sábado, 3 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 23

A noite assombrava em uma lua tomada pelas nuvens espessas. Estava escuro lá fora, desconsiderando os lampiões. Na manhã seguinte o exército real partiria para uma batalha àrdua contra o reino do Leste. Todos estavam tensos, mas Simon Castella mantia no rosto ilumano um sorriso confiante.

O vento soprava e o tempo parecia estar virando. Lira fechou as janelas do grande quarto branco e dourado. Estava em uma camisola roxinha clara, e andava descalça de um lado para o outro. Quando Simon entrou no quarto, Lira refez seu rosto de preocupação num sorriso tentador. Ela prometera para si mesma que aproveitaria a última noite com Simon, antes que ele partisse, porque assim que amanhecesse o dia, ela poderia não vê-lo nunca mais:
- Boa noite príncipe Castella! - disse Lira, em um tom doce e sedutor.
- Não acho que seja tão boa noite assim, afinal, está ficando frio. Detesto o frio. - disse Simon, se fazendo de bobo.
- Eu adoro o frio! - exultou Lira, se aproximando de Simon - Porque tenho comigo um marido que amo muito para me aquecer.
- Hahahahaha está estranha essa noite. Está me assustando! - disse Simon sarcasticamente, puxando a fita cetinada da camisola comprida de Lira.
- Diga que me ama... a noite toda eu preciso ouvir que você me ama! - falou Lira, num tom de dependência, entrelaçando os braços em volta do pescoço de Simon.
- Como se você já não soubesse o quanto a amo.- respondeu Simon, abraçando sua princesa.- Eu deveria querer dormir bem essa noite, mas na verdade não quero dormir. A única coisa que realmente me assusta é ter que ficar longe de você por um tempo. Então preciso levar comigo o máximo de você que eu puder. E eu quero amar cada pedaço seu a noite inteira para ter comigo o gosto doce dos seus lábios até voltar.

Ele a pegou no colo e a levou consigo até a grande cama acetinada.

A manhã cavalgava pelo céu em disparada, se acelerando com as nuvens. Era uma manhã nublada e fria, estranha para a estação que ainda era primavera. Os exércitos se alinhavam na frente do grande castelo. Marshall já aguardava Simon para a partida.

No quarto branco e dourado, Lira acordou primeiro que Simon dessa vez. Na verdade, ela nem dormira a noite, ficou o tempo todo velando o sono de seu marido. Pela aurora, o corpo cansado da princesa cedeu a um cochilo, mas logo acordou, aliviada em ainda ter Simon na cama. Ela beijou docemente os lábios sonolentos de Simon, passou os braços em volta dele e sussurrou:
- Acho que hoje é uma boa idéia realmente acorrentá-lo na cama!
- Ora Lira, não me tente a ficar. - redarguiu Simon, acordando - Sabes bem o quanto eu quero ficar com você mais horas e horas, dias e dias. Mas tenho que ir. Estarei em paz enquanto teu perfume for a doce lembrança que embriaga meu coração.

Num delicado levantar, Simon afastou Lira de si. Beijou sua testa e pôs-se de pé. Caminhou até a sala ao lado, onde iria se banhar, enquanto os olhos de Lira o acompanhavam. Os olhos da princesa já não eram mais de desejo e êxtase como na noite passada. Agora eles tinham um vazio intenso, um buraco negro onde a alma de Lira se perdia para sempre.

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