domingo, 15 de novembro de 2009

A Estrategista - Parte 13

A fúria de Icarus se desfez na confusão. Seus olhos procuraram os de Micaili, que ainda fitavam o chão. A voz entorpecida pelo turbilhão de emoções exigia:
- Do que ele está falando Micaili? Por que não se levanta e diz que ele está mentindo? - perguntou Icarus.
- Ela sabe do pecado que cometeu. Dei hospedagem e boa comida a princesa, pelo nosso pacto de paz. Coloquei a disposição dela todo meu palácio. Mas ela cuspiu na face de nós dois. Tomou vinho como uma beberrona e perdeu o controle de suas emoções. Se jogou nos meus braços e na minha cama, implorando que a possuísse...
- Cale a boca! - gritou Nioki, se voltando para Micaili - Diga, minha filha, diga! Alto e claro que é mentira... que este maldito cantarola blasfêmias para derrubar o reino de Getsêny! Diga apenas uma palavra que o desminta, e acreditaremos em você!
- Eu... eu... não posso... - murmurou Micaili.

O sorriso de Nicolas se alargou ainda mais. As mão de Nioki caíram ao chão, derrotadas. Icarus ofegava em decepção e ódio. Seus olhos deixaram o rosto de Micaili, e fervilharam novamente para Nicolas.
- Você embebedou ela! - acusou Icarus
- Como é difícil os pais enxergarem a filha que tem! Ela bebeu porque quis! Ela me seduziu porque quis! Ela se jogou em minha cama! Ela quis cada momento! Ela implorou por isso! Eu sou homem, não tenho culpa se sua filha não vale nada! - berrou Nicolas.

Icarus estava derrotado como Nioki. Não havia como argumentar se Micaili se mantinha calada diante das acusações de Nicolas. O povo observava a humilhação de seu reino absortos em espanto. Armandis, o oficial do exército de Getsêny, ainda mantinha a posição de ataque em frente ao oficial de Mytrias.

Micaili estava destruída por dentro. Nunca um ser vivo ansiou tanto pela morte quanto ela ansiava naquele momento. O peito da princesa se rasgava num incontrolável desespero. Ela se jogou aos pés de Icarus:
- Eu sou menos que o pó deste chão, meu pai. Nunca quis causar dano a tua casa. Me livra de meu desespero e me dê alívio. Crava tua espada em mim e me deixe morrer! Me mate! Por favor, me mate! - implorou Micaili.

Armandis, o oficial, olhou preocupado para Icarus. Ele mataria sua filha pela desonra que causara? Mas como podia ele impedir o rei se fizesse tal coisa sendo que essa desonra tinha magoado a ele também? Armandis tinha interesses românticos em relação a Micaili, mas agora ela não significava mais nada perante o povo. Armandis deixou a mágoa dominar sua alma e relxou a posição de ataque, deixando que as coisas fluíssem como tinha de ser.

A mão de Icarus se apertou em volta da longa espada. Fitou Micaili, diante dele, de joelhos ansiando pela morte. Uma mistura de ódio e decepção lutavam contra o instinto de pai que lhe impulsionava a abraçar a filha e tirá-la do meio daquela gente. Mas na verdade não havia nada que Icarus pudesse fazer:
- Não posso matá-la! - disse Icarus, por fim - Conheces bem a lei, Micaili! Você compactuou com o ato, então nem a morte pode honrá-la outra vez. O que posso fazer, senão baní-la? Banir a ti, minha própria filha... - as ultimas palavras eram afogadas em um sussurro torturado que dava alusão à lágrimas que Icarus segurava para não demonstrar.

Os olhos de todos se arregalaram. Icarus baniria Micaili, que passaria a viver na cidade da vergonha que ficava ao Sul de Getsêny, onde as moças desonradas jaziam como prostitutas. Lá, Micaili teria de viver desonrada para sempre, entre a miséria e a luxúria, proibida do privilégio da morte até que a velhice lhe imposse seu destino final. E a casa de Icarus ficaria em vergonha para sempre. A família real de Getsêny parecia estar destruída.

Foi nesse momento que Nicolas, com um sorriso de vitória, pediu a palavra.

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