quarta-feira, 22 de julho de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 4

Era uma manhã cinza na Floresta da Maldição onde ficava a mansão abandonada dos Ladrões de Vidas. Madison veio correndo do quarto de Alison:

-A NOVATA FUGIU!

Todos se levantaram, afortunados. Alicia se prontificou:
-Vamos atrás dessa idiota antes que ela faça alguma coisa! Vamos pegá-la e acabar com ela, como tem que ser... ela já deu provas o suficiente que não serve pra ser um de nós.
-Calma Alicia, num é assim. Vamos capturá-la primeiro, e depois vemos o que podemos fazer -retrucou Meloddy
-Não... Alicia está certa, essa garota vai ser o nosso fim. Se ela for pra cidade, vão pegá-la e ela vai falar da gente. Eles virão pra cá e vão queimar nossa mansão! - disse Farrew
-Mas que diabos... fogo não vai nos matar... somos mais fortes que os human...
-CALADOS! - gritou Harrison.
Todos na sala se calaram. Calmamente, Harrison se aproximou da janela. Então olhou de volta para seus subordinados e disse:
-Eu irei atrás dela... SOZINHO!
-Mas Harrison, você n...
-S-O-Z-I-N-H-O! Já disse... voltarei com ela, e ninguém aqui vai matá-la, ouviram bem?

Há certa distância da casa, Alison corria por entre as àrvores. Foi quando parou ofegante. Alison sentia uma fraqueza indescritível, o que parecia ser uma fome insaciàvel. Deitou-se em um tronco velho e deixou-se observar a mansão por uns instantes, ao longe.

- Acho que ainda não sentiram minha falta. Talvez nem tenham acordado. Não vejo nenhuma agitação na casa. Com essa fraqueza horrível, vou demorar muito pra chegar até o vilarejo. Espero que eles demorem pra me procurar -disse Alison, cansada e preocupada.
Foi então que a jovem ouviu um ruído por entre as àrvores. Quem estaria na floresta? Já estariam os Ladrões de Vidas no encalço de Alison? Assustada, ela se escondeu atrás de uma àrvore grande e antiga, quase seca.

Em passos suaves, um rapaz alto de cabelos castanhos e um belo par de olhos verdes andava com seu arco e flexa em mãos à procura de alguma caça. Alison deu um passo para trás e pisou em um galho seco. O rapaz virou-se, e viu uma criatura de olhos vermelhos e cabelos negros, com um vestido de luto e a pela branca acizentada. Sem exitar, por reflexo, atirou a flecha e acertou em cheio o peito de Alison. A flecha varou e transpassou seu corpo magro. A pupila de Alison se contraiu, mas a pequena não gritou.

O rapaz ficou parado olhando para ela, esperando que caísse ao chão. Mas para sua surpresa, a criatura arrancou a flecha de si, e a quebrou em dois. E o ferimento se fechou diante dos seus olhos:
-Para longe de mim, criatura do demônio, ou atiro outra vez!
-Atirar? Já não viu que não pode me ferir? Seu estúpido, não sou uma criatura do demônio. Sou apenas uma vítima tentando sair dessa floresta maldita!
-Tens os olhos vermelhos e estás na floresta amaldiçoada. És uma das criaturas abominantes da lenda. Quando vim até aqui caçar, sabia que iria encontrar coisas como você, e estou disposto a capturá-la e provar a todos que a lenda é real!
-Aaaaaaaaaaahhhh! Era só o que me faltava. Um garoto idiota querendo bancar o valentão. Nessa floresta não há seres malditos como dizem. É só uma história pra afastar curiosos daqui. O que há nessa floresta é a mansão dos Ladrões de Vidas. A lenda deles sim é real. E eu me tornei uma deles, mas vou até o vilarejo, vou encontrar um mago, um curandeiro, qualquer um que me salve dessa maldição. E você, fique longe de mim! Se me atirares uma flecha novamente, faço-te engolir ela e teu arco junto!

Alison se distanciou do rapaz, mas a fraqueza fez com que ela parasse. Encostou-se numa àrvore. Foi então que o rapaz pôde observa-la atenciosamente. Tirando os assustadores olhos vermelhos, e a coloração da pele, a criatura à sua frente era apenas uma mocinha fraca tentando achar uma saída. Então o rapaz foi em direção a Alison, e a segurou antes que seu corpo frágil aos olhos alcançasse o chão:
-Me chamo Antonny... desculpe ter lhe ferido, mas assustei-me ao ver-te.
-Ora! Largue-me, não preciso de sua ajuda... espera, és Antonny, o príncipe, filho do rei Rodney?
-Sim... sou eu.
-Meu pai é oficial do exército do seu pai. Homem de confiança.
-Eu vou te ajudar a se levantar... como se chama?
-Meu nome é Alison, acredite ou não, até anteontem eu era um ser humano...
-Nossa... a lenda dos ladrões de vidas é real. Preciso informar meu pai sobre isso. Temos que acabar com essas feras. Há anos que eles assombram e matam pessoas...

De repente, Alison ouviu por entre as arvores o som suave do vento frio que vinha em sua direção. Era Harrison que vinha buscá-la. Alison apertou as mãos de Antonny e disse:
-Vai-te... corre... Harrison está vindo! Ele é muito perigoso. Foi o maldito que me transformou nisso. Tem que ir embora. Eu distraio ele!
-Não! Fico aqui e defendo a ti!
-Não seja besta, nem a mim que não conheço do que sou capaz você conseguiu matar, muito menos a esse ser maligno que tem anos e anos de vida sombria. Escutei seus companheiros lhe chamando de Harrison. Creio eu que seja o rei Harrison desaparecido anos atrás. Por favor, vai embora... é a mim que ele procura, não precisa se machucar... VAI!
-Certo, mas eu volto... pra te salvar
-Você é metido a herói mesmo... vai logo...

E Antonny sumiu pelas folhagens. E com um sopro gelado, Harrison apareceu das sombras e ficou diante de Alison:
-Ja deste teu passeio matinal pequena?
-Meu nome é Alison, e não estava passeando. Estava indo pra cidade, contar sobre vocês, procurar uma cura pra mim!
-HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!! Cura??? CURA??? Não há cura pequena... isso não é uma doença, é uma mutação. E quanto ir à cidade... ingênua. Ao te verem com este belo par de olhos vermelhos e tua coloração de pele incomum, jamais te ouvirão. Te entregarão a morte, sem ao menos discernir que há um ser pensante dentro desta carcassa de monstro.
-Não podem me matar!
-Como sabes que não morrerás?
-Eu apenas sei...
-Claro... não importa... te banirão... e você vai voltar pro único lugar onde tem semelhantes... ao meu lado!

Harrison pegou Alison pelo braço, e a levou consigo de volta para a mansão. Subiu as escadas, abriu a porta do quarto e jogou Alison ao chão:
-Se fugires de novo, não vou te buscar. Deixarei ir ter com os moradores do vilarejo mais próximo pra que vejas que para eles agora és apenas um bicho. E quando ferirem você e voltares correndo pra cá, não abrirei a porta e terás uma vida eterna de tristeza banida da existência de outros seres vivos.

Essas palavras assustaram Alison. Ela se levantou, mas sentiu-se zonza e quase caiu. Harrison a segurou e disse:
-Mandei-te tomar o lítio. É nossa única refeição. Se sentirá fraca assim se não tomares.
-Se eu não tomar, morro de fraqueza como um ser humano morre de fome?

Harrison deixou Alison cair ao chão e olhou com raiva para ela:

-Nem pense em tentar-te a morte por não tomares o lítio. Se você ficar muito tempo sem tomá-lo, se sentirá cada vez mais fraca, e as veias no seu corpo implorarão pelo líquido que lhe dá vida. Elas sugarão de ti toda a energia vital, e sofrerás meses como um cão antes de chegares a morte. Quando olhar no espelho e ver o seu organismo consumindo toda a carne do seu rosto, vai se arrepender por ter tentado se matar dessa forma.

Harrison virou-se e saiu do quarto, batendo fortemente a porta. Alison olhou para o lítio no criado mudo perto da cama. Pensou um instante no que dissera Harrison. Ficou horrorizada com a idéia de ver seu corpo desfazer-se aos poucos. Não estava acostumada a tanto sofrimento. Não conseguiria chegar até o fim, e acabaria tomando o lítio cedo ou tarde. Correu em direção ao criado mudo, pegou o frasco e bebeu todo o líquido efusivamente. Sentiu-se tão bem naquele instante, como se tivesse acabado de comer um prato bem feito de comida na hora do almoço com muita fome. Alison queria viver, mas não daquela forma. Já não sabia mais o que fazer. Afinal, pra que viver para sempre, se ela não tinha pelo que viver?

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