segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 87

Liz chegou atrasada na aula, e sentou correndo na minha frente. A professora de história não era tão chata quanto o professor Marcos de matemática, então a turma conversava na aula, juntava as carteiras e entrava a hora que queria. Minha carteira estava colada na de Andrew, e assim que Liz chegou, começou a copiar a matéria da lousa, mas espiava constantemente por cima do ombro.

- Eu vou quebrar os dentes dela. - resmungou Andrew.
- Nossa... por que? - me assustei.
- Ela está me irritando. - explicou Andrew.
- Liz, você está irritando a Andrew. - falei mais alto.
- Brad! - Andrew protestou, e eu ri.
- Desculpe Andrew, não precisa quebrar meus dentes. - Liz se virou - É que vocês dois estão... juntos. O colégio todo tá comentando.
- Sério? O que estão dizendo? - me interessei.
- Alguns estão dizendo que Brad está em decadência, que de líder de torcida decaiu pra uma rebelde sem causa. Mas a maioria está idolatrando você, porque até Andrew Marew, a indomável do colégio, entrou pra sua lista. - Liz engasgou quando Andrew trincou os dentes.
- Mas são uns desinformados mesmo. Tiram suas próprias conclusões. Relaxe Andrew, falta pouco para acabar o semestre. - eu conclui.
- Eu sabia que eu levaria a pior nessa. Depois que Nadine virou liderzinha de torcida, todos acham que as headbangers são mau amadas revoltadas que invejam patricinhas. Agora que sou sua namorada, vão ter certeza disso! - choramingou Andrew.
- E desde quando você liga para o que as pessoas pensam? - ataquei.
- Brad... - Andrew tentou se justificar.
- Não me venha com "Brad". Uma vez você me disse que eu devia fazer as coisas sem visar minha imagem perante os outros. Que eu devia fazer as coisas porque quero e porque acho que é melhor. O que aconteceu com minha Andrew de filosofia própria? Eu adorava os conselhos dela. - fingi uma expressão de lamento.

Andrew suspirou.
- Pode ser um milagre, mas dessa vez você tem razão. Que se dane o colégio. Logo estaremos fora daqui.
- É assim que se fala, amiga! - Liz vibrou.
- Eu não sou sua amiga. - Andrew rebateu, azeda.
- Tudo bem... colega. - Liz riu, e eu revirei os olhos para o mau humor de Andrew.

Na hora do intervalo, Matt e Freud esperavam eu, Andrew e Liz na mesa do centro do refeitório. Liz deu um beijo leve em Matt, e se sentou ao seu lado. Assim que me sentei junto a Andrew, percebi a companhia nova à mesa. O cabelo verde cintilou na luz da manhã que contagiava o refeitório, e o piercing no nariz pequeno brilhou também. Ellen Watch, amiga de Andrew, estava de mãos dadas com Freud, com quem havia saído várias vezes, e ele se derretia todo enquanto dava colheradas de mingau na boca dela. Andrew revirou os olhos, e colocou teatralmente o dedo na garganta ameaçando vomitar. Eu ri quando percebi, então, que éramos 3 casais naquela mesa.

Enquanto Matt fazia piadas sobre a sainha de pregas de Andrew e Liz apostava suas economias que o sonho oculto da minha namorada era ser líder torcida, vagueei com o olhar pelo refeitório. No fundo, avistei uma pessoa solitária numa mesa vazia. De camiseta baby-look branca e jeans normais, Ashley Hanners remexia na bandeija, o olhar baixo e a expressão depressiva. Foi então que o assombro do olhar doloroso dela no corredor voltou a me atormentar. O fato provocou uma onda de algo parecido com dor e remorso em mim, e fiquei surpreso ao perceber que me sentia mal por ela. Afinal, se eu não fosse um canalha, ela nunca teria brigado com Liz, e nunca perderia seu posto de líder de torcida. Eu era o culpado, e sabia que a mudança que Andrew causara em mim não me permitiria ser feliz até que todo mal que eu havia feito não fosse perdoado. Eu também havia feito mal a Liz, mas ela havia me perdoado, e estava feliz com Matt, e era uma grande amiga minha.

Então, onde estaria o final feliz de Ashley? Só porque ela tinha armado contra mim por despeito, isso não significava que ela era a vilã dessa história. Talvez o vilão tenha sido eu o tempo todo. Uma vez Andrew dissera que eu era o vilão da história dela. Talvez para Ashley, eu realmente fosse o vilão. No entanto, eu não queria ser. Ela podia ser infeliz, e eu não ligaria, se não fosse por minha causa. Por isso, soltei a mão de Andrew e me levantei da mesa.

- Onde vai? - perguntou Andrew, surpresa.
- Falar com Ashley Hanners. - contei.

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