quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Última Traição - Parte 3

A brisa quente vinha do horizonte, trazendo consigo o aroma das flores de mais uma primavera. O sol cintilava no céu, e o azul era estondeante. O castelo estava mais belo, mais decorado e ainda maior do que era antes. As terras que pertenciam ao domínio do rei Marshall aumentaram. À alguns anos ele iniciou uma política de avanço de território. Seus exércitos reais eram maiores. E a classe burguesa tinha prosperidade. Mas os camponeses do vilarejo tinham perdido a paz. Com mais poder, mais terras, veio também a má distribuição de alimentos. Eles passavam necessidade. Mas o rei não se importava. Não tinha mais coração... não tinha mais sensatez.

Quantas primaveras haviam se passado desde aquela triste em que Laura faleceu? A contagem eram de 12 primaveras. Durante esses 12 anos, Marshall se tornou amargo, deixando dominar em si uma mente política, onde só o que importava era cada vez mais poder.

Um vestido rosa queimado de seda cintilava no alto da escada. Se arrastava por cada degrau como uma pluma empurrada pela brisa suave. Os pezinhos delicados postados em sapatilhas trabalhadas a ouro eram tão graciosos. A cintura apertada num espartilho entalhava perfeitamente a silhueta. Os cabelos castanhos presos em fivelinhas de prata num perfeito penteado permitiam pequenos cachos caídos rente ao pescoço. Os olhos azuis não mais infantis. Neles, não jaziam mais o brilho inocente. Uma névoa os tornava tristes e perdidos. Os lábios perfeitos em traços delicados, nunca demonstravam um sorriso, apesar dos dentes alvos e brancos. A estatura de princesa não inibia o rancor de uma infância traumatizada. Ah, belíssima princesa Lira, em seus 20 anos!

Logo atrás de Lira, vinha Irian, seu fiel servo. A cabeça ainda raspada, o bigode ainda alvo, mas com pequenos detalhes que pareciam ser fios brancos entre os tantos que ainda eram negros. Lira se dirigiu ao piano que estava no centro do saguão. Diante do piano havia um enorme quadro pintado em tinta à óleo da rainha Laura. Uma doce música dominou o local. E a voz suave de Lira soava como um instrumento musical de cordas delicado, que fazia jus ao seu nome. A letra da música trazia alusão a uma homenagem à falecida rainha. Os olhos de Lira se enchiam de àgua toda vez que tocava a música que ela mesma compôs para sua mãe. Terminado o que havia se tornado um ritual matinal, Lira abaixou a cabeça e sussurrou na sala silenciosa:
- Eu ainda me lembro da promessa...

Atrás dela, Irian sorriu maliciosamente. Havia tramado algo. E já estava plantando na mente atormentada pela dor de Lira um golpe contra Marshall. Logo, pai e filha entrariam em um conflito irremediável.

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