sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Última Traição - Parte 4

- Ah minha filhinha, como está bela esta manhã. A verdade é que fica cada vez mais bela a cada dia! E combina tão bem com a primavera! - exclamou o rei Marshall entrando no grande saguão com os braços abertos.

O rosto de Marshall era sempre sério, amargo. Mas quando Lira estava em seu campo de visão, isso mudava. Um sorriso sincero dominava seus labios finos. E um brilho fraco vinha do fundo de seus olhos. Lira era o único pedacinho vivo de Laura que havia lhe restado. Na verdade, ela era o único motivo pelo qual ele ainda vivia. E talvez a sede de poder fosse um ato desesperado para compensar futuramente Lira pela perda da mãe, lhe deixando um reinado próspero quando se juntasse aos reis antepassados. Ele amava a filha, mas Lira não se deixava comover.

A princesa virou o corpo do piano e olhou para o pai amargamente, como sempre fazia, desde criança. Com a influência de Irian, seu servo, Lira alimentou durante anos um ódio imenso pelo pai. Para Lira, Marshall era um monstro que tinha matado a sua mãe, e do qual agora ela precisava arrancar o reinado pelo bem do povo.

- Sabes muito bem, majestade, que odeio primaveras! - disse num tom ríspido Lira, se levantando e fazendo reverência à Marshall.
- E você sabe que odeio que me chame assim. Quantas vezes já lhe disse pra me chamar de PAI?
- Pois bem... pai... devo me retirar ao meu quarto para estudar um pouco. Se me der licensa?
- Espere filha, tenho uma novidade para você! - exclamou Marshall num tom alegre.
- Diga então.
- Fiz uma aliança com o rei do Norte. Já deve ter ouvido o quanto os exércitos dele são poderosos. Estávamos à meses tramando estratégias para dominar o território del...
- Poupe-me disto está bem? Não me interessa suas ações de guerra! - cortou Lira.
- Calma. Vou ser mais objetivo. Bem... o rei do Norte soube que estávamos tramando contra ele, e já ouviu falar da fama de glória e exércitos indestrutíveis do nosso reino. Para evitar uma batalha que resultaria em perdas tristes em ambos os lados, ele mandou uma carta propondo uma aliança, e eu aceitei prontamente!
- E essa aliança tem o que a ver comigo?
- Bom. O rei do Norte, Armotis, tem um filho. Um rapaz inteligente e forte. O príncipe Simon, seu filho único. O reino do Norte será dele futuramente, pois é o unico herdeiro do glorioso trono. E aqui, a ùnica herdeira do trono é você. Mas você é só uma mocinha, e sempre temi deixar o reino em suas mãos. A aliança é um casamento entre você e Simon. O reino do Norte e do Sul se tornarão um só quando Simon assumir o trono, e será o maior reinado de todos. Belíssima aliança!
- O quê? - disse enfurecida Lira - vo-vo-... você vai me dar em casamento? Isso é um absurdo.. eu n... - e uma mão calma pousou no ombro de Lira.

A voz rouca e calma fez Lira se calar. Ela sempre escutava Irian:
- Creio que a feliz notícia pegou nossa princesa de surpresa. Dê um tempinho a ela, majestade, e então poderão conversar com calma. Não fica bem para vossa majestade discutir em frente à todos estes servos. Por que não vai para o quarto relaxar um pouco alteza? - disse Irian calmamente despreocupado.
- Mas Irian... - falou Lira.
- Calma princesa... tudo bem. Tudo vai ficar bem.

Lira olhou desconfiada para Irian. Mas não ia reclamar. Ele sempre sabia o que estava fazendo. O rei olhou para a filha preocupado.
- Ah Lira, conversaremos mais tarde. Mas pense bem minha jóia. Você ficaria bem mais segura casada com um príncipe à espera do trono.

Em passos duros Lira saiu do saguão em direção à seu quarto. O pânico comía-lhe a sanidade. Ela havia prometido à sua mãe que tiraria o reino das mãos de seu pai. Mas como faria isso se estivesse casada? E se esse tal de Simon fosse tão cruel e mesquinho como seu pai? Como ela reinaria se o reinado cabe ao marido e rei? Dessa forma a promessa não seria cumprida. E o desespero de Lira transparecia aos olhos.

Nenhum comentário: