terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 26

Lira andava de um lado para o outro, com passos preocupados arrastados pelo chão do grande saguão principal, onde era observada por seu pai, o rei Marshall, e seu servo, Irian. Desde que Simon partira, 3 semanas atrás, Lira não comia e nem dormia direito. Marshall estava preocupado com o estado emocional da filha e também com o fato de não ter recebido notícia nenhuma do exército. Irian andava pelo castelo apreensivo, esperando ancioso pela notícia fatal, enquanto Lira rezava para que nunca viesse.

Um mensageiro entrou correndo pelo saguão. Era um rapaz novo, de estatura baixa e magra, roupas sujas e rasgadas e uma sacola de pano atravessada no dorso. Ele correu e se ajoelhou perante o rei Marshall:
- Majestade, trago uma carta urgente do exército! - disse o rapaz.
- Oh Deus, o que será? Me entregue! - respondeu Marshall.

Lira, ouvindo isso, sentiu o coração disparar. Os olhos de Irian se iluminaram e sua boca se contorceu num sorriso maléfico, o que apavorou ainda mais Lira. Ela correu até perto de onde seu pai estava junto com o mensageiro. Desesperada, ela balançava as mãos:
- Anda pai, abra essa carta logo! Por Deus!- reclamou Lira.
- Se acalme Lira, por favor! - disse Marshall, afastando Lira de si.

Ele abriu a carta que dizia:

"Ao rei do Sul, Marshall Antonny Amasis.

Vossa majestade, quem vos escreve é o 2° oficial do exército, Leonidas Trunker. É com muita tristeza que lhe comunico o desaparecimento do príncipe do Norte e 1° oficial do exército real do Sul, Simon Castella. Na noite de quarta feira, dois corpos de soldados que usavam a armadura real foram encontrados na floresta próxima de nosso acampamento. Os corpos estavam perfurados à espada. Não identificamos ainda os nomes dos soldados. As espadas caídas no chão estavam ensaguentadas. Há suspeita de que o reino do Leste desconfie de nossas intenções e tenha mandado espiões. Assim, acreditamos que foram soldados do Leste que mataram os soldados e talvez também Simon Castella. Não encontramos o corpo do príncipe, mas há vestígios de passos na floresta. Continuaremos a procurar pelo corpo dele, mas a suspeita de que também esteja morto é evidente. Esperamos a resposta de vossa majestade para que possamos retornar ao Sul. Não podemos avançar sem um 1° oficial.


Assinado: 2° oficial do exército do Reino do Sul Leonidas Trunker."


Ao ler a carta o rosto do rei Marshall se congelou. A expressão de Marshall fez Lira colocar as mãos no rosto de tanto desespero. Com um olhar de agonia, ela cobrou o pai do que a carta dizia:
- O 2° oficial, Leonidas... ele pede para retornar ao sul... - murmurou doloridamente Marshall.
- Sem terminar a expedição ao Leste? - perguntou Naim, escudeiro do rei.
- Quem liderava era Simon. Sem ele, não podem continuar. - falou Marshall, com uma pontada de agonia.
- Sem... Simon...? - falou Lira, com a voz distorcida e em pranto.
- Simon desapareceu. Foram encontrados sangue, espadas, corpos de dois soldado e vestígios de espiões pela floresta. Evidências fortes de que Simon está morto. Eu sinto... muito Lira... - falou Marshall, enfim, doloridamente.

Irian estava triunfante, mas não podia demonstrar. Se retirou da sala antes que vissem seu rosto em festa, enquanto Lira se contorcia e ajoelhava no chão. Seu rosto de boneca se distorceu na expressão agoniada mais cheia de dor que Marshall já tnha visto. As lágrimas turvaram seus olhos redondos, e um grito agudo escapou de sua garganta. Marshall correu até Lira e a puxou nos braços. Enquanto ela chorava, ele se virou ao escrivão:
- Escreva uma carta para Leonidas dizendo que eles tem permissão para retornar. Comunique o 3° oficial, Morrison, que ele deve separar um pequeno batalhão para levar a carta até a extremidade do leste, onde meu exército está. Escreva um comunicado com meus sentimentos ao rei do Norte, pai de Simon. Ah, e assim que souber o nome dos dois soldados que apareceram mortos, comunique a família deles com meus pêsames... NADINE! - gritou Marshall
- Sim majestade! - falou Nadine, a costureira, aparecendo na entrada do saguão.
- Prepare tudo e providencie um vestido negro para Lira. - respondeu Marshall, passando a mão nos cabelos de Lira, ainda em pranto.

Marshall virou-se para Jequibeth, que espiava no canto da entrada do saguão:
- Você! Serva! Peque o rapazinho que trouxe a carta e dê a ele algo para comer. Vá com ela rapaz. - disse Marshall, olhando para o mensageiro.

E os servos, com suas ordens, deixaram o saguão, deixando, ajoelhados em sua dor, a realeza. A princesa viúva e seu pai cheio de culpa.

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