sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Epílogo - Capítulo 5: Fascínio momentâneo

O longo corredor todo madeirado tinha um toque sombrio. Confesso que adorei o clima da faculdade em relação ao ambiente visual. Andando pelo taco perfeito, senti como se fizesse parte daquele lugar. Confortável. Dei-me conta de que adorava coisas sombrias. Mas minha sensação de confortabilidade se esvaiu no instante em que as vi vindo em minha direção.

Cinco garotas lindas, estonteantes e incrivelmente sombrias. Três delas eram louras, e as outras duas eram uma ruiva e outra negra. Apesar de fisicamente diferentes, todas tinha três características em comum. Primeiramente, claro, a fita negra em volta do pescoço. Segundo, observava-se rapidamente que todas tinham preferência por roupas com tons escuros e frios, que iam de cinza a roxo com pouca diversidade. Por último, havia uma semelhança em seus olhares. Todas tinham o olhar intensamento duro e frio. Nada de sorriso, nem um único sinal de simpatia. E elas não pareciam olhar para o nada. Não focavam ninguém.

E foi dessa forma que elas passaram por mim. Sem nem sequer fazer menção de minha existência, continuaram reto, indo para onde quer que fosse sem se importar com ninguém. Entre elas, reconheci Louise, a primeira garota que vi com a fita no pescoço na aula de Mabel.

Revirei os olhos. Metidas e idiotas. Na certa não passavam de uma panelinha de nerds que se achavam. Lindas, mas nerds. Eu queria ser boa em direito penal, claro. Mas não queria aquela droga de fita. Entendi perfeitamente o rancor de Ember naquele momento. Quem precisava daquela fita idiota?

Desci as escadas devagar, voltando a degustar o ambiente em que me encontrava. Cheguei a sala em que teria aula de Introdução ao Direito Civil. Assim que passei pela porta, meus olhos se arregalaram. Na mesa a frente da lousa havia um homem alto e belo apoiado sobre um livro grosso empoeirado. A silhueta máscula bem delineada coberta por uma camisa social branca fina estava encurvada devido a posiçao, mas isso não desfocava o fato de que ele era autenticamente lindo. Os cabelos castanhos claros bem penteados, curtos, e os traços intelectuais do rosto revelavam um verdadeiro gentleman. Ele usava óculos de armação negra, mas isso só acrescentava ainda mais ao seu charme. Meu coração acelerou. Ele só podia ser o professor desta aula. Foi nesse momento que alguns alunos passaram conversando pela porta e isso tirou o belo mestre de sua posição inicial. Ele olhou para mim docemente:

- Bem vinda, aluna. - sua voz era rouca e suave.
- O-o-obrigada. - gaguejei.
- Por que não se senta?
- Ah, ah sim, é... vou me sentar. - fiquei desajeitada.

Eu me senti a idiota do ano. Sentei-me rígida na última cadeira da sala, bem no fundo, querendo que o chão abrisse e me engolisse. Respirei fundo, mas toda vez que fitava a figura à frente da sala, resfolegava novamente. O nome escrito na lousa era Lerry Angels. Sugestivo, ele parecia mesmo um anjo. Falava docemente, bem calmo, e sua matéria parecia tranquila. Observei a sala, e vi como todas as garotas presentes suspiravam. Pelo menos ele já devia estar acostumado a babaquice temporária que causava em mulheres por sua beleza. Ele devia ter uns trinta anos, mas quando contou sobre sua carreira de advogado, percebi que poderia ter mais, apesar de sua beleza não deixar aparentar a idade.

Apesar de meu fascínio momentâneo, confesso que a aula dele não me prendia nem metade do que me prendeu a de Mabel. Olhei meu papel de horários. Senti certa tristeza quando vi que só teria aula com ela novamente depois de dois dias. Não sabia o que exatamente me levava a ela... talvez fosse a matéria que ela administrava.


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