Fiquei o domingo inteiro no quarto amoado, porque sabia que segunda feira seria o terceiro pior dia da minha vida. Andar pela escola com Ashley de mãos dadas seria o mesmo que um chiuaua com uma coleira enorme sendo arrastado para ser castrado. O que mais me irritava é que Andrew cantarolava pela casa toda animadinha.
Na segunda de manhã o céu estava claro, e prometia um belo dia de sol. Nem isso foi o bastante para me animar. Desci as escadas me arrastando, como um condenado pelo corredor da morte. Parei na sala e espiei pela janela. Os sedan de Jonathan e a minivan da minha mãe não estavam na garagem, então ambos já tinham ido trabalhar. Minha mãe era corretora e Jonathan cuidava do departamento pessoal de uma empresa. Isso rendia uma boa grana, mas não influenciava nada na miséria que eu recebia de mesada. Não via a hora de chegar as férias de verão para arranjar um emprego temporário e dar uma turbinada no meu Maverick.
Entrei na cozinha para tomar um leite rápido. É claro que Andrew estava alí, na cadeira de sempre, me olhando com a cara de bruxa infeliz que foi expulsa do inferno de sempre e comendo as torradas de sempre com o café preto de sempre.
- Bom dia, Mister Peitoral! - saudou ela.
- Bom dia vampira recauchutada. - falei. Nossa, eu devia estar mal mesmo. Vampira recauchutada?
- Ei, não parece animado para seu primeiro dia de aula sendo um cara compromissado. - reclamou a Mortícia.
- To flutuando de tanta alegria, olha meu sorrisão. - sorri, tão forçado que ela riu.
- Tá parecendo mais um pit bull idoso. - riu ela mais ainda.
- O Stuart vai vir hoje aqui... to com saudade daquele gostoso! - brinquei.
- Pare com isso, Brad! Eu realmente não gosto de brincadeiras homossexuais.
- Sinceramente? Achei ele um panaca. Ele é legal, mas não faz seu estilo. - falei, despreocupadamente, enquanto remexia a colher no copo de leite com achocolatado.
- É uma pena, porque Ashley Hanners também não faz seu estilo. Eu sei que você ama uma vagabunda, mas Ashley é vadia demais. - reclamou Andrew.
- Ei! Eu não estou denegrindo a moral do seu namorado, então, por favor, respeite a da minha namorada.
- Quando você virar o chifrudo do colegio, não diga que não avisei! - ameaçou Andrew, se levantando da cadeira e se dirigindo à porta da cozinha.
- E quando você resolver perder a virgindade e o mané lá brochar, não fique frustrada, ok? - apelei. Eu estava meio retardado hoje. O compromisso me faz um mal danado mesmo.
Senti um estalo nas minhas costas. Cuspi involuntariamente o leite pelo impacto, enquanto a dor latejava. Olhei para trás assustado, e me deparei com Andrew agachada amarrando o coturno. A filha da mãe tinha me jogado aquele sapatão enorme nas costas? Bati o copo na mesa e olhei pra ela.
- Olha, eu nunca bati em mulher, mas estou começando a mudar de idéia. Meus princípios estão ficando fracos diante da minha raiva... - ameacei.
- Vai me bater, Bradley Tommas? Bate, e quero ver você encarar meu pai depois. - desafiou Andrew, sorrindo.
Ah, aquilo já era demais. Ela tinha invadido meu quarto, me dedado pra minha mãe, vivia gozando da minha cara e agora tinha me jogado um sapato nas costas. Tirei a camisa branca e olhei para ver se tinha sujado. Tinha mesmo... minha camisa favorita. A marca da sola do sapato de Andrew não ia sair facilmente com àgua e sabão. Era a gota d'agua.
Joguei a camisa no chão e peguei Andrew pelas pernas jogando o corpo dela no meu ombro. Ela era leve, e parecia frágil, mas a raiva estava fervilhando dentro de mim, então desprezei meus princípios. Se Jonathan tinha mimado aquela garota, a vida teria que ensinar uma lição para ela. Incrível, acho que a vida me escolheu para isso. Levei ela para sala, enquanto ela esperneava e me mandava soltá-la. Sentei no sofá, deitando ela de bruço no meu colo, e comecei a lhe dar palmadas. Eu não era um ogro, logicamente. Nunca iria usar toda minha força bruta contra uma garota. As palmadas eram leves, porque minha intenção não era machucá-la, e sim constrangê-la. Ela estava com uma saia pregada de couro preto, então com certeza não doeu nada. A vergonha de ter levado palmadas iria latejar no orgulho dela para sempre. Mas a demônia me mordeu no braço e saltou do meu colo, enfurecida.
- Você enloqueceu, garoto! Idiota! Troglodita!!! - gritou ela.
- Não, só achei que estava mais do que na hora de você levar umas palmadas. - rebati.
- Eu achei que não poderia te odiar mais do que já odiava. Agora vejo que você supera o pior sentimento do mundo! - gritou ela, mais alto ainda, o rosto ficando vermelho de tanta raiva que chegou a enxer-lhe os olhos de lágrimas.
- Agora você vai pensar duas vezes antes de se meter comigo. - ralhei, esfregando o braço onde ela havia me mordido.
Foi então que percebi que Andrew não estava com a costumeira maquiagem escura. Ele havia passado um lápis preto nos olhos, mas era leve, até menos do que Ashley usava. A blusa por cima da saia pregada de couro era preta, mas era uma regata mais feminina do que aquelas camisetonas com nome de banda que ela sempre usava. Tirando o coturno enorme, ela até parecia uma bonequinha... uma bonequinha meio gótica, talvez uma barbie da Amy Lee, mas ainda sim uma bonequinha. A raiva era tanta que ela começou a chorar, e eu me assustei, esquecendo completamente o motivo pelo qual tinha brigado com ela.
- Ei, calma... eu... eu só queria que você aprendesse a lição. Droga, Andrew, eu perdi a cabeça. Me desculpa, tá? - as lágrimas femininas eram a coisa que eu mais temia. Vindas de Andrew, então, eram a coisa mais assustadora do mundo para mim. Fiquei desesperado. Me aproximei dela, pegando seu rosto entre as mãos. - É sério, Andrew. Me desculpa.
Ela me fitou por um instante com os olhos molhados. Foi um instante tão curto, mas ao mesmo tempo, tão longo. Senti uma fincada no fundo do meu coração, e não entendi o que era aquilo. De repente, ela me empurrou.
- Sai, Brad! Nunca mais encoste um dedo em mim! Eu te odeio! - gritou ela, pegando a bolsa na poltrona e saindo pela porta da sala.
Fiquei alí, completamente confuso... e sem camisa.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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2 comentários:
Achou q eu nao viria?
hehehe
ah ta bom vc me convenceu, amanha começo a ler desde o primeiro capitulo.
voce sabe usar muito bem as palavras, com certeza vou gostar da historia.
bjooo
ja li tudo...
nao disse?
gostei sim
rsrsr
amanha eu volto pra ler o proximo capiutlo!
ate mais
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