sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 22

Com um esforço gigantesco para um corpo pesado de culpa, Lira subiu até o grande quarto branco e dourado. Deixou seu corpo cair na cama cintilante, arrumada. As lágrimas ainda jaziam de seu olhar perdido que fluía do coração ferido. Pela primeira vez pensou em como seu pai se sentiu ao ser culpado pela morte de Laura, sua mãe. Claro que a vida toda ela viu seu pai como um animal sem sentimento sedento por sangue e guerra. Mas Irian cuspiu em seu discurso que Laura e Marshall se amavam como ela e Simon se amavam. E ela, assim como seu pai, ia matar quem ama. Por um breve instante, pela dor corroendo seus ossos, Lira sentiu pena de seu pai. Pena pela culpa que carregou por todos esses anos. E então o ranger da porta alertou Lira:

- A serva Jequibeth estava subindo para lhe chamar para almoçar, e como estava passando resolvi eu mesmo vim lhe buscar... podemos descer juntos meu bem? - disse Simon, em seu costumeiro tom alegre.

Quando Lira fitou Simon com seus olhos vermelhos, não resistiu a enorme pressão em seu peito e voltou a chorar. Simon, ao perceber o estado de Lira, ficou desesperado, fechou a porta e correu para a cama acudir sua esposa:
- Meu Deus Lira, o que aconteceu... por que está chorando?
- Simon, Simon - disse Lira, em meio aos soluços, passando as mãos no rosto de Simon - me perdoe, eu preciso fazer isso. Eu sei, eu serei eternamente condenada, talvez eu vá pro inferno. Mas eu preciso fazer isso. Mas... mas... mas eu amo você, me perdoe.
- Do que está falando meu anjo? - disse Simon, preocupado, enxugando as lágrimas de Lira.
- Eu não queria perder você...
- Ei, você não vai me perder, já conversamos sobre isso. Caramba! Se eu soubesse que todo esse assunto de guerra te deixava tão perturbada assim, teria tomado cuidado pra que nada dessa história de expedição ao leste chegasse aos teus ouvidos. - disse Simon, calorosamente abraçando Lira.
- Simon...

Antes que Lira pudesse falar, Irian entrou no quarto:
- Ora, desculpe incomodar... mas os senhores não vão almoçar? - perguntou Irian.
- Então a criadagem desse reino entra e sai dos quartos reais quando bem entendem? - perguntou Simon, rispidamente.
- Não meu senhor. Me perdoe o vacilo... - Irian colocou olhos frios em Lira - a senhora está bem?
- Estou... - disse Lira repentinamente, percebendo o tom de Irian.
- Saia! - disse Simon, imperiosamente.
- Sim, vossa alteza. - disse Irian se retirando do quarto.

Simon voltou-se para Lira com seu olhar carinhoso.
- Meu amor, vou descer. Assim que se sentir melhor, venha comer um pouco. Amo você. - disse Simon beijando a testa de Lira.

Ele saiu da porta, deixando no lugar da dor de Lira um vazio gelado. A princesa se recompôs e enxugou os olhos. Saiu do quarto em direção as escadas, quando uma mão masculina a puxou bruscamente para a parede:
- O que pensa que está fazendo? - perguntou Irian, sussurrando num tom brusco.
- Nada... foi apenas uma fraqueza. Ainda estou aprendendo a lutar contra meu coração. - respondeu Lira, assustada.
- Alteza, já falei com os homens. Está tudo combinado. É tarde demais para voltar atrás. Se contar a seu marido, nós dois perdemos a cabeça. Nunca teríamos o perdão real. É TARDE DEMAIS! Pode entender isso?
- Eu sei Irian, me solte... não vou abrir minha boca!
- Senhora Lira Castella. Já que ama tanto teu marido a aconselho a aproveitar os dias que tem com ele. Não desperdisse com choramingos e arrependimentos. Bom almoço.

Irian se direcionou pelo corredor, deixando Lira pasma. Mas de certa forma Irian tinha razão, não tinha mais volta, era tarde demais.

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