domingo, 24 de outubro de 2010

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 95 - FINAL

Passei pelo grande portão de ferro do ginásio. Atingi o estacionamento, que estava abarrotado de carros, mas não vi nem sombra de Andrew por alí. Passei pelas pilastras e entrei na escola, que estava escura, visto que a festa estava acontecendo no ginásio. Corri pelo corredor meio cego procurando pela minha ninfa sombria. Virei à esquerda, que dava para o refeitório. A porta do refeitório estava trancada, então virei para a direita e fui para o pátio. No banco de cimento, que ficava no centro do pátio, Andrew estava recostada olhando o chão. O pátio não era coberto, então a luz forte da lua deixou o local iluminado. Quando me ouviu chegar, ela olhou para mim:

- Olá, Bradley Tommas Stanley, capitão do time de basquete. - ela sorriu, mas não era um sorriso feliz. Era compassivamente melancólico.
- Andrew, eu sinto mui... - Andrew me cortou antes que eu pudesse responder.
- Não precisa sentir nada, Brad. Acho que já sentimos coisas demais por uma noite. - ela riu desanimada.
- Não está chateada, está? - perguntei, me sentando ao lado dela.
- Chateada? Talvez... mas comigo mesma.
- O que? Pode explicar, por favor?
- Você dança muito bem, sabia? - ela passou a mão no meu rosto delicadamente.
- Não respondeu minha pergunta.
- Brad, por que veio atrás de mim? - ela me olhou, franzindo as sobrancelhas finas.
- Porque não há nada naquela festa que faça sentido pra mim. A única coisa importante pra mim esta noite está sentada no banco do pátio me olhando como se... como se não pertencêssemos ao mesmo mundo. - falei.
- Mundo... dimensão. - se lembrou ela de repente. - Aquele pacto do silêncio foi a coisa mais idiota que inventamos.
- Você inventou.
- A idiotice é merito seu.
- Obrigado. Sabia que você ia me ofender a qualquer momento da noite.
- Você é o rei do baile. Onde está sua rainha? - Andrew perguntou.
- Minha rainha está com o príncipe encantado dela. E eu vim buscar minha princesa. - peguei a mão dela.
- Sua princesa não combina com você. Principes são pares de princesas. Reis são pares de rainhas. - ela riu.
- Então talvez você deva ficar com o Jonny. - eu ri.
- Ah, claro. - ela revirou os olhos.
- Quando vai entender que eu te amo? Por favor, sem essa de que não combinamos. - pedi.
- O fato de você ser escolhido rei com Ashley Hanners prova o quanto não combinamos. - reclamou ela.
- Queria ter sido a rainha do baile?
- Não, nem me inscrevi.
- Então do que está reclamando? Você nem competiu pra saber se iam votar em você. - refleti.
- Brad! Não preciso comprovar coisas que são óbvias. Não estou magoada com o fato de você ser a imagem da perfeição junto de Ashley. Não tenho ciumes disso. Não tive ciumes de te ver dançando com ela. É que desde o começo eu me puni por te amar, e hoje eu descobri porque. Eu me punia porque eu queria ser diferente, no entanto eu era exatamente igual a todo mundo. Porque eu não consegui conceber o fato de que um cara popular tenha preferido a mim do que a todas as garotas lindas e patricinhas do colégio, assim como todo mundo. Faz idéia do isso significa? Minha mente é tão pequena quanto a sua. Eu não queria ser igual a você. Mas sou... num nível rebaixado. Isso me deixou triste. Saber que tudo que lutei pra não ser, é o que eu me tornei. Uma vítima da sociedade. Uma discípula do tabu. Uma cega e prisioneira de ideais mesquinhos. - suspirou Andrew.
- Você não é igual a mim.
- Não?
- Não. Eu concebi o fato de que te amava no instante em que descobri. E nesse instante o que os outros pensavam deixou de importar. - contei.
- Então você é melhor que eu. - ela suspirou outra vez.
- É o segundo elogio que me faz hoje. - pedi.
- Então sua bola deve estar bem cheia, já que não costumo te elogiar. - ela sorriu outra vez.
- Sabe, você é a vítima da sociedade mais linda que eu já conheci. Pode me dizer algo com a sinceridade que tenho esperado desde que descobri que te amava? - eu disse, sério agora.
- O que?
- Diz... você me ama?
- Ah Brad... sinceramente, se não fosse pela sua imaturidade, nada disso teria acontecido. Eu não estaria aqui de vestidinho bege com sandalinhas pensando no quanto sou socialmente cega. Eu não teria terminado com Stuart. Eu não teria pagado o mico de ser mais uma na sua lista na escola. Eu não teria visto meu pai triste por estar longe da Janet. Eu não teria que aturar a Liz e o Matt toda santa manhã. E, principalmente, eu não teria vivido as emoções mais fortes da minha vida. Eu não teria brigado comigo mesma na frente do espelho. Eu não teria rido como uma idiota por qualquer coisa. Eu não teria assistido a porcaria daquele jogo de basquete. Eu não teria me sentido tão viva. E eu não teria sido tão feliz quanto eu sou quando olho nos seus olhos e vejo refletido neles a mesma emoção que há em mim exatamente no mesmo instante. Então, Bradley Tommas... sim... eu amo você. E eu adoro saber disso. - ela confessou, e eu ofeguei quando ela terminou.

Naquele instante eu entendi. Entendi que eu não era mais eu mesmo, e sim a essência do que eu era misturado docemente com o que eu aprendia e tirava de Andrew. Nós éramos dois precipitados tentando deixar sua marca no mundo da forma errada. E apenas juntos aprendemos que o mundo não importa, pois a única marca que fazia sentido é a que havíamos deixado um no coração do outro. E aquela marca era para sempre... e ela era incrível. Me inclinei para ela e a beijei docemente uma última vez como adolescente. E enquanto a lua das 11 da noite se transformava na lua da meia noite, eu crescia mentalmente, emocionalmente e fisicamente nos braços da minha ninfa sombria. Minha Andrew Marew. De mãos dadas voltamos para a formatura e dançamos a noite toda com Matt, Liz, Freud, Ellen, Ashley, Jonny, minha mãe, Jonathan Marew, o restante dos alunos, professores e pais também.


O ano terminou, e eu me mudei com Andrew para o campus da faculdade. Tinha passado o máximo de tempo com meus amigos, e confesso que chorei quando vi Matt uma última vez. Minha mãe não queria me deixar ir embora, e foi nessa hora que agradeci por ela ter casado de novo. Jonathan a desgrudou do meu pescoço e eu corri pro Maverick, onde Andrew já esperava. Ela vendeu a Halley. Partimos juntos para uma vida nova.

E enquanto dirigia meu carro com minha Andrew do lado, pensei: e tudo isso só aconteceu exatamente assim porque minha mãe casou de novo.


FIM

Um comentário:

Fernanda Nakamura disse...

O amor só destrói sempre!!!!