sábado, 17 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 37

Simon passou a mão ainda com olhos fechados pelo peito largo, sem encontrar a flecha que deveria estar cravada nele. Abriu os olhos de vagar, olhando em volta, e todos fitavam um único foco.

Do alto do cavalo castanho, a face de Marshall não era mais superior. Seu rosto estava agoniado, os olhos demonstrando uma dor intensa. A mão de Marshall, que ainda empunhava o arco, tinha um grande corte, como se algo afiado tivesse passado de raspão. Fitando o mesmo foco que todos os outros, uma palavra agoniada saiu do lábios de Marshall, que tremiam:
- Não! - sussurrou o rei.

Ao virar o rosto para onde todos olhavam, Simon entrou em desespero. Os olhos de Lira encontraram os de Simon no mesmo instante. Os olhos dela possuiam uma sombra negra, como se todo o brilho de vida estivesse desaparecendo. A mão delicada da princesa passou suavemente em cima de seu peito, onde uma longa flecha estava cravada, libertando uma torrente de sangue, muito vermelho em comparação à pele branca de Lira.

O que havia acontecido? Como a flecha que era para Simon foi parar no coração de Lira? Ao longe, cabelos negros e lisos esvoaçavam com o vento forte. Taimí, a índia, acompanhava o desfecho dos fatos, e não ia permitir que Marshall matasse Simon. Numa tentativa desesperada, a índia Taimí atirou com seu arco de bambu uma flecha afiada contra Marshall, mas pela distância, acertou apenas sua mão, desviando o foco de Marshall contra Simon, fazendo com que a flecha já atirada entrasse no caminho de Lira, que estava a pouca distância do príncipe do Norte, segurada por Leonidas. Taimí não planejou que a flecha acertasse Lira. Era uma fatalidade. Ela só queria salvar Simon.

Mas ninguém prestava atenção em Taimí, ao longe. O foco era Lira. Os olhos sombrios e sem vida, Lira focou com dificuldade o rosto do pai, Marshall, e disse em sua voz frágil:
- Isso é um tanto... irônico, não? - disse a princesa, tranquilamente.

O corpo de Lira, perdendo vida aos poucos, tombava para o sono eterno, mas Simon a pegou antes que caísse ao chão. Desesperado, ele arrancou a flecha do peito ferido de Lira. Lira, sem forças, gritou com a nova dor que lhe provocara o ato de Simon.

- Um médico! Rápido! Agora! Por favor! - gritava Simon, tapando inutilmente a fenda no peito de Lira de onde o sangue se esvaía.

Cambaleando, em choque, Marshall desceu do cavalo, fitando Lira morrendo, sem piscar. Deu dois passos, esticando o braço, então pois as mãos no rosto:
- Não... oh não, não, não!!! - choramingava consigo mesmo, desesperado.

O mesmo arco, a mesma flecha que matou a rainha Laura agora exigia a vida de Lira. As mesmas mãos que acidentalmente atiraram a flecha em Laura, agora provocavam o mesmo dano em Lira. Marshall matou a esposa anos antes, e agora era o responsável pela morte de Lira.

Marshall caiu aos prantos em joelho, enquanto Simon ainda gritava sobre o sangue de Lira.

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