quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 9

O sol raiava e o dia rasgava a noite desde o horizonte. A neblina desaparecia, e a cidade começava a ter movimento. Carros pelas ruas e pessoas pelas calçadas. Tomas deixou Gerard em sua casa, e se direcionou para a sua, onde Antonella esperava, irritada:
-Isso são horas senhor Tomas?
-Calma Antonella, nós fomos atrás de uma causa import...
-IMPORTANTE? Aquela zumbi? Ela não vai mais voltar Tom, ela viu que você reconstruiu a sua vida! Agora me diga, você durmiu pouquissimo essa noite, como vai trabalhar com essas olheiras enormes?
-Sou o chefe esqueceu. O dono daquela empresa. E não pretendo ir trabalhar hoje.
-E vai ficar fazendo o que em casa?
-Vou ficar do lado do telefone esperando Gerard ligar.
-CHEGA TOMAS... eu... eu vou trabalhar...
-Antonella... - disse Tomas segurando o braço da esposa - calma... não fica magoada comigo. Vai com calma tá bem? Agatha agora é um mistério que eu preciso resolver. Entenda por favor.
-Eu não entendo droga nenhuma! E não pretendo vir almoçar em casa hoje. Não quero chegar aqui e te ver pendurado no telefone esperando por notícias daquela morta. Tchau Tomas!

E Antonella saiu pela porta com passos duros, magoada com a situação. Tomas sentía-se culpado pela esposa, mas não podia conter a ansiedade por saber notícias de Agatha. Foi à cozinha, fez um café forte, e sentou-se ao lado do telefone. O dia corria, e Tomas permanecia alí sentado, fitando o telefone e o retrato de casamento dele e de Agatha, resistindo à tentação de correr à casa de Gerard pra saber de notícias.

Então o sol começou a cair, e a escuridão da noite comia todo o azulado do céu em tons gradientes de amarelo avermelhado, azul escuro e enfim o preto. Eram quase 7 horas da noite e nem Antonella havia voltado para casa e nem Gerard havia ligado. Tom continuava no mesmo sofá ansioso. De repente uma mão fria e branca como giz tocou-lhe o ombro esquerdo. Num susto, Tomas se levantou, e se deparou com sua falecida esposa de pé na sua sala, coberta metade de sua face pela escuridão da hora. E a morte, cruel em separá-lo dela, dominou as cores do rosto de Agatha, assim como o liquido verde dominara o azul de seus olhos, mas não teve poder algum sobre os traços perfeitos do rosto de menina. A roupa de bailarina, estragada pelo tempo e pelos escombros, não estragava a feição angelical de Agatha. Era uma boneca de porcelana perfeita, com olhos florescentes. Um sorriso surgia nos lábios da pequena, quando Tomas sussurrou:
-Agatha...
-Tomas... oh Tomas!

Por um instante, Tomas esqueceu-se da morte trágica, dos 3 anos de dor e angústia, do casamento com Antonella, do líquido tóxico... nada importava. E ele abriu os braços e recebeu o corpo frio de Agatha num abraço de saudade incontrolável. Agatha tinha no rosto uma expressão de emoção, mas não derramava uma lágrima sequer porque não havia em si lágrimas. Mas Tomas, ainda humano, chorou sobre o cabelo negro da mulher que tanto amou:
-Você não imagina a falta que me fez... desde o acidente, eu perdi metade do meu coração. Ele foi arrancado de mim, rasgado... e sangrou todo esse tempo esperando um dia apenas de alívio meu amor... - suspirou Tomas em meio às lágrimas.
-Tom, eu estou tão perdida. Só me lembro de estar dançando, e de um barulho estrondoso, e então algo caiu sobre mim e me dominou uma dor forte. E quando eu consegui me levantar e abrir os olhos, já não era mais eu mesma.
-Você ficou morta por 3 anos Agui.
-Agora eu sei. Mas eu voltei Tomas, estou aqui... por você!

De repente, Tomas se lembrou da real situação. Agatha era um zumbi graças à um líquido tóxico. Na verdade não era mais sua esposa. Ela deixou de existir no dia do acidente. Agora uma ação contrária a natureza a trouxera de volta, mas aquilo não era certo. Que tipo de vida teria Agatha? Que tipo de vida ela era? E como ficaria Antonella.

-Agatha ...- disse Tomas afastando o rosto de Agatha de seu peito - você não imagina o quanto eu e amei e ainda te amo. Você sempre foi a minha vida. E eu morri junto com você naquele dia. Mas hoje você não é o que era. Não podemos... Agui... eu casei com Antonella... e...
-Está dizendo que não me quer porque está com Antonella agora? - respondeu asperadamente Agatha - Eu achei que fosse única pra você. Achei que nem a morte teria poder sobre o nosso amor!
-Agui você não entende que...
-Não Tomas, não entendo nada! Mas as coisas não vão ficar assim. - e Agatha empurrou Tomas - Você é meu Tomas... pela eternidade. Eu volto!

E Agatha correu para a janela e saiu pelas sombras da rua escura. O que Agatha tinha em mente? E o que ela quisera dizer com "você é meu Tomas... pela eternidade... eu volto!"? Tomas ficou atordoado e correu ao telefone.

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