sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 16

Aquilo não podia ter se transformado num filme de terror. Apenas 3 dias atrás Tomas estava em casa, dormindo com Antonella, sua nova esposa, sempre relembrando docemente do aspecto angelical de sua falecida e amada bailarina, tomando seu café, indo trabalhar na empresa, voltando para casa, às vezes assistindo um filme, outras saindo pra descontrair com seu amigo Gerard, aos poucos sua tristeza de perder Agatha tragicamente se amenizando, a dor diminuindo, a conformação aumentando. E agora estava alí, num pesadelo inacreditável. O amor de sua vida havia virado um zumbi diabólico que construiu um labirinto tenebroso para atormentar e matar ele e Antonella. Isso era demais para sua cabeça cansada.

Tomas cambaleou um pouco zonzo encostando-se na parede do labirinto, cheia de folhagens, cipós e musgos. Fechou os olhos com força, e tentou recuperar a sanidade. Tinha que colocar as coisas no lugar. Não seria justo Antonella morrer alí. Ela não deveria fazer parte de seu pesadelo. Tomas já havia feito Antonella sofrer quando escolheu Agatha como esposa há um bom tempo atrás. Depois da morte da bailarina, Antonella finalmente teve a chance de ser feliz, mas Tomas sempre estragava tudo em seus acessos depressivos de saudade e angústia pela falecida esposa. E quando finalmente Tomas parecia uma pessoa sã novamente, seu equilíbrio foi estremecido pela volta de Agatha, zumbi e completamente maluca, e ele machucou Antonella por se permitir ficar feliz por ver a ex-mulher novamente. Não... Antonella suportara muito, e mesmo depois de tanto ser pisada, ela deixou o coração inflamar e se permitiu ficar feliz por um simples "eu te amo" vindo do homem que sempre idolatrou. Ele realmente tinha que tirar Antonella dalí - viva!

Então o empresário deixou seus olhos castanhos correrem pelo lugar. O labirinto era uma obra insana realmente. As paredes irregulares, curvas e mais curvas, escuridão, folhagens... sem contar os sons amedrontantes. Tomas escutava sussurros, que no começo clamavam o nome de Antonella, mas agora chamavam por ele também. Vez por outra acreditava ver pontos verde florescentes passando pela escuridão, mas fechava os olhos e balançava a cabeça - e a escuridão amena voltava.

Se afastou da parede, e pegou um pedaço de aço que havia no chão - provavelmente um pedaço da estrutura do destruído teatro Del Bellis. Começou uma corrida frenética, gritando o nome de Antonella com o aço na mão. Virava as curvas escuras golpeando o ar com o metal, caso houvesse algum ser maquiavélico à sua frente. E os sussurros aumentavam:
- Tomaaaaas.... Antonella.... morte.... fome....
- ANTONELLAAAAAA!!! - apenas gritava Tomas

Até que finalmente ele ouviu um grito agudo e feminino. Só poderia ser Antonella. Era uma mistura de desespero e alívio. Ela ainda estava viva, mas poderia morrer a qualquer momento. Tomas acelerou o passo, seguindo o grito apavorado de Antonella.

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