terça-feira, 13 de março de 2012

O Epílogo - Capítulo 12: Carona

Sentir minha mão na dele eletrizou meu corpo por inteiro. Ele me puxou para o meio da sala, e envolveu minha cintura. Girou meu corpo, e eu senti a vodka em minha corrente sanguínea girar junto. De repente, eu não conseguia mais distinguir seu rosto. Mesmo assim, minhas mãos bobas subiram até seus ombros, e se apoiaram fortemente aquela emoção. O cheiro suave de seu perfume misturado com o shampoo doce de seu cabelo eram a coisa mais concreta em minha mente. Então algo àspero roçou em meu pescoço. Eu não via nada, mas sabia que seu queixo com a barba por fazer estava encostado em meu ombro.

De repente, as batidas do som ficaram mais baixas. Haviam nuvens em meus ouvidos. Mas eu ainda podia sentir o cheiro de Lerry. Isso significava que eu ainda estava acordada.

- Kris? - a voz grave e dócil de Lerry soou em meu ouvido falho. Ela se perdia na música.
- Ela não parece bem. - a voz familiarmente fria soou atrás de mim, congelando meus tímpanos. Mabel...
- Ela só bebeu um pouco demais. Eu a levo pra casa. - reconheci Ember entre os timbres. A voz dela parecia meio decepcionada.
- Pode ficar, eu a levo. - pediu Lerry. Minha cintura ainda estava envolvida por seus braços fortes.
- Não é nada bom um professor andar por aí com uma aluna bêbada. - Mabel foi ríspida, e senti sua mão gelada encostar em meu braço.

Embora estivesse entorpecida pelo álcool, haviam duas energias que não escapavam à minha razão: o afago quente de Lerry e o inverno sombrio de Mabel. Em minha mente falha, os dois pareciam guerrear por mim naquela noite.

- Eu só vou levá-la ao alojamento. - Lerry dizia, suplicante.
- Afaste-se dela! - senti Mabel puxar meu braço.
- O que é isso Mabel? Está me ofendendo. - reclamou Lerry.
- Você também bebeu um pouco demais, Lerry. Não sabe o que está fazendo. - cuspiu Mabel.
- Ei, eu a levo. Chega de discussão! - reclamou Ember.

Chacoalhei a cabeça tentando afastar as nuvens de meus ouvidos. Péssima ideia. O enjoo foi instantâneo, mas o contive. Abri os olhos e vi três testas vincadas numa batalha entre olhares. Ember, entre Mabel e Lerry, parecia preocupada em me afastar dos olhares dos alunos.

- Eu não quero ir embora. - disse, molenga - me deixem no sofá, logo ficarei bem.
- Tem certeza amiga? - perguntou Ember.
- Claro. - resfoleguei, tirando meu braço das mãos frias de Mabel, e me soltando do abraço quente de Lerry.

Cambaleei até o sofá escuro, e desmoronei. Procurei manter a cabeça erguida para que não viessem atrás de mim. Ember sentou ao meu lado. Lerry saiu pela porta da frente e Mabel sumiu entre a multidão que voltava a dançar e a me ignorar.

- O que foi isso? - Ember estava chocada.
- Lerry estava sendo gentil. Já Mabel... não sei o que ela quer de mim. - murmurei, com a cabeça apoiada na mão.
- Mabel parece que se sente sua dona. Isso me dá arrepios. - Ember riu.
- Pior que ela estragou minha dança. - ri também.
- Quer que eu a leve pra casa? - Ember perguntou.
- Não. Vou lá fora tomar um ar. Parei de beber por hoje. E você, que sabe beber e ainda está inteira... vá se divertir. - ordenei.
- Ah amiga... - Ember tentou ainda ser solidária, mas vi seu olhar se voltar para o meio da sala buscando determinada pessoa.
- Tchau Ember. - dei um tapinha em sua perna e cambaleei para fora do sofá.

Olhei para trás de relance e vi a garota com quem Ember conversa antes se aproximar. Sorri, e cambaleei para fora, ainda zonza. A grama era macia demais, e parecia que eu não tinha mais meus pés. Tentei me apoiar em algo, mas não havia nada. De repente, senti gosto de mato. Sim, havia caído de boca no chão.

Rolei e fitei o céu me sentindo a maior babaca da faculdade. Estava torcendo para que houvessem mais bebados caídos pelo gramado. Foi então que duas mãos quentes se encaixaram debaixo de meus braços e me puxaram para cima.

