terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Última Traição - Parte 19

O sol rasgava o horizonte negro com raios laranjados. A manhã nascia bela e com vontade de trazer mais um belo dia de primavera. Mas um vento incomum vinha do leste, trazendo consigo algumas nuvens. Não que as nuvens fossem o bastante para acabar com o belo dia de primavera que estava nascendo, mas assombrava como um aviso de que o sol encadescente não venceria o céu sempre.

Os primeiros raios de sol entraram pela janela do grande quarto branco e dourado. A luz reluzente dos detalhes de ouro lançavam reflexo no rosto branco de boneca de Lira. O grande lençol de seda branca cintilante cobria o corpo delicado e nu da princesa, enquanto o sol tocava já as bordas douradas da cama. Lira apertou os olhos e então despertou. Fitou o quarto claro e então puxou o lençol para se sentar na grande cama. Do seu lado direito, a cama desarrumada estava vazia. Simon já tinha se levantado e se retirado do quarto. Lira se levantou, se lavou, colocou o vestido azul escuro e se direcionou à escada a fim de descê-la:

- Bom dia Alteza! - disse humildemente Jequibeth, que subia as escadas com uma bandeija de café da manhã nas mãos.
- Bom dia Jequibeth. Sabe onde está o príncipe Simon?
- O senhor Castella? Bom, ele acordou cedo junto com seu pai, o rei. Tomaram café e desde a manhãzinha estão trancados no gabinete real. Pelo que estavam falando, são os últimos preparativos para a expedição ao Leste.
- Mal nos casamos e ele já vai pra guerra?
- Bom, até onde eu sei ele se casou com vossa alteza para representar oficialmente os reinos Norte e Sul nessa política de expansão.
- Claro... aliança... bom, e Irian, já está perambulando por aí?
- Ele já acordou e está no jardim com Péricles, dando coordenadas para o adorno do já tão antigo jardim de sua mãe... ele nunca deixou de cuidar desse jardim...
- Bem Jequibeth... - cortou Lira, se sentindo incomodada com a forma como Irian já começara a lhe chantagear com a memória de sua mãe.- ... esse café da manhã é para mim?
- É sim senhora!
- Não vou tomá-lo no quarto, como pode ver. Leve para a sala de jantar. Vou logo atrás de você.

Na grande sala de jantar, Jequibeth serviu o café da bandeija, enquanto Lira fitava a xícara e vagava mentalmente para as confusões e medos de sua mente. Ao ver o estado de espírito perdido de Lira, Jequibeth deixou a sala, e foi cuidar de outros afazeres. Lira continuou a fitar a xícara fumegante:
- Está um dia quente para uma boquinha tão delicada tomar café fervendo. Por que não troca o café pelo suco de laranja? - perguntou Simon, entrando na sala de jantar.

Os olhos de Lira se iluminaram a vê-lo, e ela teve de reprimir o sorriso que lhe vinha urgente aos lábios.
- Bom dia para o senhor também, vossa alteza príncipe do norte! - disse Lira sarcasticamente.
- Ora, ora, acordamos amarguinhos esta manhã? Pensei que depois da noite passada a veria daqui pra frente radiante e iluminada como o sol. - respondeu Simon, em seu tom brincalhão.
- Pensou errado. Não existe cura para meu mau humor.
- Sei bem, esposa minha, que não és de todo pura amargura. Ontem provei do mais doce mel em teus braços de fada. Quando a deixei dormindo, ainda era a criatura angelical que suspirou meu nome a noite toda. E agora encontro você nessa armadura?
- Não sou uma fada. Não tenho nem ao menos uma varinha de condão.
- O que a deixou perturbada, meu amor? Foi o fato de deixá-la acordar sozinha? Me perdoe, queria ter ficado e despertá-la com um beijo, mas o dever me chamava.
- Claro, guerras, guerras e guerras. Malditas guerras. Você é igual meu pai, um insano sedento de sangue! Então vá para a sua maldita guerra e não se preocupe mais comigo. Já tem de mim o que queria. A aliança oficial para representar norte e sul nessa batalha contra o leste! - resmungou Lira, perturbada.

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