quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Última Traição - Parte 8

Simon estava deitado na cama do grande quarto dourado do castelo. Descansava da longa viagem depois do banho. Seus olhos pesavam, e o sono dominava sua consciência. Mas um som suave o puxou de volta a realidade. O toque doce de uma música de piano.

Simon desceu a longa escada seguindo a música e voz que cantava uma letra triste. Ela dizia "A presença não é o corpo e sim a alma. A morte levou consigo os traços, mas não pode roubar o amor. O adeus é triste, mas a lembrança me mantém em pé. Para sempre corações terão o mesmo ritmo, mesmo que um deles pare de bater...". A voz, ah, aquela voz! Ninguém diria que é voz de um humano. Diriam que é um anjo, ou mais terreno, a voz parecia um instrumento musical delicado. Um instrumento musical de cordas. Lira!

No grande saguão, um ser delicado estava sentado ao piano diante dum grande quadro. As mãos pequenas deslizavam pelas teclas, fazendo soar a doce e triste música. Os lábios perfeitos emitiam a voz angelical e enchiam o castelo da mais maravilhosa melodia. Simon parou atrás e deixou-se observar a princesa em sua canção.
- Ela parece um anjo quando canta, não é? - perguntou o rei Marshall, se aproximando de Simon.
- É... é realmente encantadora vossa filha, majestade. - gaguejou Simon.
- Ela faz isso toda manhã. Compôs sozinha essa música em homenagem a mãe. Minha esposa Laura... também sinto falta dela.
- Sinto muito.
- Assim como eu, Lira não supera essa perda. Ela é um pouco amargurada. Acho que terá alguma... dificuldade para lidar com ela. Mas não quero que isso atrapalhe nossa aliança.
- Relaxe majestade. Estou encantado com os dois lados da personalidade de sua filha.
- Dois lados...?
- Quando a vi a primeira vez, quando cheguei, ela parecia uma tigresa enjaulada. Tinha uma fúria nos olhos ardendo. Confesso que achei a raivinha dela... estimulante... - disse Simon, rindo com o próprio comentário. - E agora a vejo doce como um anjo, e percebo que isso também me encanta. Sua filha é a personificação da contradição, única em si mesma, o que a torna valiosa e digna da minha cobiça.
- Príncipe Castella, o senhor é um homem... estranho.
- Tenho as minhas excentricidades... -riu Simon novamente.
- Bom, venha comigo. Quero lhe mostrar alguns planejamentos de conquista que temos com o chefe do meu exército.
- Agora? Tenho outros planos de conquista nesse momento, se não se importa, majestade... - disse Simon, voltando seu olhar para Lira, ao piano.
- Senhor Castella, ela já lhe pertence. Mas você não está aqui somente para se casar. A aliança dos reinos Sul e Norte tem outras particularidades.
- Claro... tenho certeza que terei meu tempo para esses meus outros planos. Vamos aos seus planos então majestade.

Marshall e Simon deixaram o grande saguão, enquanto Lira ainda tocava e cantava.

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