quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 21

Lira cambaleou um pouco, então encostou-se na cadeira perto da mesa. Seu coração palpitava, e o sorriso era involuntário em seu rosto. Ela estava feliz, realmente feliz. Mas uma sombra roubou o sorriso de seus lábios carmim.

Irian entrou na sala de jantar com um saquinho vinho aveludado nas mãos. Andou em direção à Lira e parou em frente dela. Olhou para os lados:
- Bom, não há ninguém por perto agora. Posso lhe falar, alteza?
- O que é Irian?
- Quanto rispidez minha senhora. O que um pouco de galanteio não faz ao coração feminino, não é?
- Irian, eu estive pensando...
- Senhora Lira, aqui algumas jóias tuas que tomei a liberdade de separar. Sou mais atencioso à promessa que fez a tua mãe do que a senhora mesmo. Se não amasse tua mãe, minha falecida senhora, como amo, teria deixado ela morrer em teus pensamentos também. Mas não posso permitir que a alma de sua mãe fique eternamente atormentada pela filha desnaturada que tem. - Irian abriu o saco e depejou dois colares de diamante e brincos e anéis de ouro puro e safira. - Com tua permissão entregarei as jóias como pagamento inicial aos dois homens que já contatei para se infiltrar no exército real na expedição ao Leste.
- Irian, me escute!
- O que é, alteza?
- Não acha que minha mãe ia querer me ver feliz? Simon é um bom homem. Seria um rei perfeito. Indiretamente, seria o cumprimento de minha promessa. Em breve meu pai não será mais rei.
- Ah, Simon é um bom homem, não? Foi por isso que quando entrei no gabinete de teu pai, seu marido estava debruçado sobre a mesa traçando estratégias de guerra deliciado pela batalha vigente. Lira, acorde! Teu pai também amava tua mãe. Tua mãe era ensandecidamente louca de paixão por teu pai. Mas isso não o impediu de matá-la quando ela quis controlar o desejo de guerra que ele tinha. Diante dos meus olhos a história se repete. Você ama um guerreiro assassino. Sim, acredito que Simon te ama, MAS ELE AMA MAIS A GUERRA!!! Ele pode te fazer mil promessas, mas nunca as cumprirá quando entrar em conflito com o desejo de sangue que ele tem. O que você vai esperar? Esperar ele oprimir o povo e matar milhões por mais alguns anos até que ele se canse de você tentar impedí-lo e a mate como seu pai matou sua mãe?

Depois desse discurso de Irian algo se ascendeu nos olhos de Lira. Era o sangue de sua mãe escorrendo pelo chão naquela tarde de primavera, anos atrás. A flecha mergulhada no peito ofegante de Laura, e nas mãos de Marshall o arco que atirara a flecha. De repente Marshall se tornou Simon, e em suas mãos em vez do arco, havia uma longa espada. No chão, quem sangrava era Lira, enquanto Simon corria e matava pessoas inocentes, pessoas humildes, camponeses. Na mente de Lira, o retrato era vívido. E o ódio reinou novamente em seu coração:

- Pague os homens, e lhe dê todos os detalhes. Você esteve servindo o reino do Sul por muito tempo. Sabe exatamente como são as formações militares do exército do sul. Dê a eles a capa e a armadura real. Não deve haver o menor sinal de erro. Depois de cumprirem a parte no acordo, combine um local longe daqui para pagar-lhes o restante. Vá Irian! - disse Lira, numa voz dura como gelo.
- Essa é a Lira que eu conheço! Não vou decepcioná-la minha senhora. Tua mãe sorri no seu túmulo.

Irian saiu pela porta exultante, em seu olhar malicioso. Lira sentou-se na cadeira e a dureza em seus olhos derreteram-se em lágrimas. Debruçou na mesa e deixou o pranto arrebentar seu peito.

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