segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Epílogo - Capítulo 3: A Sombra

Eu podia jurar que seria diferente. Queria que fosse diferente, então por quer raios estava tudo igual? Eu queria ver carros lindos, pessoas esculturais, bebidas e convites de festas por toda a parte. No entanto, já fazia mais de 24 horas que eu estava nesse campus e além de minha companheira doente de quarto, todos eram monotonamente iguais. Jeans opacos e livros, pessoas que nem se entreolhavam. Chão... era o máximo que eu podia sentir.

É claro que havia um papel ou outro colorido chamativo em algum canto perdido, mas não eram o foco. O marrom doente dos livros nas mãos das pessoas era muito mais chamativo, embora não houvesse cor alguma. Acho que isso se dava pelo fato de que os livros eram muito mais importantes que qualquer festa alí. Revirei os olhos. Ótimo! Eu havia escolhido o curso mais patético do universo. Resperei fundo - e me senti dez anos mais velha - e tomei coragem para me dirigir a minha sala.

Se eu havia achado a cor do enorme pátio lá fora patético, era porque eu não havia colocado meus olhos sobre os componentes de minha sala. Pessoas cinzas por toda parte. Óculos no rosto da maioria, cabelos presos, roupas de pouco cor, mal escolhidas para uma manhã de sol. Ninguém olhou para mim quando entrei, o que eu estranhei, pois me sentia uma luz de neon com minha sexy blusa azul e minha calça branca leve. Sentei na cadeira ao fundo, que rangeu. Mesmo assim, ninguém pareceu perceber minha existencia. Bufei. Por que não fiz algo na àrea de exatas? Devia ser mais divertido. Pelo menos as pessoas tinham que tirar os olhos dos livros para mexer na calculadora, não é mesmo?

Foi quando ela entrou na sala. Tudo mudou. O calor do sol fraco lá fora parecia ter deixado de existir. O silêncio dominado pelo som intenso de seu salto agulha. Os olhos que devoravam os livros sobre as mesas eram só dela naquele momento. A sala era de um breu inacreditável, mas eu ainda podia ver. Ainda era dia, ainda havia luz. Mas algo em mim dizia que estava escuro. Era ela. Uma alma negra que havia dominado o clima com sua presença.

Ela era linda, claro, e eu sabia admitir quando via uma mulher bonita. Quando pousou a bolsa clara sobre a mesa de madeira à frente da sala, percebi que se tratava de nossa professora. Seu rosto era quadrado, mas delicado. Os labios inacreditavelmente perfeitos e carnudos. Os olhos azuis quase cinza combinavam com os cabelos castanhos claros que pendiam no coque bem penteado. A pele era lisa, mas madura. Ela devia ter mais de trinta anos. E isso acrescentava mais ao seu charme misterioso. Mas havia algo na forma como ela se movia. Era lentamente intelectual mas ligeiramente sombrio. Aquela mulher era um ser profundo que eu não conseguia ler, e isso me deixou completamente curiosa sobre ela. Foi quando sussurrei:

-Mas... quem é você?
- Mabel Dowtchervick, a promotora de justiça mais sanguinária dos EUA. - respondeu uma voz suave e doce ao meu lado.
- Desculpe... - sussurrei de volta.
- Nunca ouviu falar de Dowtchervick?
- Ah... o sobrenome me é familiar, mas...
- Ela é uma lenda. Nunca perdeu um caso no tribunal. Eu não sei se todos os réus que ela colocou atrás das grades realmente eram culpados, mas sabe como é. Ela é boa e convincente, é só o que importa. Cometeu um crime? Reze pra não cair nas mãos dela. - explicou a garota ruiva desleixada.
- Uau. Eu sou Kris, prazer. - sorri.
- E eu sou Ember, o prazer é meu. Seja bem vinda a aula de Direito Penal. - sorriu ela de volta.
- Legal, pelo menos vamos começar com uma disciplina emocionante. - vibrei.
- Você não faz ideia. - suspirou ela, os olhos distantes.

Voltei meu olhar para Mabel, que tirava um livro negro da bolsa clara. O Código Penal. De repente me senti tão entusiasmada pela voz dela, que me apoiei sobre a mesa. Nesse instante Mabel olhou direto nos meus olhos e sorriu. Foi tão consciente que minha espinha congelou. O sorriso dela não era simpático. Parecia inquisitivo. Com muito esforço pisquei três vezes, e fingi procurar algo em minha bolsa. Mas o gelo na espinha continuava a me incomodar. Sabia... sentia... ela ainda olhava para mim.

Um comentário:

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Alice Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ disse...

estou viciada nessa história!!! Mal posso esperar o próximo capitulo....rs