirei fundo antes de falar alto e claro.
- Primeira coisa: ANDREW MAREW NÃO É MINHA IRMÃ! - gritei, e todos se calaram.

Ashley olhou para mim inquisitiva, mas eu continuei.
- Segunda coisa: Ashley... foi legal enquanto durou, mas não rola mais. Por que você não tenta viver? Você é linda, e muitas caras dariam tudo para estar com você agora. Está na hora de você seguir em frente e me deixar em paz. Eu tenho vida. Você tem? Então cuida da sua.

Nessa hora, Ashley vacilou, e tentou gaguejar algo como "não se trata de você..." mas todos sabiam que aquele escandalo era causa de uma amargura guardada por despeito. Eu a olhei, não com raiva, mas com pena. Ela estava desesperada. Havia perdido muita coisa nesses tempos, e só queria descontar sua dor em quem ela acreditava ser o culpado - eu.

Respirei fundo. Agora vinha a parte mais difícil.
- Terceira coisa: E se eu amar Andrew? Qual o problema? Ela é apenas filha do cara que se casou com a minha mãe, mas continua sendo uma garota dessa escola, disponível. Olhem para ela. Ela ... ela é incrível. Vocês podem dizer o que quiser sobre ela não combinar comigo, ou de sermos de mundos diferentes. Eu estou cansado das regras dessa sociedade que se desata desde o colegial, onde olhamos uns para os outros como inimigos. Onde estamos? Numa escola, não é? Eu sou um adolescente, e tenho direito de me apaixonar. E estou perdidamente apaixonado por Andrew Marew, uma metaleir... é... uma headbanger. Tantas líderes de torcida, e nenhuma delas despertou em mim metade do que Andrew desperta. E se isso for além do colegial... e se isso atravessar a faculdade... eu sei que vou ser feliz. Porque me sinto completamente feliz quando estou com ela. Ela... a garota rebelde meio maluca que senta no fundo da sala e escuta Stratovarius. A banda é uma droga, mas... eu te amo, Andrew.

Todos me observavam chocados. Andrew possuia a mesma expressão pasma. Eu a fitei, esperando uma reação. Afinal, havia acabado de me declarar para ela na frente da escola toda. De relance, vi Andrew vacilar para trás. Não, não, não, não... ela não ia fazer isso comigo, ia? Fugir e me deixar como um paspalho declarante plantado sem resposta alguma na frente de todos. Tudo bem. Se ela fizesse, eu entenderia. Eu era um cretino, e merecia isso por ter magoado metade de todas as garotas presentes. Eu era uma frustração feminina, e estava na hora de pagar meus pecados.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 77

Era para ser uma manhã normal. Era pra ser um dia normal. O domingo passou tranquilo, sem altos e baixos, no sabado meu time ganhou o jogo, Liz derrotou Ashley na competição... tudo na boa.

Segunda feira. Desde que nasci nunca gostei de segunda feira. Dia idiota. Maaaas, se não existisse segunda feira, a terça seria uma segunda, e eu ia odiar um dia na semana do mesmo jeito. Acordei sorridente. Afinal, hoje depois da aula Andrew tinha topado contar sobre nosso namoro a nossos pais. Ela meio que desconversou isso o fim de semana todo, mas sabia que ela tinha palavra e não ia voltar atrás. Tomei uma ducha que combinava com minha energia no momento. Vesti minha camisa xadrez favorita e meus jeans surrados, além do all star preto. Coloquei o estiloso ray-ban na bolsa, e joguei a mochila nas costas. Passei por Andrew na cozinha e lhe dei um beijo, visto que minha mãe e Jonathan já haviam ido trabalhar. Peguei uma maçã e me direcionei para sair de casa, lançando um charme para minha ninfa do mal.

Entrei no maverick, e liguei o motor. Legal! Pegou de primeira. Bom humor é contagiante. Até o carro curtiu a onda. Acelerei, deixando o vidro aberto, que lançava uma brisa ligeira mas leve em meu topete preto. Parei no estacionamento, do lado do carro feio de Matt. Addam não roubava mais meu lugar entre os carros dos populares, e Jonny me abrira uma brecha. Isso era bom. Significava que ele não me odiava porque Ashley havia jogado na cara dele que me amava...

Andei pelo corredor do colegio radiante, me posicionei em frente ao armário, pegando os livros sorridente. Sentia que podia até dançar. Dei um giro "estilo Michael Jackson" e então parei bruscamente paralisado. Ashley Hanners... olhando para mim, sem expressão.

- A-a-ash? - gaguejei. Não esperava que chegasse perto de mim... não hoje.
- Olá, Bradley Tommas. Deve estar muito feliz, não é? É bom ver que está curtindo a sua vitória e a vitória de Liz, sua nova amiguinha. Eu só vim te avisar que hoje seu dia de glória acaba. E no intervalo você vai descobrir por que. - Ashley cuspiu as palavras para mim, e eu ouvia pasmo.

Ela se virou e foi para a sala de aula. O sinal tocou e Andrew ainda não havia chegado. Eu estava inquieto na minha carteira, louco para que ela chegasse. Eu precisava contar a ela o que Ashley tinha me dito. Aquilo era uma ameaça fria. Ela tinha um As na manga... algo que eu não esperava. Nisso, Liz entrou soberba na sala, e veio sorridente até mim. Eu a fitei agoniado, e ela percebeu meu estado de espírito. Se sentou na minha frente, e se virou para me perguntar o que acontecera. Antes que eu pudesse abrir a boca, o professor de Matemática entrou e exigiu silêncio da sala. Minha agonia inflamou. Então Andrew chegou e se sentou ao meu lado.

Eu queria falar com ela, mas se abrisse a boca, o professor me daria uma bronca. Passei a aula toda batendo o lápis na carteira de nervoso. Não consegui prestar atenção. Não consegui resolver nem um único mero exercício. Andrew me fitava, muda, mas inquisitiva. Ela sentia minha agonia. Liz, à minha frente, também parecia atormentada.

O que Ashley tinha em mente? O que ela faria no intervalo que ia acabar com minha vida? Ela já não tinha me prejudicado o bastante? O que mais ela poderia querer de mim? Que amor doentio era esse? O lápis quicava na minha mão. Fitei o outro lado da sala. Ashley sentiu meu olhar, e virou para mim com um sorriso maléfico. Eu estremeci.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 76

Com um baque, saí do corredor para a quadra, lotada de gente gritando e pulando. Revirei os olhos. Eu deveria estar pulando com aquele povo, mas meu espírito não estava para festas hoje. Que sábado mais idiota. Que jogo idiota, que competição de líderes de torcida idiota! Podia ter morrido sem o dia de hoje. Hoje sim eu diria que era o pior dia da minha vida!

- Ah, aí está você! - a voz doce e sombria de Andrew cortou meus devaneios.
- Andrew... - suspirei, aliviado em vê-la, as mãos automaticamente se inclinando para abraçá-la.
- Brad! Ficou doido? - repreendeu ela, afastando meus braços. - Estamos diante da escola toda.
- Droga! Estou cansado de não poder abraçar você. - reclamei.
- Onde estava?
- Tentando ajudar Jonny. Mas acho que agora ele me odeia outra vez. - expliquei.
- O que você fez agora? - perguntou Andrew, repreensiva outra vez.

Antes que eu pudesse responder, Liz pulou em cima de mim, os braços em meu pescoço. Se eu não tivesse o dobro do tamanho e do peso dela, teria caído para trás. Mesmo assim, o golpe repentino me tirou o ar.
- Ah, Brad! Nem acredito! Estou tão feliz! - cantarolou ela, me beijando no rosto enquanto eu ofegava.

Ouvi duas pessoas bufando. Liz se afastou para olhar, mas ainda tinha os braços em volta do meu pescoço. Matt e Andrew nos olhavam amargamente.
- Qual é gente? Só estou festejando. - riu Liz.
- E precisa agarrar Brad desse jeito? - rosnou Andrew.
- Pode tirar as mãos da cintura de Liz, Brad? - pediu Matt, a voz afiada.
- Desculpe gente, foi automatico. Se eu não a segurasse, íamos cair os dois. - me desculpei.
- Não, a culpa foi minha. A felicidade me deixa idiota. - Liz ainda ria.
- Talvez então eu deva lhe deixar triste para que você volte a raciocinar. - ameaçou Andrew.
- Isso é um ataque de ciume? - um sorriso brincou nos meus lábios.
- Onde está Jonny? - perguntou Matt, de repente.