- Recusou a carona pra dormir na grama? - Lerry riu.
- Achei que tivesse ido embora. - bebada como estava, não me contive e o abracei.
- Não fui. Acho que Mabel tem razão. Bebi um pouco demais hoje. Vou para casa. - suspirou Lerry.
- Não me deixe. - choraminguei.
- Calma... posso deixá-la no alojamento antes. - ele sorriu.
- Ótima ideia. - sorri também, e solucei.



O Epílogo - Capítulo 11: Febre

A orgia entorpecente vinda da música alta e dos copos cheios de alcool que logo se esvaziavam era a energia mais forte dali. Sentada no sofá azul escuro extremamente macio, eu observava Anielle e Ember dançando animadamente. O corpo magro de Anielle, ainda pálido mesmo sobre o efeito de luzes, mexia-se lentamente em torno do corpo delineado e sensual de Ember. As duas estavam em plena sintonia, e as pessoas que dançavam à sua volta pareciam refletir seus movimentos. Elas eram o centro, o foco.

Eu estava hipnotizada pela beleza de sua dança. Na verdade, não sabia se meus olhos congelados se davam pela sensualidade delas, ou pelo copo quase vazio de vodka em minha mão direita. Foi quando vi a energia escura no fundo da sala: Louise. Seus olhos, também vidrados, acompanhavam os movimentos febris de Anielle e Ember. De repente, o lampejo que passou por seu rosto me deixou meio chocada. Ela estreitou seus olhos e fitou mais assiduamente minhas duas amigas. Olhei para Anielle e Ember, e depois voltei para Louise. De repente, me senti olhando para meu reflexo no espelho. Ambas olhávamos a dança com desejo. Ember roçou o rosto lentamente no pescoço de Anielle. Fechei meus olhos firmemente... maldita vodka.

Respirei fundo e joguei a cabeça para trás, fitando o teto. Senti o sofá se mexer e um cheiro conhecido, então fiquei com raiva. Estava bêbada, e vendo coisas demais... sentindo coisas demais. Mas, quando ouvi a voz dele, percebi que a bebida não poderia ter tamanho poder.

- Não está se sentindo bem, Kris? - disse preocupado Lerry, meu professor de Direito Civil.

Eu pulei de susto:
- LERRY?
- Desculpe, não queria assustar você. - ele se assustou também.
- Pro- pro- professor? O que faz aqui? - arregalei os olhos.
- Ah... alguns professores legais são convidados para festas universitárias. - ele riu.
- Nossa... eu não esperava mesmo ver você aqui. - eu estava ofegante.
- Não sou o único docente aqui. Veja ali na mesa de bebidas. - ele sorriu.

Trajada de um tubinho negro, Mabel estava sombriamente linda. Meus olhos pegaram fogo assim que a foquei, e percebi que a vodka libertava um lado meu que eu mesma desconhecia. Esperta como uma gata, Mabel sentiu meu olhar febril sobre ela, e me focou sorrindo. Senti meu rosto queimar, e resolvi virar o restante de vodka em meu copo.

- Está linda hoje. - disse Lerry.
- Mabel é sempre linda. - respondi.
- Não ela... você. - ele disse, meio confuso.
- Ah, eu? Nossa, obrigada. Desculpe, acho que bebi demais.
- Tudo bem, eu também bebi um pouco. - ele riu.

Notei que ele estava bem solto naquela noite. A camisa branca estava com os primeiros botões abertos, e ela descia por cima de um jeans claro. Nos pés, haviam tênis, e não os costumeiros sapatos sociais. Ele estava sexy... e eu estava bêbada... maldita vodka.

- Você está sexy hoje. - eu disse sem querer, e depois mordi a lingua.

Lerry riu alto:
- Acredito que todo mundo está sexy pra você hoje.

Eu sabia que devia estar vermelha, mas não conseguia encontrar minha vergonha.
- Provavelmente. Juro que senti a mesma coisa olhando você e Mabel. - disse, fechando os olhos.
- Agora estou ficando com medo. - Lerry riu novamente.
- Acho que vodka é a bebida do diabo. - eu ri.
- Bem vinda ao inferno. - Lerry colocou outro copo em minha mão.
- Oh não... - eu quis rejeitar.

Lerry apontou para Anielle e Ember.
- Ninguém está rejeitando nada esta noite.

Anielle estava dançando ainda mais febrilmente com um rapaz do segundo ano. Já Ember, estava entretida com uma garota que eu nunca tinha visto. Ambas pareciam completamente eufóricas e sem se importar com a manhã seguinte. Resolvi tomar mais um gole. Afinal, meu professor másculo, lindo e loiro estava me oferecendo. E o que eu mais queria era relaxar.