quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 8

A criatura de olhos verdes cintilantes se aproximou do palco. Fitou Agatha por um instante, que parou de dançar. Então a morta-viva pois-se a dizer:
- Agui, ele estava aqui!
- Tomas?
- Sim, com um outro rapaz de óculos.
- Deve ser Gerard, um amigo dele cientista. Eles estavam me procurando?
- Não exatamente. O carinha de óculos pegou uma amostra do líquido florescente e foram embora.
- Será que estão tentando descobrir o que aconteceu conosco?
- Provavelmente. Estavamos mortos e agora voltamos à vida. Mas que vida somos, se nossos corpos são estranhos e frios?

Agatha desceu do palco e segurou as mãos da moça que falava com ela. O nome dela era Jeena, e ela tinha cabelos escuros longos e um rostinho delicado, e seu vestido envelhecido e rasgado era um Tutu-romântico desfiado.Ela era a mais novata entre os dançarinos do teatro:
- Acalme-se Jeena. Ainda somos humanos. Pensamos, falamos, andamos... e temos sentimentos.
- Mas não comemos, não bebemos e em nossas veias não há sangue.
- Mas nossos corações ainda batem. Ainda posso ouvi-lo pulsar.
- Agui, nossos corações pulsam esse líquido verde. Prefiria estar morta do que ser esse zumbi!
- Preciso ver Tomas...
- Pra que Agui... você é uma aberração agora. Acha que ele vai querer você?
- Ele me ama e eu estou viva. É o bastante!
- Isso é contra as leis da natureza. Você é um zumbi agora.
- Chega Jeena!

E um grande cipó circulou o pescoço de Jeena. De repente, o cipó raspou o pescoço da moça, que abriu uma fenda, de onde vazava o líquido verde. Ele escorreu, e Jeena caiu ao chão ofegante. Agatha ficou desesperada e correu para socorrê-la:
- Oh meu Deus! Jeena me perdoe... eu ainda não me acostumei com o controle que tenho sobre tudo aqui. Eu não quis te machucar, não tive a intenção... Jeena fale comigo!
- Shiiiiu... - disse Jeena bem baixinho, quase sussurrando - isso... isso é bom... nós somos mortais... esta é a lei da vida. Estou morrendo Agui, cumprindo minha sentença que deveria ser paga no dia do acidente. E agora sim estou em paz...

E num último suspiro, o líquido florescente abandonou o corpo de Jeena, e seu rosto branco cor de giz se tornou sereno. E Jeena, sem vida, parecia uma boneca de porcelana. Agatha se levantou, e os cipós envolveram o corpo de Jeena, puxando-a para debaixo do chão. E a folhagem cobriu o corpo da pequena para sempre.

Todos os outros mortos-vivos fitavam Agatha assustados. Por que ela podia controlar tudo e eles não? Por que ela tinha esse poder alí, naquelas ruínas?

Andrew se aproximou de Agatha:
- Minha amiga Agatha. Você é a única que tem poder sobre todos aqui. Apesar de sermos aberrações agora, não queremos morrer... de novo. Mas também não sabemos que tipo de vida teremos agora. Enfim, faremos o que você quiser.
- Só quero ver Tom, nem que seja só pra saber o que ele pensa de mim agora.
- E quer que o tragamos para cá.
- Não! Não quero assustá-lo. Eu vou atrás dele. Vocês esperem aqui. Dependendo de como tudo ocorrer, tenho planos pra vocês.

E Agatha se direcionou para sair das ruínas, enquanto os cipós destavam dos seus pés e se desligavam de seu corpo. E o restante, amendrontados e obedientes, sentaram diante do grande palco esperando o retorno de Agatha.

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