Suspirei:
- Está lá dentro, derrotado. Ashley deu o fora nele. - lamentei.
- Mas que desgraçada! O cara mal perdeu o posto de capitão, e ela já deu o fora nele? - Liz ficou pasma.
- Ela também perdeu uma coisa importante, Liz. - tentei ser compreensivo.
- Líderes de torcida... todas iguais. - murmurou Andrew, incoveniente.
- Hãrram, hãrram! - pigarreou Liz, pra Andrew se tocar.
- E cadê o Freud? - mudei de assunto.
- Viu Ellen nos fundos do ginásio e foi atrás dela. - explicou Matt.
- A baixinha de piercing no nariz? - perguntei.
- É... eles estão... apaixonados. Uma voltinha virou amor? Acho que os dois são emos, viu. - reclamou Andrew.
- Mas que coisa! Parece mesmo que você tem ciumes do Freud, Andrew! - reclamei, irritado.
- Eu acho que posso explicar. - Liz nos cortou, e se recostou em Matt.
- Filosofias de uma líder de torcida? Rá! Essa eu quero ouvir. - zombou Andrew.
- Vou ignorar seu comentário maldoso, Andrew. - avisou Liz. - Acho que Andrew estava tão acostumada a ser idolatrada por Freud que agora não se conforma em ser esquecida. Ela não está com ciumes. Só está estranhando não ser mais o centro da atenção dele.
- Uau! Você é telepata agora? - perguntou Andrew, mal humorada.
- Cheeega de encrenca. Vamos comer, o jogo de basquete me deixou com fome. Em qual lanchonete vamos? - salvou Matt.
- Que tal o Mc Donalds do centro? Vou comer uns dez lanches! - eu estava faminto.
- Que tal vocês tomarem um banho antes? - reclamou Andrew, torcendo o nariz para Matt e para mim.

Matt me olhou, a expressão malévola. Eu ri, porque já sabia o que ele ia fazer.
- Uau, Andrew. Você é única que não está suada aqui! - disse Matt, se inclinando para Andrew.
- Matt... - Andrew se inclinou automaticamente para trás, receiosa.
- Sabe, acho que como minoria, você devia ficar igual a gente. - ele se inclinou mais, e eu vi Liz rindo também.
- Droga. - foi só o que Andrew conseguiu dizer, antes que Matt a agarrasse.

Eu teria ficado bravo se fosse outro cara abraçando Andrew tão apertado, mas se tratando de Matt, o máximo que eu fiz foi quase rolar no chão de rir. E a cena era engraçada mesmo. Andrew se debatendo enquanto Matt encostava o peito suado em suas costas. Mas o melhor foi quando ela desistiu e ficou resmungando, e então Matt pegou mechas dos longo cabelos dela e começou a passar nas axilas. Andrew queria morrer. E eu e Liz quase choramos de tanto rir.

Matt e Liz foram no carro amarelo horroroso de Matt, enquanto Andrew ia na frente com sua halley, e eu acompanhava ambos com meu maverick. Me perguntei se Andrew estava brava com a brincadeira de Matt, ou se já tinha se acostumado com o jeito doidão do meu melhor amigo. Ela podia virar qualquer esquina e ir embora para casa a qualquer momento, mas foi conosco até o Mc Donalds. É, ela já estava se acostumando com Matt.

Na lanchonete, eu não devorei dez lanches, mas oito é um número bem próximo de dez. Andrew transparecia mau humor, mas eu via relances de sorrisos em seus lábios perfeitos. Ela ainda fez críticas ao nosso estado, todos suados, incluindo Liz. Mas quando Matt ameçou abraçá-la de novo, ela parou. E eu me senti tão bem naquele momento. Feliz, na verdade. Éramos dois casais. Mesmo que eu não estivesse abraçado com Andrew que nem Liz e Matt, ainda sim eu estava feliz por ela estar lá, comigo. Então eu aprendi nesse momento que o melhor da vida está nos fatos mais simples do cotidiano.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 75

Me encolhi atrás de uma parede que dava para o corredor, enquanto Jonny puxava Ashley pelo braço para que ela olhasse para ele. Eu os ouvia, mas eles não faziam menção da minha presença:

- Meu amor, eu sinto... eu sinto muito... - murmurou Jonny, empático.
- Sente muito? Você não sabe o que é isso, Jonny! O único que poderia entender o que eu estou sentindo agora seria... seria Brad! - gritou Ashley.

