segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Última Traição - Parte 38

Lira, fraca e perdendo muito sangue, esticou a mão delicada e pousou o dedo nos lábios de Simon.

- Shhhhhh! É tarde demais... - murmurou Lira.
- Não, não, não Lira... não me deixe! - implorou Simon.
- Está tudo bem. Não dói mais. - a voz de Lira saia entrecortada em espasmos, que levavam sua vida a cada instante. - Agora sinto apenas frio. É mais tranquilo do que pensei. Minha mente está maravilhosamente racional, mas meu corpo está dormente. Só não gosto do fato de não conseguir ver seu rosto direito. Queria tanto levar essa lembrança comigo.
- Não Lira, resista, vamos salvar você! - choramingava Simon.
- Só posso te pedir uma coisa...
- Peça!
- Estou morrendo Simon. Estou pagando meus pecados. Quero ouvir dos seus lábios que me perdoa, de verdade.
- Lógico que perdouo. Já havia perdoado muito antes de você pedir...
- Shhhh. Agora a dormência está maior. - suspirou Lira, ainda com o dedo nos lábios de Simon.- Mas posso sentir a perfeição dos seus lábios na ponta dos meus dedos.
- Você está tão fria... Lira...
- Achei que seu perdão me daria paz, mas há algo errado. Algo que preciso fazer antes de partir.
- Claro, você tem que viver! Tem que ficar comigo!
- Simon. Minha promessa. Não posso morrer sem cumprí-la. O reino ainda está nas mãos de meu pai...
- Não Lira, não faça isso... essa história...
- Me prometa! Me prometa que vai tirar o reino dele... que vai salvar o povo sofrido do Sul. Eu preciso disso Simon, preciso disso pra dormir pra sempre, em paz.
- Eu, Lira... eu...
- Por favor Simon. Você tem um coração de ouro. Sei que será um bom rei. Apenas prometa isso...

O corpo frágil de Lira nos braços de Simon deu mais um espasmo, pulsando o sangue para fora onde a vida da princesa se esvaia a cada segundo. Lira estava morrendo, como Laura, sua mãe, havia morrido. Não havia nada que Simon pudesse fazer. Ele ia perdê-la. Num golpe de ansiedade, Simon prometeu:
- Eu prometo Lira. Prometo que cuidarei do seu povo. Prometo que cumprirei o que você havia prometido há tanto tempo para sua mãe....
- Obrigada... - sussurrou Lira, fechando os olhos lentamente. - Simon, eu amo você.
- Eu também te amo Lira. - suspirou Simon, deixando as lágrimas caírem.

Num último espasmo, Simon deitou seus lábios sobre os lábios gelados de Lira, num beijo de despedida. Sob a boca de Simon, Lira deu seu último suspiro, onde um último "eu te amo" foi sussurrado como a lápide que celava para sempre a únião e separação dos príncipes em dois mundos diferentes, onde a vida e a morte pairam diante de seus limites dominando cada uma a sua parte. A morte tomou posse de Lira para sempre sob a chuva fina que ainda caía diluindo todo o sangue derramado por terra. Simon caiu sobre o corpo da esposa numa dor indescritível, onde o grito de um coração aflito ecoava pela separação eterna.

O rei Marshall ainda estava em choque, olhando a filha branca e fria que ele havia acabado de matar.

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