- Você não sarou dessa gripe ainda? - comentei, preocupada.
- Ah Kris, o clima daqui é muito louco. - ela tossiu mais uma vez.
- Já foi ao médico? - perguntei.
- Por causa de uma gripe? Não amiga, eu tenho mais o que fazer. Vim buscar um livro. Tenho prova amanhã. - ela desconversou.
Observei a minha companheira magrinha se curvar e pegar um livro na gaveta e sair do quarto com movimentos muito fracos. Desde que eu chegara nesse campus, Anielle estivera doente. Sempre tossindo, sempre fraca. O mais engraçado é que nos primeiros dias eu achava que ia acabar pegando essa gripe. Mas ela não me passou o vírus, mesmo dormindo e comendo no mesmo ambiente que eu todos os dias.
A convivência fez com que eu me apegasse a Anielle. Ela era muito doce. prestativa e ouvia minhas reclamações sobre o "grupinho do mal" (como eu chamava as fiéis discípulas de Mabel) me dando razão e me dizendo pra ter calma. Essa gripe dela estava me atormentando. Respirei fundo e decidi que assim que minha prova passasse, levaria Anielle ao médico.
No dia seguinte, acordei cedo e deixei o café pronto. Anielle merecia um descanço. Não que meu café fosse uma maravilha, mas melhor do que ela ter que fazer com o corpo moído pela gripe, ah isso era. Fui a primeira a entrar na sala, e me sentei reta na última carteira, como costumava sempre fazer. Enquanto revisava a materia, o sol que reluzia na janela ficou fraco, fazendo com que a sala de aula perdesse a cor. O saltinho fino tocando o assoalho fez minha espinha congelar. Olhei vagarosamente para frente, e meus olhos deram com os de Mabel, que me fitava com um sorriso estranho. Ela colocou sua bolsa prateada sobre a mesa, e retirou dela um pacote com folhas. Meus olhos não conseguiam deixá-la:
- Bom dia Kris. Adoro alunos pontuais. - sua voz sóbria ressoou pela sala vazia, me inebriando de admiração.
- Bo-bo-bom dia doutora Mabel. - foi só o que consegui gaguejar.
- Estudou para a prova? - ela sorriu, mas incrivelmente ela não parecia doce nem mesmo quando tentava ser gentil.
- Estudei sim... a semana toda. - resfoleguei.
- Então por que está estudando agora? - sua voz ficou gélida, mas o sorriso continuava em seu rosto perfeito.
- Só estou revisando enquanto aguardo o início da prova. - respondi, já incomodada.
- Não confia em si mesma e nem em todo o esforço que já investiu no que estudou? - ela me fitou duramente.
- Revisar nunca é demais. Gosto de me certificar de que está tudo certo. - tentei ser firme, mas ela me abalava demais.
- Isso é insegurança! - ela acusou, rindo ao fim da frase.
- Não, isso é responsabilidade! - objetei, o que a fez parar de rir.
O riso de desdém silenciado pela minha objeção se transformou em um olhar curioso, que vasculhava o meu todo. Mabel deu a volta por sua mesa, deixando a mão direita roçar pelo pacote de folhas, andando suavemente. Parou um instante antes de chegar ao fim da mesa, e abriu um sorriso determinado. Fiquei completamente confusa.
- Você só precisa ser lapidada. - ela sussurrou.
- O que? - perguntei, pela incerteza do significado do que ela dissera.
Nesse momento, outros alunos entraram na sala, e seu olhar determinado me deixou assim que Louise apareceu. Mabel apoiou a mão orgulhosa sobre o ombro de sua pupila, e disse algo que não pude ouvir de onde estava. A fita negra em volta do pescoço de Louise transformou minha confusão em raiva. Ótimo! Agora eu estava desestabilizada segundos antes da prova para a qual mais havia me dedicado nesse semestre. Fechei o livro grosso com ódio mortal, mas parei de bufar assim que percebi que Mabel, da frente da sala, ainda me olhava, e se deliciava de minha impulsividade. Naquele momento me dei conta de que aquela mulher esperava algo de mim... algo que eu nem imaginava.
No dia seguinte, acordei cedo e deixei o café pronto. Anielle merecia um descanço. Não que meu café fosse uma maravilha, mas melhor do que ela ter que fazer com o corpo moído pela gripe, ah isso era. Fui a primeira a entrar na sala, e me sentei reta na última carteira, como costumava sempre fazer. Enquanto revisava a materia, o sol que reluzia na janela ficou fraco, fazendo com que a sala de aula perdesse a cor. O saltinho fino tocando o assoalho fez minha espinha congelar. Olhei vagarosamente para frente, e meus olhos deram com os de Mabel, que me fitava com um sorriso estranho. Ela colocou sua bolsa prateada sobre a mesa, e retirou dela um pacote com folhas. Meus olhos não conseguiam deixá-la:
- Bom dia Kris. Adoro alunos pontuais. - sua voz sóbria ressoou pela sala vazia, me inebriando de admiração.
- Bo-bo-bom dia doutora Mabel. - foi só o que consegui gaguejar.
- Estudou para a prova? - ela sorriu, mas incrivelmente ela não parecia doce nem mesmo quando tentava ser gentil.
- Estudei sim... a semana toda. - resfoleguei.
- Então por que está estudando agora? - sua voz ficou gélida, mas o sorriso continuava em seu rosto perfeito.
- Só estou revisando enquanto aguardo o início da prova. - respondi, já incomodada.
- Não confia em si mesma e nem em todo o esforço que já investiu no que estudou? - ela me fitou duramente.
- Revisar nunca é demais. Gosto de me certificar de que está tudo certo. - tentei ser firme, mas ela me abalava demais.
- Isso é insegurança! - ela acusou, rindo ao fim da frase.
- Não, isso é responsabilidade! - objetei, o que a fez parar de rir.
O riso de desdém silenciado pela minha objeção se transformou em um olhar curioso, que vasculhava o meu todo. Mabel deu a volta por sua mesa, deixando a mão direita roçar pelo pacote de folhas, andando suavemente. Parou um instante antes de chegar ao fim da mesa, e abriu um sorriso determinado. Fiquei completamente confusa.
- Você só precisa ser lapidada. - ela sussurrou.
- O que? - perguntei, pela incerteza do significado do que ela dissera.
Nesse momento, outros alunos entraram na sala, e seu olhar determinado me deixou assim que Louise apareceu. Mabel apoiou a mão orgulhosa sobre o ombro de sua pupila, e disse algo que não pude ouvir de onde estava. A fita negra em volta do pescoço de Louise transformou minha confusão em raiva. Ótimo! Agora eu estava desestabilizada segundos antes da prova para a qual mais havia me dedicado nesse semestre. Fechei o livro grosso com ódio mortal, mas parei de bufar assim que percebi que Mabel, da frente da sala, ainda me olhava, e se deliciava de minha impulsividade. Naquele momento me dei conta de que aquela mulher esperava algo de mim... algo que eu nem imaginava.
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