Estremeci ao ouvir meu nome.

- Brad? - perguntou Jonny.
- Brad esteve no topo como eu. E caiu... caiu por causa de um de seus ex-melhores amigos. - explicou Ashley amargamente. - É por isso... é por isso que eu amei Brad...
- Ashley, você não está falando coisa com coisa. - disse Jonny.
- Você não entende, Jonny? Eu e Brad somos perfeitos um para o outro. Temos o mesmo perfil, somos populares e traídos pelos amigos! - falou Ashley, agora derramando lágrimas.
- Eu nunca traí Brad. - resmungou Jonny, entendendo onde ela queria chegar.
- Nunca? - Ashley riu, apática - Você tomou o lugar dele de capitão!
- Você que falou com o treinador David, Ashley. Você que preparou tudo! - acusou Jonny.
- E você aceitou prontamente, sem nem ao menos considerar a amizade com Brad. - revidou Ashley... e eu concordava com ela nisso.
- Ash, você me disse que era o melhor para o time. Você fez a minha cabeça. - Jonny insistiu em culpá-la.
- Olha pra mim, Jonny. - disse Ashley, pegando o queixo de Jonny e o olhando nos olhos. - Você tem inveja de Brad. Nunca chegou aos pés dele. Ele pode ser um imbecil, mas nunca... nunca trairia um amigo. Sabe, você se daria bem com Liz, se aquela vadia não tivesse corrido para os braços de Matt. Você e ela são iguaisinhos! Traidores, sanguessugas, puxadores de tapete! - gritava Ashley.

Ouvi Jonny empurrar Ashley:
- Você não sabe o que diz. Faz idéia do quanto eu amo você? Acho que não, né? Pois Brad sabia! E mesmo assim namorou você! Quem é o traidor, Ash? - retrucou Jonny, e eu me senti o último homem da terra com essa acusação. Se eles iam brigar, porque me por no meio da discussão?
- Tudo bem, justifique seus defeitos com mentiras próprias. Brad apenas se apropria do que tem direito. Eu o quis. Eu o amei. E se ele foi idiota o bastante para me deixar, aposto que foi por influencia daquele loiro idiota do Matt. Mas isso não vai ficar assim. Brad ainda vai voltar para mim! - respondeu Ashley.
- Voltar? Rá! Não sonha, Ash. Ele já ama outra. - falou Jonny, e eu quis matá-lo. Ele ia contar sobre Andrew?
- Ele não ama Liz. Como eu disse, ele não trairia um amigo. Ela está com Matt. - Ashley não se deixou abalar. Por que as pessoas achavam que eu e Liz ainda tínhamos alguma coisa?
- Não estou falando de Liz... - Jonny disse, maléfico agora.

O silêncio perdurou por uns segundos:
- Está blefando! - Ashley cortou o silêncio.
- Não adianta negar pra si mesma, é impossível não perceber. - Jonny falava por indiretas agora?
- Ela é irmã dele! - rosnou Ashley. Estava falando de Andrew? Droga, como ela ligou os pontos tão rápido?
- Ela é filha do padrasto dele. - argumentou Jonny. Dedo-duro filho de uma...
- Eles... eles não tem nada a ver. Eles se odeiam! - agora Ashley falava consigo mesma.
- Por que você não acorda, Ash? Isso está virando doença. Olha só o que te aconteceu por causa do Brad. Você brigou com sua melhor amiga por causa dele... você perdeu seu posto de líder de torcida por causa dele. Está na hora de aceitar que Brad só te faz mal. - dizia Jonny, a voz tristemente dócil agora.
- O que você quer comigo, Jonny? Me deixe em paz! - Ashley o empurrou.
- Talvez eu seja a única pessoa naquele colégio que realmente gosta de você. - Jonny suspirou.
- Dane-se! Eu não suporto você! - rosnou Ashley uma vez, o barulho do tênis novo tilitando pelo corredor, enquanto ela se afastava.

