quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 34

- Si-simon... por favor me ouça! - arfou Lira - eu, eu preciso explicar... eu te a...

PAF! Um estalo ardido fez o rosto de Lira se virar para a direita. A força do estalo era tamanha, que o corpo magro da princesa cedeu juntamente, e os cabelos molhados taparam-lhe a face, que ficava vermelha na maçã do rosto pelo tapa que Simon havia lhe dado. No chão, Lira ficou imóvel. Simon pegou Lira pelo braço bruscamente, levantando-a e a recostando novamente nas pedras, olhando odiosamente nos olhos dela:
- Não se atreva a dizer que me ama! - disse ele ainda na voz ríspida - Você... você tentou me matar!- e derepente os olhos de Simon eram lacrimosos, exibiam sua dor - Co-como pode Lira? Eu, eu te amei tanto! Eu fiz de tudo por você! - ele gritava segurando o rosto de Lira perto do seu- Você dizia que me amava, sua cobra peçonhenta! Tramava contra mim nas minhas costas! O que eram aqueles pedidos pra que eu não fosse pra guerra? Peso na consciência? Hã? Diz Lira, diz!
- Dizer o quê? - arfou Lira.
- Diga que tramou tudo isso! Confesse que nunca me amou! Diga que foi tudo mentira! Diga!!! Diga... que não me ama... - e o fim da frase saiu como um sussurro triste.
- Eu... não... posso... - arfou Lira novamente.
- Não pode o quê?- gritou Simon, exigente.
- Não posso dizer que não te amo! Porque eu te amo sim Simon Castella, te amo como uma louca insandecida!!! Eu te amo! - gritou Lira finalmente.
- Como ousa dizer isso depois de tramar a minha morte? - questionou Simon, segurando Lira com mais raiva e força.
- É um trauma de infância! Meu pai assassinou minha mãe! - berrou Lira, como se aquilo fosse uma corda que finalmente se arrebentou em seu peito e libertou seu segredo.
- E você quer ser igual ao seu pai? Assassina do seu conjuge?
- Não! Você... não entende... - Lira baixou a voz de repente - Minha mãe me fez prometer que tiraria o reino das mãos de meu pai. Que não permitiria que ele continuasse levando o reino do Sul para eras de trevas e guerras. - Lira fitava o chão - Fui praticamente criada pelo servo eunuco Irian. A vida toda ele alimentou em minha mente o ódio pelo meu pai e fortificou em raízes a promessa que fiz! Quando me casei e descobri que amava você, ele me atormentava todosos dias me lembrando da promessa...
- O que minha morte tem a ver com essa promessa? - Simon questionou.
- Tem a ver que, segundo Irian, casada com você, o reino do Sul iria para as suas mãos, um homem com a mesma determinação de guerra que meu pai. Eu não cumpriria a promessa. Não salvaria o reino do Sul das tormentas das guerras. Você é expansivo como meu pai... era por isso que não podia ser rei...

Simon soltou Lira, com os olhos perdidos, indo se recostar nas pedra lameadas como se um grande peso lhe cansasse as costas. Lira o fitava, melancólica:
- Mas isso era a suposição de Irian. Irian queria me ter nas mãos. Eu fui altamente influenciável. Através de mim, Irian teria poder a todo o reino. Deus sabe o quanto eu quis escapar do destino de ter que sacrificar você pela promessa. Mas Irian me fechava em qualquer caminho que eu tomava. Ele mexia com minha cabeça.
- E veio me buscar aqui pra me matar longe dos olhos de seu pai? - perguntou Simon, entorpecido pela decepção.
- Não... oh não, não, não Simon... - Lira disse chorosamente, se ajoelhando diante de Simon- eu... eu desisti desta promessa idiota no momento em que tive de colocar aquele vestido de luto. Eu amo você Simon, errei porque sou uma idiota, uma marionete de Irian. Mereço que em odeie para sempre, e fico grata que me odeie!
- Grata?
- Sim, quero que me odeie! Não suporto mais tudo o que eu fiz... tudo o que minhas atitudes me tornam. Eu mesma me odeio. Quero ficar neste buraco para sempre...
- Hahahahahaha - começou a rir Simon, desacreditado - Como pude crer por um segundo sequer que todo esse plano de morte e domínio do reino viesse de sua cabecinha infantil? Sou mais idiota que você!
- Está rin... rindo do que?
- Lira, por um instante a vejo se comportar na situação mais complicada da sua vida, e você me pede que eu a odeie, e que quer ficar neste buraco para sempre? Hahahahaha. Você é tão inocente que as vezes me assusta! Em vez de me implorar perdão, de tentar usar do amor que tenho por você pra me influenciar, você mesma se castiga. Aquele maldito eunuco se aproveitou da sua ingenuidade. O único culpado é ele. Ele não vai ter o perdão real. Quando essa história chegar aos ouvidos de seu pai, Lira... vai sofrer como um cão!
- Simon... não entendo... não me odeia mais?

Simon se abaixou e pegou o rosto de Lira entre as mãos. Olhou ternamente em seus olhos e beijou a bochecha onde havia lhe esbofeteado:
- A única coisa que me levou a lhe machucar é o desespero de pensar que todo seu amor era mentira. Mas que motivo tenho eu para lhe odiar se apenas fostes enganada e chantegeada com a memória de sua mãe? Não tenho o direito de culpá-la Lira. O único foco de toda minha raiva agora é aquele maldito eunuco!

Os olhos de Liram lampejaram de amor e alívio. Ela deixou-se perder no abraço de Simon em lágrimas. Num olhar reconfortado, Simon deitou seus lábios nos de Lira em um carinho indescritível, quando uma corda desceu pelo buraco, chamando a atenção de ambos.

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