sábado, 26 de dezembro de 2009

Minha Mãe Casou de Novo - Capítulo 21

- Eu não acredito!!! - sussurrou Andrew, fervendo de ódio ao me ver no quarto dela, mas falando baixo para não acordar nossos pais.
- Quem não acredita sou eu!!! - sussurrei também, gesticulando o livro na minha mão. Era o livro que tinha a maçã.

Andrew fechou a porta do quarto e acendeu a luz, se virando para mim.
- Brad, por que está fazendo isso? - perguntou ela, respirando fundo para manter a calma.
- Olha, sério! Não queria vasculhar seu quarto nem nada. Mas é que Ashley disse que possivelmente você seria uma viciada em Crepúsculo e eu cheguei em casa e vi a caixa embaixo da sua cama... cara! Isso ferveu na minha mente. Eu precisava tirar a prova real! Caramba, Andrew! Você é uma tremenda duma poser! Diz que é metaleira, mas gosta desse lixo. Freud disse que isso é um insulto para a teoria dos vam...
- Cala a boca, Brad! E eu já disse que metaleiro é fabricante de panela!
- Fabricante de panela ou não, você é poser! Não passa de uma tontinha que curte fantasia e homens que brilham!!!
- Acorda Brad! Metal não é uma filosofia de vida, e nem um estilo de roupa. É apenas o tipo de música que eu escuto. Gostar ou não gostar de um livro não me torna uma poser.
- E a teoria dos vampiros? - perguntei, pasmo.
- Por que você acha que chamo seu amigo Freud de poser? Ele acha que alguém que curte metal não tem personalidade própria. Todos são iguais: cabelo comprido, caveiras, correntes, bandanas, coturnos, camisas de banda... qual é? É esse tipinho de gente que detona com as coisas. Emos são assim... eles sim transformam o que são num estilo de vida. Mas nós, que curtimos metal de verdade, sabemos que é só música. Apenas isso, Brad... música. Se eu quiser sair de roupinha rosa amanhã, o problema é meu! A roupa que eu visto não interfere no meu gosto musical. E não é um livro que me transforma numa poser, sacou?
- E o negócio dos vampiros?
- A teoria de Sthephenie Meyer é diferente. Não segue nenhuma regra que eu conheça. Mas ela tem o direito de criar a versão dela. Então, sendo a história fantástica, não vejo problema algum. Afinal, Crepúsculo é um romance, não uma história de terror. Os vampiros não são o foco... são apenas meros detalhes.

Olhei para Andrew com a boca aberta. Ela tinha razão. Metal era só música. Ela não era uma poser, e tinha uma personalidade só dela. Quando a ouvi falar daquele jeito, descobri que na verdade admirava quem Andrew era. Tão diferente de todas as garotas que conheci. Tão... única. A forma como ela se vestia só tinha um motivo: ela gostava de ser assim. Diferente de Freud, que se vestia daquele jeito porque metaleiros tinham que ser assim. Agora eu compreendia a diferença entre Andrew e Freud; porque ela odiava que eu a chamasse de metaleira e porque ele nem ligava. Porque ela sim era uma headbanger de verdade.

Mas o que me fez dar esse chilique não era o fato de Andrew ser poser ou não. Meu desespero era que até Andrew tinha caído no mundo fantasioso e gay de Crepúsculo. Livro babaca e emboiolado. Se eu soubesse que as meninas gostavam de viadões, jogava glitter no corpo e saía dançando pelo colégio. NÃO! Não faria isso, não. Prefiria morrer sem mulher do que me entregar ao modismo da vez.

Sentei na cama de Andrew meio atordoado.
- Não faz idéia do quanto Ashley me atormenta por causa desse livro. E não só ela. Ouço murmúrios pelo colégio todo. No meio dos cadernos das meninas tem sempre um livro desses. E o pior é que ficam comparando os homens da realidade com o vampiro-brilhantina e o tal do lobisomem que não é monstro. - reclamei.
- Olha, Brad... - disse Andrew, um tom de voz doce, se sentando do meu lado. - ... esse é o problema que eu vejo nas mulheres. A história é maravilhosa, mas as meninas são fúteis demais para entender que é só uma história. Vocês, homens reais, obviamente não chegam aos pés de Edward Cullen, por isso mesmo, porque Edward é apenas uma história. A essência da perfeição só poderia ser fantasia, e eu aceito isso.
- Nem Stuart chega aos pés do tal Edward? - perguntei, com um sorriso bobo no rosto.
- Hahaha! Você não ouviu o que eu disse? Edward é a essência da perfeição. Stuart é apenas humano. - respondeu ela, fitando o vazio, sorrindo.
- Ótimo... a luta eterna dos humanos contra os príncipes encantados dos contos de fadas. - murmurei.
- Não se preocupe. Logo a febre do vampiro que brilha passa... e você volta a ser o avassalador capitão do time de basquete pro colégio inteiro.
- Você gosta mesmo do Stuart? - perguntei, de repente, sem pensar.

Andrew me olhou assustada, mas visto que a conversa estava sendo amistosa, ela decidiu responder.
- Não posso fazer afirmações concretas, mas... ele é legal. Gosto do jeito dele. Ainda estou conhecendo ele.
- Hmmm. - foi só o que consegui dizer.
- E você, hein! Quem diria... mais de um mês namorando a mesma líder de torcida. É um récord!
- Na verdade, fez um mês hoje, segundo Ashley. - respondi, desanimado.
- Não gosta de verdade dela, não é?
- Lógico que gosto!
- Tá bom!
- Só porque você namora um cara sem morrer de amores por ele, não quer dizer que todos namorem pessoas por namorar. - falei, azedo.
- O mais bizarro em você é que você mente pra si mesmo e realmente acredita na própria mentira.
- Boa noite, Andrew. - me levantei para sair do quarto antes que ela começasse a ofender minha inteligência.

Fui até a porta, enquanto Andrew me fitava com a cara amarrada.
- Olha, me desculpe por isso, está bem. - disse, olhando para ela, hesitando na porta. - Prometo nunca mais mexer nas suas coisas.
- Eu não acredito em você, mas tudo bem... está desculpado.

Dei um meio sorriso e saí do quarto.

Nenhum comentário: