terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Palco de Agatha - Parte 7

Uma neblina expessa circulava o local do acidente. O silêncio lamentava as mortes, e o vento quebrava o luto com seu sopro gelado. A chuva cessara naquela madrugada.

Tomas e Gerard desceram do carro. Andaram e se aproximaram das faixas amarelas que isolavam o local. Passaram por debaixo dela cuidadosos:
-E ae Tomas, tá vendo algum zumbi?
-Não, nem sinal de vida por aqui. Olha, debaixo daquelas pedras, algo florescente.
-É o líquido, vou pegar uma amostra.

E Gerard se aproximou das pequenas pedras e do líquido verde que vazava por debaixo delas. Abriu sua pequena bolsa e dela tirou um tubo fino. Pegou um pequeno pincel e passou sobre o líquido. Depois o guardou dentro do tubo, quando Tomas sussurrou:
-Não se mecha agora Gerard...
-O-o-o-o que é Tomas? - disse Gerard tremendo
-Olha, na sua frente, à pouca distância de você...

E Gerard levantou vagarosamente a cabeça. Então viu ao longe dois olhos verdes brilhantes e um cabelo escuro esvoassante oculto pela neblina. Impressionado, o cientista se levantou devagar, fitando a criatura diante de si, que também o observava.
-E-e-ei... Agatha? - perguntou Gerard, mas a criatura não respondeu.

Quando ficou de pé, num estalo o ser de olhos florescentes sumiu. Era como se descesse para dentro dos escombros. Gerard tremia inteiro, mas quando olhou para Tomas, viu que o amigo estava prestes a gritar e correr atrás da criatura que eles achavam ser Agatha. O cientista correu para segurá-lo:
-Tomas!! Tomas!! Vamos sair logo daqui! Esse lugar está infestado de mortos vivos. Não sabemos do que eles são capazes. E se comerem gente que nem nos filmes?
-Não seja ridículo Gerard... é Agui!
-Tomas, não seja estúpido. Além disso tem a radioatividade que pode nos fazer mal. Deixe-me estudar isso antes, e então voltamos, eu prometo.
-Você a viu Gerard? Viu? Era ela... está viva!
-Sim, eu vi, eu vi... vamos sair daqui Tomas.
-Está ouvindo isso... parece... parece música!
-Tomas, agora... vamos embora!

Puxando Tomas para o carro, Gerard arrancou e saíram as pressas do local. Entre os escombros, os olhos ainda cintilavam. E a criatura desceu novamente para dentro das ruínas. Embora lembrasse, não era Agatha.

Ela seguiu por um tipo de labirinto por dentro das ruínas. Era incrível como o local do acidente era grande e profundo. O grande teatro Del Bellis era agora um enorme e perigoso labirinto. Adentrando a parte mais profunda, a criatura chegou ao palco, que embora estivesse com as tábuas fora do lugar, parecia reconcertado por alguém. Nele, uma criatura branca como giz, com o vestido Tutu-Bandeija vermelho e preto dançava, tão graciosamente como se fosse uma bailarina viva. E em volta dela muitas outras criaturas mantinham os olhos verdes cintilantes fitando a bela dançarina da morte. A música que a bailarina-zumbi dançava vinha da vitrola semi-destruída que ficava no canto do palco. A vitrola tocava uma música triste de piano, como uma música fúnebre. E a bela bailarina de giz rodopiava mortalmente pelo palco de madeira, cujas cortinas amarradas com leves desfiados davam um ar de trevas.

Agatha dançava, tentando esquecer o que viu em sua própria casa. Em volta de si estavam seus fiéis companheiros de ballet, agora, pós morte, fiéis súditos da mais divina morta-viva. Suas pernas que transpareciam a palidez de sua pele entre a meia calça negra desfiada estava envolvida por um longo cipó, como galhos verdes de musgos. Eles subiam pelas pernas e envolviam os braços da dançarina. E os galhos jaziam desde as extremidades do palco e circulavam todo a estrutura das ruínas. Era como se todo o lugar estivesse ligado à Agatha. Era como se toda a ruína obedecesse Agatha. Aquele era seu reinado, seus súditos, seu teatro.

Aquele era o palco de Agatha.

*Continua

Nenhum comentário: