sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 36

- Mas do que é que está falando??? - Simon exigia saber.

O rei Marshall pousou teatralmente as temporas nos dedos polegar e indicador da mão direita demonstrando um pesar que não era genuíno. Voltou olhos forçadamente tristes para Simon e falou:
- Simon, Simon... como confiei em você. Se tornou para mim como um filho! Mas Irian nos disse que pagou a ele e ao oficial Minotty. Que estão juntos numa trapaça contra o reino do Sul. Você forjou seu próprio desaparecimento para atrair minha filha Lira para longe de mim e poder matá-la. Então depois voltaria e mataria a mim para possuir o reino do Sul. Pobre filha minha. Lira, meu bem, se afaste desse traidor. Eu estou aqui para levá-la para casa. Irian e Minotty, por terem confessado receberão o perdão real e serão exilados como única punição. Mas a você, príncipe Simon Castella, a você darei a pior das torturas e cortarei sua cabeça em público! Não me importa que isso provoque uma guerra com o reino do Norte, mas você terá sua punição!
- Não! - sussurrou Lira em meio ao choque.

Irian virou a mesa outra vez. Com a presença do exército de Marshall, Irian e Minotty estariam encurralados. Mesmo que não tivessem aberto a boca, assim que Lira saísse do buraco com Simon, ela contaria ao pai tudo o que Irian havia planejado contra ele, e o eunuco juntamente com o oficial seriam humilhados, torturados e mortos. Mas Irian era inteligente demais para morrer dessa forma. Ele só tinha uma saída. No momento em que soube que não poderia mais matar Lira para calar sua boca, Irian já sabia que não teria mais o conforto do palácio.

O que importava era a sobrevivência. E a única forma de sobreviver era virando Marshall contra Simon. Lira amava Simon, e era fácil influenciar Marshall a ver qualquer acusação da filha contra Irian como uma tentativa desesperada de salvar seu marido. Simon era quem estava do lado mais fraco da corda. O único lado que Irian poderia arrebentar. O desconhecido, o estrangeiro, o príncipe do Norte que era, antes da aliança, um inimigo do Sul. Marshall acreditou rapidamente na mentira de que Simon tramava contra ele e sua filha Lira, como um peixe faminto morde a isca presa ao anzol. Supostamente confessando a mentira toda, Irian sabia que receberia o perdão real e que seria exilado, mas pelo menos estaria vivo.

Um turbilhão arrasava Lira por dentro. Ela estava perdida. A vontade que tinha era de pegar a espada na bainha de Simon e voar contra Irian para arrancar-lhe a cabeça. Mas haviam tantos guardas alí. Por impulso, Lira voou novamente para Leonidas, tentando libertar Simon.

- É MENTIRA!!! ESSE MALDITO EUNUCO ESTÁ MENTINDO!!! SOLTE MEU MARIDO LEONIDAS, É UMA ORDEM!!! - Lira gritava desesperada.

Marshall olhou com pena para a filha, voltou-se para Leonidas e disse:
- Leonidas, solte-o... por um instante. Lira, meu bem. Sei que para você é difícil aceitar. Mas este homem não merece seu amor. Ele nos traiu, a nós dois. Não posso deixá-lo viver. Afaste-se dele agora!
- Eu não o traí majestade! Esse servo está mentindo. Precisa ouvir o que eu e Lira temos a dizer... - Simon começou a falar.
- Cala-te traidor! - ordenou Marshall.
- Pai! - interrompeu Lira - Prefere acreditar num maldito eunuco do que ouvir sua filha?
- Querida, sua visão está deturpada. Eu vi o quanto sofreu quando achou que este maldito traidor morreu. - ponderou Marshall.
- Não! Não pai! Você tem que me ouvir...
- Chega! - se irritou Marshall - Não vou ficar discutindo o que fazer ou que não fazer com um traidor. Já lidei com traidores no passado e não dei chance para choramingos. Leonidas! Segure Lira longe desse maldito principezinho do Norte. Vou acabar com a raça dele agora mesmo!
- NÃO! - gritou Lira quando Leonidas puxou seu braço.

Era uma injustiça enorme. Simon olhou para Lira melancolicamente, mas ele não era covarde. Era um príncipe guerreiro, corajoso. Não ia implorar para que Marshall o ouvisse, nem ia correr tentando fugir. Marshall era um rei ambicioso e hipócrita, altamente influenciável e não confiava em niguém por não ser ele mesmo uma pessoa confiável.

Marshall empunhou um grande arco, flexionando a flecha afiada sobre ele. Apontou para Simon, enquanto um sorriso do mal se espalhava no rosto de Irian. Os olhos de Lira se arregalaram ainda mais, o coração tapando-lhe a garganta em batidas agudas. Simon suspirou ainda olhando para Lira:

- Eu te amo Lira. Me perdoe por tudo. Mas eu amo você! - sussurrou, se virando com o olhar duro para Marshall.

Agora Simon estava de frente ao rei. Simon estava encarando a morte. Estufando o peito e levantando o queixo em sua postura principesca, Simon falou alto e claro:

- Está cometendo um erro, rei Marshall! Mas não posso interferir contra teu orgulho. Mate-me, como tem que ser para se manter em seu pedestal. Espero que Deus tenha piedade da sua alma por todas as injustiças que tem cometido. Morro com orgulho por sempre ter sido fiel aos meus princípios, e não como um traidor. Estou pronto, majestade, me mate! - desafiou Simon.
- Hoje derramo o sangue de uma cobra que se aninhou em meu palácio. Adeus Simon Castella. Que Deus tenha piedade da SUA alma, que é a de um traidor. - redarguiu Marshall.

Marshall disparou a flecha, confiante de seu destino. Simon fechou os olhos, esperando a morte. Irian sorriu, ansioso pelo sangue derramado. Leonidas estreitou a mão forte no braço fino de Lira, que estava paralisada.

Um grito agudo de dor ecoou na clareira.

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