quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Última Traição - Parte 7

O castelo parecia em festa. Flores para todos os lados, serviçais arrumando e adornando cada local. Soldados do exército real enfileirados em frente ao castelo para a grande chegada de Simon Montreviére Henry Castella, o príncipe do norte.

O dia seguia claro e o sol ardia no céu. A primavera adoçava o perfume das flores da estação. Mas Lira estava irritada enquanto Nadine, sua costureira, pinicava sua cintura acertando o vestido de cetim azul novo, feito especialmente para a ocasião:
- AI! Nadine... vou ficar parecendo um queijo suíço assim!
- Desculpe princesa, se a senhorita parasse quieta...
- Não sei porque fazer um vestido novo. Esse príncipe nem me conhece. E nunca viu nenhum vestido meu. Poderia muito bem usar o beginho leve diário...
- Senhorita, sabe muito bem que seu pai a quer magnífica. E é lisonjeiro fazer um vestido para seu futuro marido. Você sempre tem que ficar linda para ele. E eu sempre estarei aqui, pra fazer os melhores vestidos da corte!
- Porque não cala a boca?
- Desculpe alteza...


As trombetas soaram, e Nadine colocou rapidamente a coroa nos cabelos castanhos presos de Lira. Em seu vestido azul, com mangas em alças em forma de pétalas de rosa, Lira desceu a escadaria até a frente principal do castelo. Com o rosto mau humorado, postou-se ao lado de seu pai enquanto fitava Irian, à soleira da porta com outros serviçais:
- Sorria... - balbuciou teatralmente Irian, para que Lira lesse seus lábios, já que não podia escutar sua voz.
Lira revirou os olhos e forçou um sorriso, que mais parecia que ela tinha um gosto azedo na língua.

Uma cavalaria, onde predominava um vermelho vivo, vinha dos altos morros. Na frente, em um cavalo negro, um belo homem com a postura de um lord se aproximava, com sua roupa real preta e uma grande e cintilante capa vermelho carmim.

- O pessoal do norte gosta das cores escuras e macabras, não? - murmurou o rei Marshall para seu escudeiro, Naim.
- Parece um exército sombrio da morte. E é apenas a tropa de frente do príncipe Simon. - respondeu em sussurro o escudeiro.
- Começo a gostar de verdade dessa aliança. - falou Marshall, com um sorriso presunçoso.

O cavalo negro parou diante a escadaria do castelo, onde estavam Marshall e Lira, além dos serviçais e os soldados de confiança.
- Bem vindo, em paz, ao reino do sul! - exclamou o rei Marshall
- Já me sinto em casa, majestade. - respondeu Simon, em uma voz grave.

O príncipe desceu de seu cavalo, jogando a capa vermelha para trás. Sua roupa, embora preta escura, tinha detalhes dourados. Ouro, obviamente. Na bainha, uma espada da realeza reluzia ao sol. Simon era alto, os cabelos um pouco compridos e negros. A pele branca combinava com os olhos azuis claros acizentados. O sorriso branco e presunçoso acompanhava o ritmo de seu andar confiante. Sua estatura máscula e sua altura avantajada colocava qualquer outro príncipe da região para baixo.

Simon se ajoelhou diante do rei Marshall, e ao se levantar, olhou para Lira. Lira sentiu o coração disparar. Simon não era o que ela imaginava. Pensou que encontraria um almofadinha, talvez mais baixo, mais petulante, onde só sua aparência seria irritante. Mas o que tinha a sua frente era um verdadeiro príncipe, belo em seus traços masculinos e fascinante em seu aspecto principesco. Talvez não fosse tão fácil tirá-lo do caminho:

- A bela jovem é a princesa Lira? - perguntou Simon, com o mesmo sorriso presunçoso.
- Sim, minha filha Lira. - disse Marshall orgulhosamente.
- És tão bela quanto falam. - disse Simon, pegando a mão delicada de Lira e beijando cordialmente.
- Não posso dizer o mesmo. - disse Lira amargamente.

Simon riu despreocupado. Uma princesa, filha única, só poderia ser mimada. Achou que fosse pirraça da jovem princesa. Mas sua beleza delicada o havia fascinado também. Na mente de Simon, talvez Lira só precisasse de um tempo pra se acostumar com a idéia de que deixaria de ser filhinha do papai para ser esposa e rainha, dominada, logicamente, pelo rei, que seria ele. Simon sorriu de novo, rindo consigo mesmo. Lira rangeu os dentes e se pôs para dentro, correndo em direção à escadaria que dava para seu quarto.

O rei Marshall ficou desconcertado. Olhou com o olhar de desculpas para Simon.
- Ela... é meio geniosa. Mas é obediente...
- Não se preocupe. Adoro mulheres... espirituosas. - respondeu Simon com seu ar de galã.
- Entre, os servos o levarão até seus aposentos. E seus soldados serão devidamente tratados. A viagem foi longa, creio que está cansado.
- Muito... obrigado pela hospitalidade.

Irian, que observava, deixou a soleira da porta e se dirigiu para o quarto de Lira.

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