quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Os Ladrões de Vidas - Parte 13

O portão principal estava aberto. Os poucos guardas que ainda restavam estavam em volta do trono, inutilmente na tentativa de proteger Rodney caso Harrison o atacasse novamente. O frio cortante que entrava pelo portão dava a alusão de que o tempo virara. Estava nevando lá fora.

Alison levantou-se, recuperando o fôlego que quase perdeu quando Alicia a atacou. Correu em direção ao portão - era uma atitude involuntária do próprio corpo desesperado tendo em si a certeza de que Harrison a mataria assim como matou Meloddy. Saiu do portão principal do palácio, e correu pelo jardim que se perdia ao ser coberto pela neve. Harrison ia atrás de Alison, mas não corria, andava pacientemente em sua roupa negra, como uma sombra que perseguia uma criança.

Perto dos muros onde terminava o jardim, Alison olhou para trás, e viu Harrison vindo calmamente em sua direção. Mas seus passos lentos indicavam uma só coisa - não importava o quanto ela corresse, ele a encontraria e a mataria. Não havia porque ele correr - onde Alison estivesse, ele a pegaria. O desespero subiu pela espinha de Alison, que numa velocidade inexplicável, pulou o muro, e correu para a floresta negra da maldição.

O céu estava claro, apesar de ser noite, pois o frio e as nuvens que carregavam gelo eram claras. A neve já cobria todas as àrvores da floresta, e Alison corria sobre um manto branco. Parou perto de uma àrvore, e sentou-se, exausta pelo pânico. Então começou a chorar:
-Pobre Meloddy, ele a matou... matou ela que era experiente... quanto mais a mim... ele vai me matar... vai me pegar... não posso correr para sempre...

Harrison andava sobre a neve como uma tesoura bem afiada que cortava o veludo. Seus passos lentos, sem imprecisão, o dirigiam ao meio da floresta da maldição. Foi quando parou num espaço razoàvel, e começou a dizer:
-Alison, você acabou com um grupo inteiro que eu demorei anos para juntar. Matou Madison, que estava comigo desde que tudo isso começou. Me obrigou a matar Meloddy, que era extremamente a melhor ladra de vida que já havia transformado. Acabou com o meu plano que demorei anos para aperfeiçoar. Sabes muito bem que não vou deixar isso barato. Então vamos acabar logo com isso. Apareça, sei que pode me ouvir.

Ele estava certo. Isso não ia ficar barato; ela não podia correr para sempre. Alison saiu do meio das àrvores, o rosto calmo, onde uma de suas lágrimas congelou antes de alcançar o fim de seu rosto em traços perfeitos. Harrison suspirou:
-Tão linda. Tão perfeita. Tão inteligente. Terias ganhado tudo ao meu lado. Seria minha rainha quando tomasse o trono. Mas não... você quis aquele príncipe magrelo... acha.. acha que não senti o cheiro dele em teu quarto, acha que não o vi escalando minha mansão. É uma pena te matar... mas me consolarei em te perder quando voltar naquele castelo e esfolá-lo vivo!
-Harrison... não vou me render sem lutar...
-Vai lutar comigo Alison? HAHAHAHAHA... comigo? Nem Meloddy pode comigo... e você acha que pode?
-Tudo é relativo; Meloddy estava distraída, mas eu estou atenciosamente fitando você...

Nesse momento, uma espada atingiu as costas de Harrison. Ele se virou e a fúria encheu seus olhos. Antonny, que lhe cravara a espada, jogou outra para Alison, que correu para ferir Harrison também. Em meio aos golpes, Harrison pegou Antonny pelo pescoço, e olhou em seus olhos, enquanto o príncipe engasgava. Alison feriu os olhos de Harrison com a espada, e Antonny, caído no chão, recompunha-se recuperando o ar. Alison cravou a segunda espada em Harrison, o cravando e prendendo na àrvore, ajoelhado. Seus olhos se regeneraram, e quando os abriu, ela já fitava sua íris. No mesmo instante, Harrison engasgou. Seus olhos vermelhos reviraram, deixando a àrea ocular completamente branca. E uma fumaça negra, expessa, deixava os lábios de Harrison, e entravam nos de Alison. Demoradamente, enquanto Harrison estribuchava, uma rajada escura descia dos cílios inferiores de Alison até o fim da maçã de seu rosto. Sua pele estava em um cinza ainda mais claro, e seus cabelos pareciam mais negros ainda. E Harrison, já não era mais um monstro. Seu cabelo se tornara castanho e sua pele branca e alva. As rajadas negras em sua face deixaram de existir. Em instantes, ele era apenas um homem, um corpo sem vida. Quando o fôlego acabou de abandonar seu corpo, sua cabeça tombou sobre seu ombro. O líder dos ladrões de vidas não existia mais.

Alison estava sombria; um rosto amedrontador pelas rajadas negras, mas ainda tinha traços perfeitos. Olhou para Antonny, que estremeceu. Toda maldade de Harrison havia passado para Alison? Ela andou em passos leves em direção a Antonny, com os olhos vermelhos fitados nele...

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