Madric e Caliú se aproximaram da rainha que estava recostada na grande janela principal do castelo.
- A senhora precisa ser forte. Precisamos da nossa rainha... nossa guia... - murmurou Caliú.
- O povo precisa que a senhora se recupere da perda. É a única imagem de conforto que eles tem por termos perdido Nicolas.
O nome de Nicolas atingia o coração de Micaili como um punhal. Segurando o choro, ela não respondeu e se retirou do recinto. Caliú e Madric a observavam de longe.
Micaili pegou o cavalo e correu para longe do castelo, indo até os limites dos arredores do país de Mytrias. O lugar era lindo. O sol deixava os grandes ramos de trigo dourados cintilantes naquele fim de tarde. Uma brisa gentil acariava o rosto triste da rainha. Ela desceu do cavalo e vagou por entre a plantação. Sentou-se numa pedra longa e deixou-se olhar o horizonte ainda azul, permitindo que as lágrimas caíssem.
Os olhos claros turvados pelas lágrimas captaram entre a visão embaçada um vulto ao longe se movendo entre o trigo. O vulto avaçava vagarosamente, parecia um animal lento ou até mesmo ferido. Micaili enxugou as lágrimas e forçou a vista para detectar que tipo de ser vinha em sua direção. De repente, seu coração pulou do peito e ela arfou, não acreditando no que via.
Nicolas se arrastava entre o trigo, com o rosto sujo e ferido da batalha anterior. Estava muito mais ferido que antes, talvez mais pela mão de Icarus, mas estava vivo. Quando, ao longe, reconheceu Micaili sentada na pedra, endireitou o dorso e sorriu doloridamente. Apesar dos ferimentos, não havia perdido o galanteio.
Micaili correu em direção a Nicolas e pulou nele. Machucado como estava, ele arfou e caiu para trás, com Micaili em cima dele. Ela ria e chorava, beijando ternamente o rosto dele, quando segurou o rosto dele e disse:
- Calma, calma... eu estou bem... - disse Nicolas, cansado.
- Mas... co... como? - perguntou Micaili, maravilhada com a impossibilidade.
- Bom, eu apanhei bastante... - disse Nicolas, rindo dolorido - ... seu pai, Icarus, pediu ao rei macedônio pra me levar para Getsêny porque eu tinha uma dívida de honra com ele. O rei da Macedônia não hesitou, então fui para os calabouços getsêneses. Lá, fui espancado e chicoteado pelo seu paizinho, mas na hora que achei que ele fosse me matar, ele disse "não vou deixar a rainha de Mytrias viúva sendo ela tão jovem... é bom cuidar de minha filha, senão eu te pego outra vez". - riu Nicolas, imitando a voz grossa de Icarus. - Então eles me trouxeram até o limite de Mytrias e me largaram vagando por aqui meio semi-morto, até que eu avistei você... eeei! O que a rainha de Mytrias faz sozinha nesse lugar deserto? Mandei aqueles idiotas ficarem de olho em você...
- Eu senti que deveria vir para cá... e ainda bem que eu vim. Imagine só se você tivesse que se arrastar até o castelo? Vamos ao meu cavalo, hoje Mytrias tem que comemorar. O nosso rei está vivo! - exultou Micaili, satisfeita com as próprias palavras. - Ah... eu te amo! - lembrou ela.
- Eu amo você... e é só por isso que ainda estou vivo! - concordou Nicolas.
Num beijo doce, tomaram seus caminhos.
Naquela noite, Mytrias festejou a volta de Nicolas. Luzes vermelhas, música e risos por todo o país. Micaili não escondia sua felicidade, e Nicolas, ao lado dela, estava radiante:
- Mytrias não mais continuará com sua política de expansão. Somos um povo rico. O único objetivo do exército real agora é proteger Mytrias de ataques de eventuais inimigos. E com nossa rainha, a Estrategista, não teremos o que temer. Felicidade e Paz à Mytrias!!! - exultou Nicolas.
E durante o reinado de Nicolas e Micaili, Mytrias foi um país próspero e feliz.
FIM
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