quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 27

A moleza entorpecia o corpo de Simon. Ele juntou as palpebras com força para depois poder forçar seus olhos a se abrirem. Quando conseguiu deixar nítida a imagem diante de seus olhos claros, fitou uma tenda cinzenta envelhecida bem montada sobre o chão. Com dificuldade se levantou, sentindo uma pontada aguda vindo de sua barriga. Passou a mão e se deparou com um pano limpo, embora velho, enrolado em sua cintura. Um curativo, claro. Ele havia sido golpeado na barriga. Mas quem fez aquele curativo? Com certeza o mesmo dono da tenda antiga.

Enquanto Simon fitava o chão esperando a pontada aguda passar, viu dois pés femininos descalços aparecerem na pequena abertura da tenda. Levantou a cabeça e viu a bela moça da pele castanha avermelhada, cabelos negros e lisos com um enorme brinco de pena jazendo de sua delicada orelha direita. O corpo cheio de curvas era pouco coberto por panos beges. Uma índia perfeita.

- Quem é você? - perguntou Simon, de repente.
- Então já acordou... - disse a índia, dando a volta para colocar a bacia de barro em sua mãos no canto da tenda.
- Onde estou?
- Está na tenda do pajé da tribo indígena que habita nas extremidades do Leste. - respondeu a índia, se ajoelhando em frente ao príncipe.
- Então ainda estou na extremidade do leste... e você me salvou?
- Os índios guerreiros estavam fazendo a vigília noturna na floresta. Escutaram o som de luta, mas quando chegaram era tarde. Dois homens brancos mortos. Mas então escutaram o que parecia um tronco caindo o barranco... bom, não era tronco, era você.
- Obrigado, seja quem for que me fez o curativo. - disse Simon, humildemente.
- Fui eu quem fez. De nada. Respondendo a sua primeira pergunta, me chamo Taimí, filha do pajé da tribo. Você é...?
- Príncipe do Norte e primeiro oficial e herdeiro do reino do Sul, Simon Castella. - respondeu Simon, recuperando seu porte principesco.
- Mas que sorte, era justamente o que precisávamos... - disse Taimí, interessada.
- Do que está falando?
- Seu exército estava cercando a floresta. As terras de minha tribo é rica em muitos metais que vocês, homens brancos, tanto dão valor. Estavam preparando um ataque contra as tribos da extremidade do Leste. Foi por isso que te salvamos. E que bom que é o líder. Deve-nos agora tua vida. Para te deixar ir, cobraremos tua palavra que deixará nosso povo em paz. - respondeu Taimí, rispidamente.
- Atacar as trib... não... não, não, não. Não queríamos atacar os índios. - redarguiu Simon, rapidamente.
- Estavam cercando a floresta...
- Nós íamos dar a volta pela extremidade Leste. Queríamos enganar o reino do Leste, para atacar por trás. Nosso objetivo eram as terras da realeza, não dos índios. Tem a minha palavra.
- Então... preciso contar a meu pai.
- Ai... - gemeu Simon, pondo a mão em sua barriga.

Uma mancha avermelhada apareceu no trapo que estava enrolado no dorso de Simon. Taimí se aproximou, colocando a mão macia cor de madeira em cima da de Simon:
- Não deveria ter se esforçado tanto. Vamos ter que trocar este curativo. Deite-se. - falou a índia.
- Espere. Devem achar que estou morto. Preciso avisar minha esposa que estou vivo. - falou Simon.
- Esposa? Então é casado... - disse Taimí, baixando os olhos.
- O quê?
- Nada... todos os homens brancos bonitos que eu curo são casados... é brincadeira. - riu Taimí, dando um tapinha leve no braço de Simon.- O que quer? Papel e tinta?
- É, boa idéia. Vou escrever uma carta. Mas... como essa carta vai chegar até meu reino?
- Temos índios velozes aqui. São como o vento. Amam voar por aí. Gwynt Droed, pé de vento na língua de vocês. Ele levará a sua carta.
- Obrigado, novamente. Mas vou precisar que este índio entregue a carta nas mãos de minha esposa, a princesa Lira. Fui golpeado por soldados do meu próprio exército. Há uma conspiração contra mim. A carta não pode cair em mãos erradas!
- Pode confiar em Gwynt Droed! - respondeu Taimí.

A índia Taimí era doce como as romãs, a pele de veludo cor da terra, os cabelos tão negros que era fácil se perder observando-os. Sua beleza exótica enxia os olhos de Simon. Mas a índia não era indiferente à beleza de Simon. Diferente dos índios guerreiros da tribo, ele era branco como leite, dos olhos claros da cor do céu, corpo esbelto e porte de príncipe.

Algo mais forçava Simon a gostar da índia. Ela salvou sua vida, e ainda cuidava de seu ferimento com cuidado e carinho. Sim, ele devia muito à Taimí. Mas uma nuvem vinha e trovejava em seu coração: Lira.

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