Jonny socou a parede. Como ele podia gostar tanto de Ashley? E como ele podia me culpar por tudo de ruim que acontecia a ambos? Já não tinha mais certeza se era bom ou ruim tentar consolar Jonny. Talvez ele desse em mim o mesmo soco que deu na parede. Me estiquei e saí de fininho do corredor. Jonny permaneceu apoiado à parede.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 74

- Os dois grupos foram magníficos, e tenho de reconhecer que temos talentos ilustríssimos aqui. - começou a argumentar o juiz da competição entre líderes de torcida.

Senti Jonny estremecer do meu lado, enquanto acompanhava a impaciência de Ashley. Fitei Liz, e nunca vi aquela morena tão calma como hoje. Ela estava confiante. Ela estava radiante. Ela dançaria sobre a cabeça de Ashley, se pudesse.

Em seus olhos escuros brilhava a frieza amarga da vingança. Essa vingança era quase tangível, e eu podia desfrutar dela junto com Liz. Tirar de Ashley Hanners o que ela mais idolatrava - a chefia das líderes de torcida. O brilho no olhar de Liz se tornou àcido em minha língua. Senti o gosto de retribuir na mesma moeda. Ashley tinha movido os pauzinhos para me tirar o título de capitão do time de basquete uma vez, e agora ela é que perdia o título importante.

"Não!", pensei comigo mesmo. Em nenhum momento quis me vingar de Ashley por isso. Eu sabia que um dia ou outro ela caíria por si mesma. Mas naquele momento tudo o que eu aprendi a ser pela companhia de Andrew parecia não existir. O àcido em minha lingua se intensificou, e eu queria tanto ou mais que Liz que Ashley sentisse a dor que uma derrota provocaria. Eu queria isso no meu âmago, e o "não" sussurrado em minha mente se calou. Me esqueci até mesmo de Jonny tenso ao meu lado. Eu não ligava, naquele instante, que ele também sofresse por ver Ashley sofrer.

O juiz ainda falava:
- Durante 2 anos e meio Ashley Hanners, Jolie Sanders, Rebecca Audry, Nicole Fanstman, Selena Kattie Shutz, Monique Sterms, Karine Flower, Maryllin Dangers e Kelly Janstfitt foram as tirulares líderes de torcida do colégio High School New York, juntamente com Liz Angree. Liz saiu do grupo titular e Nadine Howers tomou seu lugar. Agora, com um novo grupo formado por Angélica Link, Ammy Hungh, Ling Hanaka, Kettlyn Kidman, Louis Kenthg, Marrie Fronksué, Jennie Hammstruck, Gisnkin Cruwisk e Jessica Magler lideradas por Liz Angree, temos uma decisão a tomar.

Ouvindo os nomes das belas desconhecidas que brilharam na liderança de Liz, me senti presunçoso ao lembrar da lista idiota que eu fiz uma vez com os nomes das líderes de torcida que eu havia beijado. Se eu fosse o mesmo Brad de antes, já estaria aprontando uma nova lista. Ri comigo mesmo ao ter esse pensamento.

- E é com certo receio, mas prazer que comunico que o jurado decidiu que o grupo titular de líderes de torcida será... - o suspense idiota era torturante -... O grupo B!

Assim que o juiz anunciou que o grupo B, de Liz, era o novo titular, a multidão atrás de mim ficou eufórica. Dentre os gritos, reconheci a voz grave de Matt em delírio. Liz estava vermelha debaixo da pele acobreada, e abraçava suas novas amigas. Olhei para trás e vi Andrew festejar com Matt. O que? Andrew estava torcendo por Liz? Ou era apenas felicidade em ver Ashley se ferrar?

Ao lembrar do nome de Ashley, me virei para Jonny. Ele não estava mais do meu lado. Quando o encontrei, ele entrava no corredor ansioso atrás de Ashley Hanners. Me virei uma última vez para a quadra, e vi Jolie, Nicole e Selena dando os parabéns desanimados às novas líderes, enquanto as outras ex-líderes choramingavam. Percebi que poderia dar meus parabéns a Liz depois. Sem pensar em mais nada corri até onde Jonny e Ashley estavam. Precisava ouvir o que Ashley diria a meu ex-inimigo e agora novamente amigo. Se ela o magoasse, eu estaria lá para mantê-lo firme, ou pelo menos para lhe lembrar que homens não choram.