segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 6

TOC TOC TOC!!! As batidas fortes e nervosas na porta eram constantes. Gerard, um rapaz magro, cabelos ruivos e óculos redondos no rosto, correu para atender tal pessoa ansiosa. Tomas entrou ofegante:
-Gerard meu amigo, preciso que você me diga que não estou louco!
-Sinto muito Tomas, mas você é louco. Anda, senta aqui no sofá e me conta logo o que está te deixando tão nervoso.

A casa de Gerard era típica de um homem que morava sozinho. Um pouco bagunçada, sem cor, sem vida. Mas o que tornava a casa de Gerard única era o pequeno detalhe de ele ser cientista. Tubos de ensaio, experiências inacabadas, frascos com líquidos perigosos por toda parte. E apesar da enorme inteligência de Gerard, ele conseguia ser um homem centrado e equilibrado. Ele era um sujeitinho sério, calmo, simpático e atencioso. E era um grande amigo de Tomas. Talvez Gerard fosse o único com quem Tomas pudesse contar:

- Gerard... hoje, esta madrugada, eu vi... eu vi Agatha!
- Ah não Tom! De novo? Ok, ok... eu ainda devo ter um daqueles remédios contra alucinações por aqui. Mas é a última vez que eu te dou esse remédio sem prescrição médica. Se esse vidro acabar, você que vá num psicó...
- Não Gerard! - cortou Tomas - Cara, a Antonella estava comigo, ela viu também.
- Legal, não sabia que sua insanidade era contagiosa. Você conseguiu pirar a coitada da Antonella.
- Pare de ironia Gerard. Me escuta. Agatha apareceu em casa essa madrugada. Ela quebrou um porta retrato e estava muito esquisita. A pele branca como giz, toda bagunçada, as mesmas roupas de ballet do dia que ela morreu, e os olhos, eles eram... eram verdes, verdes cintilantes. Antonella disse que Agui era um zumbi.
- Agui Zumbi? HAHHAHHAHA. Meu querido amigo, você se esquece que sou um homem da ciência? Não acredito em zumbis, nem espiritos, nem nada. Essas coisas não existem.
- Eu sei Gerard.
- Tá bem amigão, qual é a sua teoria.
- Eu vim até você Gerard porque acho que Agatha reviveu por uma causa científica.
- O quê? Uau, a ciência tem cura para morte e não me avisaram?
- Gerard...
- Tá bem, parei... continue.
- O helicóptero que se chocou com o teatro era um helicóptero militar. Nele havia tambores de um líquido tóxico desconhecido. O líquido é tão estranho que preferiram esperar o efeito dele passar para finalmente remexer os destroços. Talvez esse líquido tenha tido algum efeito sobre o corpo de Agatha. Ela não parecia ressussitada perfeitamente. O corpo frio, liso e branco como giz.. os olhos florescentes... ela era um zumbi, mas tem algo a ver com aqueles tambores e eu preciso que você me ajude a entender isso.
- Vou ligar para Antonella.
- O quê?
- Você não está bem, vou mandá-la vir te buscar...
- Gerard... voc.. ah esquece! - desistiu Tomas.

Gerard pegou o telefone, discou e Antonella atendeu:
- Oi Antonella, Tomas está aqui. Acho que ele não está bem, está falando que viu Agatha de novo...
- Ow Gerard, foi tão asustador, ela é um zumbi! A maldita quebrou meu retrato de casamento mais lindo. Ela voltou do inferno para me atormentar. Você precisa inventar um repelente pra zumbis!
- Espera! Antonella, está me dizendo que Agatha realmente está... de certa forma... viva?
- Sim, ela estava aqui em casa. Não estou louca Gerard, e dessa vez Tomas também não está. Não sei como essa maldita reviveu, mas espero que ela não volte nunca mais. Eu a expuls... CLAC! - Gerard desligou o telefone atordoado sem ao menos se despedir de Antonella.

Então o cientista se virou para o amigo com o olhar parado. Depois de alguns segundos, Gerard arrumou os óculos no rosto, fechou os olhos e respirou fundo:
- Bem amigo, tenho uma teoria.
- Você acredita em mim Gerard?
- Em você não, mas em Antonella sim. HAHAHAHA. Não faça essa cara, é que Antonella não teria alucinações com a sua falecida esposa que ela odeia. Bom, vamos ao que interessa. Talvez o líquido tóxico tenha alguma variável que de alguma forma reagiu com as poucas células vivas que ainda restavam no corpo sem vida de Agatha. Células como as que fazem as unhas e os cabelos crescerem depois da morte. Vamos supor que seja isso. Agatha não está viva, na teoria, pois em suas veias não correm mais sangue, e sim o líquido tóxico dos tambores militares. A questão é, se essa reação química deu vida a Agatha, provavelmente...
- Todos os outros que morreram no desastre também... Oh meu Deus!
- Isso quer dizer que temos um bando de mortos vivos por aí. Enfim, gostaria de pesquisar isso. Quero saber qual a duração dessa "nova vida", se Agatha ainda é um ser racional, se .. bom, são muitas perguntas.
- E o que vamos fazer agora?
- Vamos ao local do acidente. Quero pegar uma amostra desse líquido. E talvez encontremos a própria Agatha por lá. Então vou levar uma rede para capturá-la...
-Ei, Agatha não é uma cobaia... voc...
- Calma Tomas, de qualquer forma, precisamos saber o que está havendo. Vou pegar minhas coisas.
- Está me dizendo que vamos à um lugar isolado por possibilidade de contaminação radiotiva cheio de mortos vivos à 5 e meia da madrugada?
- Sim...
- Legal!
- Mas logo vai amanhecer e creio que só vamos conseguir pegar uma pequena amostra do líquido tóxico. Mas assim que eu pesquisar essa amostra, voltaremos lá. Vai ligando o carro Tomas, vou pegar o que preciso.

E Tomas correu para o carro, enquanto Gerard arrumava sua bolsa de cientista. Estavam prestes a desvendar o mistério que rondava o acidente no Teatro Del Bellis.

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