quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Epílogo - Capítulo 2: Aparência

Era um universo particular. Com certeza, quem vivia naquele maravilhoso campus estava pouco ligando para qualquer coisa ou pessoa fora dele. É lógico que fiquei deslumbrada. Mas o fato de eu estar deslumbrada não anulava meu torpor inicial em relação a novidade. Eu podia admirar aquilo, mas ainda não conseguia me expressar.

Meu pai deixou minhas malas na porta do novo quarto. Assim que as soltou, dei-lhe um beijo e me despedi. Ele arregalou os olhos:

- Já está me mandando embora, Kris?
- Ah... ah não papai. É que... achei que o senhor já quisesse...
- Eu não quero nada. Anda, bata na porta. Quero conhecer sua colega de quarto. - reclamou ele.
- Tudo bem.

Dei dois socos leves na porta escura de madeira, e uma figura peculiar saiu de dentro do quarto, que parecia muito pequeno e simplório. Ela era menor que eu, tinha cabelo curto, meio encaracolado, e era muito magra. Cheirava a ervas, assim como o ar que se esvaía do ambiente onde ela estivera. Olhei de relance para meu pai, e seu rosto de reprovação foi imediato. Revirei os olhos.

- Oi! Você deve ser Kris. Desculpe, o quarto está uma bagunça, achei que você só chegava amanha, dia doze. - riu ela, numa voz molenga e meio baixa.
- Ahn... hoje é dia doze. - eu respondi.
- Oh, desculpe-me. Jura? Bom, eu tenho uma péssima noção de tempo. Outch! Meu nome é Annielle, prazer! - ela estendeu a mão pálida meio desajeitada.

Estiquei meu braço de má vontade, e apertei suavemente sua mão pequena, fria demais na minha. Senti o impulso inevitável de limpar a mão na minha blusa, mas felizmente meus pais tinham me dado educação. Ótimo, moraria pelos próximos cinco anos com uma garota estranha a beça. Meu humor neutro pendeu rapidamente para a irritabilidade. Agora daria patadas em qualquer um que falasse comigo.

Meu pai também cumprimentou a moça, mas olhou apelativo para mim, como se quisesse me tirar dalí e me levar de volta para casa. Franzi as sobrancelhas para ele. Já tinha passado da hora dele ir embora. De repente, percebi que só o veria novamente depois do fim do semestre. Nessa hora, o mau humor passou, e a compaixão bateu nos meus braços, que se esticaram, envolvendo o pescoço grosso de meu pai. Ele retribuiu ternamente o abraço, e sussurrou em meu ouvido:

- Por favor, não se deixe influenciar por essa gente. Confiamos em você. - o plural na voz dele que refletia a confiança de minha família toda colocava mais peso no alerta.
- Eu também confio em mim. - sussurrei de volta, confiante.

Enquanto meu pai de afastava contristado, peguei minha mala e entrei no quarto. Anielle fechou a porta atrás de mim:
- Hey Kris, gosta de chá? - perguntou a loira magrela.
- Oi? - me surpreendi.
- Chá... de ervas verdes. Estava preparando antes de você chegar. Tem erva sidreira, até limão. É uma receita que minha avó fazia. Adoro chá. É que eu to gripada também. Sabe como é. Mudanças de clima acabam com minha saúde. Olha como eu to pálida. Enfim, um chazinho alegra meu dia. Tá servida? - tagarelou ela.

O cheiro de ervas vinha da pequena chaleira que assoviava. Sorri para Anielle menos apática agora. E o cheiro do chá estava ótimo.

- Eu vou aceitar uma xícara, obrigada. - falei por fim.

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